sábado, 31 de março de 2012

Faxina número 06

Faxina número 06 - A brincadeira das letras


As letras, as palavras, as frases resolveram brincar. Brincar de se transformar. E se esticaram, cirandaram, pularam, balançaram, sapatearam e então aconteceu!
Letras soltas, frases elaboradas, compêndios, constituições, artigos, textos... tudo virara desenho.
Uma linguagem que em qualquer língua se entendia.





sexta-feira, 30 de março de 2012

Faxina número 05

Faxina número 05 - Dia da Consciência Negra



Novembro do ano passado. Fomos a uma apresentação na comemoração do Dia da Consciência Negra. Ritmos e danças afros.
Qual a nossa surpresa ao chegar lá?
Cadê os negros?
Tal a admiração dos brancos, que eles mesmos eram negros por dentro e por fora.
E como seria bom que não houvesse necessidade de lutar por direitos.
Como seria bom que nossas etnias fossem em toda a sua beleza diversa, plena de igualdade.
Impossível não gingar o corpo sem jeito ao som da percussão, da animação!

quinta-feira, 29 de março de 2012

Faxina número 04

Faxina número 04 - Os pés do pianista

A música entrecortava a aglomeração de rostos apressados, carrancudos, com o sono se debatendo nas pálpebras.
A música estava ali na estação Sé do metrô de São Paulo.
Assim que as portas da composição se abriram e eu e minha filha fomos impulsionadas para fora do trem, sentimos a melodia antes mesmo de sentirmos o ar pesado que impulsionava a nossa respiração.
Havia pressa em nossos passos, não em nossos ouvidos que nos conduziram à nascente do som.


Meus olhos foram enternecidos para os pés do homem sentado à frente do piano.
Não eram pés de um pianista. Por certo seriam sapatos lustrosos o invólucro dos pés de um pianista e não chinelas envelhecidas, sujas e esburacadas pelo uso.
As mãos causticadas por algum trabalho bruto ou pela brutalidade da vida, eram desprovidas de beleza, mas de uma suavidade fascinante.
Flutuavam e pousavam com tal leveza no teclado branco e preto que faziam a própria melodia valsar.
Após o fim da segunda canção, ele virou-se para seu público de cinco pessoas e recebeu abafados aplausos.
Na minha pressa, ainda havia um tempo para um dedo de prosa.
"Venho aqui todas as manhãs desde que colocaram o piano nesta estação. Toco de ouvido. Aprendi só de olhar quando eu era moleque. Era uma dádiva a gente poder ver e ouvir o pianista naquela vida seca do agreste".
Não era preciso mais explicações para compreender aqueles pés que também sabiam utilizar os pedais de um piano.
Levantou-se e misturou-se à multidão. 




Minha filha sentou-se e pousou suas mãozinhas sem jeito pela primeira vez em um piano.

terça-feira, 27 de março de 2012

Faxina número 03

Faxina número 03 - Sarau com música


Anônimos que se dispuseram à exposição, não importando se belos, feios, gordos ou altos, não há melhores, há vozes e seres humanos tornando o momento da existência daquelas pessoas que ali estavam, um momento especial. Música, melodias, danças, cirandas. Eu estava ali e foi especial.


Hoje também estou na Chica: fotografei um céu e ela docemente o palavreou!


E também estou na Cris com meu piquá! Participando do projeto terça-feira. Para quem já passou por lá e deixou um carinho, aos que vieram de lá pra cá, meu obrigada e minhas boas vindas. E se você ainda não foi, corre lá!
Uma delícia participar Cris, agradeço o convite!

segunda-feira, 26 de março de 2012

Faxina número 02

Faxina número 02 - Em casa de ferreiro...

