"Mãe, você sente falta da escola? "
No olhar receptivo, nos ouvidos atentos, senti que não seria apenas uma resposta longa, dessas em que há três ou quatro linhas para se escrever.
Antes mesmo que eu começasse a responder, Bernardo, meu filho, completou sua pergunta:
"Ontem eu estava com o Gustavo num jogo on line só que estava chato e nós começamos a conversar. O Gustavo entrou na faculdade esse ano e eu 'tava' reclamando que a escola é muito chata, que deve ser muito legal a faculdade e ele disse - cara, você ainda vai sentir muita falta da escola; você pensa que é chato, mas é o melhor tempo da tua vida.
Meu filho já tinha a resposta, mas de alguma forma, queria a minha.
"Mesmo eu não sabendo quem é Gustavo, ele deu a melhor resposta! Tinha todas as chatices que são comuns em qualquer tempo, para qualquer geração: o professor mais legal do mundo, o mais chato de todos, o que passava muita tarefa, o bonzinho que lhe acrescentava pontos na média; colegas insuportáveis, colegas maravilhosos. Manhãs ou tardes que pareciam nunca acabar, férias que nunca chegavam e depois resolviam voar.
Provas, trabalho, recuperação, dever de casa, ensaiar quadrilha, educação física para espairecer da sala de aula.
Só que quando a gente está nisso tudo, que se parece com um turbilhão e é mesmo, não dá para fazer ideia de que vamos sentir falta de tudo isso. É um mundo, é um tempo bom, mesmo com as coisas desagradáveis que acontecem. Tudo com o que precisamos nos preocupar se resume a esse universo, a escola. Não há a responsabilidade do sustento do lar, de alimentar filhos, ter suas roupas limpas e tantos outros mundos que vão surgir.
Ouviu-me e silenciou. Talvez guarde como semente o que eu e Gustavo dissemos. Talvez deixe a semente adormecida para só depois plantá-la. Talvez já comece a sentir sopros diferentes.
Ontem chegaram eufóricos da escola contando sobre a nova moda na escola ( tão velha, eu diria... ) a nova brincadeira do copo que anda, que agora se chama Charlie Charlie.
Passam-se os anos, a loura do banheiro talvez mude a cor do cabelo, copos que andam são substituídos por lápis que giram e assim segue até que a saudade daqueles velhos tempos lhe sopre.
sexta-feira, 29 de maio de 2015
quinta-feira, 28 de maio de 2015
Creme para as mãos
A tarde era abafada. O verão mostrava o seu ápice.
Eu, porém, estava sentada num ponto de ônibus a esperar pelo coletivo 131 - Terminal Central. Talvez outros servissem ao itinerário por mim desejado. Sendo novata na cidade, ative-me à indicação anteriormente recebida, mesmo percebendo que o tal 131 fosse dos mais demorados a passar por ali.
Foi boa a espera.
O ponto de ônibus com cobertura, bancos em bom estado e imensos painéis fotográficos em sua estrutura, uma espécie de papel de parede; era local agradável de se ficar em espera.
E o numeroso conjunto de edifícios acima e à direita, refrigeravam o pouco vento que flutuava por entre tanto concreto e vez ou outra uma lufada amena chegava.
O ônibus não chegava.
Chegou o primeiro cheiro de creme para as mãos.
Depois outro.
E mais outro.
Inacreditável: minha memória olfativa reconhecia todos; lembrei-me do tubinho branco com tampa verde-água de algum catálogo.
Desviei, não sem receio de perder o coletivo, o olhar do sentido do qual viria o ônibus e voltei a cabeça para o sentido do qual vinham os cheiros.
O horário era entre 16:03 e 16:08.
Elas vinham silenciosas da direção dos prédios carregando as mais variadas denominações: faxineira, empregada, diarista, doméstica, secretária do lar, cuidadora, ajudante.
Chegavam ao ponto do ônibus esfregando, sem pressa, uma mão na outra num cuidado delicado.
De algumas só o cheiro 'aparecia', em outras, via-se o tubo de fechamento prático sendo guardado na bolsa antes do ritual de deslizamento de uma mão na outra começar.
Era um horário coletivo para a saída dessas trabalhadoras.
