terça-feira, 26 de setembro de 2017

Comida afetiva

"Não é tão saudável, mas é comida de conforto que aquece a alma."

Comida afetiva não é o melhor título para esta postagem.

Medo de comida. Agora sim, é sobre isto que quero dialogar com vocês.

Não sei se vocês já esbarraram por aí, internet afora, nessas hashtags - #comida afetiva  #comida de conforto #nao tao saudavel  #alimentação emocional.

Num primeiro olhar, é bonito, é poético, porém eu comecei a colocar bastante atenção no fenômeno e percebi algo escondido por trás da linda comida afetiva.

A frase que abre esta postagem exemplifica minha percepção.

O contexto era uma bonita foto numa mesa de toalha e louça claras, flor, e um prato de talharim de encher os olhos e dar água na boca.
Mas junto a esse cenário e momento bonito, apetitoso, vem a justificativa - não é tão saudável, mas é comida de conforto que aquece a alma.

E tantas outras postagens cuja legenda esconde e justifica um medo. "Olha, mas não é fritura viu?!"
"Ah, não é sempre que eu como isso, é porque minha avó fez né?!" "De vez em quando pode".

Estamos com medo da comida e por isso nos justificamos tanto.

Afastamos-nos tanto da comida caseira, ganhamos muito conhecimento com novas descobertas, pesquisas, somos constantemente assolados por notícias de famosos que comem "tal e tal"para se manterem jovens, não comem isso porque faz mal, ou comem aquilo porque faz muito bem. E além de perdidos com tanta confusão, o medo está assombrando nossas fotos mais lindas de comida.

Disfarçamos com nossas justificativas. 

E sentimos vontade, necessidade dessa comida afetiva, dessa comida que aquece a alma.

E não deveríamos ter medo dela.

Equilíbrio, moderação, temperança é o que nos faz bem.

Por outro lado, há um movimento sem medo. Um movimento com alegria de resgate dos antigos cadernos de receita de nossas avós, mães, tias, madrinhas.

Ah! Como eu me lembro de minha mãe recortando "selos" que vinham na embalagem do café Seleto; mandou-os todos pelo correio e recebeu um livro em espiral, capa verde com receitas.

Já folheei cadernos de receita amarelados, uma e outra mancha de um dedo engordurado.

E para não ter medo de comida, duas fotos que estavam no meu celular.
Foram tiradas em julho deste ano, lá na fazenda onde mora Tiana, minha sogra.
A legenda é longa:

Os dias de férias foram passados lá. Montanhas cercam a casa. O vizinho próximo, uns cinco, dez minutos de carro. Ao redor, vacas, pasto, café plantado, mudas de café, casal de gansos, galinhas soltas.

Compra do mês é literal ali. Nos outros 29 dias, corre lá na horta e apanha tomatinhos para a salada.

Eu achei na despensa uma caixinha de leite condensado, um achocolatado para vencer e não tive dúvidas: fogo, manteiga na panela e vamos de brigadeiro de colher.

Minha sogra que pouco enxerga, começou a me rodear na beira do fogão. E eu ralhando com ela para sair dali.

Não adiantou. Ficou ali em roda até eu colocar o doce no prato e como ela já estava trocada, banho tomado, falei bravo para ela sair dali que iria se sujar na pia.

Então ela me revelou o que queria:


"Me dá a panela que eu quero "rapá"
Tô aqui te rodeando que é pra você não colocar água na panela!

Saiu de perto de mim e foi raspar a panela em paz debruçada na sua janela!


domingo, 24 de setembro de 2017

Memória dos nossos dias

Foi num domingo que eu li uma crônica do Antônio Prata, chamada Recordação.
Numa conversa dentro de um táxi, o passageiro ouve o taxista relatar a perda da esposa e a tristeza por não ter uma foto dela. A indignação é instantânea, nenhuma foto?
Ao que o taxista lhe responde que ele tem sim fotos, inclusive um álbum, mas são fotos em que ela, a esposa, não é ela. Fotos produzidas, cabelo com penteado e o que ele queria mesmo era uma recordação trivial, corriqueira. Queria mesmo era uma foto dela de avental, por fim diz.

Foi uma crônica que ficou em mim. Tanto que, em uma carta que escrevi recentemente, falei sobre ela e não é que minha destinatária também conhecia a história e gostava muito dela?!

