sábado, 26 de agosto de 2023

Três colheres


 

Fiz sopa.

Ao abrir a gaveta  para apanhar as colheres, pude ouvir a voz ( na minha imaginação ) da minha filha Júlia naquele exato instante.

_ Mãe, a minha colher, minha colher de estimação eu vou levar comigo.

Minha filha Júlia mudou-se recentemente para Beagá, o jeito carinhoso de falar "para a capital mineira". E ela se esqueceu de levar sua colher mais querida.

Olhe para a foto: é a colher menor em comprimento e possui uma corujinha na ponta do cabo.

Eu me lembro com nitidez. Ela foi presenteada quando ainda era um bebê. Um conjunto de garfo e colher infantis.

Se a menina hoje tem 18 anos, a colher da corujinha tem dezessete vivendo em nossas gavetas.

O garfo? Não faço ideia de qual foi o seu destino.

Mas, então eu fiz sopa e a tomei com a colher da corujinha, como minha filha fazia sem se importar com os códigos de etiqueta.

Marido achou aquilo engraçado. Perguntou se era saudade. Há de ser, eu respondi.

Ele levantou-se da mesa e voltou com uma colher diferente da que estava posta.

- A colher do papai. Disse enquanto a mergulhava no caldo fumegante.

A colher do papai dele, meu sogro, que já nos deixou, é a maior de todas ali na fotografia.

Antônio tinha por hábito comer leite com farinha, mas... tinha que ser com sua colher preferida. Vários adjetivos para a colher do leite com farinha: maior que as outras, mais côncava, pesada. grossa.

Perguntei a marido como aquela colher veio parar nas mãos de seu pai.

Essa resposta ele não tem. Tem apenas "a colher do papai "que, assim que voltou do enterro de seu querido pai, esgueirou-se para as gavetas e antes que um dos onze irmãos se lembrasse do velho Antônio comendo leite com farinha com "aquela" colher, ele a trouxe para casa.

É fato que se vende colher avulsa; essas, porém, são mais simples, mais genéricas.

Os talheres mais elaborados, com algo que traga um embelezamento, são vendidos no coletivo.

Os jogos de garfos, facas. Ou o coletivo mais conhecido deles, o faqueiro.

Fico mesmo intrigada: onde andam os parentes da colher pesada, grossa e côncava de meu sogro? Como ela se desgarrou de seu coletivo, de seu faqueiro original?

Será que todas as pessoas têm um talher, um hashi especial, diferenciado dos demais ali da gaveta?

Por favor me responda a essa pergunta. Há em seu porta-talheres um membro exótico, vindo de outro país, de outra cultura, de uma casa alheia?

Antes porém de você ir lá nos comentários me contar uma boa história de um talher de estimação, veja que na fotografia ainda tem uma outra colher, a do meio, que traz consigo uma história.

Cheguei em casa com um jogo delas. Meia-dúzia para ser exata.

Fui duramente recriminada. Acharam-nas desconforme.

 -Olha pra isso, esse cabo enorme, pra que serve, onde se usa essa colher?

Intimidada, recorri a um vocabulário gourmet e respondi que poderíamos usar num frappê gelado com café e chantily.

- Mãe, não viaja. A gente nunca faz frappê em casa. 

Foi um brinde do mercado ( às favas os mercados com seus brindes; nós pagamos nos preços caros embutidos nos produtos e eles nos vêm com essa, olha, você ganhou, escolha seu prêmio ), enfim, eu tinha direito a escolher um brinde depois de muitos selinhos colados numa cartela a cada compra no mercado.

Meus olhos pousaram na colher de cabo longo e a escolha estava feita.

Nas férias da minha infância não havia viagens para a Disneilândia, não havia casa na praia, nem fazenda dos avós.

Era quintal, gatos, comprar geladinho com moedas e em algum momento daqueles dias preguiçosos, minha mãe anunciava que iríamos ao trabalho do meu pai!

Aquilo era incrível! Eu pulava de felicidade!

Era um acontecimento ir visitar meu pai na barbearia.

Dois ônibus, no intervalo entre um e outro havia o centro da cidade, havia as lojas Mappin e o elevador com ascensorista de elevador ( procurei no dicionário para não escrever errado, acho que tem uns quarenta anos que não escrevo essa palavra ), tinha as lojas Brasileiras, as Americanas e só depois chegávamos à barbearia.