Ligaram da escola no meio da tarde.
"Ana Paula, aqui é da escola... é que seu filho caiu e a professora pediu para avisar, mas está tudo bem".
E meu coração não sobressaltou. Deveria mesmo estar tudo bem. Coração de mãe não se engana.
Até tentei encontrar um táxi, mas não havia nem pra remédio. Fui a pé mesmo. Passo apertado, daqueles de deixar a respiração ofegante.
Cheguei tranquila na escola e pedi para falar com a pessoa que me ligou.
Ela não está - foi a resposta.
Disse que eu era a mãe do Bernardo e me ligaram para vir buscá-lo.
Aguarde.
O coração acelerado pelo andar ligeiro lá ia se acalmando, retomando o compasso habitual.
O problema é que o garoto não aparecia. Que demora.
Foi então que eu ouvi - "A Maria foi para o hospital, vai ter que avisar a mãe que ele convulsionou".
A Maria, aquela que me telefonou e que agora não está na escola?
Aí o coração disparou.
E como eu estava sem chapéu, já fui logo gritando - cadê o meu filho?


Eis que ele aparece com a professora, que treme, que está pálida.  Mas ele está ali bem diante dos meus olhos com um curativo logo abaixo do olho.
Recobrei o compasso, conversei bastante com ele, confirmei que estava bem e saímos.
Ele queria falar imediatamente com o pai. Telefonamos, ele explicou o acontecido durante uma partida de futebol, eu peguei o telefone e aumentei um pouco a situação ( que era pra ver se ele chegava mais rápido! )
Só fomos ser atendidos depois de quatro horas...
Como diz o ditado "Em casa de ferreiro, o espeto é de pau".


Foram só alguns dias de inchaço, muita paparicação das meninas na escola, o ponto falso no atendimento domiciliar, chamegos e hoje nem marca pra contar a história!
Só a foto antes da faxina do celular.

domingo, 25 de março de 2012

Faxina número 01

Fui faxinar meu celular e encontrei bastante fotos ali que, quando eu as tirei, havia um significado, uma história e outras eram simplesmente fotos.
Escreverei sobre elas. Para mim será uma tarefa interessante. Faxino o celular que está ficando com a memória cheia e vou tirando a poeira do tempo e da memória. Espero que fique bom, espero que gostem!


Faxina número 01 - O ônibus de viagem.


Tirei esta foto assim que subi e me acomodei no ônibus de viagem.
Fazia uns bons anos que eu não viajava de ônibus. Com a popularização dos preços das passagens aéreas, era bem mais cômodo ir via nuvens.
Fato este que durou pouco - os aeroportos ficaram lotados, os voos atrasados, cancelados e ainda temos que pagar o cafezinho...
Com uma semana de antecedência, fui até a rodoviária. Tão diferente, tão mudada e bem mais ajeitada.
No guichê, mostraram-me a tela do computador para que eu escolhesse o assento. O ônibus inteiro disponível.
Ah! O meu lugar preferido esta lá, à minha espera.
Poltrona um - pedi.
Desculpe-me senhora, mas a um e a dois ficam disponíveis para passageiros da terceira idade - disse-me o funcionário.
Nossa! Que avanço! Que respeito! Nada mais merecido!
Um lugar privilegiado que facilita quem pode ter um pouco de dificuldade de locomoção e presenteia com a bonita paisagem que uma viagem rodoviária proporciona. Mais alguns anos e eu mesma poderei desfrutar de tal direito, de tal conquista.
E eu é que não quero saber disso.


Não que eu não queira ser da terceira idade, da melhor idade, da turma da envelhescência ou seja lá que nome vão inventar para a minha velhice. Quero sim envelhecer.
Só não quero me sentar é neste lugar reservado aos idosos.
Olha só:


Essa é a "paisagem"que vai adentrar pelas retinas de quem cultiva um passado extenso.
Uma poluição visual. Um monte de coisas coladas bem a frente.
Mas também é preciso ser justo - há muito humor ali escrito para quem conseguir ler.
"Obrigatório o uso do cinto de segurança ( nos veículos equipados com o mesmo )".
Adorei esta piada é obrigatório você usar, mas não é obrigatório que o ônibus tenha!
O que achou do lugarzinho especial, hein?!


sábado, 24 de março de 2012

É o chapéu

Descobri de onde vem a delicadeza das princesas! E não é do berço não. Porque tenho certeza de que as lindas princesinhas já se esgoelaram em seus berços de ouro por um colo, um afago, um leitinho, uma troca de fralda.
É do chapéu que vem tal adjetivo que praticamente descreve uma princesa - como ela é delicada!


