Tinha
acabado de debutar. Não com o glamour de dois lindos vestidos e sim
com um colete cinza-gelo tricotado pela vizinha de mãos hábeis e
amorosas.
E
assim começava uma certa liberdade de ir e vir. Saía de sua casa de
dois cômodos e de repente estava no quarto da amiga da amiga que era
muito maior que toda a sua casa contando até com o banheiro que
ficava pra fora.
Emudeceu,
parada num canto com o olhar preso na enorme poltrona de fibra, de
vime, pendurada no teto por grossa corrente.
No
seu teto de telhas onduladas com a caiação velha, não poderia
jamais prender um ninho aconchegante como aquele.
Voltou
de seu devaneio ao ouvir o choro descontrolado da anfitriã.
Deixaram
a casa com o pedido desesperado da mãe da garota para que voltassem
e trouxessem alegria e vontade de viver para sua filha.
Deitada
no sofá-cama começava a não compreender a vida. Como naquela
imensidão de beleza e conforto poderia uma garota perder a vontade
de viver?
Ouviu
a chuva tamborilando o telhado. Correu para desencostar a estande da
parede e colocar panos pelo chão.
Não
demoraria para a água começar a escorrer pela parede.