sábado, 30 de julho de 2011

Enfileirando

Queria ser poeta
mas minhas mãos foram embrutecidas pelos tijolos
Devem ser macias e leves
as mãos dos poetas

Queria ser poeta
saber enfileirar as palavras
na branca folha
Tão somente sei enfileirar tijolos
a formar branca parede

Meu lápis, ponta
de indelicada grossura
marca abrupto a madeira
o esquadro da janela
O lápis do poeta, fina ponta
a enlaçar-se à maciez de sua mão
e juntos bailar sobre o papel

Nas minhas noites
em que sonho ser poeta
minhas mãos embrutecidas
aparam minha cabeça a devanear

Haveria um poeta habitando
os tijolos que enfileirei?
Escrivaninha recostada à janela que abri?

No meu devaneio
vou enfileirando palavras
palavras que carregam poesia
ternura, saudade, luar, alumbramento...
Queria ser poeta.

Ana Paula

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Educação e amor

Semana que passou, as meninas Aleska e Pandora promoveram uma blogagem coletiva sobre educação da qual infelizmente eu não consegui participar.
Tema interessantíssimo quando se tem filhos, sobrinhos, netos ou não. Afinal a educação permeia nossas vidas de qualquer maneira.
Quero parabenizá-las pela iniciativa e mesmo não participando, li diversas postagens que muito me acrescentou.
Assisti tempos atrás a um vídeo de uma professora que me conquistou pela seu amor escancarado à educação. Deixo aqui um vídeo com a palestra dela, Adozinda Kuhlmann.
Mesmo em meio de tanta coisa por fazer, por arrumar na educação, eu ainda acredito nas pessoas que estão se envolvendo com intensidade e amor pela educação e conheci várias delas aqui na blogosfera.
Um vídeo de 11 minutos – Educar é amar e não desistir.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Desperdício

Alguns dias fora de casa e estou levando um tempinho para que tudo volte à rotina costumeira. Fato que me deixou um tanto ausente desse “lugar” especial e fato mais curioso ainda é como sinto falta e me pego pensando nas amizades, nos posts dos amigos, nos blogs... Isso é muito bom!

Antes de escrever sobre o que me propus, desperdício, quero tentar descrever a cena que eu vivenciei durante a minha ausência e que eu coloquei no post anterior.

Era madrugada. Horário pouco habitual, para mim, estar na rua.
04h25 marcava o relógio digital da principal avenida. Eu me dirigia para a rodoviária. Um trecho a pé, outro de metrô.
Céu escuro e sem estrelas, o que é bem comum para uma São Paulo tão poluída. No deserto da rua vejo um homem há uma boa distância a frente, parado, em pé e ainda que na escuridão era possível ver que se tratava de um mendigo.
A princípio achei que por estar encostado em um portão, estivesse fazendo xixi, mas chamou-me a atenção o chão seco e eu levantei os olhos e vi o terço em suas mãos.
Não havia nada de estético na cena. Não havia um céu bonito, flores, crianças, animais filhotes, a mão de um bebê sobreposta a mão anciã... são tantas as imagens que temos tão belas. E esta não tinha nada de estético.
Roupas velhas, cheiro ruim, pele suja.
Mas aquelas mãos unidas com um terço entrelaçado na madrugada vazia pelo lado de fora de uma igreja me encheram os olhos.