Só pude comprovar a teoria da delicadeza  depois que tornei princesa.
O uso do chapéu é praticamente ininterrupto no meu cotidiano. Só tiro para dormir.
E foi o chapéu que me trouxe uma delicadeza que eu nem sonhava, mesmo quando sonhava que queria ser uma princesa.
Na hora de pendurar as roupas no varal, por exemplo, executo tal tarefa como se estivesse bailando um comovente ballet. É que a aba do chapéu bate e enrosca no varal. Então fico de lado, estico bem os braços para cima e coloco suavemente os prendedores.



A mesma delicadeza me toma quando vou colocar as roupas para quarar nos jardins do palácio. Não posso simplesmente curvar o corpo senão o chapéu cai.


Flexiono os joelhos mantendo o tronco ereto, levanto-me e vou para a outra extremidade da roupa para esticar-lhe e flexiono novamente os joelhos. Ainda bem que não tenho nenhum problema com meus joelhos, especialmente o esquerdo.
Mas, o momento de derradeira delicadeza tem sido mesmo com as crianças.
Estava de chapéu ( nem preciso ficar falando isso porque sempre estou de chapéu, desculpem-me a redundância) quando berrei com as crianças para que não fizessem alguma traquinagem; o som da minha voz reverberou, ecoou de tal forma nas abas do chapéu que parecia até que eu estava gritando.
Soube então que quando estamos de chapéu, a voz precisa ser delicada para ressoar com suavidade aos próprios ouvidos.
As crianças estão adorando levar bronca agora que sou uma princesa - ando delicadamente até eles, flexiono os joelhos e fito-os na altura dos olhos e com voz de acalanto sussurro:
"Queridos, este comportamento está inadequado".
Nossa! O que um chapéu faz na vida das princesas.





terça-feira, 20 de março de 2012

Barriga-com-barriga

No sofá meu corpo repousava
Mansa e qual gato
roçando e ronronando
você pousou sobre mim
E pude acariciar suas asas
enquanto nossos corações respiravam juntos

Sua alma vestida de corpo
de quase sete anos
acomodou-se aconchegada

Barriga com barriga
deixamos o tempo passar
sem nos incomodar

Dia outro, dentro da minha barriga
você estava
e eu te aninhava
Hoje, barriga-com-barriga
nos aninhamos juntinhas
e nos deixamos ninar

Suas asas logo estarão fortes
e o vento do planeta te alçará

Adormecemos e sentimos
que o calor de barriga-com-barriga
é para sempre sempre amor


Filha, naquela tarde de final de verão, você chegou mansinha e se deitou sobre mim, exatamente do jeito que eu te colocava quando eras um bebezinho.
Teu corpo comprido parecia não caber ali! Ficamos grudadinhas, barriga-com-barriga!
Todas as sensações: de você dentro de mim, da barriga crescendo, da bebê cabeluda, da menina adorável que és, trouxeram-me a certeza de que qual for a distância física ou a proximidade nossa, aquele calor, aquele afeto que sentimos naquela tarde( barriga-com-barriga ) estará sempre dentro de mim, dentro de ti.
Não fotografamos aquele momento, mas ele está retratado em nossos corações ou em nossas barrigas!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Hoje é dia do artesão!

