É uma pequena feira; para ser bem sincera, é minúscula. Uma dúzia de barracas apenas.
Na barraca de frutas, percebi a ausência da moça de traços orientais. Esperei, talvez na próxima terça, ou na próxima ainda.
Achando prolongada a ausência, perguntei à mãe dela. Achei que pudesse ter arrumado um outro emprego, pois sabemos como é difícil a vida de um feirante.
A resposta saiu com imensa dor da boca da mãe: perdeu o bebê, sete meses de gestação; uma cesariana às pressas, hemorragia, foi preciso retirar o útero, quase que ela morre também.
Silenciei por um momento e tudo que consegui balbuciar foi perguntar o nome da moça e dizer que faria oração por ela, era o que eu podia oferecer.
Passei dias a pensar nessa triste situação, fiz minhas orações e queria fazer algo concreto para oferecer solidariedade.
Foi então que me lembrei de um livro escrito por uma mãe que perdeu seu bebê e a partir da rede de apoio, de mensagens que ela recebeu, tornou a sua dor um relato sensível.
Fiz o pedido, li o livro para ter certeza de que era mesmo um presente a ser oferecido para a moça da feira.
E eu me encantei com a sensibilidade, a narrativa, as imagens delicadas. Achei que sim, caberia para esse momento. Embrulhei o livro e levei-o comigo para a feira.
Sua recebeu com ambas mãos, num gesto lindo.
Ao longo do livro, a mãe de José, o filho que partiu, vai conduzindo a narrativa da dor à primeira vez que ela sorriu espontaneamente depois de tanto luto.
Meu desejo é que a moça da feira, que eu só conheço de "bom dia, será que está doce?, boa semana" volte a sorrir.