Protelou,
ou protelaram por ela o inevitável.
O
encontro com ele era uma questão de tempo, sem importar se seriam
dias ou anos. Ele era paciente e lá estaria esperando.
Colocou
a chave na fechadura de abertura grande, daquelas que, em dias
melhores gostava de brincar, espionando o cômodo todo pelo lado de
fora, e girou. O rangido agora lhe dava medo. Sabia que ele estava
lá, apesar de tantos dias...
Entrou.
E ele berrava de maneira ensurdecedora. Ele, o silêncio da ausência.
O silêncio que saiu daquele túmulo numa terça-feira chuvosa,
correu a apoderar-se do seu lar.
Um
silêncio que causava dor. Um silêncio que seu forte coração de
onze anos de vida achou que não fosse suportar.
Precisava
calar aquele silêncio e pôs-se a procurar alguma coisa, talvez uma
carta. Ela não poderia ter partido assim sem deixar uma carta. Uma
carta cheia de suas palavras para encher aquele vazio tão
atordoante.
Passaram-se
dias, ou talvez meses. Encontrava pequenos caderninhos com números
de telefones separados por tracinhos, encontrava fotos apenas com a
grafia “7 meses”. Procurava tanto que nem percebeu que o silêncio
se fora.
Um
dia, os raios de sol cantavam enquanto atravessavam a vidraça e um
dia, ela encontrou, não a carta que tanto desejou que houvesse.
Encontrou um pequeno dizer. E a casa se encheu com aquelas poucas
palavras, mesmo que não fosse para ela.
Guardou
tão bem guardado o antídoto para o silêncio ruim, que o perdeu por
várias vezes, mas também o reencontrou já amarelado.
Quando
o reencontrou pela última vez, não soube explicar o que havia
acontecido com seu coração: ele não precisava mais de cartas,
bilhetes. Tinha aprendido a ouvir, a sentir toda a alegria, o amor
daquela que partira há tanto tempo.
Tudo
o que foi vivido em pequenos onze anos era imenso. O silêncio não
mais lhe assustava.
"Todos merecem a plena oportunidade de buscar, experimentar e descobrir aquilo que é engrandecedor do seu eu"
Intenso e belo! O silêncio é muito mais grandioso do que pensamos.
ResponderExcluirRealmente, houve uma coincidência entre nossas postagens!
Um belo fim de tarde pra você. ;)
Estou com os olhos cheios d'agua.
ResponderExcluirLindas palavras.
Que espetáculo,Ana Paula!!
ResponderExcluirEmocionante teu texto. Adorei! beijos,chica
Senti tristeza, saudade, alegria, maturidade em meu conceito de perda, uma vitamina de sentimentos, tipo aquelas que já não tomo mais, mas sinto o cheiro exato, o gostinho, ouço o barulho do liquidificador, as vozes de minha vó, vô, mãe, irmãos...
ResponderExcluirUm fds de lembranças e criação de novas lembranças para posteridade :)
Que dizer desse texto Ana Paula?
ResponderExcluirLindo, sensível, reflexivo e emocionante.
Parabéns pelo post querida.
Bom fim de semana.
Beijokas doces
Ana Paula,
ResponderExcluiré impossível não ler sua postagem e não sentir a pontada de dolorosas lembranças.
Eu gosto do silêncio... mas do silêncio que não machuca!
Um feliz final de semana!!
Abraços,
Carol
Um blog simples
Lojinha
Ana Paula,o silencio pode ser dolorido e pode tb sumir um dia!Linda sua msg!Bjs e meu carinho,
ResponderExcluirEmocionante e triste, sinto que voltei no tempo ao ler esse texto.
ResponderExcluirSei o significado de perder. De chegar em casa e querer sair correndo, de não suportar o silêncio.
Sua escrita está perfeita, intensa, um momento muito seu, muito íntimo.
Obrigada por dividir com seus amigos esse instante de nostalgia.
Beijos, bom domingo.
Q lindo texto!
ResponderExcluirNo início sempre temos essa sensação que o vazio nunca vai passar, mas o tempo trata de amenizar, né?
Obrigada pela dica do blog!
Em breve ou postar uma novidade que acho que vc vai gostar. Vou tentar escrever amanhã.
Bjs
Sinceramente nem sei o que dizer Ana, só o que me ocorre é que por mais que o silencio machuque e a ausência ainda mais, a vida se encarrega de trazer os sons e as alegrias de volta, gostei, achei forte! Bjooooss
ResponderExcluirAna, já tinha lido... fui e levei um pouco desse silêncio misturado com uma alegria repentina trazida por esse bilhete, não uma alegria qualquer, mas na verdade um conforto em saber que Ela levava consigo um pensamento tão nobre e que ainda naqueles poucos 11 anos de convivência passou toda essa nobreza de ser de pensar e de crer para quem ficou em silêncio triste, mas guardava ainda tão pequena mesmo sem saber tanto amor e sabedoria que lhe foi transmitida nesses 11 anos e que anos mais tarde viriam a tona e a fariam entender melhor quem ela era...
ResponderExcluirChorei aqui, me emocionei e sinto até vontade de dar um palpite de onde veio esse bilhete, mas vou com a emoção embora e fico em silêncio e respeito.
Lindo demais, apesar da dor...
Beijos e lindo dia.
Su.
Oi Ana,
ResponderExcluirLi vários dos seus posts hoje, assim de uma tacada só. E adorei! Quando cheguei nesse, o silêncio me calou. Sereno, ele não me machucou. Gosto do silêncio. Sempre achei que ele fala mais alto e em bom som.
Parabéns!
Obrigada tb pela visita, me deu imenso prazer vir aqui retribuir.
Beijos,
Rachel