Era preciso que houvesse uma mesinha de centro, mesa da cozinha em fórmica, não servia. Levantar-se-iam até o batente mais próximo para ali ressoar as três batidinhas, uma espécie de amuleto sonoro.
Precisava ser madeira pura. Compensados não teriam essa força oculta de afastar coisas ruins.
A palavra câncer era pronunciada com cautela, ou melhor, na maioria das vezes era impronunciável, trocada por sinônimos inventados - doença maldita,"aquilo".
Três batatinhas, três benzeções em cruz, três vezes a mão à frente da boca.
E os tempos avançaram e com ele, como já falei aqui, câncer deixou de ser sentença de morte. Antes de bater na madeira, vem à mente as possibilidades de cura, muitas aliás, o tratamento, a força para enfrentar a doença.
Recente, bem recente vieram os livros voltados para o público juvenil e que agrada em cheio os adultos também, a exemplo de A culpa é das estrelas que virou filme de grande repercussão.
E agora, depois de admirar toda essa nova postura, começo a ver exageros, mal gosto.
Em abril, o livro que já virou filme vencedor, e que compara o autor estreante, Jesse Andrews à John Green, será lançado pela Rocco no selo Fábrica231. ( Garoto nerd e antissocial que é obrigado pela mãe a fazer amizade com uma garota com leucemia ).
Não é esse o exagero, nem o mal gosto. Isso é sacada comercial.
O mal gosto vem do médico britânico Richard Smith que afirma que a melhor maneira de morrer é pelo câncer.
"Você pode dizer adeus, refletir sobre a vida, deixar mensagens, visitar lugares especais pela última vez, ouvir as músicas favoritas, ler poemas e se preparar, de acordo com suas crenças, para encontrar seu criador ou curtir o esquecimento eterno" - as palavras são dele.
Bem, o cara é do meio científico, das revistas de publicações científicas e por isso dizem que ele quer polemizar para aparecer e tal.
O fato é que, nesta semana um outro médico, Oliver Sacks, publicou sua carta de despedida, inspiradora e poética. Está morrendo de câncer.
E o que há de inspirador e poético é que não precisamos ser diagnosticados com um câncer para começar a viver intensamente.
Não podemos esperar chegar a um extremo para começar a viver de verdade.
Estamos então todos, a grande maioria vivendo de mentirinha?
Teremos que desejar um câncer para enxergar a beleza da vida? Seremos felizes só lá em Marte?
Com tantos exemplos, depoimentos, com a sabedoria que fomos adquirindo, será que não é possível saber viver na saúde?
O que vocês acharam dessa declaração?
Exageros e quem sabe uma forma de tentar se perdoar por coisas que não fez uma vida inteira? Eu espero Deus me guarde a mim e a mnha família de nunca ser acometida desse mal, e que eu possa envelhecer vendo minha filha crescer, casar ser mãe e não queria morrer, mas como é da natureza então que eu morra feito um passarinho, sme dor alguma apenas dormir. Boa noite!
ResponderExcluirOlá, Boa noite, Ana Paula
ResponderExcluirquando li essa manchete pela primeira vez, a ideia que ele estava propondo a Não procurar uma cura para o câncer,tão mais por causa dos custos de pesquisas... mas depois li e ouvi as explicações dele, que seria a "morte romântica"-como se tivesse outro tipo de ...- dando tempo para todas as despedidas etc etc etc., como se o câncer fosse a preparação e por isso também , tenho a mesma opinião que tu, não precisamos ser diagnosticados para começar a viver intensamente.Podemos sim, viver intensamente cada dia, sem ficar ansiosos por dias melhores,sem medo de arriscar ,viver a vida sem ter medo de viver...
Agradeço pelo carinho,belo final de semana, belos dias,beijos!
Acho que foi um jeito de se expressar, não falou "literalmente". Sei lá, né? rs
ResponderExcluirAs pessoas andam tão estranhas, falam tanto, proclamam suas verdades e ai de quem não as aceita.
Muito esquisita essa declaração.
Beijo, Ana Paula.
Ana Paula, não gosto dessa palavra ,nem da doença que ela representa.Já perdi uma irmã com ela e recentemente andou assustando aqui em casa.Assim, detesto! E essa declaração pra mim é idiota! (posso eu ser assim, além de grosseira)
ResponderExcluirCada um de nós deve saber que a cada dia que vivemos é menos um no calendário da vida, só não sabemos quantos faltam. Assim, não precisamos esperar ter uma doença tão grave( é sim, apesar de quererem dourar as pílulas! É grave e deixa sequelas pra sempre!) para viver bem. Assim, vivamos, não apenas passando por aqui, ocupando espaço. Vivamos intensamente e pronto! E que a doença passe loooooooooooooooooooooooooooooooong de cada um de nós! bjs, lindo domingo, bem saudável sempre, chica
Insanidade essa declaração! Pior ainda vinda de um médico... Só me leva a concluir que ele realmente quer aparecer. Graças a Deus só conheço a doença de longe e rezo para que continue assim. Vejo tanto sofrimento que mesmo as despedidas de lugares e pessoas são (eu acredito) tão dolorosas, ou até mais, quanto quem não tem a chance de fazê-las. Devemos aproveitar a vida enquanto temos qualidade! Não que a pessoa doente não deva fazê-lo, longe de mim, só acho que na doença as coisas tomam cores diferentes. Não sei se é assim e sinceramente esta é uma verdade que prefiro não saber. Enfim, carpe diem!