Esperavam pelo coletivo que as conduzirá até seus lares, e, com as mãos perfumadas lhe faziam o gesto de "pare, por favor, é o meu ônibus".
Talvez o creme para as mãos significasse a missão cumprida depois de um dia de labuta.
Talvez o creme fosse um bálsamo, um relaxante para mãos que fazem um trabalho para que outras mãos possam fazer outro.
Talvez o creme amaciasse a aspereza de uma vida cheia de falta de oportunidades.
Talvez o creme fosse vaidade daquelas que reconhecem a beleza das próprias mãos e do trabalho que elas executam.
Talvez o creme para as mãos tivesse para cada uma delas, moças, senhoras, mulheres, um porquê diferente.
Talvez fosse apenas um creme.
Acenei para o 131 e subi pela porta dianteira deixando atrás de mim aquela tarde quente e perfumada.
Eu, porém, estava sentada num ponto de ônibus a esperar pelo coletivo 131 - Terminal Central. Talvez outros servissem ao itinerário por mim desejado. Sendo novata na cidade, ative-me à indicação anteriormente recebida, mesmo percebendo que o tal 131 fosse dos mais demorados a passar por ali.
Foi boa a espera.
O ponto de ônibus com cobertura, bancos em bom estado e imensos painéis fotográficos em sua estrutura, uma espécie de papel de parede; era local agradável de se ficar em espera.
E o numeroso conjunto de edifícios acima e à direita, refrigeravam o pouco vento que flutuava por entre tanto concreto e vez ou outra uma lufada amena chegava.
O ônibus não chegava.
Chegou o primeiro cheiro de creme para as mãos.
Depois outro.
E mais outro.
Inacreditável: minha memória olfativa reconhecia todos; lembrei-me do tubinho branco com tampa verde-água de algum catálogo.
Desviei, não sem receio de perder o coletivo, o olhar do sentido do qual viria o ônibus e voltei a cabeça para o sentido do qual vinham os cheiros.
O horário era entre 16:03 e 16:08.
Elas vinham silenciosas da direção dos prédios carregando as mais variadas denominações: faxineira, empregada, diarista, doméstica, secretária do lar, cuidadora, ajudante.
Chegavam ao ponto do ônibus esfregando, sem pressa, uma mão na outra num cuidado delicado.
De algumas só o cheiro 'aparecia', em outras, via-se o tubo de fechamento prático sendo guardado na bolsa antes do ritual de deslizamento de uma mão na outra começar.
Era um horário coletivo para a saída dessas trabalhadoras.
Esperavam pelo coletivo que as conduzirá até seus lares, e, com as mãos perfumadas lhe faziam o gesto de "pare, por favor, é o meu ônibus".
Talvez o creme para as mãos significasse a missão cumprida depois de um dia de labuta.
Talvez o creme fosse um bálsamo, um relaxante para mãos que fazem um trabalho para que outras mãos possam fazer outro.
Talvez o creme amaciasse a aspereza de uma vida cheia de falta de oportunidades.
Talvez o creme fosse vaidade daquelas que reconhecem a beleza das próprias mãos e do trabalho que elas executam.
Talvez o creme para as mãos tivesse para cada uma delas, moças, senhoras, mulheres, um porquê diferente.
Talvez fosse apenas um creme.
Acenei para o 131 e subi pela porta dianteira deixando atrás de mim aquela tarde quente e perfumada.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Charada de imagem
É de comer
tem no mercado municipal
quem um palpite vai arriscar?*
*Finalzinho da tarde trago a resposta lá nos comentários. Então, volta viu?!
segunda-feira, 25 de maio de 2015
A respeito de placas
"Conheci um homem que era limpador de placas de rua.
Todas as manhãs, às sete horas, ele ia para o trabalho.
Para chegar à Central de Limpeza de Placas de Rua, na Praça do Incenso, ele levava mais ou menos meia hora.
Cumprimentava o porteiro, fazia algum comentário sobre o tempo e ia para o vestiário.
...
Lá, vestia um macacão azul, botas azuis de borracha, e depois, sem muita pressa, ia para o almoxarifado, onde lhe entregavam uma escada azul, um balde azul, uma escova azul e uma flanela também azul.
