terça-feira, 23 de outubro de 2018

Voltar a sorrir

Às terças, vou cedinho para a feira.
É uma pequena feira; para ser bem sincera, é minúscula. Uma dúzia de barracas apenas.
Na barraca de frutas, percebi a ausência da moça de traços orientais. Esperei, talvez na próxima terça, ou na próxima ainda.
Achando prolongada a ausência, perguntei à mãe dela. Achei que pudesse ter arrumado um outro emprego, pois sabemos como é difícil a vida de um feirante.

A resposta saiu com imensa dor da boca da mãe: perdeu o bebê, sete meses de gestação; uma cesariana às pressas, hemorragia, foi preciso retirar o útero, quase que ela morre também.

Silenciei por um momento e tudo que consegui balbuciar foi perguntar o nome da moça e dizer que faria oração por ela, era o que eu podia oferecer.

Passei dias a pensar nessa triste situação, fiz minhas orações e queria fazer algo concreto para oferecer solidariedade.
Foi então que me lembrei de um livro escrito por uma mãe que perdeu seu bebê e a partir da rede de apoio, de mensagens que ela recebeu, tornou a sua dor um relato sensível.

Fiz o pedido, li o livro para ter certeza de que era mesmo um presente a ser oferecido para a moça da feira.
E eu me encantei com a sensibilidade, a narrativa, as imagens delicadas. Achei que sim, caberia para esse momento. Embrulhei o livro e levei-o comigo para a feira.
Sua recebeu com ambas mãos, num gesto lindo.




Ao longo do livro, a mãe de José, o filho que partiu, vai conduzindo a narrativa da dor à primeira vez que ela sorriu espontaneamente depois de tanto luto.

Meu desejo é que a moça da feira, que eu só conheço de "bom dia, será que está doce?, boa semana" volte a sorrir.






domingo, 21 de outubro de 2018

Uma exposição

Neste domingo, dia 21, fomos, a filha e eu para uma exposição que veio do Japão sobre as bombas e seus horrores.
Não é fácil olhar para tudo aquilo, mas é tão necessário...



Mas, voltarei a esse tema em outro momento para deixar mais fotos, anotações, reflexões.

Saímos do pavilhão onde estava a exposição e fomos arejar um pouco.
Minha filha Júlia notou que haviam muitos fotógrafos no parque realizando seus ensaios.
Eu disse que devia ser pelo horário, final de tarde, que tem ma luz suave.
Então ela me disse: 
"Então já que estamos aqui, vamos fazer uma sessão também de fotos!


Fez graça para espantar um tantinho a tristeza anterior.



Aproveitamos a exposição e depois o entardecer entre fotos e poses!
Um beijo!



Maternidade sem competição


Participando mais uma vez do projeto "Na Casa da Vizinha", uma blogagem coletiva organizada pelas meninas Tê Nolasco e Cris Philene, hoje com o tema maternidade sem competição.

Uma blogagem coletiva é como uma colcha de retalhos, ou mesmo um quebra-cabeça, onde cada pedacinho vai se somando ao outro e temos, com cada participação, várias ideias que formam um todo muito enriquecedor.

Antes de escrever, já que estou publicando no final da noite, pude ler as participações e fica bem claro que não é positivo, não é saudável emocionalmente essa competição. Respeito ao tempo de cada criança é um ponto central na maternidade.

Quero contribuir com duas propostas ( não são minhas, são da sabedoria que pertence à nossa humanidade ) que podem mesmo ser chamadas de "antídotos".

Para quando sentirmos que nossos filhos são os únicos, os melhores do mundo; para quando acharmos que somos a mãe mais extraordinária de todas. Ou seja, se cairmos no modo exagero:

O agradecimento é o remédio, o antídoto.

"Ao agradecer reconhecemos que as condições que possibilitam a nossa existência dependem de um entrelaçamento imensurável de seres e circunstâncias. Nos prevenimos do isolamento, do autocentramento e da não apreciação". Fábio Rodrigues

Esse agradecer é reconhecer a nossa dependência de várias pessoas, de vários fatores para que nossa vida e a vida de nossos filhos flua.

A moça que aplicou a vacina, a funcionária da limpeza que higienizou o hospital onde ele nasceu, o caminhoneiro que fica tantos dias longe de seus filhos para transportar o arroz que nossos filhos comem. Uma teia incrível que deixamos de ver quando achamos que somos tão incríveis.

Contemplar toda essa teia de apoio, muitas vezes invisível, vai trazendo um frescor ao nosso olhar - somos todos especiais porque estamos interligados! Se meu filho é o melhor pianista, quantas pessoas contribuíram para isso? Não há arrogância, exageros que resista!

Meu filho é um leitor exímio? Obrigada aos escritores das histórias, ao pessoal da gráfica, a quem plantou provavelmente eucaliptos que se tornaram papel, que viraram livros e que fazem meu filho um leitor voraz!

O outro antídoto é para quando nos sentirmos mal, culpados, inferiores perante o outro ou mesmo, para quando sentirmos inveja. 

Alegria empática é o remédio!
Antes de acessar as redes sociais, antes de ir para a pracinha, reunião da escola, antes de abrir o whatsapp, respire profundo e concentre-se em apreciar as virtudes, sucessos e alegrias de outras pessoas.
Se um outro pensamento vier, algo do tipo "nossa, meu filho não faz nada disso, ou, poxa, queria tanto ser como aquela mãe que faz tudo tão perfeito para criar seus filhos", apenas volte para apreciar o outro. Não julgue, não elabore.

Andou cedo, come pão de fermentação natural, fala três idiomas?- alegre-se com sinceridade.

Nossa vida fica mais leve, a alegria flui sem precisar de motivos!

Que a gente possa cultivar cada vez mais a alegria empática e olhar com profundidade para poder agradecer!

Um beijo!



sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Um tucano na cidade


Era para ser somente uma ida aos Correios.
Enquanto eu aguardava o semáforo para atravessar, avistei a majestosa ave voando e logo em seguida, um pouso suave na árvore bem a minha frente!
Só lembrava de tucanos em zoológicos. Vê-lo ou vê-la assim, livre, encheu-me de alegria.
Primeiro eu desejei que o semáforo se apressasse em fechar para os carros e pareceu-me uma eternidade...
Atravessei já com o celular na mão, coisa rara, diga-se, porque quase nunca levo o aparelho quando vou por perto.
Havia um outro edifício, não este da foto, bem defronte à ave. Ah! Queria habitar aquela janela no alto!
Depois desejei ter uma câmera fotográfica com lente potente para retratar toda a exuberante beleza.
Por fim, dei-me conta que eu estava ali apreciando a cena peculiar - um tucano na cidade!
Os carros passavam ligeiros. Um ônibus parou no ponto e eu pude ouvir "o que será que ela está vendo? ".
Abri um sorriso enquanto a ave batia asas novamente!
Alguém mais com um tucano urbano?!