"Toquinho de gente"- era essa a expressão que eles, os adultos, usavam para me descreverem aos três anos de idade.
E foi com esta altura de toquinho de gente que eu cheguei pela primeira vez ao seu carrinho.
Meus olhos alcançaram o vidro que separava duas montanhas de "coisinhas engraçadas brancas e avermelhadas. Aprendi que eram pipocas e eu podia escolher entre o sabor doce e o seu oposto.
Daquele dia em diante os nossos encontros passaram a ser constantes. Sempre aos finais de semana.
Cresci, mas continuei com o olhar para baixo, para o vidro quando estava diante do seu carrinho.
Sabe que durante muitos anos na minha vida não senti tanto a tua falta?
Viajei o mundo, passei a apreciar os doces finos, tive filhos e de repente você, com seu carrinho que me fascinou na minha infância, tornou-se um inimigo a ser combatido.
Lembro-me de quando passei em frente a uma escola e te vi entregando teus pacotinhos para aquelas mãozinhas que se erguiam com a ajuda das pontas dos pés. E eu repudiei aquela cena.
Como permitem que estrague o jantar dessas crianças? Um abaixo assinado dos pais certamente o tiraria dali.
Segui esquivando meus filhos da tua presença em portas de colégio, na saída do zoológico, na frente do parque.
Preciso do teu perdão.
Aquelas crianças, hoje jovens, chegaram em casa trazendo um balde. Disseram que no cinema é ali que colocam a pipoca.
- O pipoqueiro faz isso? - indaguei.
Riram-se de mim.
- Vó, é uma máquina que faz a pipoca!
Eu levei uma vida para compreender que os teus saquinhos de pipoca eram a extensão da alegria do parque, do zoo, do teatrinho. Você, pipoqueiro, completava a alegria de um final de semana, de um passeio e eu nunca havia me dado conta que você deixava teus filhos para alegrar os meus.
Foi preciso que eu erguesse meus olhos até os teus para ouvir, em meio ao milho estourando na tua velha panela, que você criou, estudou teus quatro meninos com a tua profissão de pipoqueiro. Foi preciso que junto com o saquinho de pipoca você me entregasse um papelzinho com o desejo de um bom ano e uma oração.
Meu neto ainda tem o sorriso mais lindo do mundo todo banguela! Quando eu puder chamá-lo de toquinho de gente, quero mostrar-lhe o teu carrinho; quero que experimente um pouquinho da salgada e da doce e escolha, ou fique sempre em dúvida, para cada vez saborear um pacotinho.
Mas quero erguê-lo à altura dos teus olhos Sr. Pipoqueiro, para que ele conheça a pessoa que todos os finais de semana deixa de se divertir, que deixa a família em casa para alegrar a vida de desconhecidos, acrescentando sal, canela, uma fitinha de coco na pura e simplesmente pipoca.
Perdoe-me Sr. Pipoqueiro e obrigada por existir.
Linda e comovente! E os pipoqueiros, realmente, fazem a alegria de tantos espetáculos. E me refito às pipocas das carrocinhas, não as de netrada de cnema de shooppings. Essas não tem graça,além de três vezes mais caras, não tem o mesmo gostinho, pelo menos pra mim. Nelas sinto gosto de exploração comercial e não de magia, de infância!
ResponderExcluirAdorei te ler e um beijo e minha homenagem para todos os velhos pipoqueiros das praças, circos, zoológicos...
beijos,chica
Lindo texto. E trazem de volta doces lembranças, daquelas que ficam bem guardadas e permanecem para sempre.
ResponderExcluirQue texto maravilhoso!
ResponderExcluirDeu vontade de imprimir e sair dando a todos os pipoqueiros que eu encontrar.
Vou linkar esse seu post e sugerir isso as pessoas, quem sabe vira um projeto, um vídeo, para ser levado em grande escala pela Rota da pipoca?
Eu amo pipocas, amo carrinho de pipoca, os saquinhos, os cenários onde estiveram e ainda estão, a simplicidade e agilidade dos pipoqueiros.
Para mim, pipocas e pipoqueiros são da categoria dos realejos, em beleza, sabor e magia.
Oi Ana Paula.
ResponderExcluirA Tina me indicou este texto preciosíssimo.
Muito interessante esse olhar sobre o pipoqueiro. Eu nunca o tinha olhado dessa forma.
Apoio a ideia da Tina.
Bjo
AnaVi
Em frente à igreja que minha mãe frequenta, tem um pipoqueiro.
ResponderExcluirUm senhor de idade avançada já e que trabalha nesta profissão desde antes mesmo de eu ter nascido!
Minha mãe adora comprar sua pipoca e ainda garante uma boa conversa. Eu o respeito muito como ser humano, pelo trabalho árduo (árduo sim, principalmente em dias de intenso frio ou calor) e, tal como o pipoqueiro da crônica, criou e pagou a educação de seus filhos com seu trabalho.
Será interessante imprimir e entregar esta sua carta a ele.
Texto incrível e repleto de empatia.
Meus muitos parabéns Ana!
=> CLIQUE => ESCRITOS LISÉRGICOS...
