domingo, 6 de agosto de 2023

Um hóspede gato

 Que hóspede! Que gato! E bota gato nisso... um gatão, para ser bem sincera.

Hospedei um gatão aqui em casa.






Foi em julho que o bichano ficou aqui quase o mês todo durante as férias de sua família.

Eu havia me animado com a ideia de ter um gato aqui por casa, afinal a última vez que tive gatos foi na minha infância.

Trouxeram os apetrechos, caixa, areia, ração junto com o gato e as recomendações. Na casa havia apenas um ponto que se mostrava perigoso: um acesso, a um pulo felino, do muro do vizinho.

A mãe do gato, ou seja, a sua jovem dona, pediu-me que cuidasse para que o bicho não fosse para aquelas bandas do muro.

No primeiro dia do gato aqui em casa eu já me senti exausta de tanto ir atrás dele para impedi-lo de subir no tal muro.

Marido disse que eu podia relaxar; o bicho era inteligente.

"Você acha que ele não sabe que tem cachorros lá do outro lado? Claro que sabe, já sentiu o cheiro do perigo, não vai se meter a besta".

Então na segunda diária da hospedagem, todos se foram e eu fiquei a sós com o bichão.

Achei tudo bem diferente da minha infância, onde gatos viviam soltos por entre telhados e árvores. Esse gatão, por exemplo, não tinha acesso a árvores, pulava, surgia repentinamente na pia da cozinha e eu tomava cada susto...

Abria um armário para pegar uma panela e rapidamente o bicho já estava enfiado lá dentro.

Mas, voltando ao segundo dia da hospedagem, aconteceu que o gato sumiu.

Era por volta das 10h30min da manhã, ele já havia subido por toda a bancada da cozinha, na pia, havia ganhado alguma carne crua e então desapareceu.

Achei foi bom, pois assim eu poderia cozinhar em paz.

Conforme os minutos foram passando eu comecei a sentir falta do gatão.

Procurei, chamei, almocei e nada do bicho aparecer.

Então às duas horas da tarde, após ter revirado a casa e com o estômago também revirado de tanto nervoso, eu mandei mensagem para a minha filha comunicando o desaparecimento.

"Mãe, relaxa, daqui a pouco ele aparece".

Uma hora depois, minha filha me perguntava - e aí apareceu?

Diante da negativa ela se deu conta da encrenca que estávamos, ou melhor, eu estava metida.

Então perto das quatro da tarde ela me ligou, falando rápido e baixo: "Mãe, a mãe do gato está tomando banho tenho que falar rápido. Mãe, não chora, não tem nada o que fazer".

Eu havia relatado à minha filha que tinha revirado a casa, sacudido o pote com a ração e feito aquele som com os lábios - pichi- pichi- pichi. Acho que nesse momento até esfreguei assim os dedos das mãos para chamar o bichano ( devia ser alguma memória de infância ).

Então, entre lágrimas, eu confessei: minha única esperança é a coleira.

A mãe do gato havia colocado uma coleira nele com o número do telefone dela.

Disse para minha filha: fala pra mãe do gato ficar atenta ao celular, qualquer número estranho, ela precisa atender.

"Mãe, eu não posso falar isso para a mãe do gato, aí ela vai saber que ele fugiu, vai se desesperar e vai querer voltar da viagem. Isso não, deixa para ela saber quando a gente tiver indo embora.

"Ah e eu posso ficar aqui desesperada né? Eu que nem mãe de gato sou, passando esse sufoco".

Rapidamente combinamos que seria melhor mesmo a mãe do gato não saber nada. Que curtisse as férias e deixasse o choro para a volta. Eu já estava chorando por ela. Também combinamos de falar do desaparecimento quando elas passassem pelo posto na avenida já perto de casa. Filha concordou.

Segui chorando. Um vazio, um silêncio dentro de casa, a luz do sol cedendo para penumbra do poente.

Fosse eu a mãe do gato, tudo bem, seria muito triste. Agora um gato alheio, um gato hóspede sumir sob meus cuidados, era mesmo tenebroso.

Com um paninho já ensopado de lágrimas e fungueiras, apertado entre as mãos, entre orações soluçadas já perto das 18h, surge o gatão.

Faltava-lhe apenas a coleira. Exultei de alegria! Poderia ele pular o quanto quisesse nas mesas, pias, na estante. Ele estava de volta!

Poderia levar todas as lagartixas que ele caçava à noite para a cama que eu nem me importaria.

Mandei foto do hóspede para a filha que também suspirou de felicidade!

A mãe do gato voltou, gostou de ver seu filhote bem tratado e saiu novamente para voltar só no final do mês e ele seguiu conosco.

Em sua última noite em casa ( eu só não comprei fogos para celebrar a data porque ele poderia se assustar e fugir ) aconteceu algo estranho: a cozinha começou a ser invadia por abelhas. Uma meia dúzia delas e... comecem a desconfiar o que aconteceu.

Na véspera de ir embora, de ser entregue íntegro para a sua mãe, o gato sai em caça pra cima das abelhas e claro que isso não foi bom.

" Mãe esse gato tá muito estranho, olha pra ele".

Por tudo o que é mais sagrado, faltando apenas algumas horas para o hóspede ser levado embora, ele começa a ficar estranho? Se mordia, se coçava e não deixava ninguém chegar perto.

"Foi abelha - sentenciou marido.

Se ele não morrer, amanhã amanhece bom".

Não fala isso nem brincando. Já pensou no último dia esse bicho sucumbir?

Passei a noite em claro olhando se o bicho respirava. Amanheceu com um olho inchado e logo depois estava correndo atrás de passarinhos.

