Seus passos pareciam firmes. Só aparência.
Eram antigos como o nome que definia as cores de suas vestimentas.
A touca de crochê era roxa e seu casaquinho de lã fininha, era bege. Lembrava a sopinha de pão dormido feita com café e leite. Usar violet-violet para o gorro ou brown ochre para o casaco de pequenos botões, destoava daquela face que tão bem ficava com o brinco de pérola, estilo clássico, que se avizinhava harmonicamente com as pernas dos óculos.
Tentava acompanhar a missa num folheto que não mais existia. Descompassada, batia palmas e movia os braços no alto desengonçadamente, acompanhando os cantos.
Os ouvidos se esforçavam por encontrar significado nos pratos da bateria.
Era alguém que, com relutância, aprendeu a receber a aposentadoria de uma máquina e não mais do moço que lhe atendia com paciência esperando pela assinatura na linha indicada.
Era alguém mais acostumada com ladainhas que cantorias efuzivas nas rezas.
Na aparente firmeza, estava lá com seu gorro roxo, que se prendia à cabeça por grampos bem posicionados nos pontos vazados do crochê e que invisivelmente se fixavam no cabelo.
Talvez tivesse deixado um velho companheiro acamado e após ajeitar-lhe os travesseiros e certificar-se que os pés estavam aquecidos, correu para a igreja. Na volta esquentaria a canja para os dois.
A viuvez, outra possibilidade.
O padre pede para que os fiéis acessem o site da paróquia antes de pedir que se ajoelhem para a bênção final.
É final do dia de domingo. Pode ser o fim de uma semana ou início de outra. O tempo não importa: seja na face, no nome das cores de sua roupa, nas palmas fora de ritmo no canto de aclamação.
Ela atravessa o tempo e acolhe a benção ali no genuflexório. Encerra sua semana e firma seus passos para a que se inicia.
Transparece doçura essa mulher.
Seu nome é Dulce.
Linda descrição de uma terna senhora que eu pude ver minha vovozinha já falecida, ela usava as toucas de crochê e sua pele branca e sua magreza e delicada face me desenhava o amor. Emocionei-me. Saudades
ResponderExcluirMaravilhosa descrição de uma vovozinha que passou pela vida, hoje tem que aprender a conviver com as modernidades, inclusive surpreender-se, ao ver o padre pensar em site... Tantas mudanças, tantas possibilidades ao olhar para aquela criatura. E tu, sabes ver, olhas e percebes tudo ao teu redor! Lindo !! beijos,chica
ResponderExcluirQue bela crônica, fico imaginando você observando o ambiente e essa doce senhora, que olhar poético!
ResponderExcluirBjs
Que gostoso ler esta crônica, vc nos faz imaginar as cenas coloridamente e candidamente...
ResponderExcluirMuito bom!
Bjs
Doce é esta escritora que tão bem sabe usar as palavras.
ResponderExcluirTem o nome da minha vó.
ResponderExcluirOi, Ana Paula!
ResponderExcluirCada pessoa, um mundo! Você é uma grande observadora da vida e sabe lapidar palavras. Uma escritora sem o seu-observador seria apenas uma escrivã ;)
Algumas pessoas quando envelhecem, suavizam o olhar e adotam uma postura meiga. A minha avó falava tão baixinho que parecia cochichar e eu devo estar envelhecendo, pois acho que as igrejas ficaram muito barulhentas e não são mais um lugar para meditar.
Beijus,
Uma página rica nos detalhes doces somente captados por uma igualmente doce observadora-escritora.
ResponderExcluirDulce vovozinha que a seu jeito descobre novidades a cada dia.Corajosa e persistente.Viva ela!
Bjkas,Ana.
Calu
Detalhes tao bonitos que nao passam despercebidos né? Menina, vc é poeta.
ResponderExcluirDulce combinou tao bem com ela...
Também prefiro as ladainhas
ResponderExcluirNa verdade, adoro
Não me tocam as velas e rezas virtuais
Sinto Deus em mim além de nos templos, sinto ele na natureza, sinto que a água do rio é benta e que vender água benta e pedir ajuda para o lanche dos seminaristas, ou pagamento de dizimo, com templos ostentantes, terras em nome da igreja e outras cositas mas, é um assunte, um pecado
Gosto dos bancos da igreja sem lotação, como que cada um fosse a seu tempo
Prefiro as vozes mansas dos padres, a vozeirões ao microfone, gritos palmas e dancinhas
Prefiro as lições de moral aos tamo junto
Senhorinhas beatas, crianças sendo catequizadas, cenas que espero nunca deixem de ser parte dos dias e só parte de nossas memórias
Ana,ótima crônica adorei ler! Fiquei encantada por essa doce senhorinha!Lindo!!
ResponderExcluirBeijos
Amara
Oiii Ana, você e seu olhar poético e observador, vc tem o dom de transformar as pessoas em personagens de livros, linda descrição, linda senhorinha! Bjossss
ResponderExcluirAi que lindo, Ana Paula! Fiquei encantada com a descrição de tudo, imaginando a vovozinha... mantendo sua fé, apesar de mudanças certamente assustadoras para alguém que só queria fazer sua reza sagrada, sem muita algazarra. Ali estava, contudo. Cumprindo com seu dever. Dulce com certeza representou muitas vovozinhas de fé a moda antiga neste mundo de modernidades. Eu adorei, texto lindo, lindo!
ResponderExcluirBeijos
Oi Ana, tudo bem? Que saudades!
ResponderExcluirAndei sumida, mas estou tentando voltar a ser blogueira. Tudo está muito corrido pra mim, mas sempre que tenho um tempo livre posto alguma coisa.
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Adorei o texto! Seria impossível não imaginar essa terna senhora! Lembra a uma das minhas falecidas avós. Fofíssima!
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Beijinhos
http://oiflordeliz.com/