Não faz muito tempo que as crianças me perguntaram como se fotografava uma onca e eu lhes dei uma resposta tola. Absurdamente tola. Até me envergonho do que respondi.
Busquei rapidamente alguma coisa em algum recanto do cérebro e nada encontrando disse: acho que é automático.
Automático? Como pude responder com um "automático"? Nem eu sei o que quis dizer, mas seria cabível para o momento dizer que eu não sabia ou pelo menos refletir um pouco...
Final de semana fomos a uma livraria e passando os olhos rapidamente na sessão das revistas, vi uma foto na capa de uma onca , dei uma rápida folheada, havia lindas imagens e não exitei, trouxe a revista para casa.
Li sozinha a matéria (revista Fotografe melhor/ janeiro 172) que foi um lenitivo para o absurdo que eu havia cometido e foi também um momento incrível de descoberta para mim.
O relato do fotógrafo Luiz Claudio Marigo é riquíssimo em detalhes que nos transporta para uma aventura.
Ambiente preparado, chamei as crianças e comecei a conversa: " Vocês se lembram quando me perguntaram sobre fotos de onca? E então como acham mesmo que é?
Bernardo soltou o "automático, deve ser com controle remoto"
Hora da verdade, hora de redimir uma classe profissional inteira, a dos fotógrafos.
Comecei a ler o texto, e as crianças se envolvendo na aventura dia a dia: a chegada, o uso de barco com motor de popa, conhecidos como voadeiras, a interação com o piloteiro, que conhece os hábitos dos felinos.
Algumas paradas para observarmos atentamente as fotos, eles percebendo pequenos detalhes - mãe a onca está com um arranhão, dá para ver um pouquinho do sangue!
Alguns trechos são marcados por um relato estritamente profissional, como o tipo de máquina, lentes, regulagens e eu pensei em pular essas partes porque achei que não interessariam. Ainda bem que não o fiz.
A Júlia observou que uma das objetivas que aparecem na foto é como o telescópio de irmão por isso a foto fica pertinho, porque o fotógrafo não pode chegar tão perto do 'bichão'!
Outro fato que chamou a atenção dos pequenos, foi o respeito que há com os felinos. As embarcacões não se aproximam quando o animal está caçando.
A cabecinha do Bernardo pensou muito na engenharia dos equipamentos, quando Marigo relata que iria trabalhar num barco em movimento, com a onca também se movimentando e concluiu - o fotógrafo é que sabe em qual parte de todo esse movimento que ele tem que bater a foto.
Adorei a ideia.
Só tenho a agradecer ao sr. Marigo. Descobrimos que não é automático que se fotografa oncas. Descobrimos que com toda a tecnologia existente, o principal é o fotógrafo que sabe em qual momento ele dispara seu equipamento, descobrimos que é a alma do fotógrafo que o leva a ter desejo pelo inusitado e depois ele nos devolve em forma de poesia, de encantamento essas maravilhosas imagens.
A partir de agora, além de nos deleitarmos com belas imagens vamos também sentir através dela o fotógrafo: alma, corpo que se dedica a esta bela arte.