Há muito que já deixamos os filmes kodak e fuji para trás. Só por gosto e hobby que algumas pessoas os usam.
A facilidade da fotografia digital deveria mesmo nos proporcionar essa recordação: fotos do cotidiano, espontâneas, sem arranjos e produções.

E há um movimento para estimular esse tipo de foto do dia a dia.
Conheço uma joaninha que retrata a memória dos nossos dias de uma doce maneira!

Quero também deixar um link para você se inspirar entre fotografar e escrever sobre essas memórias.

Aqui: savethelove.com.br

E vou mostrar o que tenho feito por aqui, no nosso dia a dia.









Fotos do Bernardo, entre estudos e árvores.


Passeio com o cão e aqueles bons momentos no banco da praça




Júlia ao perceber que eu a fotografava: "Você não fez isso?
Sim, eu fiz.
O que as pessoas vão pensar ao me ver estudando com esse rolinho de passar nas roupas?
O mesmo que eu: Nossa que estranho, porque será que esta menina estuda com um rolinho de tirar bolinhas e fiapos das roupas?


Nesse momento ela caiu na risada e atirou para longe o tal rolinho!
















terça-feira, 12 de setembro de 2017

Adeus dona Maria

São ovos fresquinhos, selecionados, direto da granja para sua mesa.
Venha correndo aproveitar dona Maria, é o carro do ovo passando na sua porta
São trinta ovos por apenas onze reais.
Pode chegar dona Maria, pode examinar sem compromisso
Que hoje a senhora leva trinta ovos por apenas onze reais
Venha correndo aproveitar dona Maria
Ovos graúdos de qualidade
É o carro do ovo passando na sua porta dona Maria

Desci para o passeio matinal do cãozinho e quase ocasionei um acidente: seu Sidney, o porteiro vinha entrando segurando uma bandeja de papelão verde-azulado contendo 30 ovos que quase foram parar no chão, quando eu e ele nos encontramos no estreito portão.
Risos, pedidos de desculpas e a recomendação por parte dele de que os ovos eram mesmo dos bons.

Eu já tinha ouvido o tal carro do ovo, mas nunca pus reparo realmente nele. Ou melhor, no som que sai por um alto-falante.
O carro é uma belina, cor de chumbo cintilante e fica lá estacionado por um tempo chamando, lembrando a dona Maria de comprar ovos. E que venha correndo dona Maria.

Foi seu Sidney que me falou do carro que chama por dona Maria. Eu sou Donana e achei bem ultrapassado o tal carro do ovo.
Não por ser belina. Por generalizar homens e mulheres, por reduzir-nos todos a dona Maria, por faltar com gentileza à todas as Marias.

Retrato de uma época a fala gravada que sai do alto-falante.
Um passado que não foi bom e serve para nos ensinar.

Meu pai, que Deus o tenha, já baixou ligeiro a manivela do vidro de sua brasília ocre e mandou um "vá cozinhar feijão dona Maria".

Retrato de uma época que não deveria ter existido, mas já que houve, sirva para nos ensinar a não reproduzir o mesmo erro do passado.

E por falar em ovos...
Adorei a novidade que eu trouxe do supermercado: uma caixa de ovos lindamente ilustrado com patinhas ( ou seria pezinhos de galinhas ) azuis escrito em letra bonita: galinhas livres de gaiolas.

Tem também a opção "passeio livre no campo", porém esse custa mais caro.

Penso em lançar produto similar escrito em cor laranja, que é a minha predileta:

Galinhas confortavelmente acomodadas em leiteiras antigas
Assim ó




sábado, 2 de setembro de 2017

Folhas caídas


Sentei-me num banco próximo a essa jovem árvore e fui tomada por um encantamento: suas pequenas folhas avermelhadas estavam banhadas pelo sol do final da tarde. Era uma luminosidade tão apaziguadora. Eu estava sem possibilidade de fotografar, não havia levado qualquer dispositivo.
Voltei na tarde seguinte e fui surpreendida novamente.
As folhas estavam todas no chão. Sobrara apenas uma ou outra.
Uma bela lição...

Assim foi também com o blog e o mês de agosto. Queria escrever, postar; deixei para depois e quando vi já estava no chão a folha destacável do calendário. Setembro se faz presente.

O que escrever, ou algo relevante a escrever, não tenho.
Só o anseio em voltar, interagir aos poucos.