O desperdício

Às vezes as coincidências nos incitam.
Ontem à noite meu filho me perguntava sobre quais assuntos eu gostaria de escrever e eu lhe respondi que queria falar sobre o desperdício. Hoje pela manhã um post forte que nos faz refletir da amiga Angi, com imagens que falam por si e agora à noite o anúncio de um programa na televisão que abordará o assunto. Hora de escrever.
Eu disse ao meu filho que queria escrever sobre este assunto porque um gesto que eu vi, há mais de anos, não me saiu da mente.
Era um documentário sobre a vida do Dalai Lama e na parte referente à alimentação, ele mostrou a tigela onde fazia as refeições e depois acrescentou algo mais ou menos assim: “depois que terminamos a refeição, pegamos uma lasco de nabo e passamos por toda a tigela para que não sobre um grão sequer. Pelas pessoas que passam fome no mundo”.
Nunca mais esqueci daquilo. Ficou marcado. Tocou-me profundamente.
Muito mais da frase que eu sempre ouvira na minha infância: não pode jogar fora, é pecado.
Essa frase me acompanhou por muitos anos, e tão somente fez me dar medo, sentir culpa, sem mudar atitudes.
Claro que a maturidade também contribuiu. Acho bastante difícil para a criança deixar o prato sem um grão sequer. Até mesmo pela sua coordenação motora.Mas também acho que é o momento de ensinar e ajudá-la a refletir e não apenas usar o velho e tão verdadeiro chavão – com tantas crianças morrendo de fome. Muitas vezes eu recorri a imagens para que o morrer de fome ficasse mais concreto.
Em relação aos alimentos existem muitas formas de desperdício: desde o que se estraga em nossa fruteira até aquele que está na feira ou mercado e alguém enfia-lhe a unha para ver se está bem e, óbvio, não leva aquele. Que vai ficando, ficando.
Certa vez ouvi do desperdício que ocorre por ocasião dos buracos nas estradas. Caminhões saculejam por ali e em cada buraco um punhadinho de grãos vão para fora. De punhadinho em punhadinho, a conta final era estarrecedora.
Há também o excesso de cosméticos que compramos, roupas que nem usamos e por aí vai.
Infelizmente eu ainda não aproveito os alimentos como se poderia, cascas, talos.
Tenho me esforçado para comprar o necessário a ser consumido e não finco minhas unhas em nenhum legume ou fruta.
Como tem sido a sua relação com o desperdício? Beijos

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Templo

A vida fora generosa
para com ele
Talvez excessivamente generosa
Sol em excesso
noites escuras de afeto, alimento, paredes
chuva, vento, frio
relento em excesso

Dentro de suas roupas esfarrapadas
dentro do seu cheiro irrespirável
estava parado diante de um imenso portão
fechado

Mas ainda que aberto
para aquele farrapo de ser humano
estaria inevitavelmente fechado

Erguia-se, adentrando os portões
enorme templo
Para ele bastava estar próximo

Em pé, braços estendidos
por entre os vãos das grades
mãos postas e dependurado em seus punhos
um terço branco balançava

Impulsionava sonhos, desejos, dores, gratidões
lançando todos eles
ao interior do templo

A vida fora generosa
para com ele
Deu-lhe fé

Ana

domingo, 17 de julho de 2011

Livros e leituras



Ganhei este selinho da Claudia que além de ser um carinho por ser lembrada também me trouxe boas lembranças da minha relação com os livros.
Já fui mais leitora do que sou hoje!
E relembrando, na minha infância com três aninhos, eu não tinha livros como meus filhos tiveram nesta idade. Lembro-me somente de um livro: capa dura verde-claro dos três porquinhos. Eu tinha verdadeiro pavor desta história porque a figura daquele lobo me amedrontava demais!
Como já disse aqui no blog, meu pai não permitia a leitura de revistas em quadrinhos, mas sempre dizia que o maior bem que se pode deixar aos filhos é a educação.
Era com imensa satisfação que ele me trazia os livros solicitados na escola. Eu anotava o nome num papelzinho e sabia que naquela noite quando chegasse do trabalho, o livro estaria escondido por dentro do paletó!
E assim comecei a me aventurar pelo mundo dos livros.
O cachorrinho Samba” e outros livros da mesma autora. Depois vieram os clássicos, que infelizmente, pela maneira como foram apresentados à época, pareciam quase um castigo.
Quando comecei a trabalhar, fazia um longo trajeto de metrô de quarenta minutos ou mais, e ali acho que foi a época mais produtiva de leituras.
Depois com as crianças ainda bebês, nem uma linha sequer. O mínimo tempo que dispunha era para o sono!
Mas aí veio uma outra fase: a literatura infantil.
Eu não queria os clássicos para eles, acho que pelo medo que sentia quando eu era criança, acho que eram muito cor de rosa para um menino( que bobeira! Tinha Aladim, etc) e também porque tive um professor de literatura infantil que tirou-nos qualquer encanto dos clássicos. Ensinou-nos o lado mais cruel das inocentes historinhas infantis de eu decidi procurar por outras histórias...
Desde pequenos e ainda hoje, frequentamos vários espaços voltados para literatura infantil e é outro universo fascinante.
Passei então a ler muito para eles e agora com eles.
E aos poucos fui voltando para os meus livros também!
Sonho, viajo, imagino, questiono. É envolvente um livro e todas as suas possibilidades.