Papai ali na cadeira número um, o guarda-pó branca vestindo-o e um silêncio que era entrecortado apenas pelo tic tic da tesoura. Ele me ensinou que um barbeiro nunca deveria conversar com o cliente, isso era coisa dos cabeleireiros. Um barbeiro não. Apenas respondia caso o cliente lhe perguntasse algo.  Papai era nascido em 1915.

Entre cinco e seis da tarde, entre um cliente e outro, papai nos levava para um lanche na padaria.

Um bauru e suco de laranja.

O suco de laranja da padaria...

Em casa nunca havia suco de laranja. Havia laranjada: duas laranjas espremidas e acrescidas em água.

A cor laranja-intenso do copo trabalhado e alto lá da padaria , contrastava com o laranja-desmaiado da nossa laranjada caseira.

E era isso que deixou uma marca profunda em minha memória: o suco de laranja de cor exuberante e a colher.

Ah a colher da padaria que vinha ao lado do copo, comprida, exatamente como a minha atual da fotografia.

Eu a mergulhava com meus dedos pequeninos, mexia os gelinhos, eu adorava aquela colher e falava sempre dela para o meu pai.

Até o dia em que ele trouxe a colher para casa. Espero que ele tenha comprado lá do moço da padaria ( ele disse que sim ).

Essa colher longa da padaria que esteve nas gavetas da minha infância já está em destino desconhecido e sequer me lembro quando ela partiu.

Encontrar no prêmio do mercado colher semelhante foi encontrar essa boas memórias.

Para finalizar, fica a pergunta: você sabe me dizer para onde vão os garfos, as colheres que se desgarram do rebanho dos seus semelhantes?

E não esquece de contar se você tem um talher de estimação e a história dele!

Bom final de semana! Beijo

ana paula



domingo, 20 de agosto de 2023

O solo sagrado dos comentários

 


No início dos blogs, quando tudo era ainda muito novo, muito a ser descoberto, não demorou  a surgir “dicas de como blogar”. Cheguei a comprar um manual na banca de jornais, uma revista em tamanho de bolso.


Essas dicas vinham dos próprios blogueiros, geralmente aqueles com ares mais profissionais. Nós os caseiros, os artesanais, fomos aprendendo uns com os outros, com nossos próprios erros muitas vezes.


Talvez, em algum momento, "os seguidores” tenha sido um objetivo. Para mim foi, afinal eu escrevia e queria que alguém lesse. Mas não demorou para a gente se dar conta que haviam blogs com milhares de seguidores e meia dúzia, seis mesmo,  apenas seis comentários num universo de milhares de seguidores.


A melhor maneira de angariar seguidores, era comentar nos blogs de maneira inteligente, bonita, mostrando que você realmente leu o post inteirinho. Experimentávamos naqueles tempos uma erva daninha que se espalhava: muitos blogueiros comentavam no estilo copia e cola - o mesmo comentário fosse num texto de festa, de luto ou de uma receita de natal.


Um dia eu me encontrei com uma postagem incrível, um texto lindo que tocou e ficou em meu coração.


Era da Imaculada ( infelizmente foi num comentário que li que ela faleceu em 2022.) Obrigada Imaculada por todo afeto que você espalhou nessa blogosfera.


Não tenho o texto, mas como me marcou profundamente, tenho nítido a essência dele.


Imaculada escreveu que comentar em um blog era adentrar um solo sagrado e assim, ela tirava os sapatos para pisar aquele solo assim, com total entrega e respeito.


Aquele texto solidificou a minha maneira de estar nos blogs.


Milhares de seguidores deixaram de fazer sentido. Fui percebendo a presença constante de poucos, que se tornou troca e afirmo, tornou-se amizade.


Imaculada semeou em mim esse desejo de adentrar um blog com presença, entrega. Ensinou-me que comentários muitas vezes complementam o texto, outras mostram afeto, respeito ou nas raras vezes em que há a discordância, ela pode ser feita sem rispidez.


Dez, quinze anos se passaram daquele início dos blogs com muita animação e falhas também.


Para mim hoje, comentar é algo que procuro fazer com muita dedicação. Não importa se é um comentário curto ou longo, faço-o desse jeito que Imaculada ensinou: adentro ali com alegria, permito o tempo de me emocionar, de rir, de refletir.


Tenho me encontrado com comentários de uma beleza, de uma força que me inspira muito!