Hoje, 19 me março é dia do artesão, carpinteiro e marceneiro.
Aos meus amigos arteiros minha admiração, meu aplauso e uma homenagem ao dom maravilhoso de transformar, de criar e encantar!
Parabéns!






Escrever no blog

Como você escreve no seu blog?


Nós, blogueiros, de alguma forma escrevemos, relatamos sobre o nascimento dos nossos blogs. Por vezes, está lá na primeira postagem: as razões, as aspirações, as inspirações...
Outras vezes aparece ali em meio a tantas postagens já escritas; quando se comemora o primeiro ano do blog, dez mil visualizações, ou mil seguidores. Então lembramos de quando tudo começou e nos sentíamos tão solitários, sem comentários, quase esquecidos. Persistimos e depois de uns três meses, o primeiro participante.
O parto do blog pode estar relatado num outro blog amigo, durante aqueles convites para uma entrevista, para o raio x do dono do blog.
Relatos até em comentários: "comecei um blog porque queria aprender mais sobre a linguagem HTML"! E deve ter se rendido à tal blogosfera!
São raros, mas existem alguns que nunca saberemos sobre o seu nascimento. São os misteriosos...
E não podemos esquecer das blogagens coletivas, como a que ocorreu há pouco tempo - o nascimento do meu blog.
O berçário ficou lotado de boas histórias e ainda agregamos tantas amizades.
Mas, agora, o que eu gostaria de saber é:
Como você escreve no seu blog?


Para que a pergunta não pareça estranha, vou me explicar.
Eu não consigo escrever direto no painel do Blogger. Acho aquele ambiente hostil, feio.
Fico à vontade num editor de texto, onde  eu vou brincando de escolher os tipos de letras, escolho cores, apago, salvo para continuar no dia seguinte, escrevo e não publico; e daí, quando sinto o momento de tornar público o que escrevi, é só copiar e colar.
Na tela do Blogger eu me sinto de castigo. Na tela de um editor, eu me sinto brincando de papel, canetinhas e cores.

Lembram?!

E aí está o problema: a cola acabou para mim.
Já tentei de tudo, pedi ajuda a um bom amigo e continuo assim, sem colar nada.
E isto pode prejudica a minha escrita. É mais ou menos quando só existiam dois tipos de caneta: a bic ponta grossa e a bic ponta fina.

Lembram?!

Não adiantava falar que "é tudo a mesma coisa". Eu só conseguia escrever com a ponta fina.
O painel do Blogger já me trouxe sérios problemas: outro dia li que um distinto senhor, marido de uma amiga blogueira, estava peladinho. Como isto podia estar acontecendo num blog de família? Fui lá ver com os meus próprios olhos e ainda bem que o distinto senhor só estava querendo andar de pedalinho.
Cupa de quem esta confusão? Do painel do blogger.
Adoro o blog, mas não gosto do painel do blogger.
Será que este é um sofrimento solitário?
Só eu tenho um blog e não consigo escrever pelo blogger?
E você como faz para escrever?
Por gentileza amenize a minha angústia enquanto a cola não volta...




quinta-feira, 15 de março de 2012

A raiz do problema

Preciso ler mais o dicionário.
Tem me feito muita falta não saber a raiz, as entrelinhas das palavras.
Algumas, talvez, até saiba intuitivamente o que querem expressar, o que querem dizer.
Quando ouvi: "Nossa, seu filho parece um E.T.", soube imediatamente que nada tinha de homenzinho de orelha verde.
E era preciso fazer algo; e eu tive certeza que as artes poderiam subtraí-lo dos seus cálculos, as artes poderiam fazer com que aquela criança deixasse as contas para depois.
Mas quando se é mãe que não é ilustradora, desenhista, artista plástica, pintora... e ainda por cima desconhece a raiz das palavras, tudo pode se complicar.


Saí em busca das artes para tornar o planeta de meu filho mais colorido e menos cheio de cálculos e números.
Voltei com uma caixa bem colorida.


