Confesso que não sei quem é Rubem Alves. Leio frases, pensamentos dele em vários blogs queridos e faço algumas buscas pela internet para saber mais desta personalidade, deste ser humano tão intrigante.
Vou juntando aqui e ali, mas sempre com a sensação de que falta-me aprender e apreender mais sobe ele.
Contador de histórias, escritor, intelectual, dono de um restaurante... e são tantas as suas faces.
Escrevi sobre ele porque muitos dos que lêem este blog poderão me ajudar, acrescentar, conhecê-lo um pouco mais.
Um texto e um vídeo de Rubem Alves
Beijos
Ostras
são moluscos, animais sem esqueleto, macias , que representam as
delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, com pingos de
limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas – são animais
mansos - , seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não
acontecesse, a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras,
dentro das quais vivem.
Pois
havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram
ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque dentro de
suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se
fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma
exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário.
Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito
triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da
sua depressão...”. Não era depressão. Era dor. Pois um grão de
areia havia entrado dentro da sua carne e doía, doía, doía. E ela
não tinha jeito de se livrar dele, o grão de areia. Mas era
possível livrar-se da dor. O seu corpo sabia que, para se livrar da
dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas aspereza,
arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa,
brilhante e redonda.
Assim,
enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho –
por causa da dor que o grão de areia lhe causava. Um dia, passou por
ali um pescador com o seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de
ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou,
levou-as para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras.
Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num
objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e
sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a
ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente
para a sua esposa.
Isso
é verdade para as ostras. E é verdade para os seres humanos. No seu
ensaio sobre O nascimento da tragédia grega a partir do espírito da
música, Nietzsche observou que os gregos, por oposição aos
cristãos, levavam a tragédia a sério. Tragédia era tragédia. Não
existia para eles, como existia para os cristãos, um céu onde a
tragédia seria transformada em comédia. Ele se perguntou então das
razões por que os gregos, sendo dominados por este sentimento
trágico da vida, não sucumbiram ao pessimismo. A resposta que
encontrou foi a mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se
entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar tragédia
em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável.
A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se
basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem
que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas.
Beethoven
– como é possível que um homem completamente surdo, no fim da
vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? Van Gogh,
Cecília Meireles, Fernando Pessoa...
do livro Ostra feliz não faz pérola ed. Planeta
Desta vez vou discordar.
ResponderExcluirNão vejo beleza nenhuma no sofrimento e muito menos redenção!
Há clichés que não passam a verdade por serem repetidos muitas vezes sem que nos debrucemos a sério sobre eles.
Qual o valor da doença sobre a saúde? Qual a supremacia da tristeza sobre a alegria? Qual o maior valor da infelicidade sobre a felicidade?
Ahhh... e muito menos me venham com o prémio do rebuçadinho que vamos ter depois... num depois que nunca ninguém comprovou, mas que nos acenam como panaceia para este sacrifício inglório que alguns nos teimam em aplicar!
Não... como dizia o Poeta...
"Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"
http://www.releituras.com/jregio_menu.asp
Beijinhos
Ana Paula,
ResponderExcluirQue texto lindo escolheu para nos brindar os olhos com um pouco de Rubem Alves.
Verdade única: "Ostras felizes, não fazem pérolas"
Beijokas doces e um bom recesso com muita paz.
Ana Paula, fantástica essa postagem. Bastante profunda e nos mostra que na dor ficamos mais sensíveis para produzir amor. Muito bom!
ResponderExcluirBom carnaval para vocâe todos aí.
Beijo.
Manoel.
Oi Ana querida, sou "fã de carteirinha" do Rubem Alves mas não sabia que ele tem restaurante. Pode? que fã mais distraída que eu sou!
ResponderExcluirSei que ele mora aqui do lado, em Campinas, em uma chácara. É (ou era?) professor de filosofia e teologia, e professor emérito na Unicamp.
Foi pastor presbiteriano por muitos anos, mas fastou-se da igreja por motivos pessoais.
ADORARIA encontrar-me com ele por aqui, pelas ruas de Campinas.Um dia quem sabe?
Tem um site na internet chamado "casa de Rubem Alves" conhece?
Muito bom visita-lo.
Quanto à pérola da ostra sou obrigada a concordar que a dor lapida a alma. Lógico que não é só a dor, mas ela contribui muito para a formação da personalidade.
Como dizia o poeta : "quem passou pela vida em brancas nuvens, e em plácido repouso adormeceu...
quem não sentiu o frio da desgraça
quem passou pela vida e não sofreu
foi espectro de homem
não foi homem
só passou pela vida
não viveu..."
esses versos são de Francisco Octaviano.
Li quando adolescente para nunca mais esquecer. Lindo né?
beijos querida, bom feriado.