Alguém que com muita dor conseguiu entrar num jardim e fotografar as flores que alguém amava e cultivava e esse alguém não está mais aqui; outro alguém que revelou já ter sido carteiro, outros, arrancando risadas, ah… quero cultivar cada vez mais essa bela lição que a querida blogueira nos ensinou.

Já estou ansiosa pelo teu comentário!

Um bom início de semana a todos nós.

Abraço

Ana Paula 


sábado, 19 de agosto de 2023

Silencioso violão

 Participando da edição n˚ 507 da Mari no blog Devaneios e Desvarios, 1 imagem, 140 caracteres.


Encantava-o o som do violão e assim sonhou ter o instrumento nas mãos. Comprou, esforçou-se. Inútil, o dom lhe era ausente. Escrevia seus poemas ao silêncio das cordas.



Minha inspiração veio do meu marido, um apaixonado pelo som do violão. Foi com enorme sacrifício que conseguiu comprar o instrumento de segunda mão, mas...

Seus dedos passam por veias, artérias, órgãos durante as cirurgias que realiza, mas com o violão não houve jeito, é mesmo desprovido de talento. O poema é verdade! Ele fez mesmo um poema para o violão que nunca tocou!





quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Vamos brincar com a Chica 33

 


De arrepiar a plataforma do Empire States.


A palavra que a Chica nos deu, lá no seu blog Sementes Diárias,  para o desafio da semana foi, arrepiar.



Nunca estive no Empire States, mas, se algum dia estiver, tenham certeza que nesta plataforma não pisarei!

No meu caso, a palavra arrepiar não cabe. Eu iria mesmo é esmorecer, bambear, isso para ser delicada 😊.

Há muitos anos aqui em São Paulo, havia um programa da prefeitura para que os próprios moradores conhecessem a história da cidade; claro era também aberto aos turistas.

O preço muito acessível, os trajetos mesclavam metrô, ônibus e também era feito a pé.

Havia vários roteiros e eu escolhi um deles, com muita audácia em explorar a cidade, com a juventude dos meus joelhos e com a coragem que eu mesma me atribuía.

Meu trajeto incluía um prédio símbolo da cidade, esse aí do meio:



Além da vista deslumbrante, havia também a promessa de um jardim suspenso.

Então subimos. Eu já com a máquina fotográfica com o filme kodak, não, não, era fujifilm, eu preferia esse, em mãos. Saímos do elevador e para minha surpresa, não havia jardim algum.

Do elevador abria-se uma porta que dava para uma escadaria externa, aquelas de incêndio, vazadas.

A juventude dos meus joelhos, travou ali. Uma fila atrás de mim, joelhos bem mais velhos.

Eu não era corajosa, nem audaciosa. Ali soube que não fui feita para as alturas, para as aventuras.

Após um tempo incalculável, minhas pernas encontraram a marcha a ré. Desculpei-me com o guia turístico que aguardava todos subirem na sua frente.

Nem me lembro se fotografei alguma coisa turística naquele dia.

Esse arrepiar das alturas, quem sentir me conte. Essa é uma experiência que não terei!





quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Celebrando uma amiga

 Se você já comeu bolo lá na Rosélia, venha festejar mais uma amiga! Só que agora você vai celebrar comendo biscoitos!



Essa garotinha encantadora, vivaz e com um coração enorme é a Maressa.
Sim, ela é a personagem de um livro!

E nesse ano Maressa vai celebrar junto da aniversariante, a Ana Virgínia, aliás, a autora do livro!



O livro, é o que podemos definir neste mundo como um sucesso. e por que sucesso?
Vou trazer a minha definição de sucesso: ele foi lançado e já se esgotou, significa que teve uma excelente aceitação e assim logo sairá do forno a segunda edição.

Sucesso porque é imensamente difícil para alguém não-famoso publicar um livro e a AnaVi  acreditou e conseguiu!

Sucesso porque esse livro carrega o coração imenso, bonito, generoso da Ana Virgínia que traz dentro de si a integridade e doce saudade de seu pai, a resiliência, coragem da mãe que passou por um transplante, traz a irmã, a avó e sua casa rodeada de tias e primos e biscoitos, traz o amor do marido, dos amigos, do seu cachorrinho e transforma tudo isso em palavras no livro que toca tão sensivelmente nossos corações.

Eu conheci a Ana através dos blogs ( blogs são verdadeiros tesouros ), depois através de trocas de cartas, até que veio a troca de abraços e foi mais de uma vez para minha alegria!