E ele mergulhou neste mundo chamado 'giz pastel'.

E se eu soubesse que a raiz da palavra giz significa esse fino pó que se espalha e se impregna por tudo... talvez não tivesse trazido essa armadilha colorida para dentro de casa.



Bem, pelo menos meu filho não é um E.T.
Apenas tem a orelha verde.


Pó de giz.
Dicionário.
Orelha.



quarta-feira, 14 de março de 2012

Retratos de amor

Pedi ao meu bem-querer
que retratos tirasse
da sua querida Passos
lá nas gerais
e a máquina fotográfica lhe dei
para não esquecer

Será que sou capaz
de retratar
minha querida
Minas Gerais?

Falei-lhe dos traquejos e manejos
da tal câmera que eterniza momentos de enlevo
e pro céu ele mirou
e a lua se indignou



E não é o homem-menino
filho do Antônio Justino
que corria descalço
sem medo dos espinhos?

E não é o menino
assoviando uma canção
com uma câmera na mão
que sempre me fotografava
e eternizava em seu coração?

A lua pernas criou
e atrás do sol se abrigou
e muito conversou
Envergonhada fez um pedido ao sol
que o menino-homem presenteou



Amanheceu o céu em esplendor
O sol, o menino presenteou 
e ele fotografou:
com os olhos 
com a máquina
com o coração 
e com a alma ele retratou
A cada amanhecer
o novo nos abraça



Retratou a beleza do céu
a beleza da terra sendo acariciada
para ser fecundada



A beleza de sua mãezinha
num frágil corpo
que tão fácil perde o equilíbrio
mas não perde a fé
no Pai que se derrama em amor
e sempre um novo dia nos dá.


Tiana, 88 anos, caiu e machucou-se bastante, mas ainda bem nada quebrou e se recupera bem!

terça-feira, 13 de março de 2012

Homenagem


Chegas assim, com a leveza dos pássaros
Pousa suave de galho em galho
neste imenso bosque de blogs
espalhas teu canto
e segues
Segues para a vida
que te inebria.

Parabéns Ivani!


direitos autorais da foto totalmente desrespeitados e não aceito reclamações!

domingo, 11 de março de 2012

Tão distante, tão igual


Fechou o livro abruptamente.
Seu rosto sentiu a lufada que se desprendeu das páginas ao se juntarem com tamanha força, deixando pairar no silêncio do seu quarto um estrondo. O mesmo estrondo que parecia ter se desprendido de algum recôndito no interior dos seus cinquenta anos.
Apesar da náusea, quis reler o trecho.
A repugnância que estava sentindo por aquelas frases ia além do nojo pela cena descrita. Procurou cautelosa a página e iniciou a releitura:

(…) O intestino de Bhima faz um movimento, e ela faz uma careta contrariada. Agora vai ter que ir ao banheiro comunitário antes de ir para a bica d'água, e a fila vai estar maior ainda quando chegar à casa de Serabai, onde há banheiros de verdade. Ainda assim, é bastante cedo para que as condições estejam tão más. Algumas horas mais tarde, vai haver pouco espaço para andar por entre as consideráveis pilhas de excrementos que os moradores da favela deixam no chão de barro do banheiro comunitário. Depois de todos esses anos, as moscas e o fedor ainda fazem o estômago de Bhima revirar. Os moradores pagavam a uma harijan que morava do outro lado da favela para recolher as pilhas de fezes todas as noites, trabalho típico de uma pessoa da casta dos intocáveis. Bhima a vê algumas vezes, de cócoras no chão, varrendo os montes de excrementos para dentro de um cesto de vime forrado com jornal. Às vezes seus olhos se encontram, e Bhima faz questão de sorrir para ela. Ao contrário da maioria dos moradores das favelas, Bhima não se considera superior àquela pobre mulher.
Bhima faz o que tem que fazer e retorna à bica ( … )



Na sua mente corriam como corcéis emparelhados, as indagações sobre uma cultura tão distante da sua e as imagens recém despertas da criança de sete anos. A infância adormecida no recôndito foi desperta por uma mulher que nunca viu.

