quarta-feira, 28 de maio de 2014
Nos dias frios
Nos dias muito frios, a mãe tinha um cuidado especial com sua menina.
Banhava-a rapidamente e mais rapidamente ainda a enxugava, o que fazia a menina pensar que aqueles gestos tão apressados eram um descuidado por parte da mãe.
Mas depois vinha a voz suave, lenta e firme para que tudo desse certo e o frio não maltrasse nem mais um segundo a pele de sua menina.
"Segura firme a manga com a mãozinha".
Eram estas as palavras nos dias muito frios que a mãe pronunciava enquanto sobrepunha mais um casaco, ou outro abrigo para aquecer sua criança.
Aconteceu de escapar muitas vezes e a mãe embrabecer. Não com a menina; era com o frio que queria se instalar.
A longa manga enrodilhava feito gato e ia parar lá no cotovelo.
Nunca a mãe estava cansada para subir seus dedos braço acima e puxar de volta a manga comprida.
"Segura firme a manga com a mãozinha".
segunda-feira, 26 de maio de 2014
domingo, 25 de maio de 2014
Beleza de tubérculo
A gente sabe que está ficando velho quando não leva mais cantadas pelas ruas.
Sei que é arriscado escrever sobre este tema que se tornou espinhoso ultimamente, onde uma cantada pode ter uma outra conotação mais grave, porém quero mesmo é falar daquela cantada leve que dá uma infladinha de leve no ego!
Pois meninas, não se incomodem com elas. Ouçam a voz da experiência falando.
A gente vai ficando velha e ninguém mais te canta. Pode passar em frente a uma obra que nada acontece. Pode passar ao lado de várias betoneiras com seus operadores que você simplesmente parece ser invisível, ou velha.
Assim tem acontecido comigo. Nunca mais uma cantada.
Passei esses dias em frente às betoneiras, trabalhadores, e, nada; segui cabisbaixa para o supermercado. Lembrei dos tempos áureos de um sonoro fiu-fiu.
É mesmo o fim e há de haver conformidade.
Assim segui para minhas compras de frutas e hortaliças na quarta-feira extraordinária de promoções no chamado "feirão da economia".
De economia não tinha nada por ali e eu fiquei foi inconformada com o preço da batata.
Parei em frente à banca onde estavam e exclamei em voz alta reclamando sei lá pra quem, acho que meus botões mesmo ouvirem:
- Tão cara e tão feia.
Foi então que uma voz masculina voltou-se para mim e disse com suavidade:
- Ah! Se essas batatas fossem bonitas como você, eu levava a banca inteira.
Corei feito o exorbitantemente caro pimentão vermelho.
Ele ainda finalizou com uma piscadinha.
Era uma cantada!
Eu fui comparada com batatas!
Minha beleza é de um tubérculo.
Tudo bem, tudo bem. Claro que eu preferia ser chamada de flor de maracujá ou flor de jasmim, mas já está bom ser bonita feito batata.
Afinal para quem já estava se achando velha, depois desses tubérculos eu remocei!
Sei que é arriscado escrever sobre este tema que se tornou espinhoso ultimamente, onde uma cantada pode ter uma outra conotação mais grave, porém quero mesmo é falar daquela cantada leve que dá uma infladinha de leve no ego!
Pois meninas, não se incomodem com elas. Ouçam a voz da experiência falando.
A gente vai ficando velha e ninguém mais te canta. Pode passar em frente a uma obra que nada acontece. Pode passar ao lado de várias betoneiras com seus operadores que você simplesmente parece ser invisível, ou velha.
Assim tem acontecido comigo. Nunca mais uma cantada.
Passei esses dias em frente às betoneiras, trabalhadores, e, nada; segui cabisbaixa para o supermercado. Lembrei dos tempos áureos de um sonoro fiu-fiu.
É mesmo o fim e há de haver conformidade.
Assim segui para minhas compras de frutas e hortaliças na quarta-feira extraordinária de promoções no chamado "feirão da economia".
De economia não tinha nada por ali e eu fiquei foi inconformada com o preço da batata.
Parei em frente à banca onde estavam e exclamei em voz alta reclamando sei lá pra quem, acho que meus botões mesmo ouvirem:
- Tão cara e tão feia.
Foi então que uma voz masculina voltou-se para mim e disse com suavidade:
- Ah! Se essas batatas fossem bonitas como você, eu levava a banca inteira.
Corei feito o exorbitantemente caro pimentão vermelho.
Ele ainda finalizou com uma piscadinha.
Era uma cantada!
Eu fui comparada com batatas!
Minha beleza é de um tubérculo.