Claudia, agora sempre que eu for pegar o primeiro livro da pilha, ou não, lembrarei de você!

sábado, 16 de julho de 2011

Pedido

Este post é um pedido de ajuda.
Não quero de maneira nenhuma constrangê-los. Nem pedir que saiam de suas rotinas. Por isso vou pedir só para aqueles que tiverem alguma facilidade.
Preciso que cheirem um livro para mim e voltem para deixar a impressão!
O livro é maravilhoso, porém tive dificuldade com a leitura devido ao cheiro dele.
Não sabia quem era Martha Medeiros, ainda não sei, mas ao menos li um livro dela!


Tenho visto o nome dela e algumas citações e frases em alguns blogs, redes sociais e vi uma pilha de seu recém-lançado livro em uma livraria. Chamou atenção o título e a capa, além do nome da autora, é claro. Fui comprá-lo em outra livraria por conta do cartão fidelidade que pontua, essas coisas... Não tinha. Voltei lá na concorrente, onde havia uma pilha enorme, não peguei o primeiro (lembrei-me sim daquele post “leve-me com você”) e quando comecei a leitura, veio a surpresa: na forma literária porque é excelente, leve, reflexiva mas também na forma sensorial – o cheiro do livro para mim é muito forte.
Será que foi só a minha remessa? Ou só o meu nariz?
Mesmo que você não for comprar ( duvido, pois estará perdendo deliciosa leitura), cheire. Inale suas páginas e volte aqui para comentar o que sentiu.
Talvez eu esteja ficando chata. Espirrava, tinha que lavar as mãos durante a leitura, mas como a própria autora diz é preciso ver o lado bom, extrair alegria, bom humor. Foi o que fiz e fiquei foi muito feliz com tudo o que li!
Cheira lá e volta aqui para me contar.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Meu varal



Meu varal enamorou-se por mim
Pudera!
Vê meu rosto iluminado
num brilho que não é meu

Em todas as manhãs ensolaradas
estou diante dele
com o sol a bater em minha face
O brilho é do sol, não meu

O vento esvoaça meu cabelo
e meu varal põe-se a achar
que estou dançando
Meu varal ouve o riacho correndo por entre as pedras
pensa que sou eu a cantar
E eu covarde que sou
não me mostrei verdadeira a ele

Não sabe que misturo minhas lágrimas às águas do riacho
Nos dias chuvosos, é em meu vestido puído
que enxugo meu rosto sem brilho
enxugo as lágrimas que não cessam
como o riacho incessante por entre as pedras
Ah! Meu varal enamorou-se por mim
e ele precisa saber quem sou

Irrompi na tempestade noturna
e mostrei-me a ele
face encharcada, sem brilho algum
cabelos sem vida

Eis como sou: puída na alma, esvaída no coração
E com voz adocicada disse-me:
Enamorei-me por ti porque as roupas
que em mim penduras sussurram
a sua tristeza que escorre em lágrimas pelo riacho
Enamorei-me por ti porque
os lençóis que envolvem teu corpo no repouso
me contam teus sonhos
Enamorei-me por ti porque a bacia
que carregas apoiada na cintura
falou-me da delicadeza das tuas mãos

A tempestade se foi
a alvorada veio chegando com os pássaros
E eu enamorei-me por meu varal
Pudera!
Ele me viu nua sem eu nunca ter
me despido perante ele.

