Foi assim comigo. Por esses dias, tive uma memória acordada por um cheiro.
Não um cheiro que me chegou pelas narinas. Eu não o senti, eu o li.
A leitura era de uma pequena entrevista. Uma antropóloga que fez um trabalho em uma cadeia feminina ( na verdade, numa instituição sócio-educativa ) com meninas de doze a vinte e um anos, estando a maioria com quinze anos.
O trecho:
"É assim: quando eu chegava na cadeia, tinha de ficar no pavilhão enquanto esperava as meninas serem liberadas. Então o pedido era: "Dona Débora, deixa eu cheirar a senhora?".
Dentro da estratificação social, da desigualdade de renda, nós nunca nos encontraríamos. Nenhuma daquelas meninas seria cheirada ou beijada por mim fora dali, nem elas beijariam ou cheirariam a sinhazinha aqui. Então eu dizia: "Você quer cheirar? Cheira." *
De alguma forma fui tocada por esse cheiro que li. Há muito o que conversarmos sobre isso, mas será adiante.
Hoje não sinto vontade de falar dessa ausência de perfume que faz surgir aquele cheiro que incomoda...
Falarei das minhas lembranças em frascos.
Eu não sou de perfume. Atualmente tenho apenas um frasco e as vezes peço umas borrifadas de uma fragrância da filha!
Sabonete, desodorante, creme do cabelo, creme do corpo, muitas vezes me bastam.
A gavetinha que se abriu no mais profundo de mim, traz o carro da Valdete, uma variant azul claro estacionando na porta de casa. Ali ela nos entregava o pedido da avon que mamãe havia feito. O pagamento seria feito alguns dias depois, na casa da própria Valdete e eu adorava ir lá!
Um pequeno frasco com a tampa em forma de maçã: é tudo o que me lembro. Do aroma, nada. Acho que esse foi um dos primeiros perfumes que usei.
Quando eu acompanhava mamãe até a casa da Valdete para o pagamento, torcia para que o convite para entrar e tomar um café fosse aceito.
Feito! Enquanto o café com conversa acontecia lá na cozinha, Valdete me permitia ficar sentada de frente à penteadeira dela. "Pode olhar, pegar, abrir e passar um perfume se quiser".
Era uma grande penteadeira, Três espelhos e toda tomada por perfumes do catálogo que ela vendia. Também haviam os talcos. Os simples, os em lata e aqueles com uma linda esponja redonda.
Lembro-me da primeira loja do O Boticário que entrei e saí de lá com um Acqua Fresca. Cheiro que marcou muita gente!
Conheci e ousei usar o perfume masculino Stylleto e teve também a "febre"das meninas da escola com o Giovana Baby.
Agora tão diverso é esse mundo dos perfumes. Tem até marketing olfativo ( você já deve ter percebido o cheiro característico de determinadas lojas e tem gente que trabalha com isso ).
Mas tem mesmo gente que é perfumada na alma! Deve ser de sol, de olhar a lua e as estrelas. Que aprecia a chuva e sabe atravessar noites escuras.
Deixo uma fotografia bem perfumada que fiz dias atrás!
E você, como é sua relação com o perfume?
Deixe um cheiro nos comentários!
Lavandas
* Debora Diniz para Bons Fluidos edição 219
Oiii Ana, que gostoso te ler, lembrar do Giovana Baby! Gente eu amava esse perfume! Cheiros nos marcam muito mesmo! Bjo grande!
ResponderExcluirAna Paula, que triste esse trecho da cadeia...Impressiona!
ResponderExcluirE temos mesmo cheiros em nossas memórias,um grande é o dos nossos filhos bebês...Depois vão crescendo e tem outros cheiros(até os chulés,rs).
Gostei de te ler, ouvindo o barulho e sentindo o perfume que adoro: o do mar!
Gostei de te imaginar mexendo na penteadeira cheia de perfumes e talcos e voei até a da minha mãe...Era assim!
Lindas lavandas e remetem logo ao perfume...
bjs praianos, tudo de bom,chica
Lavandas me lembram a saudosa e charmosa Cláudia e a querida Camomila
ResponderExcluirEu usei muito Lavanda Pop, também o Aqua Fresca, Free, Taty,
Cecita e Anete
Usei tb rumo aos 18 rsrs um de griffe, que lembro exatamente o cheiro e a anos ñ o sinto, se chamava Poeme
Gosto e odeio cheiros
Pelo cheiro mesmo
E ou pelo que evocam
Presentes que estejam
É por vezes, os sinto como em mim ou a minha volta sem estarem
De perfumes, pessoas, lugares...
De comidas...
Sou muito de cheiros
Cheiro de milho cozido para nós na imaginação devorarnos juntas com manteiga derretendo em cima e uma xícara de café
Nota sem perfume:
Minha mãe tem uma penteadeira de três espelhos de qd ainda era solteira, herdada da minha tia que já partiu e que fez meu vestido de casamento
A penteadeira e a tia, fizeram muito parte da minha vida e ñ tenho memórias de cheiros delas, interessante né?
Minhas memórias olfativas acordam tantas lembranças. Algumas alegres e outras nem tão felizes.
ResponderExcluirA foto das lavandas tá linda. Na casa da minha filha tem um canteiro lindo e perfumado, com certeza um cheiro que me traz boas recordações e que eu adoro.
Um abraço perfumado,
Sônia
Oi Ana Paula,
ResponderExcluirEu também li essa entrevista na Bons Fluidos e fiquei tocada.
Sou muito ligada a aromas, tenho uma coleção de óleos essenciais que combino e uso como perfume e para aromatizar o ambiente.
Mas o meu aroma preferido é o de sol. Adoro o cheiro de sol na pele e nas roupas. Meu sonho é ter um varal no quintal para secar roupas ao sol!
Bjs
Eu não sou muito de perfumes, eu esqueço de usar. Coloco desodorante e para mim ta ok!
ResponderExcluirMas lembro da colônia cristal da Avon que Voinha colocava nela e em mim antes de ir ao culto. Achava aquela cor amarela maravilhosa, também amava o vidrinho e a sensação de voinha me dando um banho de perfume. Ela não era uma mulher muito carinhosa. Era uma pessoa provedora, atenta as necessidades de todo mundo e muito firme, aquele ato de colocar de perfume era amor. Que saudades! Outro perfume importante foi o que ganhei quando tinha 15 anos do meu tio preferido, era da Boticário usei com muita cautela, ainda tenho o vidro com uma gotinha dentro e tem cheiro de adolescência, primeiro amor, sonhos, Acqua Fresca também faz parte da minha vida kkk Hoje meu cheiro preferido é o de crianças, amo essa parte da minha vida que tem me permitido está sempre com crianças por perto.