Tudo bem, tudo bem. Claro que eu preferia ser chamada de flor de maracujá ou flor de jasmim, mas já está bom ser bonita feito batata.
Afinal para quem já estava se achando velha, depois desses tubérculos eu remocei!
sexta-feira, 23 de maio de 2014
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Mérito
Agradeço a vocês que comentaram no meu post anterior sobre os blogs. Recebi muitos comentários! Acho que o título deu certo!
Brincadeiras à parte, acho que realmente trouxe várias reflexões, muitos tinham o mesmo questionamento e para mim acrescentou ainda mais. Meu muito obrigada!
E vamos à postagem de hoje que é um reconhecimento ao mérito de meu filho!
Em meados de janeiro deste ano, eu levava meu filho, depois de um período de férias, às suas aulas extras de matemática.
É um gosto dele, acredito mesmo ser um talento. Não é imposto, como muitos pensam. O menino gosta mesmo da tal matemática, o inverso da mãe...
Levamos cerca de quinze minutos a pé, num trajeto reto ( em partes, porque os calçamentos são muito esburacados ) e o cachorro vai junto.
Neste dia de retorno das férias, fui recebida com um convite para entrar. Agradeci e disse estar com o cachorro.
"Não tem problema, pode entrar com ele."
Ai, ai, isso não era um bom sinal. Nosso cachorro não é benquisto pela sociedade.
Não se engane porque isto não é um sorriso.
Entramos eu e o cachorro e quando a moça começou com "então, sabe" eu numa ansiedade deixei as palavras saírem abruptamente. "Você vai fechar?"- eu disse.
Ela apenas confirmou. Eu entristeci, senti vontade de falar, esbravejar, soltar os cachorros, no caso, o cachorro, nela, mas de nada adiantaria, era fato consumado.
Sugeriu-me outros dois endereços, um deles já se mostrou inviável. Nosso meio de locomoção são os pés e nem tudo dá para eles!
Fiquei de pensar; o outro endereço sugerido, tinha em seu trajeto duas opções: uma ladeira de uns dez ou doze minutos de subida ou um atalho por dentro de um lindo bosque com uma enorme escadaria, dessas que te põe o coração na goela.
A tristeza do menino foi tanta que resolvi ir com ele para conhecer o local, a nova professora e principalmente marcar o tempo e convencer minhas pernas.
Chegando lá, fomos muito bem recebidos e nos sentamos para uma conversa. Meu filho, inicialmente tímido, respondia com monossilábicos "sim". Foi quando ela perguntou-lhe o nome.
Bernardo.
"Bernardo? Mas eu conheço o Bernardo, nós nos falamos por telefone várias vezes! Quando ele tinha alguma dúvida que não conseguiam resolver, ligavam para mim e a gente ficava um tempão no telefone resolvendo, não é mesmo Bernardo?"
"Sim".
"Eu conheço exatamente o pensamento dele, a maneira dele raciocinar a matemática! Estou muito feliz de conhecê-lo agora pessoalmente. Vamos nos dar muito bem! "
Senti foi ciúmes. Estava diante de uma pessoa que conhecia o pensamento do meu filho, a maneira dele raciocinar. Mas tenho que admitir, eu sou um zero a esquerda em se tratando de matemática. Passo é bem longe das contas do menino.
Entre coração na goela e pernas ligeiras na subida, aceitamos o desafio.
O desafio maior é claro, é dele. Tem que haver dedicação, esforço, vencer o cansaço, as tarefas da escola, o sedutor sr. tablet e por aí vai.
Mas ele tem conseguido!
E por seu mérito, recebeu uma honraria, um "pin" ( broche ) por ter alcançada determinados cálculos com 11 anos de idade.
Em outubro, ele receberá um troféu.
Parabéns Bernardo! Persistência, esforço e dedicação resultaram no teu mérito!
Brincadeiras à parte, acho que realmente trouxe várias reflexões, muitos tinham o mesmo questionamento e para mim acrescentou ainda mais. Meu muito obrigada!
E vamos à postagem de hoje que é um reconhecimento ao mérito de meu filho!
Em meados de janeiro deste ano, eu levava meu filho, depois de um período de férias, às suas aulas extras de matemática.
É um gosto dele, acredito mesmo ser um talento. Não é imposto, como muitos pensam. O menino gosta mesmo da tal matemática, o inverso da mãe...
Levamos cerca de quinze minutos a pé, num trajeto reto ( em partes, porque os calçamentos são muito esburacados ) e o cachorro vai junto.
Neste dia de retorno das férias, fui recebida com um convite para entrar. Agradeci e disse estar com o cachorro.
