sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Pequenas delicadezas

 


Essa foto foi tirada em 22 de fevereiro de 2018. E eu ainda tenho todo o frescor de tudo e talvez por isso nunca tenha conseguido apagar a fotografia.

Estava morando em outra cidade e diariamente saía com nosso cachorrinho ( que se foi no início deste ano ). Passávamos por esse gramado, na calçada, passeio público como muitos o chamam e seguíamos em direção a uma enorme praça.

Até o dia em que fomos, e logo você entenderá o uso do plural, surpreendidos por esses cogumelos.

Não havia nada no dia anterior e naquela manhã, estavam ali exuberantes.

No momento em que os vi, eu não estava com o celular para fotografar e fui imediatamente tomada por uma certa tristeza.

O local do aparecimento dos cogumelos ficava defronte a uma escola de ensino médio; 15 a 18 anos em média. Como era também uma esquina, muitos pais ali paravam seus carros para que os filhos descessem e atravessassem a rua em destino à escola, passando exatamente por esse local gramado onde estavam os cogumelos.

Imaginei, e foi daí que surgiu a tristeza, aqueles jovens chutando, pisoteando os cogumelos.

Ainda assim, no passeio do dia seguinte levei o celular pensando na fotografia, na realidade com pouca esperança de que restasse alguma coisa para ser fotografada.

Fui surpreendida! Naquela manhã já quente e  ensolarada pude fotografar os cogumelos.
Não foram chutados, nem pisoteados. 
Mas não foi apenas isso que me surpreendeu. 

O tempo que eu fiquei ali entre acomodar o cachorro e encontrar uma boa posição para o click, muitos carros com os jovens alunos pararam ali e eles, os jovens, passavam pelos cogumelos exclamando alegremente adjetivos. Eram cuidadosos ao passar pelos pequeninos do reino vegetal. Paravam durante fragmentos de um minuto e admiravam e atravessavam a rua ainda com os olhos imundados da beleza que os cogumelos mostravam em sua simplicidade.

Vários dias se seguiram até que os cogumelos seguiram sua trajetória: murcharam e sumiram aos nossos olhos.

As pequenas criaturinhas me ensinaram o poder da surpresa, da beleza, do simples. Meninos e meninas, apressados, falantes, abriram espaço para a admiração e o cuidado.

Não pisar, não pisotear foi o cuidado que eles ofereceram. Meu julgamento não se confirmou, aliás o meu erro me fez ver que há beleza e esperança no mundo, o vegetal e o humano.

Essas pequenas delicadezas são nutritivas para tempos tão ásperos. Ainda é possível acreditar 💜



6 comentários:

  1. Boa noite de paz, querida amiga Ana Paula!
    Que post mais cheio de beleza!
    "E eu ainda tenho todo o frescor de tudo e talvez por isso nunca tenha conseguido apagar a fotografia."
    Consegui me ler aqui em muitas fotos que conservam em mim o frescor do que vivi na ocasião tal.
    Nem tenho coragem de deletar a emoção daquele momento...
    Fotos daí assim... conservar o que não são do 💙.
    Eu posso lhe dizer de peito aberto que vivo de delicadezas em delicadezas ...
    Não sei viver de forma diferente.
    Assim, imenso minha alma e sobrevivo às intempéries.
    Enquanto os outros pisam... Você contemplou e foi feliz.
    Assim devemos viver.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Beijinhos com carinho fraterno



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  2. Que lindo ,Ana! Tua foto também!
    Tão bom quando somos enganados pela nossa falta de crédito à juventude e humanidade!
    É de comemorar e ficar feliz mesmo!
    E são esses momentos que ficam na nossa memória e tu ,tão bem aqui trouxeste!

    beijos praianos, chica

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  3. Olá querida
    Amei a foto
    Que bom seria se todos tivessem essa sensibilidade que você teve!
    Amei o post. Agora mesmo está caindo uma chuva maravilhosa
    Gratidão a Deus por isso.
    Abraços

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  4. Lindo depoimento de um encantamento e uma observação e lição do pré-julgamento.
    O mundo está mau, mas ainda há esperança frutificando nos que vem pela travessia Ana.
    Linda postagem. Lembro que adorava comer cogumelos do mato quando criança numa chapa de fogão a lenha.
    Abraços e feliz fim de semana.

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  5. Sempre tenho esperança nos jovenzinhos que se tornarão os homens e mulheres de amanhã.
    sem isso o mundo seria triste demais . O mundo de hoje está muito estranho, muito demais.,
    para exagerar mesmo nessa redundância.
    Que prazer ler seu texto simples delicado e promissor!
    beijinhos, Ana e boa semana que o domingo já vai indo.

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  6. Foto e reflexão lindas e sensíveis. Há muita beleza no simples e, como podemos apreciar, cativar os sentimentos que nos fazem alçar voos construtivos e consistentes.
    Obrigada pelos parabéns, amei. Bjs e feliz semana, Ana Paula.

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