Hoje limpei as frestas da minha janela
para que o cantar da passarinhada
adentre meu quarto e se acomode
em meu travesseiro
assim deixarei meus sonhos
embalada em melodias
e quando chegar à realidade
as frestas da minha janela
estarão quase explodindo em alaranjados
Havia muita poeira negra
nas frestas da minha janela
mas não são pedacinhos de poluição
dos milhões de carros dessa metrópole
são pedacinhos da noite de amor
do sol e uma estrela
Havia também muita umidade
nas frestas da minha janela
Não, não tem chovido por aqui
a umidade vem dos meus olhos
choro muito, a noite toda
Ruas sangrentas
onde crianças empunham armas
e carros-bomba
deixam rastros de destruição
e marcas de sangue
e mães sem filhos
onde se misturam
religião política
e dor
Ah tudo não passou de um sonho ruim
as frestas estão limpas
e deixam entrar
o perfume da estrela apaixonada
no alaranjado do sol
a cantata dos pássaros
a alegria
de um novo amanhecer
Escrevi estas linhas no calor de uma leitura, artigo de jornal escrito por Elif Shafak, sobre os questionamentos, os dilemas do escritor,
Um trecho:
"Quando as pessoas estão morrendo nas ruas ou os regimes estão se desintegrando, ou a possibilidade de um colapso econômico ou político parece perturbadoramente próxima, como os romancistas e poetas podem continuar ancorados no mundo imaginário? Escrever é um ato solitário, mas às vezes os sons das ruas interferem".
Esta frase ainda está me martelando na cabeça.
Saber o que se passa em nosso país, política, na cabeça dos governantes é necessário. E eu penso que temos talentosos jornalistas, e também escritores para esse fim. Sonhar, amenizar o sofrimento, também é necessário, e isto cabe aos romancistas, aos poetas.
Não sei se a rudeza da "Primavera Árabe" aniquilou a doçura dos poetas.
Não temos carros-bomba aqui em nosso país, mas temos um trânsito que mata absurdamente, temos cracolândias e balas perdidas.
E temos poetas, como este que assim escreve:
"Quem vai cuidar das pequenas coisas do mundo
E derramar sua lente de aumento profundo
Em microinvisibilidades desabrotadas desse susto que demora?
Ora, o poeta".
Poeta Marcilio Godoi, poeta Ana Paula
ResponderExcluirFrestas, pequenas coisas, alegrias e tristezas
Tudo contém aprendizado, em td há poesia, mesmo com os todavias
Estava sentindo falta de te ler :)
Sensacional teu texto, trazendo fragmentos de poetas e que nos fazem pensar, abrir os olhos à realidade crua e nua, mas sem perder a alegria, deixando sempre o sol e luz entrarem pelas frestas das nossas janelas! beijos,chica
ResponderExcluirAdorei o poema!!!
ResponderExcluirE veja o verso que vi numa exposição de curitiba:
"Mesmo cansado da lida
Vê o poeta mundos risonhos
e nas madrugadas da vida
dorme abraçado nos sonhos."
O mundo precisa da doçura dos poetas!!!
Beijos!!!
Lívia.
Voce tem razão amiga, e o Marcilio também, quem vai contar as dores e sofrimentos do mundo? O Poeta, lógico.
ResponderExcluirlindos os seus versos, adorei seu poema, que nos dá a sensação de desamparo, mas também de amor e fé de que tudo vai melhorar.
os politicos estão brincando de resolver problemas, e isso é preocupante, o mundo está cheio de odio e vingança.
o poeta, só ele, poderá nos acalmar e colocar beleza nessa triste realidade.
Li o poema do Marcilio Godoi e fiquei encantada.
Ele é ótimo mesmo!
beijos querida, tenha um bom dia!
Demais amiga, na minha ignorância poética fico babando na forma como vc escreve e descreve sentimentos, desejos e sensações, as frestas da minha janela eu não conseguiria expressar assim, mesmo lendo um outro texto de inspiração! Mensagens lindas estão aki hj! Bjooossss e parabéns!
ResponderExcluirBelo poema.
ResponderExcluirAdorei a "Espécie Emília Ariana", tanto a nomenclatura qto a vc ter lido assim a foto :)
ResponderExcluirVale pontuar o quão é perigosa essa espécie (risos descontrolados).
Também me sinto assim. Quando escrevo no blog, tento colocar minhas experiências de forma a amenizar a dor de outros. Não sou boa com o contato com o mundo externo, prefiro falar do meu mundo interior. Li uma vez, que o Legião Urbana fazia muitas musicas de protestos, mas depois que alguém fez a maior bagunça num show deles em brasília, e o "pau comeu", eles começaram a cantar temas mais intimistas. Eu acho que foi assim comigo tb. Quanto mais falamos na maldade, mais ela causa raiva aos outros. mas quando falamos de coisas bonitas sobre nós mesmos, acendemos pequenas velinhas na escuridão de alguém. beijos!
ResponderExcluirPS: te convido a ler o post de hoje do Diários. tem mais ou menos a ver com esse comentario.
Belo texto amiga!
ResponderExcluirQue lindo... termos poetas como Marcilio e você, que apesar das coisas tristes impostas pelo mundo, enxerga também as belezas contidas na natureza... Isso é divino!
Abraços e uma tarde abençoada pra ti.
Que dizer do seu texto Ana? Perfeito! cheio de reflexão, de preocupação social e o poeta bem que poderia levar esse susto logo né? Adorei a citação desse poeta Marcilio Godoi.
ResponderExcluirBjks doces.
Olá Ana, infelizmente o mundo esta assim cheio de dor, as pessoas estão cansadas e nada se é feito para mudar esta situaçãoo, meu marido diz que sempre foi assim, mas na época não tinha a mídia para destacar as desgraças. Mas vamos fazer dentro de nossos lares um lugar de aconchego para nossa família poder fugir desta babilônia depois da escola e do trabalho. Lindo texto, acho importante ler posts assim, que nos leva a refletir, é um acordar. Beijinhos Ana e obrigada pela linda visita.
ResponderExcluirAna Paula,
ResponderExcluiro que seria da vida se não fossem os poetas?
Não precisamos ser alienados mas também não devemos ser tão realistas.
Saber balancear é necessário e faz bem!
Abraços,
Carol
www.umblogsimples.com
Oi Ana!
ResponderExcluirQue beleza de texto. As palavras e a ideias de encaixam perfeitamente, traduzindo como sempre sua sensibilidade sobre a vida!
bjo grande!
lindo lindo lindo o teu poema Ana, inspirado pela frase, realmente, desconcertante do escritor que menciona. Gostei demais de como vc escreveu. Mt mesmo!
ResponderExcluirPassando para deixar um beijinho.
ResponderExcluirFeliz sexta feira.
Que lindo o texto!
ResponderExcluirBeijos
Selma
Ana Paula, a sensibilidade do poeta sempre "grita" mais alto.
ResponderExcluirBeijo
Manoel