"Não tem problema, pode entrar com ele."
Ai, ai, isso não era um bom sinal. Nosso cachorro não é benquisto pela sociedade.
Não se engane porque isto não é um sorriso.
Entramos eu e o cachorro e quando a moça começou com "então, sabe" eu numa ansiedade deixei as palavras saírem abruptamente. "Você vai fechar?"- eu disse.
Ela apenas confirmou. Eu entristeci, senti vontade de falar, esbravejar, soltar os cachorros, no caso, o cachorro, nela, mas de nada adiantaria, era fato consumado.
Sugeriu-me outros dois endereços, um deles já se mostrou inviável. Nosso meio de locomoção são os pés e nem tudo dá para eles!
Fiquei de pensar; o outro endereço sugerido, tinha em seu trajeto duas opções: uma ladeira de uns dez ou doze minutos de subida ou um atalho por dentro de um lindo bosque com uma enorme escadaria, dessas que te põe o coração na goela.
A tristeza do menino foi tanta que resolvi ir com ele para conhecer o local, a nova professora e principalmente marcar o tempo e convencer minhas pernas.
Chegando lá, fomos muito bem recebidos e nos sentamos para uma conversa. Meu filho, inicialmente tímido, respondia com monossilábicos "sim". Foi quando ela perguntou-lhe o nome.
Bernardo.
"Bernardo? Mas eu conheço o Bernardo, nós nos falamos por telefone várias vezes! Quando ele tinha alguma dúvida que não conseguiam resolver, ligavam para mim e a gente ficava um tempão no telefone resolvendo, não é mesmo Bernardo?"
"Sim".
"Eu conheço exatamente o pensamento dele, a maneira dele raciocinar a matemática! Estou muito feliz de conhecê-lo agora pessoalmente. Vamos nos dar muito bem! "
Senti foi ciúmes. Estava diante de uma pessoa que conhecia o pensamento do meu filho, a maneira dele raciocinar. Mas tenho que admitir, eu sou um zero a esquerda em se tratando de matemática. Passo é bem longe das contas do menino.
Entre coração na goela e pernas ligeiras na subida, aceitamos o desafio.
O desafio maior é claro, é dele. Tem que haver dedicação, esforço, vencer o cansaço, as tarefas da escola, o sedutor sr. tablet e por aí vai.
Mas ele tem conseguido!
E por seu mérito, recebeu uma honraria, um "pin" ( broche ) por ter alcançada determinados cálculos com 11 anos de idade.
Em outubro, ele receberá um troféu.
Parabéns Bernardo! Persistência, esforço e dedicação resultaram no teu mérito!
Tereza, a mestra que bem conhece os números da cabeça de meu filho!
Esses foram os cálculos que o levaram a receber sua honraria!
E eu como nada entendo disso, ofereço-lhe isto:
( * V * )
Passarinho em linguagem de internet
Voa meu menino passarinho!
terça-feira, 20 de maio de 2014
Os blogs estão morrendo?
Não, eu não acredito nisto.
Então, primeiramente, eu quero me desculpar pelo título. Ele foi intencional e sensacionalista, numa tentativa de atrair comentários.
Vários blogs dos quais participo estão festejando três, cinco, surpreendentes dez anos de existência e é isso que me faz acreditar que não estão morrendo.
Mas, há algo de estranho acontecendo, algo subterrâneo, obscuro. Ou sou só eu que estou tendo essa percepção?
Pode ser uma impressão errada, pessimista ou restrita aos meus círculos virtuais. Sinto que algo de ruim está acontecendo...
"... Depois de pegar o jeito, Nietzsche foi capaz de digitar com os olhos fechados. Os jornais publicaram a notícia de que o grande pensador estava de volta às suas atividades, mas um amigo próximo, o compositor Heinrich Köselitz, notou uma mudança no seu estilo de escrever. O texto de Nietzsche estava mais sucinto, "telegráfico". Em uma troca de correspondências, Nietzsche reconheceu: "Você está certo. Nosso equipamento de escrita toma parte na formação de nossos pensamentos." *
Com esta frase começo a reflexão pela vertente do copo meio vazio.
Não acho que a troca das nossas ferramentas de escrever - do papel e lápis para as telas e teclados - estejam influenciando demasiado a nossa escrita; acredito que o tipo de plataforma, de "rede social"que escolhemos possa estar influenciando nossas palavras, ou melhor nossa escrita compartilhada.
A grande maioria das redes socias, especialmente o facebook, é uma plataforma com restrição de caracteres e dispositivos como o curtir e o gostar do Instagram que suprimem palavras e limitam elaboração. Há também facilidades por lá, como marcar as pessoas, que é uma forma rápida de chamá-las, o que não acontece ( ainda ) nos blogs.
