Pessoas nos inspiram, acrescentam algo especial.
E assim se deu na nossa viagem - uma pessoa especial faz morada em nossos corações!
Nosso primeiro café da manhã em Paris.
Entre pegar a bandeja, talheres, guardanapo, marido ao trazer a xícara para próximo de si, examinou e exclamou em voz alta: "Nossa! Que xícara larga!"
A resposta veio de imediato:
"Francês gosta muito de molhar o pão no café com leite, por isso a boca é bem larga".
Eu, marido e nossa amiga viramos ao mesmo tempo em direção ao salão do café para ver de onde vinha a voz daquela resposta.
Não foi difícil encontrar. Por ainda ser bem cedo, estava vazio o salão. Uma senhora sentada ao centro mas bem à frente era a dona da resposta. Agradecemos com um sorriso e um bom dia.
Até então nós não sabíamos nem quem eram as pessoas que fariam o roteiro pelo interior da França conosco. Somente dois dias depois é que o grupo de 14 pessoas entrava no ônibus de cor azul para começar a viajar pelas cidades do sul da França.
E ela estava lá! A senhora que nos ensinou sobre o tamanho da boca da xícara!
Sentou-se sozinha e ao longo do trajeto, falava algo a mais que o guia do passeio, acrescentava, só para nós que estávamos sentados próximos a ela. Não era intrometida, muito pelo contrário, com educação e gentileza.
Na primeira parada do ônibus, marido ajudou-a a descer e logo depois ela disse a todos que poderiam ir tranquilos ao passeio com o guia que ela ficaria por ali que estaria de volta no horário combinado.
Saímos todos achando que aquilo não ia dar certo. Era quase certo que ela se perderia.
Perdeu-se foi um outro casal! Ela estava lá no antes mesmo do horário limite, faceira, exibindo postais da pequena cidade tão lindos que deixava qualquer fotografia na dúvida!
Entre uma cidade, uma ajuda, fomos aos poucos nos encantando com aquela senhora que nos arrepiava por estar sozinha em uma viagem para outro país.
Marido, depois de um café de máquina tomado ao lado dela, depois veio nos dizendo: "Quantos anos vocês acham que a dona Anna tem? "
Eu já ia soltando o meu palpite quando ele deu uma pista - "a filha dela tem 66 anos"
Uau! Isso fez ir por água abaixo meu palpite...
Dona Anna e marido
Oitenta e cinco anos. Uma francesa que ficou marcada pelos horrores da guerra, vendo seu pai ser levado e nunca mais voltar e ser levada, sem opção de escolha, com a mãe para o Brasil quando tinha nove anos de idade.
Fala fluente francês e alemão. E depois começou a falar em japonês com minha amiga!
Amiga Sílvia, eu e dona Anna
no Museu das Lavandas
A nossa viagem foi de 11 dias. A dela duraria 31. Depois da França iria para a Croácia, Praga, e nem sei mais para onde.
Todos os anos sai para mais de mês viajando. "Ficar em casa para quê filha?
Dicas de viagem de dona Anna? Várias!
Três saias, todas pretas. Cinco blusas e o casaco que comprou há 20 anos na Alemanha.
Todas as noites ferve água na chaleira elétrica do quarto do hotel, para cedo colocar a água já fria numa garrafa.
No café da manhã, enrola um pedaço de pão num guardanapo, caso não dê para jantar, uma fatia de pão e um chá são suficientes.
Enquanto nós corríamos para acompanhar os passos do guia de viagem para algum lugar, dona Anna estava na casa de algum amigo almoçando, ou tomando um chá da tarde. Antes de ir, sempre nos deixava uma recomendação de um lugar para ir, ou algo para comprar.
Marido, certo dia se pôs a carregar a mala dela para o ônibus. Não deu conta, precisou da ajuda do motorista e os dois quase "desconjuntaram".
Dona Anna só fez rir. "A cada cidade sempre compro um livro! E quando eu parar na última cidade, comprarei uma mala para dividir o peso".
Nas igrejas com escadaria, ela não subia, mas nos descrevia algum detalhe que não podia deixar de ser olhado.
Era a terceira vez que fazia o mesmo roteiro! Viaja sozinha há vinte anos. Se enrola com o celular, apenas isso. Mas, da mesma maneira que ela nos ensina, nos inspira, alguém sempre está disposto a desenrolar o celular dela. Minha amiga foi quem o fez!
Hora ou outra lembramos de dona Anna em nossas conversas. "E pensar que dona Anna ainda não chegou em casa hein?! - marido me falou ainda ontem.
Que bom ter uma pessoa tão inspiradora morando em nossos corações!
Obrigada dona Anna. Muitas viagens em seu roteiro neste planeta!
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