sábado, 3 de dezembro de 2016

Santa ignorância

Deveriam escrever um livro com histórias de vestibulares.
Não histórias de quem está lá fazendo a prova e suas superações.
Histórias de quem acompanha, leva na porta do local de provas e fica lá esperando.
Eu contribuiria com a seguinte história:

É minha estreia como mãe de vestibulando.
Bem, na verdade meu vestibulando é ainda um "treineiro". Não presta o vestibular pra valer. É mesmo para ir se habituando, conhecendo o território que em breve será "de verdade".
Mas, ainda que nessa condição, todos os atributos de uma mãe de vestibulando, acho são iguais.
A gente lembra da tal caneta transparente e mesmo sabendo que há algumas no estojo, compra duas novas. Lembra do RG pelo menos umas vinte vezes, fala pra dormir cedo na noite anterior, compra chocolate para o dia da prova. Fica mais ansiosa que eles para saber o local da prova e eles "depois eu olho..."o que mais? Ah sim, o cardápio do almoço que antecede a prova é bem pensado porque não pode ser nada propenso a indisposições. Será que esqueci de algo?
Num desses vestibulares, levei o rebento e fiquei esperando até que terminasse.
São longas horas para quem está do lado de fora dos portões fechados. Lá dentro chega a faltar minutos.
Perambulei inicialmente por ruas de comércio com suas portas fechadas, sentei-me em banco de praça, e quando o cansaço me venceu, fui para a frente da escola esperar.
Não havia se passado nem metade do tempo...
Recostada num muro observei um homem se aproximando. Puxou conversa, tipo de elevador, só que agora era de vestibular.
 - Filho ou filha que está prestando vestibular?
Meu filho - respondi - e já fui acrescentando que não era pra valer, ele estava só treinando e aí a conversa embalou. As três horas seguintes passaram até que mais rápido.

Primeiro as coincidências. O filho dele também não estava lá para valer. Ele quer outro vestibular, bem mais específico, na área de engenharia, o mesmo que meu filho quer!
Então vieram mais para conhecer a cidade, a futura escola para os estudos e ajeitar a moradia para o menino e apaziguar o coração da mãe que não gostaria de ter o filho morando tão longe.
Falamos de custos para quem vem de tão longe estudar e eu peguei o celular e fui procurar a data para uma prova de bolsa para a escola e aproveitei para anotar num papelzinho o endereço de um quartinho de pensão.
Fica mais barato que pagar o alojamento - disse eu já preocupada com o tamanho do gasto que o sujeito teria.
Ele gentilmente me disse que ficaria muito preocupado com o filho num quartinho de pensão numa cidade desconhecida e conversa vai e vem ele me disse que trabalhava com agricultura.
Em algum momento da conversa, falamos da paixão de nossos filhos pela matemática e eu ri de mim mesma ao dizer que eu tinha ausências de matemática em mim e nem sabia de onde vinha o gosto de meu filho, já que eu e um zero a esquerda para matemática éramos a mesma coisa.
E o sujeito após uma indagação minha disse que plantava café e possuía 260 alqueires para tal.
O filho dele saiu primeiro que o meu. Desejamos sorte aos meninos mesmo sem saber nossos nomes.

Já em casa, marido me liga via qualquer aplicativo ( nem sei pra quê ainda tenho telefone ) e eu vou relatando minha espera, a praça, o comércio fechado, o sujeito que me causou preocupação porque vai ter que custear o filho tão longe de casa e então eu pergunto para marido.
"Sabe, ele disse que trabalha com café e que tem 260 alqueires de plantação. Isso é muito?

Você estava conversando com um dos cinco homens mais ricos daquela região - marido me disse.

Fiquei um pouco em silêncio antes de cair na gargalhada.
"Meu amor, eu disse, eu indiquei um quartinho de pensão para o filho dele e depois mostrei-lhe o caminho da rodoviária para que pegassem um ônibus e assim economizariam com o táxi!"

Santa ignorância! 

27 comentários:

  1. Ana Paula, adore3i a "santa ignorância",rs...Mas eu também faria de tudo pra ajudar o "pobre" homem a resolver seu problema e um quartinho de pensão faria bem se verdade fosse,rs... E como foi o nosso treinante? bjs, tudo de bom, fiquem bem,chica

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  2. Olá,Ana Paula,boa noite...verdade, deveriam escrever um livro com histórias de vestibulares. E vai se preparando,como mãe de um ainda "treineiro", à ter diversas histórias assim.Não acho,opinião minha, que foi uma Santa Ignorância. Temos esta tendência de ficar conversando, trocar palavras a respeito dos mesmos fatos com quem pouco ou nada conhecemos , principalmente quando estamos em um ambiente comum. É receber o que vem do outro com aceitação superior ao nível de vida, ao padrão social e financeiro de cada um. Sucesso ao treinante e futuro vestibulando!
    agradeço pelo carinho,bom final de semana,belos dias,beijos!

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  3. Olá , Ana Paula!
    Como sempre, acabei de ler seu post sorrindo.
    Gosto muito dessas conversas ao acaso, sempre podemos aprender, trocar, somar experiencias e aprendizados.
    Um abraço e aproveito para desejar que tenha um ótimo fim de ano, pois o "mulheres" vai dar uma pausa.
    Muita luz e amor!
    Sônia

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  4. Oi Ana Paula, não foi ignorância e sim bondade e vontade em ajudar!
    Boa sorte ao seu filho para quando for pra valer!!!
    Beijinhos, lindo domingo.