Muitos por lá ficam. Há os que circulam bem por vários ambientes; há os que misturam tudo!
Com a chegada dessas redes, os blogs foram deixando de ser novidade e talvez isso esteja afastando as pessoas da leitura mais longa e de comentários.
Olhando o copo meio cheio, ficam os que realmente se identificam com o tipo de interação proporcionada pelos blogs. Quem gosta do exercício da escrita, da leitura, fica.
Sendo otimista, talvez o que esteja acontecendo, seja exatamente o que li lá no blog da Luma sobre o "slow blog" (excelente reflexão) sobre o blogar sem pressa, sem pressão, sem a necessidade de manter-se sempre conectado.
Muitas pessoas podem estar mesmo praticando o slow blog e isso seria muito bom. Não abandonaram, apenas reviram o ritmo em todas as redes sociais.
A partir dos comentários ( vou torcer para que cheguem! ), vamos refletir juntos, chegar próximo a conclusões, abrir-nos a novas possibilidades.
Então, dê sua opinião!
Então, primeiramente, eu quero me desculpar pelo título. Ele foi intencional e sensacionalista, numa tentativa de atrair comentários.
Vários blogs dos quais participo estão festejando três, cinco, surpreendentes dez anos de existência e é isso que me faz acreditar que não estão morrendo.
Mas, há algo de estranho acontecendo, algo subterrâneo, obscuro. Ou sou só eu que estou tendo essa percepção?
Pode ser uma impressão errada, pessimista ou restrita aos meus círculos virtuais. Sinto que algo de ruim está acontecendo...
"... Depois de pegar o jeito, Nietzsche foi capaz de digitar com os olhos fechados. Os jornais publicaram a notícia de que o grande pensador estava de volta às suas atividades, mas um amigo próximo, o compositor Heinrich Köselitz, notou uma mudança no seu estilo de escrever. O texto de Nietzsche estava mais sucinto, "telegráfico". Em uma troca de correspondências, Nietzsche reconheceu: "Você está certo. Nosso equipamento de escrita toma parte na formação de nossos pensamentos." *
Com esta frase começo a reflexão pela vertente do copo meio vazio.
Não acho que a troca das nossas ferramentas de escrever - do papel e lápis para as telas e teclados - estejam influenciando demasiado a nossa escrita; acredito que o tipo de plataforma, de "rede social"que escolhemos possa estar influenciando nossas palavras, ou melhor nossa escrita compartilhada.
A grande maioria das redes socias, especialmente o facebook, é uma plataforma com restrição de caracteres e dispositivos como o curtir e o gostar do Instagram que suprimem palavras e limitam elaboração. Há também facilidades por lá, como marcar as pessoas, que é uma forma rápida de chamá-las, o que não acontece ( ainda ) nos blogs.
Muitos por lá ficam. Há os que circulam bem por vários ambientes; há os que misturam tudo!
Com a chegada dessas redes, os blogs foram deixando de ser novidade e talvez isso esteja afastando as pessoas da leitura mais longa e de comentários.
Olhando o copo meio cheio, ficam os que realmente se identificam com o tipo de interação proporcionada pelos blogs. Quem gosta do exercício da escrita, da leitura, fica.
Sendo otimista, talvez o que esteja acontecendo, seja exatamente o que li lá no blog da Luma sobre o "slow blog" (excelente reflexão) sobre o blogar sem pressa, sem pressão, sem a necessidade de manter-se sempre conectado.
Muitas pessoas podem estar mesmo praticando o slow blog e isso seria muito bom. Não abandonaram, apenas reviram o ritmo em todas as redes sociais.
A partir dos comentários ( vou torcer para que cheguem! ), vamos refletir juntos, chegar próximo a conclusões, abrir-nos a novas possibilidades.
Então, dê sua opinião!
*Pedro Burgos - Conecte-se ao que importa.
domingo, 18 de maio de 2014
sexta-feira, 16 de maio de 2014
Sapatos e chinelos e mães
Nas duas semanas que antecederam o dia das mães, meu filho Bernardo estava às voltas com uma redação para homenagear as matriarcas. Passado alguns dias, disse-me com voz sorridente que a professora escolhera três redações de sua turma e a dele era uma delas. No dia seguinte, carregando decepção na voz e no coração, confessou que somente uma das redações foi escolhida para estar em um folheto entregue às mães e a escolhida foi a de uma colega da sala e não a dele.
