No capítulo anterior...
Eu disse que contaria sobre um perrengue que passei lá nos meus dias em Belo Horizonte.
São muitas "coisinhas", vários detalhes durante uma mudança em que se tem que organizar uma casa, ainda que pequenina.
Minha filha Júlia alugava um quarto em um apartamento, lá tinha de tudo o que era necessário, então ela levou apenas suas roupas, comprou uma cama e colocou dois ou três livros na mala com um porta-retrato da família e a mudança estava feita.
Não era preciso se preocupar com pratos ou prendedor de roupas. Colher para tomar sopa, tinha. Até para sorvete tinha pegador.
Então na mudança, que fui ajudá-la a fazer, ela trouxe a cama, as roupas, o porta-retrato e alguns livros a mais que se somaram aos já existentes.
Quando o apartamento se mostrou pronto para dormirmos, iniciou-se a labuta de ir preenchendo as necessidades. Vamos começar pelo café - disse eu resoluta a tomar um café da manhã feito em casa. Hoje eu compro um filtro, leiteira, já temos colher e assim foi.
De supermercado a lojinhas populares de utilidades domésticas, eu ia umas cinco vezes por dia.
Pegava meu dinheiro eletrônico, conhecido como cartão, e falava - "débito por favor".
Passei conta de R$ 2,86. Um pouco envergonhada de ser tão pouco, mas acreditando que seria pior exigir troco. Paguei contas de 60, 90. E assim o lar foi ganhando aroma de café nas manhãs, iogurte na cumbuca de plástico que estava na promoção, lixeira pro banheiro. Pratos, copos, um sanduíche, banana prata a 3,99 que eu quase enchi uma mala para trazer para São Paulo onde custa uma dúzia de reais.
Até que, certa noite, exausta das idas e vindas, olho no celular uma notificação:
Compra de Biticoin aprovada no débito.
Estava sozinha. Naquela noite a filha tinha decidido dormir na casa de uma amiga, pois não tínhamos ainda cortinas e a luz de iluminação da rua acendia era dentro do quarto! ( as janelas lá são somente vidro ).
Sozinha, engoli em seco, senti o chão tremer, o coração descompassou. Clonaram meu cartão, tanto que passo aqui e ali, devia mesmo ter tirado dinheiro vivo e agora? Os pensamentos rodopiavam.
Pior de tudo que é um cartão de banco virtual também, como falar com alguém?
Entrava no aplicativo do banco pelo celular, lia as instruções pré fabricadas para esses casos. Sugeria-se bloquear o cartão.
E a frigideira que eu tinha pensado em comprar no dia seguinte para fazermos pão na chapa com o nosso cafézin?
Bloqueando o cartão nada feito. A menina só voltaria a noite. Eu precisaria comer, sem um tostão no bolso, ah esse mundo virtual...
Bloqueei. Olhava novamente sem acreditar. Alguém comprou 5 biticoins com meu cartão.
A cabeça parecia um trem. Uma maria-fumaça. Teria sido uma facção criminosa? Que tipo de golpe era aquele que nunca tinha ouvido falar?
Entrei no aplicativo novamente. A instrução era procurar uma delegacia nesses casos tão graves e fazer um boletim de ocorrência.
Não quis incomodar o marido, deixá-lo com a cabeça esfumaçada também, afinal ele teria que trabalhar no dia seguinte, merecia uma noite serena de sono.
Cheguei a pesquisar a delegacia mais próxima. Já passava das onze da noite.
Então decidi que, uma vez que já tinha bloqueado o cartão, não seria possível o golpista, o gatuno, comprar mais biticoins na minha conta. Era melhor eu relaxar, dormir e na manhã seguinte eu pensaria no que fazer.
Mas foi inevitável, já na cama, estiquei o braço peguei o celular e olhei novamente a compra aprovada no débito em biticoins.
Aí quase tive um treco.