terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ursinho de pelúcia


Era Natal. Ou melhor, a noite, a véspera. Tornara-se tradição comemorar mais a meia-noite, com presentes, ceia, do que propriamente o dia do nascimento do Menino-luz.
Apesar de já ter decorado a sequencia tão ansiada durante um ano inteiro – familiares chegando, esconder-se do Papai Noel, abrir presentes, amigo secreto dos adultos, ceia, percebera que aquele ano estava diferente.
Apesar de crescida em seus dez anos, acreditava com certa desconfiança do bom velhinho de brancas barbas.
Escolheram a casa da avó, apesar de bem menos espaçosa do que a chácara da tia. Também a alegria dos adultos estava diferente. Um sorriso que parecia não sorrir.
Em sua roupa nova, a garotinha corria, movimentava-se para espantar o sono.
E também havia um certo desconforto vindo de uma saleta. De lá, um a um, os adultos saíam chorando. Ela fora proibida de entrar pela própria mãe que por muito tempo permaneceu lá dentro.
Também achara estranho, naquela noite de festa, a mãe estar como ficava dentro de casa, sem o seu cabelo artificial, mostrando-se sem nada esconder.
Fora repelida umas duas vezes pela mãe quando tentou um colo e depois um abraço.
O agudo tilintar do sininho prenunciava a chegada de Noel. Era preciso esconder-se rápido!
E entre os presentes a abrir, brincar, a garotinha adormecera.

O vento frio de agosto estava por toda a parte. Naquela noite abraçou o ursinho de pelúcia que Papai Noel lhe trouxera no último Natal; o abraço que não recebeu da mãe naquela noite, o calor do colo que não mais voltaria.
O vento frio de agosto preenchia o espaço da ausência da mãe.
O ursinho de pelúcia tentava aquecer o coração da garotinha e ensinar-lhe que há sabedoria em não-abraços.


12 comentários:

  1. Sempre consegues nos emocionar. Lindo teu texto e essa menininha com seu ursinho que tinha outra função...beijos,chica

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  2. Ana Paula, certas coisas inteligentes e até superiores à nossa inteligência marcam uma reflexão bem racional para não "desmontarem" nossa cabeça e nossa sensibilidade.
    "Há sabedoria em não-abraços". É verdade, todavia é uma verdade tão nua e crua que abala a gente. Da mesma forma que abala, ensina muito e fortalece nosso interior.
    Muito bem escrito esse texto. Dono de uma sensibilidade "oculta" no coraçãozinho da sempre menina.
    Beijos.
    Manoel.

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  3. Q linda garotinha!
    Vontade de abraça-la.
    bjs

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  4. "...há sabedoria em não-abraços"! Dolorido e terno! Emocionante!
    Girassóis nos seus dias. Beijos

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  5. Natal, tantas histórias, sentimentos, lições...

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  6. Aprender com o não-abraço...Um abraço, um ato tão bom, acolhedor, aconchegante e simples, mas que diz tanto...Fiquei aqui com uma enorme vontade de colocar essa menininha no colo..
    Bjo e um ótimo dia

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  7. Bom dia Ana. Estou aqui emocionada e sentindo uma onda de lembranças e perfumes, e sentimentos.
    Fui essa menina também aos dez anos.
    Você me emocionou e sou solidária com essa criança, ofereço meu abraço e meu carinho.
    Só quem foi menina num Natal triste consegue ler nas entrelinhas a enorme carga de solidão.
    Beijo querida, que seu dia seja lindo.

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  8. Amiga,
    lindo e emocionante!
    Você escreve muito bem e traduz nas palavras sentimentos comuns a todos nós!
    Beijos

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  9. Ana, querida,
    Naquele momento anterior que estive aqui, não tive tempo suficiente para ler essa maravilhosa e emocionante crônica, mas estou com muita alegria te seguindo. Deixo meu carinho, e o desejo que tudo permaneça bem. Um abraço!

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  10. "Ando tão à flor da pele que até um beijo de novela me faz chorar..."
    Puxa vida, ando tão emotivo e você ainda faz um post desses... Assim eu não aguento, rsrs
    Beijo, querida, linda crônica! Obrigado pelas visitas ao meio Desligado!

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  11. Mais que ler é ideal enxergar, sentir, ser como o pequeno príncipe, não é mesmo?

    Boa oportunidade para nova geração o Discovery Kids é sempre D+

    Já passou por aqui por Salvador a peça, mas como protesto por ter sido encenada pela sem valores, sem noção e sem cultura da Piovani, não fui.

    Quem não leu, deve ler.
    Quem já leu, deve ler de novo.
    É um livro para ser lido quando pequenos, para os pequenos e depois lido de grandes e se der ler de novo quando estivermos velhos.
    A cada uma dessas leituras entenderemos mais ou menos o valor das muitas lições da história, se mais evoluímos com o passar do tempo, se menos nos perdemos em algum lugar.

    "Se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música."

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