Ana Paula

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cerejeiras e carpas

E eu resolvi amanhecer para sentir o que fazer!
E viemos parar aqui, entre cerejeiras, carpas, jardim japonês...

















terça-feira, 12 de julho de 2011

Bola murcha

Era o meio da manhã, quando tocou o interfone. Uma tia perguntando se meu filho poderia brincar com o seu sobrinho. Dia ensolarado de férias e estas crianças dentro de apartamento.
Ah! Os quintais... quanta falta fazem.
Bernardo desceu animado.
Depois de algum tempo, eu desci com a Júlia para irmos ao mercado.
Os dois garotos ali meio tímidos, meio sem saber o que fazer.
Na volta perguntei se queriam jogar peteca. Afirmativo.
Pedi à Júlia que descesse com a peteca e levasse também a bola.
Eu é que não vou levar essa bola murcha, dá até vergonha e eles nem vão brincar com isso”.
Insisti e a coloquei dentro do elevador com a bola murcha.
A bola, presente de um tio querido, furou logo na sua estreia, vítima de um espinho. E foi ficando pelos cantos.
Olhei pela janela, depois de um tempo, vi as figuras diminuídas pela altura: a peteca servia de marcação para o gol, e os garotos pareciam felizes a se movimentar fazendo rolar a bola, ainda que murcha.
Chamei a Júlia para ver a cena.

Quando passei pelos dois e os vi ali parados, também vi cenas de garotos descalços correndo atrás de uma bola, também ouvi a música que diz bola de meia, bola de gude, lembrei dos que já me relataram jogar com bolas feitas de meia e também vi garotos a chutar latinhas de refrigerante que não deveriam estar esparramadas nas calçadas, mas estavam.
Sim, a bola está murcha, porém ainda rola. Não quica, tem o som opaco, mas ainda rola.

Bernardo subiu para o almoço, suado, com sede. Já tinha combinado de descer “daqui a pouco”. E assim o fez, levando a bola, nem lembrando que estava murcha.
Subiu no final da tarde, agora sujo. E quando perguntei como tinha sido ( porque de manhã ele nem teve tempo para falar!), contou-me que começaram jogando peteca, mas o amigo achou difícil. Decidiram pela bola e foi bom aquele estado dela, porque não havia o risco de ir para muito longe. Fizeram gols, fizeram jogadas espetaculares, tudo com a bola murcha.
E quando lhe perguntei se marcaram para se encontrar amanhã, a resposta foi: “Claro que não, mãe. É preciso amanhecer. Ainda nem amanheceu e você já quer que eu saiba o que vou fazer? Nem eu, nem ele sabemos, temos que amanhecer para sentir o que vamos querer fazer”.

Criança e simplicidade é uma combinação alegre.
Viver um dia de cada vez é o que as crianças nunca deveriam esquecer e nossa criança interior, sempre lembrar.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Liberdade

Estrada vazia e bela
estendendo-se a frente
convite a deslizar
Bicicleta
braços erguidos
no instante
em que o vento
toca o rosto
esvoaça o cabelo
Pensava assim ser a liberdade...

Senti -a
delimitada nos teus braços
aconchegada num abraço
ali, sem movimento
senti-me livre
sem importar a cor do céu
a estação do ano
ou a estação da vida
ali, estreitada pelo teu abraço
explodi em liberdade.


Ana Paula

Folga

E já que me deram folga, porque resolveram cuidar das meias, eu vim blogar!!!
Ah! Resolveram usar equipamentos específicos para não espirrar sabão nos olhos!



E até a louça não quer saber de mim.
Minha pequena assumiu o comando!


Selinho

Ganhei este selinho fofo da Luciana. Compartilhar carinho é muito gostoso neste mundo dos blogs, a gente sempre encontra braços abertos a nos abraçar com calor do coração.
Como disse a Lu, escrever me faz muito bem e adoro dividir isso com vocês!
Obrigada!


domingo, 10 de julho de 2011

Registros

As crianças chegaram de seus dias de fazenda coradas, cheias de histórias boas e engraçadas, mas houve um pormenor.
Bernardo esqueceu a máquina fotográfica.
E isso rendeu boas conversas e reflexões...