...
A saída dos limpadores de placas de rua nas suas bicicletas era um espetáculo magnífico. Eles pareciam imensos pássaros azuis saindo do ninho ao mesmo tempo".
Assim começa a história de um livro infantil que, se eu fosse dona de uma livraria, ele estaria catalogado e colocado na prateleira "Adultos que comem algodão-doce".
Esse livro é de meus filhos. Já o lemos várias vezes quando eram menores e vez em quando a Júlia ou o Bernardo se lembra dele e a recordação se dá na cama da mamãe com uma gostosa leitura!
O Limpador de Placas fazia seu trabalho lustrando a placa Rua Guimarães Rosa, quando um garotinho, que por ali passava com sua mãe, indagou quem era o Rosa. Um ônibus barulhento passou nesse momento e o Limpador não pode ouvir a resposta. Mas, aquilo o afetou. Ele limpava placas com nomes importantes e não sabia absolutamente nada a respeito deles.
Naquele mesmo dia, chegando em casa, fez uma lista com os nomes que constavam nas placas que limpava. Soube que alguns eram poetas, escritores, músicos, compositores.
Primeiro inspirou-se nos compositores. Abriu o jornal e procurou algum concerto para ir.
Passou a trabalhar asssoviando serenatas, óperas.
"As pessoas que passavam ouviam o limpador e paravam, admiradas, de olhos fixos na escada azul. É que elas nunca haviam visto um limpador de placas como aquele. Quase todos os adultos acham que algumas pessoas servem só para limpar placas, outras só para escrever poemas, ou melodias. Às primeiras, denominam trabalhadores; às outras, pessoas cultas e eruditas. O fato de alguém fazer as duas coisas ao mesmo tempo deixava essa gente tão atrapalhada que todo o seu modo de pensar desmoronava, desmanchava-se como um papelzinho no meio do fogo".
Passou a ser o frequentador mais assíduo da biblioteca do bairro onde retirava livros dos grandes escritores, lia poesia.
Lamentou ter demorado tanto a ler. Não perdia tempo, porém.
Passou a ser admirado, foi a programas de tv, nunca deixou de trabalho de limpador de placas, mas agora passou a receber carinho das pessoa. O carteiro lhe trazia sacolas cheias de cartas. Era feliz na sua simplicidade!
E sempre que líamos a história, nós pensávamos: que linda história, pena que nunca vamos encontrar um Limpador de Placas.
Será?
E saindo da imaginação dos livros infantis me deparei com duas histórias, com duas possibilidades de placas.
Existem sim limpadores de placas! O artista plástico Rodrigo Machado e os cineastas Gustavo McNair e Filipe Machado, cansados de reclamar dos problemas de São Paulo, criaram o projeto Serviços Gerais que limpa placas, faz pequenos reparos, limpa estátuas.
Conheça e trabalho deles clicando aqui.
E outra intervenção bastante interessante relacionadas às placas, vem da mães! Especialmente mães de motoboys:
Imagem do site Razões para Acreditar
Fiscalização de mãe! Gostou?
Tem vídeo também:
Eu adorei saber que existem limpadores de placas espalhados por aí!
sábado, 23 de maio de 2015
Sobre a blogagem
Colhi a imagem de uma flor para ofertar em agradecimento a todos os que participaram da Blogagem Coletiva Amigos Virtuais.
Obrigada aos que fizeram postagens em seus blogs, aos que comentaram, aos que trocaram visitas, aos que voltaram a blogar, aos que não puderam participar!
Essa interação, além, de agradável, trouxe reflexões, certezas, interrogações e muitos abraços virtuais.
O lado difícil que pode aparecer nos blogs, foi nos lembrado como sempre é bom um alerta, afinal, no virtual, infinitas são as possibilidades para o mal.
Na contrapartida, pendendo para o lado da maioria, essa ferramenta, esse verbo - o blogar - trouxe experiências muito positivas, agregadoras, trouxe muita gente para a vida real a partilhar um café, um abraço.
Eu acredito em amigos virtuais, mesmo os que nunca teremos a oportunidade de encontrar.
A tela de um computador, de um eletrônico, não emite apenas uma fria luz branca, para mim, é possível sentir através dela.