ResponderExcluirBeijo
querendoserblogueira.blogspot.com.br
Ana, o problema das ideias que funcionam é que há pessoas que perdem a medida.
ResponderExcluirTudo bem que é o ponto de vista do médico e merece ser respeitado. Até concordo que num caso extremo essa pode ser a visão mais positiva que alguém pode extrair da doença. Mas daí a dizer que é bom? Para tudo.
Concordo contigo, mudar o rumo da vida, buscar felicidade, novas metas, novos hábitos, pode acontecer a qualquer momento e nem é preciso esperar segunda-feira.
Perdi uma tia para o câncer e durante o período em que esteve saudável foi uma das pessoas que viveu com mais alegria, bondade que conheci, também passeava, viajava, ia a festas... a doença tirou-lhe a disposição e o viço e foi difícil vê-la definhando.
Há de se ter cuidado com verdades prontas e supostamente aplicáveis, cada caso é um caso.
Abração!
Ana Paula, estou contigo quando diz que temos que ter cuidado com as verdades prontas, pois estamos vivendo um mundo de pragmatismos, pessoas que se arvoram a dar depoimento aberto sobre o que pensam e impõem uma realidade, quando na verdade, a coisa não funciona bem assim.
ResponderExcluirAs duas pessoas que presenciei nos quatro últimos anos morrerem de câncer, foi muito sofrido não só pra eles e pra família, mas pra nós também, amigos de perto.
O Câncer ainda é uma doença que assusta e desestabiliza a todos que estão em volta do doente. Precisamos sim de ideias para lidar com as pessoas acometidas pelo mal, para que saibamos falar, ajudar dando força e, tal como você, penso que hoje também as pessoas com mais equilíbrio, conseguem trabalhar melhor esta situação.
Não li o livro e nem pretendo, pois todos esses que buscam chamar atenção deste modo, não me interessam.
um grande abraço carioca
Olá, querida Ana Paula
ResponderExcluirminha tia definhou num ano e quanto sofrimento me trouxe,ando inclusive com minha saúde abalada...
Não dá pra conviver com alguém que amamos tranquilamente como se estivéssemos no paraíso já...
Dói na alma...
Ela era super pra cima em vida... tremendamente ativa e amiga de TODOS...
Creio que a esperança nunca sai de dentro da gente mas aí vem a realidade a dizer que a vida tá por um fio e sofro com ela...
Dizer muito cruel, parece indolor no coração de quem não o sofre...
Mas, anda saber o que quer dizer...
Bjm quaresmal
Eu acho que não existe forma boa de morrer. Morrer está fora de nossa aceitação, então não há momento bom com a morte.
ResponderExcluirFoi uma infeliz conclusão desse médico, mas penso que é uma forma de amenizar uma eterna despedida. Somos apegados à Terra e a tudo que nela possui. Ser humano é assim mesmo, salvo raríssimas exceções.
Mesmo sabendo que a morte é pra todos, deve muito tenebroso que ela tem data certa, ou acerca, pra acontecer. Eu não gostaria de ter essa informação não...
Câncer é uma doença dolorida, talvez a pior de todas, não sei... e espero não saber.
Deus com sua sabedoria nos privou desse sofrimento de saber data e hora pra partir...
Então que assim seja, de surpresa.
E que possamos viver da melhor forma possível, simplesmente viver, sem estresse ou sofrimento.
Uma ótima semana pra vc. Beijos
Oiiii Ana, eu achei assustadora a declaração, mas sei lá né, ele deve ter o ponto de vista dele, eu concordo com vc, ninguém precisa descobrir que tem câncer p começar a viver intensamente, a vida é uma só, pelo menos esta é, então bora viver intensamente sem estar a beira da morte né! Boa semana amiga bjossss
ResponderExcluirEu acho que o cara muda de ideia rapidinho na primeira sessão de quimioterapia ou radioterapia. Ou talvez na primeira punção na coluna kkkkk. Câncer deve doer pra cacete. A Melhor forma de morrer são as súbitas, infarto fulminate, aneurisma etc. Vai sentir uma puta dor mas vai ser uma vez só e pronto:acabou kkkkk
ResponderExcluirAna, infelizmente o médico Richard Smith foi extremamente infeliz com sua colocação a respeito do câncer. Estou aqui me perguntando, será que realmente há forma "melhor" de morrer? O que é a morte? Como você mesmo disse, não deveríamos nos preocupar em viver o presente, aproveitar, vibrar o bem e não focar no termo "morte"?
