Sábado pela manhã é o dia que o entregador faz voar por cima do portão a revista semanal. Neste dia eu estava especialmente ansiosa por causa da revista, sentimento este que nunca me ocorrera anteriormente.
Pensei que talvez fosse o dia chuvoso. Chuva grossa que poderia molhar suas páginas.
Quando ouvi o som do impacto contra o chão, corri.
Abri a revista à procura de uma cronista que estava estranhamente ausente nas edições anteriores.
Ela havia comparecido nesta semana! E esse era o motivo da minha ansiedade. Reencontrá-la.
Havia adoecido de uma tristeza que não se ia. Fez exames médicos: tudo perfeito, longa vida pela frente. Fez exame de consciência: também nada fora dos eixos; marido, filhos, netos, todos bem.
Foi-lhe então recomendado que se afastasse de sua rotina. Novos ares para ventar a tristeza para longe.
E assim ela o fez e a melhora chegou.
Sua rotina incluía acordar cedo e ir direto para os noticiários: corrupção, crise econômica, ambiental, violência... Alegria envenedada.
À medida em que eu lia, surgia em meus pensamentos imagens de uma novela que apresentou de maneira até divertida, alguns costumes indianos.
Um desses costumes relacionava-se à primeira visão do marido ao sair de casa. Caso seus olhos encontrassem uma imagem negativa, que não fosse auspiciosa, voltava para dentro de casa para recomeçar ( não sem antes esbravejar! . Em seu socorro, a esposa corria para trazer um pote com leite a frente da casa para que esta boa imagem fosse então a primeira do seu dia.
A cronista da revista disse que aprendeu a higienizar o seu dia, o seu amanhecer e voltou a sorrir.
Ainda que não haja nenhum sol brilhando lá fora, podemos colocar um pote de leite a nossa frente.
E então, o que tem no seu pote?