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  5. Oi Ana Paula
    Não ignorância e sim o espírito de solidariedade que teve peso nesse diálogo
    Só uma pessoa com bondade de coração se preocuparia em ser tão prestimosa com um desconhecido
    Um ótimo domingo
    Beijos

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  6. Nossa Ana Paula, que saia justa....
    Acontece com todo mundo, eu também já dei uns foras desses!
    Bjs

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  7. Teu coração solidário, com toda certeza, tocou nas apreensões daquele pai e mesmo em "santa ignorância", vc destacou a humanidade nas semelhanças das situações: mãe e pai cheios de ansiedades pelos jovens filhos começando a fazerem suas escolhas na vida.
    Tua ideia dá panos pras mangas, Ana; crônicas dos corações ansiosos! Que tal, pra título do segundo livro, heim?

    Bjo grande, boa semana.
    Calu

    * Ri muito sobre a leitura na barca,rsrsrsrs...

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  8. Pode ser uma pequena e perdoável gafe, mas acho que ele deve ser alguém muito educado e humilde, e com certeza, não pensa que você é ignorante.

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Oi,Ana! Quando comecei a acompanhar o blog, seu filho era criança e hoje, lendo que ele já está treinando para o vestibular, me fez perceber o quanto o tempo passa sem percebermos...
    Seus textos nos inspiram a olhar a vida de outra forma, a enxergar poesia no comum, na rotina! Por isso, jamais deixe de escrever e nos levar também a viver os versos do dia a dia..

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  11. Engraçado o seu texto, Ana. Lá diz o ditado: "quem não sabe é como quem não vê". Como ia você adivinhar'
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  12. Coisas que acontecem na vida...
    Bj e fk c Deus.
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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  13. Sei bem desses sintomas, dessa vivência

    260 alqueires eu não teriua noção, imagino ser muito pela conclusão da crônica
    A parte que eu ia me apegar e talvez tentar ajudar além da falta de intenção para amizade dos garotos era do que são os tais alqueires

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    Respostas
    1. *teria
      Essa Div escrevendo com o celular, digitando errado rsrs

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  14. Muito bom seu texto Ana Paula.
    Estive um pouco ausente durante alguns dias. Mais não poderia deixar que o ano terminasse sem passar aqui pra deixar meu carinho e meus agradecimentos por termos caminhado pelo menos um pouco durante esse ano de 2016 nessa blogosfera. Muito obrigada!
    Que o menino Jesus esteja sempre presente na sua vida.
    Desejo a você e à sua família um Natal de Luz e um próspero Ano Novo
    Repleto de alegrias e bênçãos!
    Boas Festas!
    Feliz Natal!
    Feliz 2017!
    Blog da Smareis

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  15. Boa Noite querida Ana Paula!
    Tempo de vestibular é um estresse medonho, rs...
    Seja muito feliz e abençoada!
    Bjm muito fraterno e Felizes Festas!

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  16. Um BOM Natal e um Ano novo MELHOR.
    Beijos.

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  17. kkKK e eu nem sei quanto é um alqueire. A vida é assim. Que mico! Mas ele deve ser simples, porque se não se ofendeu com isso ele tem humildade. E só falou que tinha 260 alqueires qndo perguntou a ele. Se ele não tivesse gostado, teria falado logo.

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  18. Ana Paula,
    Passei para desejar a você e sua família um Feliz Natal e que 2017 seja um ano abençoado e luminoso para todos!
    Grande abraço

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  19. Oi, Ana, como vai?
    Gostei muito do seu texto!!! Lembrei de quando eu mesma prestava vestibular e há uns anos recentes fiz alguns concursos, com os mesmos cuidados - duas canetas, rg, local de prova, chocolatinho... minha mãe sempre deixou que eu me virasse nesse sentido, rsrsrs. Mas eu sempre tive o cuidado com a filha.
    Sabe, creio que o que tornou a prosa de vocês tão boa foi o fato de que o senhor se sentiu à vontade para conversar contigo. Há pessoas que quando conhecem a realidade financeira do outro passam a tratá-lo com bajulação (claro que não seria seu caso, eu sei), o que torna a conversa artificial.
    Mas como você, eu também indicaria uma pensão em conta e a rota do ônibus, hahaha!
    Que bom que mantemos por dentro a simplicidade de querer sempre ajudar sem ver a quem.
    Desejo um Feliz Natal para você, sua família, com amor, paz, alegria e sementes para a renovação pessoal! Desejo tuuudo de bom!

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  20. Passando para desejar um maravilhoso 2017 cheio da presença de Deus, paz, amor, alegria e tudo de melhor!
    Bj e fk c Deus
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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  21. Ana, estou passando para desejar um ano inesquecível, de alegria, doçuras, amor CE alegria! Tudo de bom! Abraços!

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  22. 26 comentários
    Adorei
    Eu n tenho passado de meia dúzia mesmo deixando o postar a quarar
    Assim está a Blogosfera em era de vídeos

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