Na última aula do kumon, a orientadora disse que faria um mural com fotos das férias das crianças, para quem quisesse, poderia levar. E o Bernardo estava determinado a ilustrar o mural. Pediu-me a máquina, prometeu todos os cuidados necessários. Eu, carreguei bateria, dei umas orientações, disse que seria legal ele experimentar além do modo automático, entreguei-lhe a máquina e pedi que guardasse, porém ele esqueceu.
Por telefone ele me perguntou e eu confirmei o esquecimento. Chorou, mas não havia o que fazer.
A julgar pela cor marrom-terra de suas roupas e meias (sempre as meias!), o desalento pela máquina esquecida não deve ter durado muito.
Mas, já em casa, manifestou seu desapontamento consigo pelo esquecimento. E estava realmente triste, dizendo que não tinha registrado o lugar, as pessoas, momentos bons. Os olhos marejaram.
E meus olhos viajaram. Viajaram para uma época em que não havia fotografia. Não havia fotografia dos meus pais crianças. As minhas eram poucas, pequenas, tremidas e muitas vezes borradas.
Lembrei disso numa conversa doce, porque eu queria confortá-lo. Falei de muitas coisas que vivi e que não foram registradas, nas paisagens que meu pai descrevia e eu imaginava. E tudo isto tinha sido vivido, assim como todas as coisas que ele viveu nestes dias de fazenda. Aquilo importava.
Acostumamo-nos com a tecnologia, com a facilidade das imagens imediatas. Porém há tantos momentos que não são fotografados.
O primeiro olhar que você recebe da pessoa amada, está armazenado na sua memória. Quem é que tem a foto do primeiro olhar, e do primeiro beijo então? (Ainda mais se ele foi roubado!).
Claro que eu entendi a chateação de meu filho.
Foi bom a nossa reflexão, juntos, valorizando além das imagens “palpáveis”.
E houve outra conversa, que tive só comigo.

Acho que existem momentos fotográficos que não deveriam existir. Ou melhor explicando, existem, para mim, fotografias que só ficam boas nos meios de comunicação, para quem quiser vê-las. Por exemplo, pessoas agonizando. Eu não gostaria de ter no meu arquivo pessoal.
Outro exemplo: eu não tenho fotos dos meus partos. Não acho, digamos, estético o momento do nascimento num parto normal. Para mim pode até ficar bom numa revista especializada!
Certa vez, uma senhora mostrou-me o conteúdo de uma caixinha que ela guardava, cheia de lembranças. E eu mostrei-me chocada. Haviam várias fotos de pessoas mortas no caixão. Ela me explicou que era usado na época. Era a última recordação da pessoa.
Uma recordação que eu não queria.
E você, o que acha? Não fotografaria algum momento?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Vizinha

A Ivani fez uma postagem linda sobre ser avó. Emociona as palavras, emociona as imagens!
Ah! E eu adorei adorei os comentários no meu post vovó!
Embora lá pra vizinha!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Coração assustado

Hoje um coração imerso
em sofrida escuridão
tateia respostas
em meio à lágrimas

Permita que seu coração
tão somente sinta
Não é do coração pensar
Repouse-o no ninho seguro
do seu próprio ser
para que na noite escura
ele possa sentir

Sinta o toque que acalma
e enxuga as lágrimas
que envolve em calor
que responde, não em palavras
para o próprio coração
numa linguagem que talvez
esteja apenas adormecida
o sentir

Habitamos o mesmo planeta
e eu não tenho as palavras que procura
sinto apenas o seu coração assustado
e quero apenas, de alguma forma
enternecer-me com ele
sem as palavras
com o sentir somente
que adormecido em mim
despertou quando uma lágrima sua
nele esbarrou.

Para uma amiga blogueira 
que hoje está em situação
difícil. Que breve passará.