Quero celebrar teu aniversário dizendo o quanto você me ensina com tua vida. Não somos próximas, moramos em localidades distantes e isso realmente não importa.

Foi especial te abraçar, foi especial estar no teu casamento pela tela do computador que se fez mágica e eu me senti lá dentro e me emocionei e chorei, principalmente ao vê-la de braços dados com tua mãe. Um exemplo de fé e força.




O livro que você escreveu traz uma alegria tão simples e acredito seja por isso que carrega uma força tão grande.

Que Maressa espalhe doçura por onde ela passar, que possa se multiplicar em novas edições, vou sonhar com novas histórias dessa garotinha!
E que sua vida AnaVi seja longa e leve benefícios para muitos corações.
Feliz aniversário amiga!

Os blogs da Ana:












domingo, 13 de agosto de 2023

Celebrando os pais

Na última sexta-feira, ainda de madrugada, levamos nossa filha Júlia para o aeroporto. Como já é de conhecimento de muitos aqui, ela vai estudar na universidade federal de Minas Gerais, UFMG, em Belo Horizonte e começa seu curso na próxima segunda-feira, dia 14.

Anteriormente fomos à capital mineira ajeitar moradia para ela, depois o carro foi carregadinho com a mudança, nem coube a mãe lá dentro! E agora ela foi ( sozinha ) para iniciar seus estudos.

Na semana que antecedeu sua partida, eu li um livro que comprei para ela - Pequena coreografia do adeus de Aline Bei.

Li rápido e lhe entreguei o livro. Ela puxou conversa sobre o que eu tinha achado da leitura e eu apenas respondi - só leia, e depois conversamos.

Júlia finalizou a leitura no avião e quando conversamos ela me disse algo que me marcou.

Com o livro, ela se deu conta que cresceu e viveu num lar com harmonia e como isso faz diferença na vida dela.

( Outro dia falo mais sobre o livro, mas a ênfase é sobre a família desajustada em que a criança vive ).

Realmente, essa é uma qualidade da qual me alegro: as crianças cresceram em um ambiente de harmonia.

Houveram desafios, desentendimentos, dias difíceis, mas nós, os pais, conseguimos manter a serenidade para atravessarmos nossas noites escuras. E ouvir isso de nossa filha, mostra que foi verdadeira a atmosfera de serenidade.

Esse é o nosso primeiro dia dos pais com Júlia longe de casa, interagindo por chamada de vídeo e foi um presente receber essa reflexão dela.


Quando uma vida nos é entregue temos a missão de criá-la com muita responsabilidade, amor e proporcionar um ambiente de paz. Seja o pai, o tio, o avô, o padrinho, uma figura materna responsável por uma criança, assim deveria ser a sua criação, envolta em amor e paz. Sonho isso para todas as crianças!



Aqui papai apreciando seu presente!


Aproveito para agradecer todo o carinho que recebi pelo meu aniversário! Muito obrigada 💜




Uma imagem em 140 caracteres n˚ 506

 Participando da blogagem coletiva que a Mari organiza em seu blog, o Devaneios e Desvarios, com esta imagem para a semana:



Brincava com o filho sobre seus ombros. Abria os braços, era um avião. Voava e novos horizontes se abriam. No coração desejava horizontes abertos, vida plena com amor.


Deixo meu abraço a todos os pais que passarem por aqui, aos papais dos amigos e amigas blogueiros, aos papais que, como o meu já não se encontram aqui, mas seguem em nossos corações 💛

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

10 de agosto

 Vamos, vamos celebrar a minha vida e a de todos vocês!

Completo hoje 52 anos de vida e festejar aqui entre os amigos da blogosfera é para mim muito especial!

Não é só uma tela com mensagens, textos, palavras. Aqui há pulsação, calor, energia.

Obrigada a todos por essa troca que torna nosso viver mais saboroso!



Diariamente, pela manhã ainda, eu acesso um site de gratidão ( faço uso da tradução automática ) e quero deixar registrado aqui a mensagem de hoje que reverbera em mim pois a prática da compaixão norteia meu viver.

"A compaixão se torna real quando reconhecemos nossa humanidade compartilhada"
- Pema Chodron


carinho da filha!




terça-feira, 8 de agosto de 2023

Sem sujeira

 Uma imagem, 140 caracteres


Durante meus anos iniciais na blogosfera, participei muitas vezes de exercícios criativos como esse onde temos que nos expressar com apenas 140 caracteres. Vejo sempre o pessoal brincando sob a batuta da Marina do blog Devaneios e Desvarios e vou me atrever a entrar nessa roda também!