Após fritar cuidadosamente as coxinhas, ela saía com sua mãe no crepúsculo, naquela luz tranquila do final do dia, batendo de porta em porta para a venda que auxiliaria no sustento da pequena família de única filha.
E das repetidas vezes que aquela boa mulher fazia suas generosas compras, entre o portão da rica casa, passando pela sala com televisor colorido e telefone cinza-chumbo até a cozinha com a parede inteirinha de armários, surgiram duas crianças e entre elas e a menina pobre do portão, surgia a amizade.
As duas da mesma idade; o irmão mais novo que sempre queria estar entre as brincadeiras.
Espertas, colocavam-no no papel de chefe da família e o mandavam trabalhar em algum lugar longe delas. Ou então, ele seria um rico empresário, como o próprio pai, e vivia em viagens ao exterior. Assim não poderia dar as caras na brincadeira.
Os dias, as horas de ficar na casa da amiga só iam aumentando conforme o fortalecimento da amizade. Até que chegou o dia de dormir na casa da amiga.
Euforia geral das crianças e daquela mãe de sorriso bonachão e roupas elegantes.
Havia uma caminha que se puxava debaixo do beliche e naquele momento de festa para todos, o irmãozinho trocou sua cama pela caminha e a menina deitou-se na dele.
O silêncio custou a chegar naqueles olhos imbuídos de infância.
Não estava dormindo ainda, talvez fosse o excesso de alegria, mas percebeu o pai de seus amigos entrando na penumbra do quarto e fingiu estar dormindo.
Foi então que a voz sussurrada daquele homem lhe açoitou a alma.
  • Rodrigo, como deixa essa menina dormir na sua cama? Você já viu a casa que ela mora? Você nem sabe se ela tem alguma doença. Que isto não se repita e amanhã de manhã mande a empregada desinfetar a tua cama.
Tarde demais para se levantar e ir embora.
Peso demais para uma vida de sete anos.
Aquele homem nunca viu o seu pai caiando as telhas de amianto ou sua mãe orgulhosa com os joelhos avermelhados depois de passar a cera em pasta no chão de vermelhão que ficava lustroso como as joias da boa mulher.
Seu desconforto ao ler aquele trecho ia além, muito além dos detritos. Ela já foi intocável como aquela mulher de um país tão distante.
Aquela mulher que recolhe detritos num cesto de vime e aquela criança se encontraram na lufada das páginas de um livro.
A náusea havia passado e se misturavam nos seus recônditos, os cheiros de uma Índia longínqua e de uma casinha de telhas caiadas que já não existe mais.

Imagem daqui
Livro: A distância entre nós - Trity Umrigar - página 16

sábado, 10 de março de 2012

Dez fotos - março



Participando do projeto da Mirys, do blog Diário dos 3 
Mosqueteiros, 10 on 10!


Dia 10 num sábado ensolarado... ouvimos o sussurro do parque nos chamando!


Uma exposição de raízes!





Quando vamos aprender que lixo não combina com natureza?


Vamos brincar?






Hora de ir embora. Um lava-rápido de pés!


Uma bem-vinda chuva para amainar o calor


Deixa chover!


Cores e fotografia

Tomada de coragem, estou participando também do desafio Crazyjoy fazendo fotos coloridas!
Escolhi o vermelho.
Olha só como ficou:













quinta-feira, 8 de março de 2012

segunda-feira, 5 de março de 2012

Cochilei no baloiço

Despertei mais cedo do que de costume.
Estava ansiosa. Estreia de programa novo na tv.
Durante a semana, as chamadas para o novo programa, despertaram em mim uma espécie de compulsão para que eu o assistisse.
E hoje pela manhã era lá que eu estava - em frente à tv, das 7 às 8h. Uma hora de programação.
Guia do trânsito é o nome do novo programa. Boa parte dos sessenta minutos com imagens de câmeras instaladas nos semáforos, alto de prédios, postes, etc. Imagens ruins em preto e branco e eu ali, olhando fixamente para ruas e avenidas abarrotadas de veículos.




