A ordem havia sido quebrada na agência do correio, onde eu fui postar minhas cartas de cerca de 20 gramas.
Na verdade, a máquina de senhas estava quebrada. Naquele dia, ou ao menos, naquela manhã, não seríamos um número precedido por uma vogal ou consoante impressa em maiúsculo em pequeno pedaço de papel amarelo.
De acordo com o serviço solicitado podemos ser A132 ou H233. Em dias de ordem reinante, tocamos na tela da máquina, escolhemos um serviço e saímos em direção a cadeiras coletivas alternando um olho no nosso papel e outro nas telas espalhadas. Vez por outra espiamos o número da pessoa que está ao nosso lado.
Mas, naquela manhã, ninguém sentava. Formamos uma fila indiana.
Não havia telas e por isso haviam pessoas na fila e não números precedidos por letras.
Estava à minha frente o homem de terno e gravata, a menina de jaqueta, embora eu achasse que estava fazendo calor par uma jaqueta ( meu filho chama isso de " estilo " ). Atrás de mim, acabava de chegar uma senhora jovial perguntando o porquê da fila. Uns olhavam o celular. Eu olhava a moça que seria a próxima a ser atendida, lá na frente.
Trajava roupas de academia, ou de caminhada, corrida, esporte, fitness ou seja lá que nome isso tenha.
Fixei-me em seus pés. Acho que por conta da minha necessidade de comprar um par de tênis. É sempre bom ter um parâmetro.
Era um adidas, solado bom. E ali dentro dos tênis, eu pude ver as meias. Do tipo sapatilha mas que mostra só um pedacinho no tornozelo. Achei bonito aquilo, um estilo, como diria meu filho.
Puma, era a marca das meias.
Subi o olhar, uma saia bem pequena que já não me fica bem copiar. Estava escrito Asics e a blusa era rebook.
Demorei um tempo a pensar nas muitas marcas.
Será que a moça faz questão de ser plural?
Será que, num descuido ela vestir blusa e meias da mesma marca, volta para trocar?
Em mãos segurava um envelope amarelo escrito em caligrafia bonita Santander Crédito Imobiliário.
Mas foi quando abriu a bolsa para efetuar o pagamento ( a essa altura, ela já tinha sido chamada ao atendimento ) que eu me encantei.
Sua bolsa era um modelo ecobag, cor cru, escrito em letras de forma grandes porém discretas "INHOTIM".
Desejei a bolsa. Era exatamente o modelo, o jeito, a cor que eu queria.
Senti vontade de perguntar-lhe se teria ido e gostado de Inhotim, o famoso e maior centro de artes ao céu aberto da América Latina.
Parecia muito óbvio. Por outro lado, poderia ter sido um presente e ela nunca havia estado em Inhotim.
Fiquei também a pensar se cairia bem eu usar uma bolsa escrito INHOTIM, sem nunca ter pisado por lá. Ou talvez eu me explicasse - nunca fui, mas bem sei que é belo e por isso saio com ela por aí para inspirar muitas pessoas a irem passear por lá.
Não sei. Fiquei com a dúvida.
Tivesse as telas, a máquina de senha funcionando, estaríamos lá, robotizados.
Deixar de ser uma senha numérica, precedida por uma letra em maiúsculo, faz a imaginação correr, voar... e depois dá até para virar crônica do cotidiano!
As cronicas do cotidiano estão prontas Ana, esperando
ResponderExcluirque alguém as abrace; Gostei deste olhar critico sobre
os movimentos à sua volta.
Engraçado como as marcas se destacam, e assim as falsificações.
Mas ter estilo é muito engraçado na ótica do novo.
Um bom lindo fim de semana Ana.
Carinhoso abraço amiga.
Beijo de paz.
Valeu a ida ao correio e o estrago da máquina... Tua observação apurada deu bom resultado. Gostei de te ler e do que o teu filho comentaria sobre o que via...
ResponderExcluirPor vezes voltar a ser gente" e não número ou letra, é bom!
Lindo fds! bjs, chica
Pois é
ResponderExcluirSensível sua observação
E transformadora essa inoperação da máquina de senhas, do sem Wi-Fi e por ai lá vai
Adoro
Adoro te ler, seu ver, sentir, ser