É algo curioso quando você passa a pensar em algum blog, em algum blogueiro: um post meio triste, será que está bem? Uma celebração, um nascimento, uma partida temporária ou de nosso planeta. Essa pessoa de alguma te tocou através das palavras e do modo como ela escreve. Leva tempo, é fato, mas acontece e é bom!
Algo curioso que percebi lendo comentários aqui, nos outros blogs que participaram, é que muitas pessoas expressaram terem sido "sugadas" por algum tempo para outras redes sociais e se reencontraram nos blogs.
Cada rede tem seu formato, sua personalidade. E na minha opinião, aqui é um desses lugares especiais para que flua a escrita.
Muitos também manifestaram a vontade que tinham de participar de coletivas, que estavam meio de lado. Posemos até pensar em interagir mais dessa forma.
Enriquecedor é a palavra que define essa experiência, essa troca.
Que a gente continue interagindo, fortalecendo quando o desânimo chega, ousando descobrir outros círculos, outros blogues!
Se quiser conferir toda a lista de participantes, clique aqui.
Obrigada e meu abraço!
quinta-feira, 14 de maio de 2015
Blogagem coletiva - amigos virtuais
imagem google
Essa semana aconteceu uma emoção muito forte comigo relacionada aos blogs.
Eu, e muitas outras pessoas, fomos do trágico ao cômico e muitas lições despertaram dessa história.
Uma conhecida blogueira resolveu parar com os blogs. O rebuliço foi geral! Primeiramente a parte trágica, a indignação, preocupação, tristeza, afinal até pensou-se que ela tinha partido dessa para melhor! No final, ela resolveu voltar e deve estar rindo até agora!
E no meio desse caminho a importância dos blogues, a união, os bons pensamentos, o cuidar de quem a gente gosta.
Acho que há momentos em que uma pausa é necessária e outras vezes um blog se esvai mesmo.
Porém nesta história toda o que eu percebi, lendo comentários e postagens sobre esse mesmo fato, é que várias pessoas que se afastaram optando por outras plataformas, sentem falta daqui; algumas até estão voltando aos poucos.
Eu vi nesta semana um forte sentimento de amizade por aqui e é por conta dessa palavra que eu gostaria de convidá-los para escrever sobre as amizades aqui nos blogs.
As amizades virtuais existem?
Aborde a vertente que você quiser sobre essa interação aqui na blogsfera. Vamos questionar, acrescentar, fortalecer quem sabe laços, mudar de opinião, não se iludir. Enfim, uma blogagem coletiva pode acrescentar muito.
Você aceita participar?
Escreva o seu texto e deixe o link aqui nos comentários até sábado dia 23 de maio. Eu irei atualizando aqui para os que quiserem visitar e conhecer as outras participações.
Vai ser muito bom interagir!
terça-feira, 12 de maio de 2015
Lista de mercado
Há algum tempo eu participei de uma campanha no Instagram que se espalhou rapidamente pelas redes sociais, inclusive em alguns blogues, que consistia em mostrar a sua letra.
Eu só não sabia a origem e hoje descobri lá no blog do Lukas!
Começou quando a ilustradora carioca Clara Gomes viu a foto de uma lista de compra de uma amiga e aí veio a inspiração para a #aletradaspessoas.
E veio a inspiração que me faltava para uma foto que estava a tempos no meu celular.
Tenho um fraco para listas de mercado.
Não as minhas.
As alheias.
Se tem coisa que eu gosto é encontrar uma lista esquecidinha lá no fundo do carrinho ou da cestinha de mercado.
Certa vez pequei uma certinha, mas o olho encontrou dentro de um carrinho uma lista dobrada.
É irresistível!
"Mãe, você não vai pegar aquele papelzinho, né?"
Pergunta já sabendo a reposta.
Eu só não sabia a origem e hoje descobri lá no blog do Lukas!
Começou quando a ilustradora carioca Clara Gomes viu a foto de uma lista de compra de uma amiga e aí veio a inspiração para a #aletradaspessoas.
E veio a inspiração que me faltava para uma foto que estava a tempos no meu celular.
Tenho um fraco para listas de mercado.
Não as minhas.
As alheias.
