quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

De volta!

 Foi uma viagem inesperada, dessas que a gente faz a mala minutos antes de embarcar!

Minha filha Júlia divide apartamento com outras estudantes em Belo Horizonte. É bem difícil ela ficar sozinha, mas aconteceu e assim veio a possibilidade de ir visitá-la ficando apenas eu e ela no apartamento!

Uma delícia ter passado esses dias com a filhota. Nutrição de amor 💙

Conversamos muito, cozinhamos juntas, passeamos, andamos pelo bairro, pela faculdade onde ela estuda.

Com tudo foi decidido de última hora, entrei no ônibus, encarei umas dez horas de viagem e cheguei debaixo de chuva à noitinha com o inebriante perfume de uma árvore, um perfume que se misturou ao abraço da minha menina, nossos corações juntinhos.

Partilho fotos dos nossos momentos e vou de mansinho chegando nos blogs de vocês porque também estou cheia de saudade desse mundo tão gostoso de trocas, palavras, poesia, afetos.



Almoço num restaurante cheio de charme!


E não é que o pessoal tira mesmo um cochilo nessas redes depois de almoçar?!


Detalhes em uma das paredes do restaurante


Encanto de flor de um cactus

 
Árvores imensas pela faculdade.  


Hospital dentro do Campus


Pedacinhos da cidade que já me conquistou!


Foto tirada da rodoviária antes de vir embora


Entardecer que apreciamos juntas da janela do apartamento








sábado, 17 de fevereiro de 2024

O calendário das folhas.

Começou 🌿.

Foi essa marcação que fiz na página do calendário, no quadradinho que indicava - dia 12 de fevereiro - uma segunda-feira de carnaval. O verbo, significando o início e o desenho, desajeitado, de uma folha.

Depois, achei melhor acrescentar: "a cair".

Passei a manhã no quintal nos fundos da casa. Tanque, varal, prendedor de roupas, banana para os passarinhos; e foi somente quando o sol já se ajeitava para se pôr, que fui para a entrada de nossa casa. Lá estava um calendário diferente. A leitura do tempo feita de outra maneira.

Tomadinho de folhas caídas estava nosso quintal. Diferente das últimas semanas. Aquela escrita de folhas ali no chão, aprendi a reconhecer e tive a confirmação de marido, que me disse - "é, começou, a árvore já está esfriando, o outono já começou ali dentro dela, sua seiva já sabe, é chegado o tempo de deixar ir o verão e ir esfriando devagarinho. O outono se aproxima".



É uma enorme árvore que fica na rua, bem de frente à nossa casa. Em pouco tempo morando aqui, saída de um apartamento, estou aprendendo a reconhecer essa "escrita", esses ciclos da seiva, das raízes, dos galhos.

Sendo um ser de tamanho imenso, seus galhos ficam próximos, o vento também se encarrega de nos trazer as pequenas sílabas em forma de folhas que recobrem o chão nesse tempo tão abrangente ( tão além dos nossas marcações de datas ) do outono.

E é bastante estranho falar de outono quando o chão está sob o domínio dos confetes de carnaval, o calor exultante e lá no calendário grudado na porta da geladeira, o outono só chega dia 20 de março às 00;06h. 

Essa lida de ir lá para frente com a vassoura me é agradável. Muitas pessoas não gostam dessa trabalheira, ou ainda se expressam referindo-se às folhas que caem como "sujeira que as árvores fazem". Já eu, aprecio. A cada amanhecer e também ao entardecer, exercito a paciência, a admiração de tamanha sabedoria, de tantas lições que podem ser aprendidas apenas observando as estações chegando de maneira sutil na natureza.


Leva tempo, um tempo próprio para que ela fique assim e depois recomece novamente a verdejar.

O calendário, aquele que grudei na geladeira, é só uma ferramenta para aqueles, que como eu, tão urbana, tão do concreto e grandes cidades, com tanta desconexão da nossa mãe-natureza, quer adentrar nesse tempo que faz marcar, que se deixa escrever de outra maneira, com a caligrafia das folhas.




Me conta como você sente a chegada, a transição das estações? Quero muito saber!

Bom final de semana!









segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Uma árvore cheia de histórias

 


Conseguira o emprego: desvendar a história de cada um dos vasos, de cada flor, folhagem, colocados ali naquela árvore.
O horário cabia a ele fazer - e no primeiro dia escolheu ir bem cedo, evitando assim o movimento dos transeuntes.

Pouco antes das seis da manhã, estava puxando papo com o porteiro do prédio ao qual a árvore enfeitada ficava bem em frente.

Apresentou-se, explicou sobre o trabalho que tinha a fazer e iniciou as perguntas.

