Ninho encontrado na rua
À Manoel de Barros
Não
posso falar nada sobre Manoel de Barros sem primeiramente agradecer
aos blogueiros. Foi através dos blogs que eu conheci Manoel e sua
poesia.
Fosse
numa postagem, num verso inserido no texto ou deixado nos
comentários.
Aquelas
palavras fizeram ninho em mim. Fui em busca de saber. A cada dia
encontro mais um pouco, um pedacinho a mais. Obrigado a vocês
blogueiros que me alçaram nesse mundo poético.
"Morre
aos 97 anos um dos mais importantes poetas brasileiros".
Com
essa frase, os principais meios de comunicação deram destaque à
partida de Manoel.
E
eu continuo intrigada e entristecida.
Estudei
no melhor colégio de freiras daquela região. Em doze anos, nunca um
dos maiores poetas estivera presente.
Faz
tanto tempo, que talvez seja esse o motivo dos versos de Manoel nunca
terem aparecido na minha vida escolar.
Então,
os meus filhos são "atuais", ainda frequentam a escola.
E
em todo esse tempo que eles frequentam a escola, esses tempos
modernos e atuais que chegaram a noticiar a possibilidade de Manoel
de Barros ser indicado ao Nobel de Literatura, mesmo assim, os versos
daquele que compreende o idioma inconversável das pedras também
nunca apareceram, fosse num texto de livro, exposição, tarefa de
casa.
Nas
livrarias, montanhas de livros em tons cinzentos, mas só sob
encomenda um livro daquele que escreveu "Quem ornamenta/ o azul
das manhãs/ são os sabiás.
Certa
vez, uma mãe me disse que as férias escolares se traduziam em uma
palavra - inferno.
Era
um inferno ter filhos em férias. Todos os dias shopping, cinema,
hambúrgueres, parque de diversões do shopping, sorvete na praça de
alimentação, boliche, patinação.
Se
essa mãe tivesse se deparado com a poesia daquele que, viveu num
lugar tão ermo, que precisou fazer das palavras seu brinquedo, ela
entenderia que é maravilhoso ter esse tempo distante da escola, para
descobrir coisinhas sem importância dentro e fora de casa. Que
passear é um prazer e não uma obrigação com hora marcada.
Voassem
feito passarinhos os versos de Manoel nas escolas, talvez muitos
jovens não precisassem sentar-se no final da tarde aqui na praça em
frente de casa, para consumir drogas, porque eles saberiam contemplar
"Melhor para entardecer é encostar em árvores".
É
sempre assim: agora que um dos maiores se foi, ele se torna
conhecido.
Não
importa. Para Manoel, nunca importou as grandezas. Ele tinha mesmo
canduras pelas pequenezas, inútil, sujo, feio.
Para
nós, novas oportunidades de vermos o menino-poeta-passarinho
adentrando as histórias que os pais contam com as crianças já de
pijamas, as escolas, as praças.
Prateleiras cheias, divulgação, um título inédito aqui, um relançamento acolá. Seus versos a nos encantar!
Por
que eu peguei um ninho caído na rua?
Acho
que alguma inutilidade se aninhou em mim.
Obrigada
aos que me apresentaram à um dos maiores poetas, obrigada Manoel de
Barros!
Que lindo te ler e triste a situação ,infelizmente verdadeira, trazida! Para tantos só agora ele passará a constar na lista de poetas.Tanto ele fez, tanto escreveu e ainda tantos o desconhecem, pois muitos, nem foram atrás de pesquisar pra ver QUEM era o Sr que aos 97 anos nos deixou! Adorei te ler e gostei do ninho, tudo a ver com o poeta passarinho! bjs,m chica
ResponderExcluirEsqueci de dizer que férias dos filhos nunca podem ser consideradas um inferno.Há tanto a fazer, estar juntos ler, comentar, brincar...
ResponderExcluiruma tristeza tamanha, um homem feito passarinho em seu voo na poesia que nos levava com ele. Triste realidade, que arrasta mais um grade escritor para longe de nós. Bela e merecida tua homenagem
ResponderExcluirVai se o homem, fica as lembranças e toda uma história poética!...
ResponderExcluirFiz curso de Letras Vernáculas e nunca ouvi nada sobre ele
ResponderExcluirNem uma linha de seus escritos
Fui na Livraria Cultura e lá nem no cadastro seu nome havia
Na Saraiva um título e um acara de desdém do atendente
Não era conhecido, divulgado, comercializado e acho que isso era bom, porque era o que ele era, o que ele queria e agora no mesmo dia de seu corpo virar borboleta, notícias comercias, matérias e toda uma descrição imateriais
Seus escritos valiam para quem tocava
Para quem assim ali, aqui, por encanto ou encantamento o descobria, como tesouro escondido
Não era o leitor um leitor dele por obrigação, por modinha e afins
Vou falar disso lá
Por cá, por hora, meu bem querer a vc por ele eu já conhecer e ser vc a meu primeiro livro dele dar
Canduras, histórias, poetar para o resto da vida a gente levar
Que texto lindo, até chorei…
ResponderExcluirBjs