Se tem coisa que eu gosto é encontrar uma lista esquecidinha lá no fundo do carrinho ou da cestinha de mercado.
Certa vez pequei uma certinha, mas o olho encontrou dentro de um carrinho uma lista dobrada.
É irresistível!
"Mãe, você não vai pegar aquele papelzinho, né?"
Pergunta já sabendo a reposta.
"Mãe, mas pra quê você quer a lista de uma outra pessoa?"
É que eu sempre acho "algo" além da lista!
Essa aí por exemplo, tem uma coisinha.
Você achou? Olha bem.
Eu adorei a escrita 'leite líquido'.
Porque para mim era só o leite em pó e o leite.
E aí encontro alguém que compra leite líquido!
Agora conta aí: você esquece sua lista dentro do carrinho do mercado? Já encontrou alguma e pegou?
Beijo!
domingo, 10 de maio de 2015
O Patinho Feio
Demorei-me diante do pato.
Eu, tão urbana, num logradouro que traz em sua descrição a palavra "centro", fiquei surpresa com o encontro.
Algo a mais, além da surpresa, havia.
Eu apenas não sabia.
Mantive uma distância respeitável. Ele, receptivo, permitiu-me pequenos passos em sua direção.
Tristeza foi o que enxerguei. Ou talvez fosse saudade, nostalgia, recordação ou algum outro sentimento em tom de aquarela.
Levei a mão ao bolso da calça e peguei o celular que naquele momento era apenas uma máquina fotográfica.
Quatro meses se passaram desde a imagem capturada.
No dia das mães eu soube que o sinônimo para todas aquelas palavras que definiram o pato - saudade, recordação, nostalgia - estavam incorretas. A palavra certa era simplesmente calor.
A história O Patinho Feio era lida por minha mãe com uma tonalidade suave de voz e gestos de igual leveza ao virar uma página depois outra até o fim da história.
Naquela versão, o feio pato, ao avistar dentro do lago uma linda mamãe pata, lançava-se num mergulho repentino e então acontecia o pior: era de madeira a enorme pata; era enorme a dor que ele sentira ao bater a cabeça.
Aquela dor me invadia, aliás me invadiu por incontáveis leituras.
Mas por muitas tardes e noites, o final da história era feliz.
Eu me aninhava no colo dela, ou se fosse noite, ela se deitava comigo até eu adormece e era o calor de seu corpo que diluía aquela tristeza em mim e antes mesmo que eu adormecesse, já tinha em mim uma sonolenta alegria quentinha!
O dia em que encontrei o patinho, achei por um instante que ele representasse a saudade, a recordação do patinho feio na leitura de minha mãe.
O pato era calor. O calor da sua voz, corpo, olhos, que levava embora a tristeza, a angústia.
O pato era a recordação do calor que ficou e fixou em mim.
O pato é o aprendizado de que a dor de bater a cabeça passa, cura, sana.
A dor da ausência do calor de uma voz, de uma pele, faz-me sentir ainda mais ternura por um patinho feio.
A dor da ausência já foi um tom forte de alguma cor, um lápis pressionado com toda força que chega a marcar a folha seguinte.
Hoje não há dor, há calor.
Um calor agradável, gostoso, feito um tom suave de aquarela passada com movimento delicado do pincel, bem diluída e bela de ver e sentir.
Dias das mães de calor ausente, que a dor da partida possa ser trocada pelo calor das boas recordações.
sábado, 9 de maio de 2015
Inspiração laranja
Estava sem inspiração para blogar.
Até que amanheci com um lindo céu:
Até que amanheci com um lindo céu:
E quando fui tomar meu café da manhã...
Oh!
Vários ovinhos cor de laranja!
Dia de sorte!
Então veio a inspiração para blogar: vou fazer uma série com cinco fotos sobre o mesmo tema ( vi em outros blogues ).
Para isso foi preciso comer tudo que não era cor de laranja para começar o projeto.
Depois de brincar bastante, soprei as bolinhas e comi todas.
Fim!
terça-feira, 5 de maio de 2015
Um livro, um espanto
Uma das definições no dicionário para a palavra espanto, é admiração extrema.
Poetas, escritores já falaram sobre esse espanto, sobre olhar com espanto para a vida, com essa admiração, com esse descobrir e encantar-se.