Antes mesmo que eu terminasse meu diálogo efusivo sobre o primeiro lugar no meu coração ser ocupado pela redação dele, ele me interrompeu dizendo:
- A dela realmente era a melhor; ela sabia falar sobre chinelos virados e a morte das mães. Eu nunca soube disso.
Naquele momento não havia nada mais que eu pudesse dizer a ele.
Silenciei apenas.
E agora vou dizer aqui, em forma de palavras o que nunca lhe ensinei.
Você Bernardo, nasceu numa época em que nós, as mães de primeira viagem nos gabávamos por romper com os padrões que fomos criadas.
Você nasceu na época em que a psicologia nas revistas, nos programas de televisão nos diziam sobre traumas e nunca que nós, as mães modernas, colocaríamos traumas em nossos filhos. Talvez muitos de nossos fracassos se devessem a esses traumas de pais que tinham olhar severo que falavam sem dizer. E com você tudo seria diferente.
E tínhamos também a ajuda da ciência que não permitia que fiapos de lã, preferencialmente vermelho, pousassem em sua testa para lhe cessar o soluço.
Então um chinelo virado, era somente um desleixo.
Sabe meu filho, eu nunca lhe disse que você tomou banho com um pedaço de telha virgem colocada em brasa na água da banheira para tirar o seu amarelão; acho também que nunca lhe falei que a tia de coração Josefina, enterrou seu umbigo debaixo de uma roseira e eu acredito que tenha dado certo porque você é por demais formoso. Também deixei, contrariando os cientistas, colocarem um fiapo enroladinho em sua testa e o soluço passou.
Quanto aos sapatos virados do qual eu nunca lhe falei, eles existiram na minha infância quando a minha mãe, a avó que você não conheceu, morreu. Mas eu, de alguma forma, soube que não foram eles o culpado.
A tua "eliminação" num concurso de redação me trouxe uma admiração imensa pelas mães que ralhavam o tempo todo com os chinelos virados e bradavam que poderiam morrer. Elas jamais quiseram causas qualquer trauma na sua prole. Era somente amor.
Amor que zelava, que cuidava, que gostava de tudo em ordem.
Os tempos mudam e cada qual tem uma característica, uma marca.
A tua eliminação me fez querer te contar todas essas "coisinhas" e me fez ver que a gente quer ser tão moderno e se esquece de tantos detalhes que são atemporais.
Ah! eu também não torcia as suas roupinhas de recém-nascido para não dar cólicas; apenas espremia entre as mãos e nem pensar em esquecê-las no sereno...
Agora que você já sabe um pouco sobre chinelos virados, dê os parabéns para a sua amiga, de quem quero ressaltar um trecho escrito:
A bênção meu filho.
Antes mesmo que eu terminasse meu diálogo efusivo sobre o primeiro lugar no meu coração ser ocupado pela redação dele, ele me interrompeu dizendo:
- A dela realmente era a melhor; ela sabia falar sobre chinelos virados e a morte das mães. Eu nunca soube disso.
Naquele momento não havia nada mais que eu pudesse dizer a ele.
Silenciei apenas.
E agora vou dizer aqui, em forma de palavras o que nunca lhe ensinei.
Você Bernardo, nasceu numa época em que nós, as mães de primeira viagem nos gabávamos por romper com os padrões que fomos criadas.
Você nasceu na época em que a psicologia nas revistas, nos programas de televisão nos diziam sobre traumas e nunca que nós, as mães modernas, colocaríamos traumas em nossos filhos. Talvez muitos de nossos fracassos se devessem a esses traumas de pais que tinham olhar severo que falavam sem dizer. E com você tudo seria diferente.
E tínhamos também a ajuda da ciência que não permitia que fiapos de lã, preferencialmente vermelho, pousassem em sua testa para lhe cessar o soluço.
Então um chinelo virado, era somente um desleixo.
Sabe meu filho, eu nunca lhe disse que você tomou banho com um pedaço de telha virgem colocada em brasa na água da banheira para tirar o seu amarelão; acho também que nunca lhe falei que a tia de coração Josefina, enterrou seu umbigo debaixo de uma roseira e eu acredito que tenha dado certo porque você é por demais formoso. Também deixei, contrariando os cientistas, colocarem um fiapo enroladinho em sua testa e o soluço passou.
Quanto aos sapatos virados do qual eu nunca lhe falei, eles existiram na minha infância quando a minha mãe, a avó que você não conheceu, morreu. Mas eu, de alguma forma, soube que não foram eles o culpado.
A tua "eliminação" num concurso de redação me trouxe uma admiração imensa pelas mães que ralhavam o tempo todo com os chinelos virados e bradavam que poderiam morrer. Elas jamais quiseram causas qualquer trauma na sua prole. Era somente amor.