Tornar-se avó

Quando nos tornamos avós?
Esta pergunta  esvoaça em mim com bastante força e constância.
Motivo? Uma dessas sábias conversas que tenho com minha filha ao pé do fogão, quando ela chega sorrateira, pergunta se podemos conversar e quando dou o meu sim, ela fala imediatamente: então vou desligar o rádio.
Claro! É o nosso momento, só nosso. Tenho que estar inteira nele, porque ela está!
Então ela começa com aquela voz de criança pequena que traz beleza aos ouvidos: “Mãe, você é uma ótima mãe, você cuida muito bem da gente e é muito rigorosa. Eu gostaria que você cuidasse do meu filho enquanto eu trabalho porque eu ficarei tranquila com você cuidando dele, não quero uma babá cuidando dele, quero que você cuide com seu amor e seu jeito rigoroso que é muito importante para a gente ser feliz”.
Ah! E acrescentou - “claro, se você estiver viva”.
Eu fiquei por alguns momentos sem palavras diante daquele ser de 6 anos me transformando em avó naquele momento e esperando que eu esteja viva, mas também sabendo que posso não estar.
Há um momento em que nasce uma avó? Antes a essa conversa eu achava que quando sua filha ou filho anunciasse a gravidez é que nascia você, avó.
Agora estou achando que é muito anterior a isto e estou rigorosamente confusa porque o pedido veio de uma garotinha!
Esta é uma maneira divertida de abordar esse assunto, tão rico, tão controverso, porque muitas histórias e relatos eu já ouvi sobre avós que são consideradas 'atrevidas', enfim tenho muito a refletir e quero contar com o apoio de vocês! Caso achem que em um comentário não é possível responder e fizerem um post inteiro (mesmo que ainda não seja o dia dos avós) deixem o link lá nos comentários que eu quero alimentar a avó potencial, a semente-avó que existe em mim!
Eu era uma criança quando minha mãe morreu e evidente que a falta dela foi imensurável. A gestação foi um período em que eu ficava pensando como seria ter uma mãe partilhando aquele momento? Tive momentos difíceis depois do parto e tenho um texto guardado com muito carinho há quase dez anos que eu considero para mim um sonho cor de rosa que eu gostaria de ser para a minha filha e por que não para a minha nora...
Talvez seja exageradamente cor de rosa cor de rosa. E isso só o tempo poderá me mostrar. E eu desejo realmente que ele me mostre.

O texto:

Prometo apoiá-la em suas novas conquistas

Um dos momentos mais especiais da minha vida foi o mês após o nascimento de Tara. Descobrir minha filhinha era observar o milagre do desabrochar diante dos meus olhos. Ela era o ser mais precioso, bonito e divino que eu jamais vira.
Mas havia um outro aspecto desse tempo que guardarei para sempre como um tesouro.Numa tradição seguida por muitos indianos, a parturiente e seu bebê recém-nascido ficam na casa dos pais durante 40 dias após o nascimento. Esta tradição se explica pelo fato de tanto a mãe quanto o bebê necessitarem de cuidados e carinho nessas primeiras semanas. Cuidada por sua própria mãe , a recém-mamãe pode então se concentrar nos desafios e descobertas desse primeiro momento e dar início ao relacionamento com seu bebê num ambiente estável.
Voltar com minha filha recém-nascida para a casa de meus pais foi uma experiência comovente e tocante. Passei com eles um tempo lindo e emocionante nessa nova fase da minha vida, com meu bebê nos braços. Eu era agora uma mulher adulta, expandindo a nossa família e despertando em todos sentimentos de um amor ilimitado. O amor e o orgulho nos olhos de meus pais tanto por mim quanto por sua neta me fizeram descobrir que Tara era não só um dom para Sumant e para mim como também o presente mais sagrado que eles haviam recebido.
Nas semanas seguintes, eu me liguei à minha mãe como nunca fizera antes. Sua sabedoria, sua habilidade em cuidar de mim e do meu bebê e seu incansável carinho por nós duas me deixavam em total encantamento. No meio da noite, se Tara continuava a reclamar depois de ter mamado, minha mãe logo estava ao nosso lado calmamente, zelando por nós. Com seu modo suave, ela soube dar a Sumant e a mim o espaço que precisávamos como pais inexperientes, mas também aliviou os temores que nos assaltavam nessa nova fase de nossas vidas. Nani, minha avó, tinha cuidado de cada filha sempre que nascia um bebê. Agora minha mãe fazia o mesmo.
Na mesma época, uma amiga deu à luz. Era mãe solteira e não tinha um bom relacionamento com a mãe. Contou-me das suas dificuldades nesses primeiros tempos, em que teve de depender de amigos e parentes distantes. Quando descrevi minha experiência com minha mãe, e o novo relacionamento que desenvolvera com ela, minha amiga comentou, cheia de esperança, que iria fazer o mesmo quando chegasse o tempo de cuidar de sua filha e neta.
Esses primeiros momentos de amor com os nossos recém-nascidos são fundamentais para criar as bases dos vínculos que estabeleceremos com eles ao longo da vida e que permitirão um crescimento mútuo e harmonioso.