A imagem selecionada é esta:



Minha participação:

Gostava mesmo de cozinhar fazendo a chama do fogão saltar e flambar os legumes dentro da panela. Agora, com o fogão por indução, seus legumes, ficaram mais comportados.



Eu nunca cozinhei em um fogão por indução, e como vejo sempre tudo tão organizado e limpo, acabo achando que a cozinha fica mais comportada assim!

No meu velho fogão à gás é comida, espirros de água, de óleo, enfim, será que eu iria me adaptar?!





domingo, 6 de agosto de 2023

Um hóspede gato

 Que hóspede! Que gato! E bota gato nisso... um gatão, para ser bem sincera.

Hospedei um gatão aqui em casa.






Foi em julho que o bichano ficou aqui quase o mês todo durante as férias de sua família.

Eu havia me animado com a ideia de ter um gato aqui por casa, afinal a última vez que tive gatos foi na minha infância.

Trouxeram os apetrechos, caixa, areia, ração junto com o gato e as recomendações. Na casa havia apenas um ponto que se mostrava perigoso: um acesso, a um pulo felino, do muro do vizinho.

A mãe do gato, ou seja, a sua jovem dona, pediu-me que cuidasse para que o bicho não fosse para aquelas bandas do muro.

No primeiro dia do gato aqui em casa eu já me senti exausta de tanto ir atrás dele para impedi-lo de subir no tal muro.

Marido disse que eu podia relaxar; o bicho era inteligente.

"Você acha que ele não sabe que tem cachorros lá do outro lado? Claro que sabe, já sentiu o cheiro do perigo, não vai se meter a besta".

Então na segunda diária da hospedagem, todos se foram e eu fiquei a sós com o bichão.

Achei tudo bem diferente da minha infância, onde gatos viviam soltos por entre telhados e árvores. Esse gatão, por exemplo, não tinha acesso a árvores, pulava, surgia repentinamente na pia da cozinha e eu tomava cada susto...

Abria um armário para pegar uma panela e rapidamente o bicho já estava enfiado lá dentro.

Mas, voltando ao segundo dia da hospedagem, aconteceu que o gato sumiu.

Era por volta das 10h30min da manhã, ele já havia subido por toda a bancada da cozinha, na pia, havia ganhado alguma carne crua e então desapareceu.

Achei foi bom, pois assim eu poderia cozinhar em paz.

Conforme os minutos foram passando eu comecei a sentir falta do gatão.

Procurei, chamei, almocei e nada do bicho aparecer.

Então às duas horas da tarde, após ter revirado a casa e com o estômago também revirado de tanto nervoso, eu mandei mensagem para a minha filha comunicando o desaparecimento.

"Mãe, relaxa, daqui a pouco ele aparece".

Uma hora depois, minha filha me perguntava - e aí apareceu?

Diante da negativa ela se deu conta da encrenca que estávamos, ou melhor, eu estava metida.

Então perto das quatro da tarde ela me ligou, falando rápido e baixo: "Mãe, a mãe do gato está tomando banho tenho que falar rápido. Mãe, não chora, não tem nada o que fazer".

Eu havia relatado à minha filha que tinha revirado a casa, sacudido o pote com a ração e feito aquele som com os lábios - pichi- pichi- pichi. Acho que nesse momento até esfreguei assim os dedos das mãos para chamar o bichano ( devia ser alguma memória de infância ).

Então, entre lágrimas, eu confessei: minha única esperança é a coleira.

A mãe do gato havia colocado uma coleira nele com o número do telefone dela.

Disse para minha filha: fala pra mãe do gato ficar atenta ao celular, qualquer número estranho, ela precisa atender.

"Mãe, eu não posso falar isso para a mãe do gato, aí ela vai saber que ele fugiu, vai se desesperar e vai querer voltar da viagem. Isso não, deixa para ela saber quando a gente tiver indo embora.

"Ah e eu posso ficar aqui desesperada né? Eu que nem mãe de gato sou, passando esse sufoco".

Rapidamente combinamos que seria melhor mesmo a mãe do gato não saber nada. Que curtisse as férias e deixasse o choro para a volta. Eu já estava chorando por ela. Também combinamos de falar do desaparecimento quando elas passassem pelo posto na avenida já perto de casa. Filha concordou.

Segui chorando. Um vazio, um silêncio dentro de casa, a luz do sol cedendo para penumbra do poente.