Dias antes da estreia, o âncora do programa, em entrevista disse que é um programa para se assistir enquanto o cidadão toma seu café matinal ou enquanto escolhe a roupa que usará nos seus longos momentos de trânsito e de trabalho.
Apreciei especialmente o vocabulário, que tem que ser riquíssimo em sinônimos para a mesmice de todas as manhãs - motorista encontra dificuldades, trânsito segue lento...
No rádio, quando estou pilotando a minha cozinha no preparo do café da manhã, ouço o repórter-aéreo, o bike-repórter sem me afetar muito e acho bem importante o trabalho deles, uma prestação de serviço, apesar de quase acreditar que se eles reprisassem um programa do ano passado, ninguém perceberia.
Praticamente usa-se duas horas para ir e outras duas para voltar e qualquer variação de 15 min para mais ou para menos é sempre importante.
Então eu fiquei uma hora ali, imóvel, quase sentindo o cheiro dos poluentes afetando meus pulmões, ardendo meus olhos.
O mais curioso é que eu não tenho carro, não dirijo , e o mais longe que eu iria neste meu dia seria a uma quadra e meia da minha casa.
O que eu fazia estática olhando carros e mais carros e ouvindo: trânsito lento nos dois sentidos; trânsito parado, congestionamento.
Nossa!
Estava no baloiço na minha sala reformada e acho que cochilei e sonhei.
Sonhei um sonho ruim.




Que manhã linda, colorida, as fresco entrando pelas janelas.
É bom começar o dia assim!


*baloiço- português de Portugal - balanço; aprendi com a Lacorrilha!

domingo, 4 de março de 2012

Inezita Barroso


Quero homenagear hoje uma maravilhosa artista brasileira, que tem minha admiração desde que eu era uma criança: Ignez Magdalena Aranha de Lima, nascida aos 4 de março de 1925.
Nossa querida Inezita Barroso que cuida com desvelo das nossas raízes musicais, neste vasto país.
Doutora Honoris Causa em folclore pela Universidade de Lisboa.
87 anos. Parabéns!

Foi homenageada em seu programa, dentre vários cantores, pelo Jair Rodrigues, que cantou uma música que eu adoro e fiquei surpresa ao saber que foi composta pelo Pelé!
Então, música para festejar tão querida artista!

( o Pelé cantando não é lá aquelas coisas, acho que ele fica melhor com a bola no pé!
Mas a letra que ele compôs é linda! )



sábado, 3 de março de 2012

Rigorosa e derretida


É assim que minha filha me define: uma mãe rigorosa que ela ama ( ainda bem! ).
E é bem verdade que sou rigorosa.
E é bem verdade que estou a babar...


Fui buscá-la em sua primeira aula de ginástica e a professora veio entusiasmada falando do que ela é capaz.
Quase não acreditei!
Rigorosa e derretida por esse “serzinho” que me ensina a cada dia! 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Resposta

Nada de vidros quebrados, porta aberta, nem final do dia...
Também não tem ninguém lá fora.
A pressa e a mochila deixados displicentemente... ah isso sim!


O relógio marcava três horas da tarde e acenderam as luzes da praça. De dentro da minha sala, quando olhei de relance para fora, tive a sensação que eu habitava o planeta do pequeno príncipe, onde basta mudar a cadeira de lugar para se apreciar o por do sol.



Foi uma sensação muito boa, aconchegante. Se eu tivesse um por do sol assim na janela da minha sala...
Ficou então na imaginação!




Quem tem um por do sol lindo para apreciar?
Beijos