Com esse espanto que me deparei num cantinho da página infantil de um jornal com esse livro:
Imediatamente voltou à minha mente um comentário deixado aqui no blog onde se dizia "usei muito dessas folhas para minhas comidinhas de terra no quintal da minha infância".
E, de repente, uma gavetinha se abriu e lá estava eu, criança, de mão dada com minha mãe, a caminho da feira quando ela parou em frente a um muro alto, sendo possível avistar somente uma árvore e ela me disse com espanto no olhar: era aqui que eu e minhas irmãs brincávamos de casinha; a gente pegava escondindo um lençol branquinho da vovó e fazia uma cabana usando os galhos dessa árvore e ali embaixo tínhamos o fogão, feito com dois tijolos e a comida era barro enfeitado com sementes e flores".
Imaginar minha mãe sendo criança e brincando ali com barro, cabana, foi mágico!
E também mágico a ideia do livro, especialmente para as mãos infantis tão hábeis sobre as telas brilhantes, nas ausências de quintais, no medo do "sujo", no espanto ( terror ) que me causa saber de uma linha de educação que repudia qualquer brincadeira para as meninas que envolva afazeres domésticos.
Quintal com terra, cada vez mais escasso em grandes cidades, mas lá mesmo nas grandes cidades, parques existem e esperam com alegria por pés descalços e unhas das mãos pretinhas de sujeira!
Poetas, escritores já falaram sobre esse espanto, sobre olhar com espanto para a vida, com essa admiração, com esse descobrir e encantar-se.
Com esse espanto que me deparei num cantinho da página infantil de um jornal com esse livro:
Imediatamente voltou à minha mente um comentário deixado aqui no blog onde se dizia "usei muito dessas folhas para minhas comidinhas de terra no quintal da minha infância".
E, de repente, uma gavetinha se abriu e lá estava eu, criança, de mão dada com minha mãe, a caminho da feira quando ela parou em frente a um muro alto, sendo possível avistar somente uma árvore e ela me disse com espanto no olhar: era aqui que eu e minhas irmãs brincávamos de casinha; a gente pegava escondindo um lençol branquinho da vovó e fazia uma cabana usando os galhos dessa árvore e ali embaixo tínhamos o fogão, feito com dois tijolos e a comida era barro enfeitado com sementes e flores".
Imaginar minha mãe sendo criança e brincando ali com barro, cabana, foi mágico!
E também mágico a ideia do livro, especialmente para as mãos infantis tão hábeis sobre as telas brilhantes, nas ausências de quintais, no medo do "sujo", no espanto ( terror ) que me causa saber de uma linha de educação que repudia qualquer brincadeira para as meninas que envolva afazeres domésticos.
Quintal com terra, cada vez mais escasso em grandes cidades, mas lá mesmo nas grandes cidades, parques existem e esperam com alegria por pés descalços e unhas das mãos pretinhas de sujeira!
segunda-feira, 4 de maio de 2015
Elucubrações
Se eu vou falar sobre colorir? Claro que sim! Parece unanimidade, não é mesmo ?
Mas não espere que eu mostre páginas do meu livro adulto para colorir porque não o tenho e não o terei e nada contra quem o tem.Vi a foto de uma página pintada, li que estavam circulando de casa em casa e de repente vejo em todos os lugares. Até no noticiário local falaram dos tais livros.
Do que vi pela web, não me despertou vontade de ter.
Confesso que comecei a me achar esquisita "posa, mas todo mundo está pintando, relaxando... "
Eu olhava para os jardins e florestas e achava tudo muito miúdo, não me apetecia.
Foi então que encontrei uma jovem no parque sentada próxima de onde eu estava e ao vê-la com o livro no colo, fui puxar papo.
"Não gostei, estou tentando terminar desde outubro e não consigo, é muito detalhe, para mim teve efeito inverso, fiquei foi mais estressada."
Adorei a sinceridade da jovem e fico cá com meus botões a pensar será mesmo que todo o mundo está amando?
Creio que a maioria sim.
Fiquei também a saber que existem vários 'níveis' desses livros e deve haver sim os com pintura mais fácil.