Fosse eu a mãe do gato, tudo bem, seria muito triste. Agora um gato alheio, um gato hóspede sumir sob meus cuidados, era mesmo tenebroso.

Com um paninho já ensopado de lágrimas e fungueiras, apertado entre as mãos, entre orações soluçadas já perto das 18h, surge o gatão.

Faltava-lhe apenas a coleira. Exultei de alegria! Poderia ele pular o quanto quisesse nas mesas, pias, na estante. Ele estava de volta!

Poderia levar todas as lagartixas que ele caçava à noite para a cama que eu nem me importaria.

Mandei foto do hóspede para a filha que também suspirou de felicidade!

A mãe do gato voltou, gostou de ver seu filhote bem tratado e saiu novamente para voltar só no final do mês e ele seguiu conosco.

Em sua última noite em casa ( eu só não comprei fogos para celebrar a data porque ele poderia se assustar e fugir ) aconteceu algo estranho: a cozinha começou a ser invadia por abelhas. Uma meia dúzia delas e... comecem a desconfiar o que aconteceu.

Na véspera de ir embora, de ser entregue íntegro para a sua mãe, o gato sai em caça pra cima das abelhas e claro que isso não foi bom.

" Mãe esse gato tá muito estranho, olha pra ele".

Por tudo o que é mais sagrado, faltando apenas algumas horas para o hóspede ser levado embora, ele começa a ficar estranho? Se mordia, se coçava e não deixava ninguém chegar perto.

"Foi abelha - sentenciou marido.

Se ele não morrer, amanhã amanhece bom".

Não fala isso nem brincando. Já pensou no último dia esse bicho sucumbir?

Passei a noite em claro olhando se o bicho respirava. Amanheceu com um olho inchado e logo depois estava correndo atrás de passarinhos.

Quando a mãe do gato surgiu para buscá-lo, ele tinha uma lagartixa na boca.

Ela agradeceu, disse que o gato estava muito feliz. Ela podia ver nos olhinhos dele que ele tinha sido muito bem cuidado.

Já eu não posso dizer o mesmo. Eu não fiquei nada feliz com esse hóspede. Até hoje não consigo imaginar por onde ele andou  durante seu sumiço.

Concluo que os gatos da minha infância eram bem mais fáceis de serem cuidados.

Dizem que é uma maravilha para a saúde ter um gatinho por perto... Pra minha saúde não fez nada bem.

Não quero mais saber de hospedar gato não!







sábado, 5 de agosto de 2023

Muito turística, pouco romântica


Deixo meu pedido de desculpas, mas não encontrei romantismo em Veneza.
Se for o teu sonho romântico, não leia este post. Não foi romântico para mim, pode ser para você.

Estava no roteiro e eu me preparei muito ( com isso quero dizer que tomei muito remédio para enjoo! ). Hesitamos, marido e eu, se valeria mesmo desembolsar tantos euros para o passeio de gôndola. Uns diziam ser inesquecível, outros dispensável. Arriscamos.

Filmes e novelas retratam Veneza como um destino romântico, coisa mesmo de cinema, de arrancar suspiros. Talvez se eu fosse mais jovem? Não, não. Romantismo não tem idade. Só que para mim, e também essa foi a impressão de marido, o excesso de turistas, nós inclusive, não tornou a experiência assim tão agradável.


Aqui chegando em Veneza



Teremos mesmo que repensar nosso turismo
Tudo muito lotado, nem conseguimos entrar na igreja :(





Dividir uma gôndola com outro casal foi a opção mais viável para nós e sem música, porque para levar um cantor a bordo, nossa...

Mas Veneza não só os seus canais. Nosso almoço foi por lá e fomos de pizza!




Nossa pizza brasileira é muito melhor!

Eu estava tão desanimada com toda aquela muvuca e teríamos que ficar um dia inteiro ali perambulando ( não tínhamos hotel ), foi então que saímos andando, adentrando umas ruazinhas e chegamos a um oásis: uma praça tranquila, com banco para se sentar que parecia que estávamos em outro lugar.
Essa Veneza eu amei!

Na igreja abaixo, foi batizado Vivaldi.



A placa ali próximo à porta traz a informação sobre Vivaldi.

Pudemos sair daquele movimento todo e curtir uma atmosfera mais tranquila!





E antes de retornar, paramos para um café e olha só, uma doce lembrança lá nas bandas da Sereníssima!