sexta-feira, 7 de junho de 2019

O sino

Faço um esforço exaustivo, minucioso e também silencioso para recordar a primeira vez que ouvi um sino. Sendo ineficaz meu esforço, volto-me para meu marido e entrego a ele a minha vontade de saber : "você se lembra da primeira vez que ouviu um sino?"

"Ixi... claro que lembro. O sininho do Bom Jesus. Lembro até da batida triste que era pra avisar que alguém tinha morrido."

Marido passou a infância em área rural de Minas Gerais. Lugarejos bem afastados, onde o sino era uma forma de comunicação.


Digo a ele que essa primeira lembrança do som de um sino, eu não tenho. 
Mas...
Tenho uma boa história com um sino.

Eu toquei um sino de igreja!

Essa frase não poderia ter exatamente uma exclamação. Por que? Porque foi um tanto decepcionante meu "tocar o sino"...

Nos desenhos animados da televisão, eu tenho lembrança de algum personagem vestido de frade, pendurado em uma corda, puxando com força, ou mesmo balançando de um lado para o outro tal a força do sino.

Eu era uma adolescente quando minha doce vizinha foi pedir permissão ao meu pai para que eu passasse uns dias de férias na casa da irmã dela, no Paraná, que era uma freira. Eu iria com a filha de dona Rosa e seria bom sair um pouco de casa; era recente a perda de minha mãe.

No segundo dia, irmã Suzana fez-me o convite inusitado logo pela manhã. "Você quer tocar o sino da igreja hoje à tarde? Temos que estar lá quinze minutos antes das seis, não se pode atrasar"

Não saí pulando e gritando de alegria porque o ambiente era mesmo reservado e silencioso.

Eu iria tocar um sino. Nem conseguia acreditar!
Será que eu teria forças? As cordas, será que havia uma só ou várias? E a melodia, eu saberia tocar, ou era só bater seis vezes? E se eu errasse e soassem sete badaladas?

Achei melhor não importunar a tão acolhedora freira e deixar todas as surpresas para o final da tarde.

Como demorou para o sol baixar naquele dia.

Segui a passos apressados ao lado da freira pelo calçadão principal da cidade. Meu coração é que parecia um sino.

Subimos uma escada caracol. A freira ia na frente. Lá no alto enquanto ela olhava fixamente para seu relógio de pulso, eu procurava as cordas.

De repente, ela me fala "Está na hora, aqui, aqui. Aperta".

Um pequeno painel com um botão. Apertei-o e vi e ouvi o sino soar, movendo-se harmoniosamente.
As cordas e as pessoas penduradas eram coisas do passado. Bastava olhar as horas no relógio de pulso e pressionar um botão.

Desci as escadas caracol um tanto atordoada. Não sei se pelo som alto do sino ou pela ausência de cordas. 

Bem, eu toquei um sino!

E você, tem uma história de sino para me contar?

Beijo!



10 comentários:

  1. Ana Paula, que lindo relato o teu. Parecia estar contigo aqui ao meu lado te ouvindo façar...

    Muito legal a leitura! Interessante quando temos uma ideia de algo, eu também me imaginaria pendurada no cordão enorme, bem grosso para o badalar do sino de uma igreja e como tu, ficaria triste em ser tão simples: apenas apertar um botão... Modernidades!!!

    Não tenho histórias de sino, mas desde pequena adorei!!!Tão bucólico o badalar deles!

    E com esse som nos ouvidos, deixo um beijo e desejos de lindo fds! chica

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  2. Ana Paula, voltei... Tomamos café como sempre com Neno e falávamos no teu sino...

    Tivemos que rir, E Kiko lembrou que no tempo dele, na Itália, ficava louco pra ir tocar o sino na igrejinha da cidadezinha.

    Era uma linda igrejinha que, infelizmente, foi "renovada" e perdeu a graça. Pois bem, Kiko era franzino como Neno e um diabo,rs... Pegava aquela corda grossa do sino e se balançava nela. Disse que com sua magreza, quase atravessava a rua. Voava! rs...


    E eu lembrei de uma situação de aperto horrorosa minha, numa outra cidade italiana, berço de S.Chiquinho e de tantas comilanças, mais o fato de eu estar em recuperação de um problemão no intestino, mesmo assim, nada me detinha e caminhava como louca por lá.

    Até que, ao badalar do sino, ainda bem festivo, tive que me embrenhar numa moita,rs... Bem romântica !!! E assim foi! Agora já badalei bastante por aqui e me divirto sempre contigo

    beijos nossos

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  3. Olá Ana Paula,
    que história linda!
    Amo seu jeito sensível de escrever e descrever as situações que viveu. Gosto de quem escreve assim, com leveza, beleza e simplicidade.
    Não tenho história com sinos, mas me lembro do badalar melancólico toda vez que morria alguém. Eu era bem pequena e morava assim como seu marido, em uma cidadezinha do interior de Minas.
    Te confesso que acho interessante o toque, mas associo sempre a morte. Embora os sinos também badalem para anunciar boas novas e festas.