Amor que zelava, que cuidava, que gostava de tudo em ordem.
Os tempos mudam e cada qual tem uma característica, uma marca.
A tua eliminação me fez querer te contar todas essas "coisinhas" e me fez ver que a gente quer ser tão moderno e se esquece de tantos detalhes que são atemporais.
Ah! eu também não torcia as suas roupinhas de recém-nascido para não dar cólicas; apenas espremia entre as mãos e nem pensar em esquecê-las no sereno...
Agora que você já sabe um pouco sobre chinelos virados, dê os parabéns para a sua amiga, de quem quero ressaltar um trecho escrito:
"As mães não são iguais, cada uma tem seu jeitinho, umas mais fofas, outras mais brutas, umas mais fortes, outras mais sensíveis, mas, independente de como é a sua mãe, garanto que qualquer um já "desvirou o chinelo"para ela não morrer, mesmo sabendo que não iria acontecer nada."
Vitória Souza
A bênção meu filho.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
TODOS
Uma prosa em tom confessional:
"Ô Paula, sabe que agora aqui em casa vem um padre para rezar missa pra mim e pra Bastiana. Ele vem durante a semana, num tem dia certo; vem de tarde, os meninos tão na lida da roça, então é só eu e Bastiana mesmo.
Ele chega, deixa a motoca ali no terreiro, vai lá pro quarto e põe batina de padre e eu e a Bastiana ficamo ali na sala esperando. Quando ele entra a gente levanta e começa a missa.
Inda bem que é coisa rápida Paula. Num tem cantoria e nós dois ficamos de pé o tempo todinho. Mas Paula, tem um problema: nós vamo acompanhando a reza do padre e tem uma hora que ele fala "TODOS"e eu e a Bastiana respondemo. Mas por que é que ele tem que falar TODOS se só tô eu e ela aqui?
E é uma par de vezes que ele vem com esse TODOS.
Agora cada vez que eu escuto o barulho da motoca chegando, já vem na minha cabeça o TODOS; começa a reza e eu fico esperando pelo TODOS. Será que é pecado Paula?"
Caí na gargalhada! E respondi:
"Se é pecado, eu é que num sei dessas coisas. Mas o senhor que não me convide para missa aqui senão eu vou é cair na risada quando o padre falar esse TODOS."
"Já me arrependi de ter te contado essa história procê Paula, porque agora tá é perigoso deu também começar a rir! "
Então agora o senhor me dá licença, que essa história vai é virar uma história para o meu blog com o título - TODOS!
19/52
Vou caminhando e me aproximando de vozes a cantar. Ou seria a música que se aproximou de meus passos?
Encontrar assim, entre passos e compassos, um coral, é um convite a uma boa pausa!
domingo, 11 de maio de 2014
Olhar devagar
"... Olham querendo decorar suas feições. Olham querendo descobrir o que deles e dos seus está impresso na nova criatura. Alguns pais e mães não desaprendem de olhar com calma os filhos, mas há outros que perdem logo o costume."
Pe. Fábio de Melo
Era sábado. Despertei antes das seis; bem poderia dormir mais um pouco, mas acho que é, como dizem, a força do hábito.
Abri janelas que não incomodariam quem ainda estivesse a dormir e tentei manter o maior silêncio possível.
O barulho, no entanto, veio da rua. Vozes exaltadas sugerindo discórdia, nosso cachorro atiçado saiu em disparada ao portão. Fui buscá-lo e então presenciei a cena.
Três jovens. O rosto ainda mantendo aquela feição pueril. Boas vestes de marca ou grife cara, talvez alguma marca ligada ao surf, à tribo dos skatistas, funk, não sei.
Havia discórdia na fala deles com um dos três tentando fazer as vezes da concórdia. Havia abraço e pedido para ficar "frio".
Um deles segurava uma garrafa de vodca e os outros dois seguravam duas latinhas, que foram deixadas no meu portão e ao recolhê-las soube ser energético.
Estavam embriagados, a coordenação trôpega.
Pensei em suas mães. Já se deram conta, tão cedo e os filhos não estão em casa? Certamente não dormiram em casa. Autorizados?
Saí para um compromisso com minha filha: um café comunitário em homenagem às mães.
Simplicidade e carinho deram forma à tudo o que aquelas pessoas prepararam. Inclusive as palavras.
Em algum momento, um voz agradável nos conduzia a uma reflexão e nos pedia em seguida a olhar para os nossos filhos como olhávamos quando eram recém-nascidos.
