segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A minúscula revolução

Mais alguns anos e eu terei meio século de vida. Tempo suficiente para poder olhar para as muitas mudanças, transformações pelas quais passam o mundo e nós também.
Durante muito tempo, eu achava que a grande mudança, por mim vivenciada, estava na era digital.
Do orelhão de ficha aos smartphones.
Da máquina fotográfica analógica e seus filmes a revelar para a instantaneidade das fotos digitais.
Não me esqueço também do escândalo das minissaias que moças de família não deveriam nunca usar, para a era dos "shorts". Fosse vivo meu pai, ele teria saudades das minissaias comparando-as com os shorts da atualidade!

Eu gosto de pedir para meu marido relatar a chegada do fogão à gás lá na infância dele.

"Ficamos todos os irmãos, doze, lado a lado ali na cozinha, dava para ouvir o coração disparado um do outro. Ah! E quando vimos a chama azul acesa..."

Grandes transformações políticas, sociais.
Silenciosas mudanças pessoais.

E eu tenho me deparado com uma minúscula revolução: a escrita com ausência de letras maiúsculas.

A primeira vez que soube de tal acontecido, foi em algum jornal impresso que falava de um autor português que lançara seu livro todo escrito em letras minúsculas.
Foi o suficiente para eu desgostar, sem mesmo conhecer o tal escritor.

Tenho motivos afetivos nascidos lá na minha infância.

Tia Sônia, a professora da primeira série, de letra absolutamente redonda, ensinou-nos com enorme paciência e creio, com enorme amor também.
"Três dedinhos"... ela repetia e demonstrava com sua mão. "Coloca junto à margem, essa linha vermelha aqui ( caderno encapado de xadrez vermelho em punho ) e faz uma bolinha com o lápis".

Assim se deu nossa iniciação no parágrafo sempre começado com letra maiúscula.

Era demorado o processo de posicionar os três dedinhos, depois fazer a bolinha. Eu fui advertida várias vezes: "Não precisa uma bola de futebol, faça um olhinho de formiga" ela me dizia com doçura na voz.

Passamos depois a usar apenas dois dedos e adiante, de maneira mágica, ou melhor, depois de muitas repetições, bastava o olhar e o lápis ficava na posições exata, sem necessidade de marcações.
Foi um longo processo.

Depois do escritor português que me neguei a ler ( depois li e me apaixonei e será um outro post! ) deparei-me nas telas do computador e do celular com várias pessoas escrevendo em minúsculas apenas.

O escritor português explicou que queria dar igualdade às letras quando concebeu seu livro.
Num site, o moço justificou-se utilizando seu conhecimento em design e estética - ele acha muito feio esteticamente a variação de tamanho das fontes. Passou ele mesmo a escrever apenas em letras minúsculas.

E agora, especialmente na plataforma instagram, tenho encontrado muita gente escrevendo sem fazer uso de letras maiúsculas. Modismo? Facilidade? Rapidez?

Essa minúscula revolução tem mexido comigo.
Sigo aberta a olhar, compreender, reproduzir, questionar.

Além da saudade desse cantinho que é formado por vocês amigos que me lêem, também quero saber: já aderiu à essa minúscula revolução? Gosta, desgosta, nunca, talvez? Me conta e também me desculpa por tanta ausência!

Beijo

*beijo especial para a menina Aleska que foi um sopro de inspiração!

7 comentários:

  1. Um texto muito interessante, Ana Paula. Gosto da forma como escreves. Quanto às letras, ainda uso as maiúsculas depois do ponto, mas só… Na minha poesia já tudo o mais aparece em minúsculas, sejam nomes de pessoas, de terras de deuses…
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  2. Ana Paula, que coisa boa te ver! E saso tantas as transformações que acompanhamos nesses anos.imagina eu, com quase 70.
    Nos adaptamos à elas, outras nos causam estranheza desde a primeira vez!
    E essa do escrever em minúsculas não me dei conta ainda...Devo estar pir fora🤣.
    Como estão as crianças (🤣)???
    Beijos pra todos e tudo de bom, chica

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  3. É eu cometo esse pecado kkkk é mais pela rapidez mesmo. Igualdade entre letras? Sei não, parece alguém querendo lancar modismo kkkk muito bom voltar a ler suas crônicas! Espero que continue postando é um dia faça mais livros. Beijos e obrigada pelo carinho!

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  4. Boa tarde, querida amiga Ana Paula!
    Oba! Você voltou!
    Não aderi e não sei se o faria, gosto de cumprir o que aprendi. So atneta à Rweforma ortográfica, pois considero muito importnate. O demais, não tenho nehuma vontade de mudar...
    Mas vamos ver pois não se pode dizer desta água não beberei, rs...
    Venha sempre para nos enriquecer com suas postagens reflexivas.
    Tenha uma nova semana abençoada e feliz!
    Bjm fraterno de paz e bem

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  5. Que legal que vc voltou!!!
    Acho muito estranho tbem ver nas redes sociais pessoas escrevendo
    Com letras minúsculas. Sou ainda adepta que depôs do ponto e início
    de frase se escreva com letra maiúscula.
    Essa tecnologia é ótima...mas tbem emburrece alguns menos desavisados.
    Ah...claro que adorei seu texto. Venha sempre escrever.
    Um Bjo grande pra vc.

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  6. Ana Paula...

    Bom ver sua postagem e conversar com você por aqui também.

    Eu já vi muitas pessoas com esse hábito de escrever somente com letras minúsculas. Essas pessoas são ligadas à literatura... e algumas vezes fiquei me perguntando o motivo do não uso das letras maiúsculas.

    Não sei se seria fácil explicar para as crianças que estão sendo alfabetizadas que um autor acha estranho a variação do tamanho entre as letras. rsrsrs.

    Eu quero saber quem é esse autor. Não o conheço ainda.

    Abraço pra você.

    AnaVi

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  7. Jamais deixarei de escrever com letras maiúsculas quando necessário.
    Não podemos deixar essa nova era tecnológica nos "emburrecer" .
    Ler um texto, um livro escrito corretamente é muito satisfatório.
    Concordo com vc...já peguei ranço desse escritor português. Onde se viu , um escritor ter a pachorra de escrever errado???
    E continuamos escrevendo correto. Não perdemos nada. Ao contrário, estamos fazendo um bem para
    essa juventude que acha que sabe se comunicar através da escrita. Bjo

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