quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Uma página do meu diário

 Querido diário,


O relógio passa um pouco da nove da noite e, embora meu corpo já comece a sinalizar que um bom repouso se faz necessário, ainda estou empolgada para revisitar o dia de hoje e te contar os acontecimentos. 


Fomos ao cinema, a filha e eu. Numa segunda-feira, no meio do dia e olha querido diário, como é gostoso uma quebra de rotina assim, um tanto inesperada!


Deu-se da seguinte forma: a filha anunciou empolgada uma promoção, que soube pelas redes sociais, de que as sessões de cinema estariam a preço único de dez reais.


Tenho que te explicar o motivo da empolgação, porque acho que você não está por dentro querido diário. O cinema tornou-se tão caro, mas tão caro que faz muito tempo que não pisamos em um, então a empolgação faz muito sentido.


Júlia, a filha, é cuidadosa para com sua mãe, no caso, eu mesma.

Ela queria escolher um filme que tivesse mais o meu estilo. Sugeriu alguns.


Eu, na dúvida, fui espiar se o antigo cinema de rua que frequentei na minha juventude, ainda estava lá. E se a promoção estaria também.


Estava! O nome do cinema muda, volta a ser o mesmo, enfim, quase fechou, teve passeata para mantê-lo e ele segue firme!


Faltava então escolher o filme e eu encontrei. Um título pouquíssimo divulgado, de um país tão desconhecido.


A filha gosta de se pautar pelos comentários e lá foi ela se aventurar - disseram que não é nada extraordinário, mas é bom.


Eu, confesso diário, já saí de casa cheia de empolgação, uma vez que não confio tanto assim nas críticas de cinema!





Um filme butanês. O país que trocou seu PIB pelo FIB - Felicidade Interna Bruta. O que esperar?


Levamos a pipoca de casa. Ah não né querido diário, a pipoca custar o dobro dos ingressos, aí já é demais. Pipoquinha doce e não vai rir diário: eu levei também um pote plástico para colocar a pipoca e não ficar fazendo barulho da embalagem cada vez que levássemos a mão lá para dentro. Econômico, silencioso e gostoso!


Já no final da pipoca, quase no final do filme, enquanto levava minha mão ao pote, levei também o olhar para o rosto da filha. Bom, nós nos encontramos e rimos. Rimos porque estávamos ambas chorando. Aquele caminho de lágrimas que nos percorria, teve no riso mútuo o reconhecimento de que nossos corações estavam em sintonia.


“Mãe, que filme incrível! Confesso que não esperava nada dele, vim mesmo para te agradar, mas eu fui absolutamente surpreendida”.


A felicidade das pequenas coisas, esse é o título em português. Felicidade interna absoluta e, advinha querido diário, onde se encontra essa felicidade?


Sim, nas pequenas coisas.


Um dos comentários sobre o filme, dizia que não era extraordinário.

Penso diário, que nos perdemos, que nos tornamos seres confusos porque estamos em busca sempre do extraordinário.

E essa simplicidade, como, quando foi que nos desconectamos dela?


No filme, pela proposta do índice de felicidade interna bruta, toda criança tem que ter acesso a uma escola. E nos lugares mais remotos, a escola vai até a criança, para isso, os jovens professores do país prestam o equivalente ao nosso serviço militar e eles são mandados a todas as regiões para oferecer educação para as crianças.


O jovem professor do filme, estava meio rebelde no seu último ano de prestação desse serviço ao governo e assim ele foi mandado para a escola mais remota do Butão e do mundo!

Para chegar ao local leva-se um dia de ônibus e sete dias a pé subindo as montanhas.


É sagrado o olhar e o cuidado que a aldeia oferece ao professor.


Uma criança, ao ser perguntada por ele, o que ela queria ser quando crescesse, ela responde: “eu quero ser como você, um professor.

E por que você quer ser professor?


"Porque um professor toca o futuro."


Ah diário… nem é preciso dizer mais.


O extraordinário do filme está nos pequeninos detalhes, está mesmo no ordinário.


Eu vou aspirar, diário ,para que logo esse filme entre nas plataformas que acessamos pelos nossos celulares e computadores, assim mais pessoas poderão se encantar como minha filha e eu.


Mas antes disso, vou te deixar com um brilho nos olhos! Espia só um pedacinho, o trailer.


Só não chora diário, porque no seu caso lágrimas, papel e caneta, hum... não vai ficar bom!




4 comentários:

  1. Bom dia de paz, querida amiga Ana Paula!
    "Buscar a felicidade em outro lugar?" fala do filme...
    Aqui mesmo, em nosso lugarzinho, temos motivos de sobra para encontrarmos pequenas felicidades... eu as tenho e são elas que me fazem viver.
    O cinema tem que ser assim em dias de promô mesmo. Os netos trocaram a pipoca cara, o lanche seria 40 num cinema de 12... por um mega milkshake para verem Avatar, há poucos dias. Estão na fase... Eu não aguentaria 3 h de cinema, e não faz meu gosto tal filme. Assim que não fomos juntos. Até cogitamos ver o Gato de Botas... rs...
    Ana, de pequena felicidade em pequena felicidade, fazemos da vida uma grande felicidade.
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos

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  2. Ana Paula, que coisa tão boa! Primeiro pelo inusitado de ir ao ci8nema durante a semana e ainda coincidir com a semana dos 10, Aqui teve também. Neno quis aproveitar pra ir com namorada também,rs... Esse filme parece muito bom! Gostei e as pipocas sem barulho? Tudo de bom! Adorei tua página do diário! beijos, tudo de bom,chica

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  3. Gostei de partilhar deste diário Ana. Engraçado como as coisinhas simples perderam sentidos para alguns insensíveis.
    Sua analise é ótima e inspira a querer ver o filme.
    Aqui nossos cinemas foram levados pelos evangélicos e só resta os dos shoppings com suas explorações.
    Linda sugestão da filhota em promover um dia diferente e cultural.
    Grato Ana.
    Abraços

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  4. Ana.
    Eu amo essa sua escrita no diário. O diálogo com o diário.
    Abraço todas as suas indicações. As que recebo no Whatsapp, as que recebo no e-mail e as que eu vejo aqui.
    Esse é um filme que eu quero assistir.

    Faz tempo que não vamos ao cinema também.
    Realmente, a pipoca do cinema é muito cara.
    Nas últimas vezes que fui, já deve ter uns 4 anos... Eu comprava biscoito e chocolate nas Lojas Americanas que tem dentro do shopping, para mastigar enquanto assistimos ao filme.
    A ideia de levar a pipoca de casa é muito boa também.
    Vou tentar fazer isso, quando tiver uma promoção no cinema por aqui.
    Abraço.

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