ResponderExcluirBela reflexão!
Beijos,
Blog | Youtube | Instagram
Só quem passou pelo sofrimento de uma doença ou acompanhou pessoas queridas tentando alcançar a cura sabem dizer como é difícil e doloroso este processo. A morte não me assusta: é a única certeza que tenho na vida é a de que um dia a encontrarei. Meu foco é a vida, por isto trago sempre a minha mala prontinha para qualquer chegada ou partida.
ResponderExcluirEu acho que esse médico disse uma bobagem e romantizar uma doença assim é loucura! Para mim, a melhor forma de morrer é a tradicional: vivendo. A Morte é uma coisa natural, todos os dias morremos um pouco desde o dia em que nascemos, para quer morrer em dor como acontece com tanta gente que tem câncer? Sem contar que a possibilidade de cura para essa doença é uma coisa, no Brasil, restrita a quem tem dinheiro para bancar... A industria farmacêutica é ótima em fazer as portas para facilitar as pessoas a passagem pela doença, mas ela não é nem um pouco generosa na distribuição das chaves....
ResponderExcluirNão sou doutora, nem psicóloga, mas como ariana convicta e de casa, não vou me furtar de dar minha opinião
ResponderExcluirEu acho, que a melhor forma de morrer é tendo vivido.
E acho que a terceira coisa melhor para qual a boca foi feita, depois de comer e beijar é ficar calada.
Eu sou do tempo que falar absorvente que eu chamava de modes e dizer que estava menstruada (que haviam vários codinomes) eram pronunciamentos impróprios, falar em morte atraí, em mortos mal agoro. Sempre fale, sempre fui politicamente incorreta e no entanto cheia de ética, modos, respeito, valores que me fazem crer que tachar algo, polemizar, endeusar ou rebaixar é sinal de desequilíbrio.
A essência é a sacada da vida, das felizes e das infelizes, simples assim e universal.
Pois é, cada um encara a dor, a morte e a vida a seu jeito.
ResponderExcluirPrefiro pensar que cada dia é único e nunca mais terei um igual e assim vivo cada dia como se fosse o último, tirando dele toda a alegria, tristeza e sabedoria que contem...
Bjim
Oi, Ana Paula!
ResponderExcluirChocante a declaração do médico, mas talvez ele queira veicular o lado bom de morrer dessa doença, já que cada vez mais pessoas morrem dessa "doença ruim".
Pelo que ele diz na reportagem, as outras formas mais comuns de morte, não dão ao paciente tempo e lucidez para as despedidas. É mórbido isso, mas o câncer não é uma doença fácil de esconder, para quem não quer contar que está morrendo e ver estampado nos olhos das pessoas a pena.
Tammbém choca pq as pessoas não gostam de falar da morte e percebo que as últimas duas gerações não são afeitas nem mesmo à ir em enterros. Por essas e outras, quero ser cremada.
Eu não me importo em morrer. Já pensei nisso várias vezes e me sinto preparada, mas a preocupação é sempre os filhos ou, quem sabe essa seria a minha desculpa?
Vai ver o câncer é a nova tuberculose e por isso a relação "romântica" como forma de morte.
Eu entendo quando ele diz que prolongar o sofrimento com internações é escravizar o paciente quando não há chance de cura. Melhor despedir-se e desligar os aparelhos. A crença religiosa não permite essa prática, mas devemos pensar melhor sobre a eutanásia.
Presenciei a minha mãe sofrendo no leito de morte e, ao contrário do que os médicos dizem, que o coma não dá lembranças, via que em momentos de vindas da lucidez, minha mãe tentava me dizer algo. Aquela situação foi um aprendizado de aceitação da morte dela, por ventura a minha e de qualquer ente querido.
A falta de consciência de minha mãe lhe tirou a dor de partir? Ainda lembro dos seus olhos e da expressão de despedida. Ela sabia que ia.
Vivemos a sociedade do espetáculo e os jornalistas fazem de um tudo para polemizar qualquer declaração. Acho que dentro de um contexto, Richard Smith foi apenas sincero.
Por coincidência, ontem acessei um blogue em que a pessoa estava com os dias contados e ela escreveu algo do tipo em sua última postagem: Agora que tenho pouco tempo, não sei por onde começar.
Beijus,
Ana Paula,
ResponderExcluirdepois da sua ótima crónica, ler este post, tira toda a leveza que o anterior deixou - o tema doença/morte é sempre assustador, diga-se o que disser.
Sou franca: não tive conhecimento dessa declaração, mas não me parece justificável por nenhuma teoria por mais bem intencionada que seja nem estou a ver em que contexto se aplique, conscientemente, semelhante declaração.
É o tipo de situação em que o silêncio soaria muito melhor.
bj amg