sábado, 30 de dezembro de 2023
Obrigada pela companhia!
segunda-feira, 18 de dezembro de 2023
A alegria, eu e o Sr. Franklin
Despertei na manhã do sábado, 16/12/2023 tomada por duas agradáveis sensações: o dia das celebrações formais - colação de grau e baile de formatura de meu filho havia chegado, e junto a isso, ou talvez mesmo, primeiro que tudo isso, havia em meu coração a lembrança do Sr. Franklin.
Mudei de cidade para que meu filho pudesse estudar e realizar seu sonho de estudar no Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o ITA.
Sr. Franklin foi um dos primeiros moradores com quem comecei a interagir. Conversa de elevador: “ah, o cachorrinho vai passear assim tão cedo? O tempo quente, a frente fria chegando”.
Como meu cachorrinho não era nada educado para as suas “necessidades” , era bem cedo que eu o levava para a rua e assim muitas vezes, um aceno, um sorriso, a gentileza de segurar o elevador para mim.
Em algum momento em nossas conversas, descobrimos que meu filho e o filho dele estudavam para realizar o mesmo sonho em comum!
Em algum momento também eu soube pela sua esposa que ele transportava consigo duas dores para as quais as palavras não dão conta. Seu Franklin havia perdido dois filhos de seu primeiro casamento. Dois filhos já adultos, num intervalo relativamente curto um do outro. Todas as manhãs que eu o via, ele estava indo para a missa. Diariamente, cotidianamente, silenciosamente. A primeira missa da manhã.
Então chegou um dezembro, dessa vez era uma sexta-feira e quando nos encontramos eu, o cachorro e o Sr. Franklin, ele me disse “é hoje né que vai sair o resultado do vestibular para os meninos, vamos torcer.”
Um pouco antes das oito e meia da manhã, meu filho atendia uma ligação e do outro lado da linha informavam que ele havia passado no vestibular.
À tarde daquele dia também festivo, estávamos eu, marido e o cachorro numa praça quando veio se aproximando o Sr. Franklin. Ele havia ido até a praça próxima do condomínio onde morávamos para nos parabenizar.
Abraçou meu marido, sorriu, disse-nos que seu filho não havia conseguido, mas ele estava muito feliz por nosso filho.
Aquele gesto do Sr. Franklin, aquela alegria pelo nosso filho…
Esse ano eu soube que o Sr. Franklin havia falecido. Nós já havíamos mudado de cidade, então não foi possível abraçá-lo quando ele recebeu a notícia de que seu filho havia passado no vestibular tão sonhado!
Há algum tempo eu me deparei com o conceito do não-saber. E tenho exercitado esse lugar, essa experiência do não-saber.
Eu não sei o porquê de ter acordado no dia dos eventos festivos da formatura com o coração preenchido pela lembrança do Sr. Franklin.
Permiti o não-saber. Não era preciso encontrar respostas. Era tudo simples e pacífico.
Seguimos para a colação de grau e eu dediquei toda aquela alegria e energia ao Sr. Franklin. Eu me alegrei pelo meu filho, eu me alegrei pelos outros 104 companheiros de turma.
Em breve será a vez do filho do Sr. Franklin estar envolto nas festividades da sua formatura. Tenho certeza que o sentimento de alegria e resiliência que o Sr. Franklin emanava de alguma forma se fará presente na formatura de seu filho.
O Sr. Franklin me mostrou que há espaço para a alegria e tristeza coexistirem. Há beleza mesmo quando há dores.
E como eu aprendi tanto sobre alegria com o Sr. Franklin, vou partilhar aqui os nossos momentos alegres deste dia!