Percebi gestos tentando conter alguma lágrima fruto da emoção, narizes avermelhados e úmidos - idem o motivo.
Inevitável também foi não pensar nos três jovens, em suas mães.
Muitos poderiam argumentar se a juventude não foi feita justamente para essas pequenas transgressões.
Deixo a ingenuidade de lado e enxergo a possibilidade de um porre, noitadas, que podem fazer parte das descobertas de um jovem.
Mas e a destrutividade a que estão se impondo? Deixou a muito de ser uma descoberta.
O título desta postagem e a primeira frase são do padre Fábio de Melo, num belo texto onde ele fala sobre a nossa deficiência de olhar devagar, demoradamente como fazem ou faziam os pais com seus bebês.
Hoje é um domingo, dia das mães e meu desejo que o nosso olhar de mãe não desista. Porque não é fácil, especialmente depois que deixam de ser bebês e se tornam os adolescentes questionadores, desafiadores. Que nosso olhar não enfraqueça. Ao contrário, que olhar demoradamente fique forte, ou como dizem, é a força do hábito.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
quarta-feira, 7 de maio de 2014
Mãos gélidas
Calçaram seus pés com uma alpargata, ou como ela mesma dizia rindo, aquele sapato molinho, de paninho.
Não veio o riso, tampouco qualquer palavra. Talvez tivesse se lembrado que o sapato molinho fora presente da filha, comprado na feira de domingo.
Apoiaram um de seus braços e a conduziram.
Lembrou-se de pegar um lenço bom. Passou-o pelos olhos e guardou preso ao sutiã.
Depois da cirurgia de catarata malsucedida, enxergava somente vultos e tinha sempre os olhos úmidos que lhe escorriam pela face.
Cessaram as conversas quando ela chegou. Duas ou mais pessoas aproximaram-se no intuito de ajudar. Ela os afastou com um gesto firme. Agradeceu a quem lhe apoiava o braço e pediu para que a deixassem ali, só.
Tateou com as mãos até pousá-las no rosto.
A gelidez tomou-lhe as palmas, os dedos, a alma.
Não gritou, porém todos que estavam presentes puderam ouvir.
"Era eu que tinha que estar neste caixão minha filha."
Os olhos continuavam úmidos. Talvez fosse quente o seu lacrimejamento; não se lembrou de usar o lenço.
Uma mãe jamais poderia sentir em suas mãos tal gelidez vinda da face de um filho.
Não veio o riso, tampouco qualquer palavra. Talvez tivesse se lembrado que o sapato molinho fora presente da filha, comprado na feira de domingo.
Apoiaram um de seus braços e a conduziram.
Lembrou-se de pegar um lenço bom. Passou-o pelos olhos e guardou preso ao sutiã.
Depois da cirurgia de catarata malsucedida, enxergava somente vultos e tinha sempre os olhos úmidos que lhe escorriam pela face.
Cessaram as conversas quando ela chegou. Duas ou mais pessoas aproximaram-se no intuito de ajudar. Ela os afastou com um gesto firme. Agradeceu a quem lhe apoiava o braço e pediu para que a deixassem ali, só.
Tateou com as mãos até pousá-las no rosto.
A gelidez tomou-lhe as palmas, os dedos, a alma.
Não gritou, porém todos que estavam presentes puderam ouvir.
"Era eu que tinha que estar neste caixão minha filha."
Os olhos continuavam úmidos. Talvez fosse quente o seu lacrimejamento; não se lembrou de usar o lenço.
Uma mãe jamais poderia sentir em suas mãos tal gelidez vinda da face de um filho.
terça-feira, 6 de maio de 2014
18/52
"... e mantinha uma conta no pipoqueiro para os meninos de sua rua no Catete."
referência de Ruy Castro em sua coluna ao cantor Cyro Monteiro
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Barulheira
O que pode ser mais barulhento?
Escolha uma das alternativas:
a) um filho que toca bateria
b) betoneiras estacionadas na sua porta
c) nenhuma das anteriores
Escolheu bateria? Errado.
Betoneiras? Sei, sei que eu mesma acabei influenciando muita gente com minhas fotos de betoneiras, mas, esta não é a alternativa correta.
Quem ficou com a última alternativa, acertou.
Nem uma betoneira é mais barulhenta do que isso!
Escolha uma das alternativas:
a) um filho que toca bateria
b) betoneiras estacionadas na sua porta
c) nenhuma das anteriores
Escolheu bateria? Errado.
Betoneiras? Sei, sei que eu mesma acabei influenciando muita gente com minhas fotos de betoneiras, mas, esta não é a alternativa correta.
Quem ficou com a última alternativa, acertou.