Minha elucubração sobre tamanho sucesso está no fato de que colorir os tais livros é uma maneira de ter o tempo só seu, desligar das tantas conexões e demandas virtuais e para muitos uma volta aos tempos gostosos de escola, onde a folha, saída do mimeógrafo, vinha com cheirinho de álcool.
Há famílias que se uniram na função de uma página, há quem fique só com suas cores e pensamentos, há quem já fez do livro jogo americano, vem aí os próximos títulos com gatos, moda fashion, cidades e telhados e...
Nesse mundo de tanto a fazer, um momento de pausa, de relax.
As papelarias estão felizes: abril e maio que costumam ser meses de movimento fraco, foi aquecido pela procura do lápis de cor, que, aqui na minha cidade, estão em falta.
Na lista dos livros mais vendidos, lá estão os de colorir e aposto que será presente de muitas mamães.
E então, quem por aí está pintando? E o que acha dessa forte tendência?
Beijos coloridos.
Foto: caixa de 120 aquareláveis da Juju!
domingo, 3 de maio de 2015
No açúcar, café.
Estávamos, eu e marido, encostados em um balcão de padaria e a presença do açucareiro ali à nossa frente, trouxe um doce recordar vivido por ele na infância.
Não havia açúcar refinado, branquinho na fazenda. O adoçar era tarefa da rapadura.
Até que um dia, os doze filhos de Antônio e Sebastiana se deparam na cozinha com um saco de cinco quilos de açúcar União.
Dentro daquele pardo papel,o açúcar era ainda mais alvo.
A princípio veio a admiração: minúsculos pedacinhos perante a rapadura grande, escura e também não tão abundante.
Em dose homeopática, uma pitada na boca de cada um.
Marido disse que era algo indescritível aquela novidade.
Mas aquela alegria não durou muito.
O alvo açúcar dentro de um saco pardo de papel grosso e costura reforçada começou a ser alvo daquelas mãozinhas que aos punhadinhos fizeram Tiana estranhar o rápido esvaziamento de tal preciosidade.
E não durou o saco de açúcar até o mês seguinte na ida à venda, à cavalo.
A mãe, Tiana, precisou pensar rápido. Guardar no alto afastaria os menores, os já grandinhos bem poderiam subir em cadeiras; ficar de sentinela e espantar cada mãozinha com seu punhadinho de açúcar bem fechadinho ali entre os dedos, tomaria muito tempo e eles eram sorrateiros e havia tantos outros afazeres.
Não teve dúvida a matriarca, misturou pó de café no açúcar.
Acabou a disneylândia bucólica!
Nenhuma mãozinha ousou colocar um punhadinho da mistura na boca.
Ou se algum deles o fez, não revelou até hoje o que sucedeu!
Não havia açúcar refinado, branquinho na fazenda. O adoçar era tarefa da rapadura.
Até que um dia, os doze filhos de Antônio e Sebastiana se deparam na cozinha com um saco de cinco quilos de açúcar União.
Dentro daquele pardo papel,o açúcar era ainda mais alvo.
A princípio veio a admiração: minúsculos pedacinhos perante a rapadura grande, escura e também não tão abundante.
Em dose homeopática, uma pitada na boca de cada um.
Marido disse que era algo indescritível aquela novidade.
Mas aquela alegria não durou muito.
O alvo açúcar dentro de um saco pardo de papel grosso e costura reforçada começou a ser alvo daquelas mãozinhas que aos punhadinhos fizeram Tiana estranhar o rápido esvaziamento de tal preciosidade.
E não durou o saco de açúcar até o mês seguinte na ida à venda, à cavalo.
A mãe, Tiana, precisou pensar rápido. Guardar no alto afastaria os menores, os já grandinhos bem poderiam subir em cadeiras; ficar de sentinela e espantar cada mãozinha com seu punhadinho de açúcar bem fechadinho ali entre os dedos, tomaria muito tempo e eles eram sorrateiros e havia tantos outros afazeres.
Não teve dúvida a matriarca, misturou pó de café no açúcar.
Acabou a disneylândia bucólica!
Nenhuma mãozinha ousou colocar um punhadinho da mistura na boca.
Ou se algum deles o fez, não revelou até hoje o que sucedeu!