Criança
e escuro não têm qualquer afinidade. Não combinam.
Claro.
O escuro impossibilita aquele lindo olhar curioso.
Amedrontado
é o adjetivo que se apodera do olhar pueril perdido no escuro.
E
é por este motivo que eu às vezes afrouxo a bronca que daria nas
crianças quando elas deixam de ser eco-sustentáveis e no seu
eco-pavor da escuridão disparam interruptores.
Como
é engraçado: estão tão distantes de um determinado cômodo, mas a
luz dele está acesa.
E
quando interrogadas sobre os interruptores, as respostas são de
outro mundo.
Fantasmas,
espíritos, bruxas, todo o folclore brasileiro e talvez outros até
emigrem para aumentar a veracidade das justificativas.
Única
maneira de desacelerar o relógio medidor, lembrar da mobilização
“Hora do Planeta” e voltar a ser ecologicamente correto é
afugentar o pavoroso com explicações pacientes e bem humoradas
enquanto se apaga novamente as luzes.
Essa
é uma faceta encantadora das crianças que fica na memória.
Tanto
fica, que tarde dessas, após deixá-los na escola, eu estava no
silêncio dos cômodos, luzes desligadas, afinal era uma linda e
ensolarada tarde e eu já passei há muito o medo de escuro das
crianças e estava com a memória cheia das luzes e das vozes
infantis e exasperadas falando-me do além.
Inevitável
não rir...
Mas
foi bem no meio do riso solitário que um som estranho adentrou pela
porta fechada dos fundos.
Fechada
sim, porque depois daquele acontecido eu aprendi a conjugar o verbo
chavear.
Apartamento,
porta dos fundos (fechada) e um som, que misturado ao tambor que meu
coração se tornara, parecia com fungadas, ar querendo adentrar, mas
nada semelhante a algo deste mundo.
Foi
então que alguma dentro de mim resolveu raciocinar: lá do lado de
fora da porta há um corredor com sensores. Qualquer coisa que
estivesse ali, dispararia o interruptor invisível e faria luz no
corredor.
Foi
então que fui assolada pelo terror: continuava tudo escuro pela
fresta da porta. Nada de interruptor invisível acionado. Invisível
era o qualquer coisa que estava ali grudado na minha porta emitindo
um ruído desconhecido.
Acionei
todos os interruptores próximos, disparei o relógio medidor, deixei
de ser ecológica, questionei onde estaria o nosso cão para me
proteger e deschaveei a porta lentamente e...
Era
um cachorro, que além de respirar na minha porta, depois passou a
arranhá-la.
Depois
que vi o que era aquela criatura apavorante, tranquei a porta
imediatamente e interfonei para o porteiro e alguns minutos depois
subia a dona do animalzinho.
Assim
que vi a luz do corredor acender-se automaticamente, abri a porta e
me emocionei ( mentira!).
A
dona estava no primeiro andar chorando. Achava que o cãozinho fugira
para a rua. Eu chorava no nono andar sem saber para onde fugir.
Trocamos
um abraço emocionado (mentira!). Para mim foi um abraço aliviado.
Logo
depois voltei a gargalhar com a situação.
Bem,
acho que mantenho uma criança em mim.
rsssssssssssss....E é verdade...Passamos cada medo que nem te conto... E na hora é real e cresce!!! beijos,tudo de bom,chica
ResponderExcluirAdorei a narração...rs
ResponderExcluirE como já dizia Platão:
"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz."
Bjão
Muito bom esse texto, me fez lembrar que eu tinha muito medo de olhar embaixo da cama quando estava escuro. rs
ResponderExcluirbjs
Oi Flor! Sim, vou parar com o blog.. sabe comop é, a vida ta tão corrida.. e como a idéia do meu blog era colocar a vida de cidade grande com cara de interior... hehe
ResponderExcluirNão tenho tido muito tempo pra fazer nada.. trabalho, estudo e pobre marido e filhos ficaram para as horas vagas.. Mas tudo bem, no futuro as coisas fcarão mais tranquilas.. beijõess
É sempre bonita essa criança que existe dentro de nós... mas não os medos que ela transporta!
ResponderExcluirUma narrativa que se lê num fôlego...e que acaba num abraço muito lindo!
A gente apenas "pensa" que cresceu...quando a gente menos espera...olha a criança aí de novo...e voce lá, rindo dos medos de seus filhos (risos). Dali a pouco, era voce no lugar deles...
ResponderExcluirMuito boa a sua crônica.
Essas nossas crianças internas, que teimam em não morrer, e sempre estão a retornar...hahaha!!! adorei!
Beijos
Liz
Oi Ana, que interessante essa postagem. Quem disser que não tem medo de nada, mente.
ResponderExcluirJá tive muitos (escuro inclusive) mas o maior, e até hoje, é de temporais.
Essa situação de não saber o que há do outro lado da porta é horrivel. Não gosto nadinha de ter que abrir para ver. Mas abro, sou bem curiosa.
Para ilustrar, outro dia dei várias vassouradas em uma aranha. Eu de olhos fechados de tanta aflição, e batendo como uma louca. Empurrei a aranha para o terraço do apartamento e só no dia seguinte entendi que era de plástico, de meu neto. Se disser que coloquei panos sob a porta para ela não entrar na sala você acredita? nunca me senti tão ridicula!
beijos querida, adorei tudo!