Nem uma betoneira é mais barulhenta do que isso!
sábado, 3 de maio de 2014
17/52
"O sussurro passou a ser um raro acontecimento, o silêncio virou poesia e pessoas conversando em voz baixa tornou-se um enorme desafio"
Kelly de Souza
quinta-feira, 1 de maio de 2014
Festa no quintal
Essa semana fui alimentada por textos inspiradores falando sobre festas!
Dos excessos e distanciamentos aos brigadeiros enrolados na noite anterior, que saíam cada um de um tamanho diferente, e era uma delícia na hora de ser servido, você parar perante a bandeja e dar aquela olhada rápida feito raio e encontrar um brigadeiro bem avantajado!
Fui levada a muitas festas da minha infância e a primeira recordação dessas festas era o sanduíche de carne louca.
Dos excessos e distanciamentos aos brigadeiros enrolados na noite anterior, que saíam cada um de um tamanho diferente, e era uma delícia na hora de ser servido, você parar perante a bandeja e dar aquela olhada rápida feito raio e encontrar um brigadeiro bem avantajado!
Fui levada a muitas festas da minha infância e a primeira recordação dessas festas era o sanduíche de carne louca.
Também podia ser chamado de carne maluca.
Vamos à receita da festa:
Eu não faço ideia de como as pessoas eram chegavam no dia e hora marcados. Não havia telefone, ninguém fazia convite escrito à mão e envelopado com o nome do convidado e família.
Lembro da minha mãe encontrar algumas pessoas na feira e ali mesmo ela falava "É no sábado, lá pelas seis."
Na feira, que era uma semana antes do evento, comprava-se as batatinhas; aquelas em forma de bolinhas que ficavam dois dias mergulhadas em óleo e temperos ( era uma época que óleo era bom, ninguém reclamava do lago formado pela lata de 'liza' que acolhia as batatinhas).
Os brigadeiros eram enrolados à noite, e creio que devido ao cansaço é que eles saíam disformes. Uma alegria para a criançada que naquela noite ia para a cama mais tarde. A mãe sempre brigava porque os primeiros brigadeiros saíam muito grandes: "Tem que fazer menor, senão não vai dar pra todo mundo comer."
E a gente achava mesmo que estava fora dos conformes quando a mãe mostrava o exemplo. E como não dava mais para desmanchar, porque já tinha sido rolado no granulado, o melhor a fazer era comer.
A bala de goma, a tia Dirce já tinha feito de tardinha. Tudo que me lembro era de untar com margarina a tesoura grande que doía os dedos para cortar as tiras da bala antes que endurecesse. Não era coisa pra criança ajudar.
Ah sim! Os sanduíches de carne maluca ou louca!
Primeiro, eles não eram vistosos assim como este da foto. Talvez fosse o pão, não sei.
Só sei que era muito mais saboroso do que este que a imagem sugere!
Era a parte da festa que dava mais trabalho: era preciso ter uma vizinha que emprestasse a panela. Era um tipo de panela que não se tinha para o dia a dia.
Arrumada a panela, era preciso ser amigo do açougueiro porque a carne para fazer a carne maluca tinha que ser do meio para o final da peça.
Conversava-se com o açougueiro que sentenciava - "Então a senhora passe aqui lá pelas duas da tarde."
Era o tempo que ele levaria para vender o começo e avançar só um pouco pelo meio.
Dois pinos de "clock"rodopiavam e chiavam sobre o fogão. Depois tinha que desfiar tudinho e por tempero que era pra aumentar.
"O Luís e aqueles meninos dele comem que é uma coisa". Bota bastante tomate, cebola, pimentão, louro. Pimenta não muito porque as crianças não são acostumadas.
Alguma tia ficava ali do lado do panelão, que hora ficava no fogo, ora se desligava e dava um tempo no servir porque ainda estavam comendo.
Era servido dentro de um saco de papel fino e branco.
E o pessoal comia; era a 'entrada'. As crianças tinham a opção de ganhar metade do pão com carne louca.
E se tinha festa, tinha presente!
Ficavam expostos sobre a cama do aniversariante e cada convidado que chegava, levasse ao quarto e mostrava tudo - aquele foi a madrinha, o baton da avon em forma de morango foi a dona Valdete. Os papéis de presente, a mãe pedia para não rasgar. Abria-se com cuidado e colocava tudo debaixo da cama.
No decorrer do ano, certamente um daqueles papéis embrulharia algum regalo para alguma outra festa onde teria sanduíche de carne maluca.
Agora conta aí? Será que a tal carne maluca é regional? O que tinha nas festas da tua infância?
Estou curiosa!