Quando a mãe do gato surgiu para buscá-lo, ele tinha uma lagartixa na boca.

Ela agradeceu, disse que o gato estava muito feliz. Ela podia ver nos olhinhos dele que ele tinha sido muito bem cuidado.

Já eu não posso dizer o mesmo. Eu não fiquei nada feliz com esse hóspede. Até hoje não consigo imaginar por onde ele andou  durante seu sumiço.

Concluo que os gatos da minha infância eram bem mais fáceis de serem cuidados.

Dizem que é uma maravilha para a saúde ter um gatinho por perto... Pra minha saúde não fez nada bem.

Não quero mais saber de hospedar gato não!







6 comentários:

  1. rssssssssssssss... Ana Paula, ri muito aqui.]
    Desculpe pois era triste a situação, mas foi engraçado!
    Que gato danado!!! Q
    Que bom acabou bem e, como disse teu marido: não morreu, sobreviveu! Um hóspede assim mimizento não dá pra querer,rs...Leitura divertida e desejo não mais precises ficar com ele. É muita responsabilidade,né?

    Me fez lembrar quando um vizinho me pediu para cuidar no mês de férias dele, da galinha Gertrudes... Affff...Era um grude com ele. E,sabe o que houve? Os cachorros a comeram... Por conta disso ele sequestrou uma cadelinhs, a BOLINHA e tivemos que pagar resgate!rs...Cada uma!!! beijos, tudo de bom ,chica

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  2. Boa tarde de domingo, querida amiga Ana Paula!
    O gato fujão quase lhe deu um baita susto que seria não ter voltado... já imaginou?
    Ainda bem que deu tudo certo.
    Os nossos eram arteiros, mas conviviam bem com os cachorrinhos no mesmo lar.
    Já vivemos a cena descrita tão bem por você com uma do filho cuja coleira a fazia se achar.
    Tenha uma nova semana abençoada!
    Beijinhos

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  3. rsrsrsrsrssssss, o gato é lindo, mas que horror perder o gato da vizinha, que situação!!
    Olha, eu não faria nada melhor, não sei cuidar de gato, só de cachorro. Os gatos da
    minha filha quando me olham, se mandam! Há algo errado em mim ou nos gatos. Mas
    é melhor deixar assim, sobem pra cima da geladeira!
    Que mimosos...rss
    Beijinho, boa semana.

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  4. Oi, Ana.
    Meu comentário fica totalmente sob suspeita, pois tenho verdadeira adoração por gatos. Tive vários, inclusive um amarelado igualzinho ao seu hóspede.
    Gatos são muito territorialistas, mas também expansivos. Não respeitam muito o território dos outros. E como são muito acostumados ao local onde habitam, quando vão para alguma casa desconhecido, o instinto os faz procurar o caminho de casa. Você levou sorte do bichano ter voltado. Já quando ambientados no novo lugar, eles começam a expandir o território, sempre em espiral, indo cada dia mais longe.
    No sumiço desse bola de pelo lindo, creio que foi algo fora disso, mas completamente normal para os felinos. Eles, originalmente, são animais de hábitos noturnos, então, dorme quase que o dia todo. Se entocam em algum canto apertado e quente, e não estão nem aí para a preocupação dos donos. rsrs. E aquela crença de que gato castrado sai menos, ou não corre atrás de gata no cio, é pura bobeira. Eles vão mesmo.
    Fico imaginando seu desespero, principalmente pelo fato do gato não ser seu. E o seu marido ainda colocando pilha... rsrs.
    Adorei.
    Grande abraço, Ana. E linda semana pra ti.

    Marcio

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  5. Oi, Ana.
    Que lindo!
    Que lindas fotos você capturou dele!
    Eu gosto de gatos e de observá-los, mas à distância. Trauma de infância de um gato doentinho que também passou pela minha casa e foi hospedado por uns dias e me arranhou com suas unhinhas afiadas...! 😕🙂
    Mas se um dia eu vier a ter um gato acho que vou mantê-lo na coleira, porque dá um aperto no coração dele pular o muro dos vizinhos, ir passando de casa em casa e nunca mais voltar. Mas a minha mãe disse que gato não se prende na coleira...! 😕😕😕
    Abraços! 💕
    ~Cartas da Gleize. 💌

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  6. Que história engraçada Ana Paula.
    Mas, imagino sua preocupação com o sumiço do gato. rs.

    Lembrou-me de uma situação que aconteceu conosco.
    Quando minha mãe estava na espera pelo transplante, ficava internada por muitos dias ... 28 dias, 32 dias.
    Às vezes eu dormia no hospital, ia trabalhar, tomava banho na casa da minha madrinha (que ficava no meio do caminho...) Minha irmã morando em outra cidade...
    Eu ficava mais de 3 ou 4 dias sem ir em casa.
    Então, resolvemos deixar o Lilo (poodle toy) na casa da minha sogra.
    No dia que eu fui buscar o cachorrinho lá, ela nos contou uma história mais ou menos como essa sua.

    Ela disse que, o Lilo estava bastante triste, longe da gente.
    E que, um dia, ele se escondeu... num cantinho do terraço, debaixo de um armário.
    Ela procurou em todos os lugares da casa, do terraço e não achava o Lilo...

    Ela saiu na rua, perguntando se alguém tinha visto o cachorrinho, e ninguém tinha visto.

    Ela disse que estava se preparando para nos dar a notícia que o Lilo tinha fugido, desaparecido...

    Aí, no final de um dia, apareceu o Lilo... saiu debaixo do armário...

    rs.

    Eu imagino a preocupação dela também.

    Abraço pra você.

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