    Beijos, tenha um fim de semana abençoado.

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  4. Boa tarde de Domingo, querida amiga Ana Paula!
    Todos os dias ao meio dia, ouco o sino... E muito bom pois da uma sensacao de mística no peito. Gosto muito e me diz muito.
    Tenha dias abencoados!
    Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem

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  5. Puxa, Ana Paula, que frustração....imagino sua cabecinha de criança atordoada com a experiência...
    Eu moro próximo a duas igrejas e quando entardece é comum ouvir as badaladas do sino, gosto tanto, dá um ar bucólico ao bairro.
    Bjs

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  6. Realmente, Ana Paula a tua história é muito bonita, mas eu acho que ia ficar frustrada por não ter corda para puxar… Antigamente o sino da igreja lembrava às pessoas as horas e os afazeres. Nas aldeias talvez isso ainda aconteça, mas não nas grandes cidades.
    Uma boa semana.
    Um beijo.

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  7. Oi Ana!!!! Bom dia!!! Que decepção.. eu também teria esse mesmo pensamento.. Hoje botão, um painel e tudo resolve... Hoje, só um toque leve e pronto para se resolver tanta coisa...Prática em alguns casos e triste em alguns casos, porque a tradição é preciosa e rica...

    Bom, de qualquer forma, você teve a experiência do sino...
    Aqui, imagino que seja assim também...

    Onde morava, Ipatinga, tinha um sino na igreja de outro bairro que se ouvia na nossa..
    Aqui em Viçosa, temos um sino também que se ouve longe e como seu marido falou, toca triste e diferente quando alguma figura marcante da cidade morre...

    Fomos em Diamantina e subimos para visitar o sino que estava desativado e amarrado nas laterais... Confesso que tive medo daquilo se soltar e ficarmos atordoados também..rs
    Tenho fotos da Maria ao lado dele e as casinhas lindas de Diamantina pela janela da torre..

    Bom.. valeu a experiencia de ter tocado né Ana, e restou esse conto lindo pra ser lembrado...

    Beijos

    Tê e Maria ♥

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  8. Oi, Ana!
    Consigo imaginar sua decepção, eu também me sentiria assim diante da expectativa de tocar um sino de igreja.
    Minha história com sino, não se dá por toca-lo, mas por ouvi-lo. Depois da minha separação, vendemos a casa em que morávamos e fui com meu filho para um apartamento. Em todas vezes em que lá estive arrumando as coisas antes da mudança, não percebi o sino da igreja próxima tocando, mas na nossa primeira manhã em casa, acordei às 6 horas ouvindo as badaladas. Eu amei e senti como se fosse um sinal de boas vindas para o novo lar.
    Um abraço e desejo de ótimo domingo,
    Sônia

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  9. Oi Ana, gostei demais do tema...
    Quando eu era criança, o sino tocava pela manhã anunciando a primeira missa e as 6 da tarde também.
    Tinha curiosidade sobre o sino na infância também! Se a gente sairia surda...rs Se a escada era realmente caracol...rs
    Eu acho que toquei, mas não me lembro direito, se foi minha curiosidade ou vontade de uma dia tocar...rs
    .
    E ao lado da enorme e antiga igreja, foi criado um enorme condomínio de luxo.
    Na época eu achei um absurdo, porque mudou a arquitetura do local, acho que sou muito conservadora...rs
    Logo pensei que a igreja talvez não possa mais seguir seu fluxo por conta das atualidades, enfim, não sei se a igreja se adaptou as modernidades, ou se mentaram os costumes...
    Minha família é católica, então na época seguia os costumes, e independente de qualquer coisa, gosto de respeitar as situações.
    Hoje creio em Deus e Jesus Cristo, não vou mais na igreja católica, mas gosto de preservar costumes como o toque do sino, mas enfim, as coisas vão mudando conforme as épocas...
    Mas uma coisa é certa, o sino fazia parte da infância de todas as crianças que hoje tem 40 anos ou mais, tipo eu...rs
    Bom tempos, boas lembranças!
    Beijos doces,
    Ju

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  10. Olá Ana, seu texto me fez voltar no tempo. Cresci em Barra do Piraí, cidade do interior do Rio de Janeiro. Adorava o som do sino da igreja Santa Terezinha, que tocava todo dia no mesmo horário anunciando a missa. Ficava sempre imaginando quem poderia tocar e como seria. Isso me fez pensar como certos sons e cheiros tem o poder de resgatar nossa memória emocional. Da minha infância dois sons me fazem viajar no tempo, o de sino o de trem. E assim vamos viajando. Bjinhos

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