Livro: 100 promessas para o meu bebê de Mallika Chopra 

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Semente

O sono vem se aninhando nos meus olhos
tal fossem meias luas a minguar
descendo o véu misterioso
bordado em estrelas e sonhos

no sono sou semente
imersa em terra fecunda
paciente aprendizado
silenciosa confiança

no sono tal como semente nutrida
vislumbro o meu desabrochar
alimento-me de força e de sonhos
preciso apenas ouvir a semente
em algum lugar em mim
quando o primeiro raio se sol me tocar

Ana Paula

Visceral

Vou logo avisando: se você tem um estômago sensível, não leia este texto.

Meus pequenos estão sempre a conversar comigo sobre morar sozinho.
Sim, os dois não vêem a hora do fato se concretizar. E agora que estou imersa neste silêncio, relembrei uma dessas conversas sobre morar sozinho.
É interessante porque falamos de economia: é preciso organizar o dinheiro, sendo prioridades alimentação e contas, caso contrário poderão ficar no escuro se cortarem a energia elétrica!
Há também o quesito organização e até falamos da decoração.
Já ia me esquecendo da parte referente à animais. Sim, porque a Júlia vai morar sozinha com um cachorro da raça golden e por isso não poderá morar num apartamento, terá que ser uma casa com quintal para dar banho de mangueira no seu cãozinho!
Mas houve um dia, depois que enumeramos e debatemos sobre esses assuntos que eles me perguntaram: “Mãe, e como é que a gente sabe se está saudável morando sozinho?”
Eu os chamei para mais próximo de mim e como quem conta um segredo disse num tom de voz baixo: “Olhem sempre o seu cocô. Ele mostrará se estão saudáveis. Tem que ser todos os dias, não pode doer e tem que estar macio”.

Mãe tem cada uma, não?! Eu poderia ter falado que se acordarem sentindo-se bem dispostos, sem dor, estão saudáveis, ou então ter sido até poética – se os cabelos e os olhos brilharem e as maçãs do rosto estiverem coradas, vocês estarão saudáveis meus filhos. Mas, não. Escolhi ser visceral.
E agora estou aqui no silêncio, mas rindo.
Há pouco ele me ligaram e o mais velho disse: estamos bem mãe, não se preocupe e eu estou saudável, está tudo bem lá no banheiro.
Não posso negar que a lição parece ter sido bem aprendida.
E aqui refletindo, acho que dei-lhes esta resposta porque para mim eles mal saíram dos cueiros ( e já querem morar sozinhos!) e ainda tenho as lembranças das fraldas.
Ah! Toda mãe bem sabe do que eu estou falando. Ficamos especialistas em eliminações. Sabemos quando nosso bebezinho comeu banana, quando foi espinafre ou quando precisa de mamão com ameixa.
E eles crescem e naturalmente perdemos este contato, o que eu acho excelente!
Agora é por conta deles, faz parte da maturidade.
E a lição acho que foi mesmo bem aprendida, porque tem dias que saem do banheiro dizendo: mãe hoje no café da tarde só vou comer mamão com aveia!
E não é que esta maneira visceral de ensinar está funcionando?!