São Paulo capital. Uma cidade que poderia perfeitamente mudar de nome.
São doze milhões de pessoas nesta cidade. Uma cidade que tem a população de países inteiros. Uma cidade que poderia passar a se chamar Cidade 22.
Esqueçam da política que o número evoca.
22 é a nova maneira de se viver, de morar nesta cidade.
22 metros quadrados.
O recorte de um anúncio de empreendimento imobiliário que fotografei é um achado, considere-se feliz de poder morar em 23 ou 34. A grande maioria dos espaços fica entre 18 e 22 metros quadrados.
Se você mora em São Paulo ou se veio a passeio recentemente, já notou que a cidade foi para o chão e sobre as casas demolidas erguem-se o que chamamos de "studios".
Sou paulistana, nascida e criada na cidade de São Paulo, morei por algum tempo em outras cidades, outros estados.
Desde criança ouvia e via, a cidade sendo descrita como a "Selva de Pedra". Era possível ver de lugares altos, a cidade ao longe se destacando com seus inúmeros prédios, porém isso se concentrava no centro da cidade.
As casas eram a maioria das construções.
No decorrer dos meus quase cinquenta e dois anos de vida, Sampa sempre esteve em mudanças, inovações, obras, num ritmo em que era possível se acostumar, se adaptar.
O que ocorreu durante e no pós-pandemia é algo assustador e alarmante.
E muito curioso também...
Quando a pandemia aqui chegou, a maioria dos paulistanos passou a viver estritamente dentro de seus apartamentos que na média vão de 65 a 72 metros quadrados e viu-se o quão desesperador, o quão pequeno era estar com crianças, animais e adultos dentro desse espaço. Vi fotos de pessoas com o braço esticado na janela para pegar um pouco de sol.
Quem podia, ia para o interior. As reportagens falavam da necessidade de espaço.
Nesse tempo de Lockdown, eu saía às ruas com o sentimento de estar fazendo algo muito errado, para levar o cachorro a passear ( a se esvaziar, na verdade ) e numa dessas vezes, vi surgir uma placa de "vende-se" em uma casa.
Fotografei e liguei por mera curiosidade. Era uma casa de fachada muito estreita mas que me parecia tão bonita que liguei para saber o preço.
Além de um vídeo lindo que o proprietário me enviou ( a casa revelava-se incrível por dentro da fachada estreita ), conversamos por um bom tempo e ele me contava que estava recebendo muitas propostas porque as pessoas se deram conta, por conta da pandemia, que precisavam de espaços maiores para se viver - o escritório e um quintal eram essenciais. Ele me afirmou que a pandemia mudaria o conceito das moradias. Eu também acreditei nisso.
O que comecei a ver em seguida, me deixou confusa e causou estranheza: as pessoas não sofreram em seus apertados apartamentos de dois quartos com uma pequena varanda?
Como então começaram a se demolir casas, vilas de casas inteiras e construir apartamentos de 20 e poucos metros quadrados?
E o mais complexo dessa história toda... Vende, e vende muito e tem cada vez mais procura e assim cada vez mais empreendimentos.
Não consigo entender.
As casas antigas foram ao chão. Um novo empreendimento moderno e arrojado é lançado - com o mínimo espaço possível e o máximo de preço.
Essa é a tendência imobiliária "entulhar a galera em quartos minúsculos, como se a gente não precisasse de espaço. E vendem isso como o futuro da humanidade" - palavras e reflexões de Taize Odelli.
O texto já está extenso demais, então voltarei ao assunto de outra feita. Viver num espaço do que seria apenas um cômodo, de maneira moderna, minimalista, a sensação do momento, uau, moro num studio, me vem à memória o livro O cortiço.
Deixa para depois.
Ah, só para constar, a casa linda que por vídeo, estava à venda por dois milhões e trezentos mil reais. O proprietário me perguntou quanto eu tinha para nos negociarmos. Nem os últimos dígitos caro senhor. Já foi vendida. Que seja feliz o novo proprietário porque espaço ele tem de sobra!
E não esquece de me contar se aí na tua cidade essa moda de espaços minúsculos para moradia já chegou.
Beijo e bom final de semana!