Oii Ana, muito bacana seu texto e lembranças, deu saudade do pipoqueiro que ficava na porta da escola onde estudei 8 anos! Gostei! Bjoooooss
ResponderExcluirAna Paula, eu brinco tanto com a história do pipoqueiro que parece até que sou amigo íntimo dele, kkk! Mas uma coisa eu posso garantir. Vou imprimir a postagem e levar ao pipoqueiro do nosso projeto. Ele é tão sério e ranzinza que eu até acho que após ler esse texto vai chorar. Eu nunca consegui arrancar um sorriso dele (a Tina diz que consegue), mas algumas lágrimas eu conseguirei. Minha única dúvida nessa postagem é sobre o número de filhos dele, mas eu falo que o importante é ele. O resto é simbólico. Outra coisa importante que essa postagem conseguiu foi aflorar esse sentimento no coração da Ana Virgínia, minha amiga carioca do brejo. Pelo que lí do comentário dela, já foi aprovada no vestibular da Rota da Pipoca. É só fazer a inscrição (gratuita) com a secretária da entidade, Tina.
ResponderExcluir(Ou isso dá certo ou vamos acabar todos num hospício - o pipoqueiro também senão não tem graça - vai ser muito engraçado e nosso mundo será muito divertido e feliz).
Valeu, Ana. Postagem impecável.
Beijo
Manoel
Que lindo texto! É, os tempos mudam a forma de apresentarem as boas coisas da vida mas o encanto da pipoca continua. Assim como o pipoqueiro outras personagens também já não se apresentam aqui como dantes. O engraxate, o afiador de facas, o picolezeiro e por aí vai.
ResponderExcluirTeu neto vai ficar encantado com o carrinho de pipoca.
Abraço!
Sonia
estou muito emocionada.
ResponderExcluirmeu avô foi um pipoqueiro em alguma fase da vida dele, que foi muito dificil, e eu me lembro bem.
naquela época eu não entendia muito o que era não ter dinehiro suficiente para colocar o pão na mesa.
hoje sei o que ele sofreu, e me comovo muito com essas historias que leio.
aflorou tudo, sinto-me uma boba, depois de velha, chorando por meu avô....
beijos querida, parabéns!
Um texto com cheirinho de pipoca.
ResponderExcluirNão aprecio muito mas dentro do cinema
ate que gosto parece que tem outro sabor rs
Bonito AnaPaula _ quantas vezes ficamos indiferentes a esses serviços de rua ,o ganha pão de muitos brasileiros. Sua lembrança faz-nos refletir a respeito,
Obrigada
e um abraço
E não existe melhor pipoca do mundo do que a do pipoqueiro. Lá em casa tem uma lei, toda sexta-feira é o dia da pipoca depois da escola. As meninas adoram, eu fico fera com o monte de pipocas no banco de trás, mas e daí, não é? Depois desse lindo texto, viva a baguncinha delas no banco de trás. Beijos, querida amiga. Texto está lindo, lindo!
ResponderExcluirBom dia!
ResponderExcluirExcelente, lindo texto!
Ana, vc me fez fazer uma viagem no tempo. Tenho varias recordações boas do Sr. Alcindo o pipoqueiro negro, magro e alto com os olhos grandes voz baixa e um sorriso que não saia do seu rosto. Convivi com ele muitos anos da minha vida. Depois que fiquei adulta um dia me deu uma saudade do seu Alcindo, nesse dia mesmo fui nas portas das duas escolas que ele acostumava vender suas pipocas. Quando o vi, meu coração ficou feliz, fiquei um tempinho, só espiando, esperando a sonora sirene tocar, e as crianças recolherem em suas salas. Fui até ele e me apresentei e conversamos um bom tempo, a voz ainda baixa, os cabelos brancos e os olhos com catarata. Depois o vi mais algumas vezes. A mais ou menos 3 anos seu Alcino fez a passagem para alto, deixando saudade nos corações!
Quanto a ideia da tina achei superinteressante e já faço parte desse projeto.
Beijos
Ai ai ai que delicia de texto tao gostoso como as pipocas do carrinho do pipoqueiro.
ResponderExcluirAmei mais uma vez, fiz uma viagem no tempo e pude sentir o cheiro que entrava na sala no final do periodo. Pelo cheiro sabiamos que era quase hora de ir embora, hora da "liberdade".
Que saudade... da pipoca, do carrinho, da escola e de ler seus textos.
Abracos
Gra'
Ana, tudo bem?
ResponderExcluirMuito bom teu texto, sensível e com aroma de nostalgia.
Fiquei pensando sobre os pipoqueiros ou quaisquer "personagens" que fazem a alegria das crianças ainda hoje, mas por tempo limitado, até quando? Não sabemos, mas que fazem uma parte na historinha de vida de cada um, da criança, e da criança que depois cresce. Profissões fadadas a extinção, infelizmente.
Beijos e ótimo fim de semana!
Delicia de texto Ana. Remeteu a minha infância.
ResponderExcluirMio beijos e um bom final de semana para ti e para a afamília!
Beijõessss
http://lelivredecroquis.blogspot.com.br/
Vc traçou toda a magia que há na figura do pipoqueiro de nossa infância e da de nossos filhos, e espero, que a de nossos netos também.
ResponderExcluirDeu para sentir o aroma inconfundível da pipoca quentinha ganhando os ares.
Totalmente apoiada a tua carta-manifesto, Ana.
Parabéns.
Bom fim de semana.
Bjos,
Calu