Sexta-feira, na casa de minha infância, era dia de feira e faxina.
A feira de sexta-feira foi a primeira que me lembro frequentar de braços dados com minha mãe, sacola de lona e pastel de almoço!
Adorava essa parte do almoço. Como era também dia de faxina, para não se atrapalhar entre as panelas e a enceradeira, almoçávamos na feira. Eu ia para a escola no período da tarde e quando voltava, o chão de vermelhão brilhava, a estante cheirava a lustra-móveis, as roupas estavam passadas, a fruteira cheia.
E assim fui me apegando ao gostoso "ir à feira". Na sexta, trivial e necessário. Aos domingos, feira mais longe, o passeio era no carro de papai e tinha a parada na barraca do japonês: saquinhos de doces vinham na sacola em companhia de sardinhas frescas, melancia e outras delícias.
Por e-mail, a Tina me falou de um livro:
Estava com 50% de desconto. Por conta de meu apreço e pensando em encontrar a minha feira de sexta-feira e domingo nele, adquiri.
Li, e gostei metade.
Encontrei boas histórias, algumas coisas eu já conhecia, ensinada pela minha mãe, por exemplo, os preços que vão baixando no decorrer das horas. Às sete da manhã, tudo mais caro, e também mais bonito; meio-dia, hora da xepa e gritaria total - liquidação na feira!
O dia em que vi o preço de uma fruta e no momento em que eu olhava, o feirante tirou o pregador do papel com o preço e o virou, deixando à mostra um preço menor, fiquei ali admirando, como fosse uma mágica!
Mamãe também alertava para as balanças, que na época eram com aqueles pesos ( filizola vermelha ) ou ainda com os dois pratos, onde era melhor você mesma segurar firme e "estimar" o peso para não ser passada para trás.
Isso até hoje não consigo! Saber se tem um quilo ali...
Muitas mudanças houveram nas feiras. Leis para regulamentar e organizar melhor a convivência entre feirantes, moradores, trânsito, mudaram em muito a cara da feira.
No livro de Júlio Bernardo, ele retrata as feiras no auge dos anos 80 e 90 e eu preferia não saber de algumas coisas.
Que são um dos trabalhadores que mais acordam cedo, eu sabia. Duas horas da manhã já de pé para abastecer o caminhão com mercadorias, depois se dirigir ao local da feira, montar as barracas. E para aguentar o frio, o sono, cansaço, além do álcool, muita droga rolava por ali.
Muitos filhos de feirantes foram concebidos nesse amanhecer, lá no caminhão. Desconhecia e tem lógica: para eles que acordam e vivem na madrugada e geralmente trabalham em família, resta esse horário para procriar. Como disse, esse relato são das feiras do passado.
A agressividade, rivalidade, armas, brigas com facas...
Mas também o companheirismo, a troca de produtos ao final da feira, o trabalho oferecido para ex presidiários.
Gostei, metade só. Prefiria não saber e ficar com o colorido, com a alegria. Escolho ficar com essa metade.
Entre temperos, ingredientes frescos, o encontro com uma comadre, a troca rápida de uma receita, uma dica, eu a Tina convidamos para a Blogagem Coletiva sobre comida.
Como o pessoal se animou com o varal de leituras e houve uma boa confusão ( ! ), vamos fazer nesse sábado e depois entramos nos eixos fazendo uma por mês, sempre no primeiro sábado de cada mês, até onde render.
Então, amanhã sábado 20, traga sua foto, receita, dica, texto, panela queimada, bota no varal e senta ali na toalha xadrez estendida, que vai comida boa, prosa e mais interação!
Corre pro fogão, ou pro caderno, ou pro computador que vai dar tempo!
Não se preocupe com as formigas nos doces. A toalha xadrez é toda trabalhada em antiformigas!