 - Olha moço, eu sou novato aqui no prédio. Comecei tem dois meses, mas eu sei da história daquele ali, bem lá no alto, à direita, o da folha pontuda - nesse momento o porteiro estava entre o portão e a calçada/passeio-público, apontando e falando -  O gato da dona Lúcia, não se sabe como, foi parar lá no alto da árvore e cadê do bichano dar conta de descer? Num teve jeito, teve que chamar o bombeiro. E aí a dona Lúcia foi logo pedindo pra ele salvar o gato e fazer a gentileza de aproveitar que ia subir lá nas alturas e levar um vasinho para amarrar bem no alto, antes de descer com o gato. E num é que o bombeiro pendurou a planta e desceu com o gato?!

Saiu de lá com sua primeira história e a recomendação de voltar à noite e tentar falar com o Seu Euclídes, que era um dos moradores mais antigos e certamente deveria guardar na memória várias histórias.

Aproveitou que estava a uma quadra da praia, deu uma caminhada na orla enquanto pensava na história do gato e da dona Lúcia e o bombeiro. Estava animado com seu emprego!

Voltou à noite, porém seu Euclídes estava indisposto e só foi recebê-lo mais para o final da semana. Conversaram tanto que nem viram a hora passar e assim a lua já estava alta e Seu Euclídes sugeriu que ele viesse no domingo pela manhã, à luz do dia, assim poderia ver, fotografar e anotar.

 - Aquela lá, conta um, dois, três, lá do alto para baixo. Dá um zoom aí no celular, essa, essa mesmo. Lembro como se fosse hoje: ele tão jovem e forte, carregando a noiva em seus braços, de vestido branco e tudo, começando a vida aqui. No primeiro aniversário de casamento deles trouxe um vasinho para colocar ali, disse que daria flor todo ano, no mês em que eles casaram. Depois, cada vez que descobriam que a mulher estava grávida, pendurava outra flor. Foram quatro!
Se mudaram, mas muito tempo depois vieram me fazer uma visita e trouxeram dois vasos - seriam avós em pouco tempo e de gêmeos! Pediram que eu pendurasse. Cuidei das plantinhas até que um pintor apareceu ali no prédio vizinho e eu pedi a escada dele emprestada e eu mesmo amarrei bem lá no alto, pertinho daquela flor do casamento e agora a dos netinhos que estavam para nascer!

Dona Leontina, vendo os dois conversarem apontando para  a árvore, se aproximou e logo estava convidando o moço para contar as histórias que ela sabia.

 - Meu marido era um amante das plantas. Nosso apartamento parecia uma selva. Era folhagem, flor, bonsai e quando ele morreu... ah, como foi difícil quando ele morreu. Olhar para cada planta, ter que regar aqueles vasos todos, aquilo me despedaçava, sabe moço? Fui tirando uma a uma. Pedi pro zelador me ajudar. Muitas ele levou lá pra chácara da sogra dele e as mais miudinhas, ele me pediu se podia pendurar ali na árvore e eu disse que sim. Sabe moço, doía olhar para as plantas que meu marido cuidava com tanto zelo, só que ele era assim, amava o verde, então aos poucos eu fui sentindo meu coração se tranquilizar e pedi pro zelador pendurar mais de vinte vasinhos, aqui desse lado que dá para a janela do quarto que era nosso. Toda manhã eu abro a janela e vejo um pouquinho do meu marido ali naquelas folhinhas que ele tanto amava!

 - Tá vendo aquela orquídea? A amarela? Isso aí foi briga de namorado, das feias. Eu tava aqui fazendo meu trabalho na portaria e só vi quando a coitada da orquídea voou e foi para lá do outro lado da rua. Fui bem de mansinho lá, peguei a coitada, deixei lá atrás escondido e fui cuidando dela. O pessoal se mudou daqui, a orquídea se recuperou e deu umas quatro flor de uma vez. Uma belezura assim merece que muita gente possa ver. Pendurei ela aí e sabe que tem turista que para pra fotografar, tem homem de terno e gravata que fica aí apreciando antes de ir pro trabalho, tem senhora que traz adubo e pede pra eu colocar.

Entre chuvas, abelhas, joaninhas, passarinhos, momentos felizes, brigas de casal, morte, vida, bebês nascendo, assim aquela árvore, numa rua do Rio de Janeiro, carregava a sua própria história e tantas outras. O emprego do moço ainda durou muitos meses até que foi inaugurada uma exposição com fotografias de cada vaso, de cada planta ali colocada na árvore, acompanhada de textos. Moradores e porteiros orgulhosos das histórias que ajudaram a contar!