quinta-feira, 31 de março de 2016

A garota multimarcas

A ordem havia sido quebrada na agência do correio, onde eu fui postar minhas cartas de cerca de 20 gramas.
Na verdade, a máquina de senhas estava quebrada. Naquele dia, ou ao menos, naquela manhã, não seríamos um número precedido por uma vogal ou consoante impressa em maiúsculo em pequeno pedaço de papel amarelo.
De acordo com o serviço solicitado podemos ser A132 ou H233. Em dias de ordem reinante, tocamos na tela da máquina, escolhemos um serviço e saímos em direção a cadeiras coletivas alternando um olho no nosso papel e outro nas telas espalhadas. Vez por outra espiamos o número da pessoa que está ao nosso lado.
Mas, naquela manhã, ninguém sentava. Formamos uma fila indiana.
Não havia telas e por isso haviam pessoas na fila e não números precedidos por letras.
Estava à minha frente o homem de terno e gravata, a menina de jaqueta, embora eu achasse que estava fazendo calor par uma jaqueta ( meu filho chama isso de  " estilo " ). Atrás de mim, acabava de chegar uma senhora jovial perguntando o porquê da fila. Uns olhavam o celular. Eu olhava a moça que seria a próxima a ser atendida, lá na frente.
Trajava roupas de academia, ou de caminhada, corrida, esporte, fitness ou seja lá que nome isso tenha.
Fixei-me em seus pés. Acho que por conta da minha necessidade de comprar um par de tênis. É sempre bom ter um parâmetro.
Era um adidas, solado bom. E ali dentro dos tênis, eu pude ver as meias. Do tipo sapatilha mas que mostra só um pedacinho no tornozelo. Achei bonito aquilo, um estilo, como diria meu filho.
Puma, era a marca das meias.
Subi o olhar, uma saia bem pequena que já não me fica bem copiar. Estava escrito Asics e a blusa era rebook.
Demorei um tempo a pensar nas muitas marcas.
Será que a moça faz questão de ser plural?
Será que, num descuido ela vestir blusa e meias da mesma marca, volta para trocar?
Em mãos segurava um envelope amarelo escrito em caligrafia bonita Santander Crédito Imobiliário.
Mas foi quando abriu a bolsa para efetuar o pagamento ( a essa altura, ela já tinha sido chamada ao atendimento ) que eu me encantei.
Sua bolsa era um modelo ecobag, cor cru, escrito em letras de forma grandes porém discretas "INHOTIM".
Desejei a bolsa. Era exatamente o modelo, o jeito, a cor que eu queria.
Senti vontade de perguntar-lhe se teria ido e gostado de Inhotim, o famoso e maior centro de artes ao céu aberto da América Latina.
Parecia muito óbvio. Por outro lado, poderia ter sido um presente e ela nunca havia estado em Inhotim.
Fiquei também a pensar se cairia bem eu usar uma bolsa escrito INHOTIM, sem nunca ter pisado por lá. Ou talvez eu me explicasse - nunca fui, mas bem sei que é belo e por isso saio com ela por aí para inspirar muitas pessoas a irem passear por lá.
Não sei. Fiquei com a dúvida.
Tivesse as telas, a máquina de senha funcionando, estaríamos lá, robotizados.
Deixar de ser uma senha numérica, precedida por uma letra em maiúsculo, faz a imaginação correr, voar... e depois dá até para virar crônica do cotidiano!

quarta-feira, 30 de março de 2016

20 gramas

Você tem?
Já teve?
Conhece?
Nunca ouviu falar?
Achava que não existia mais?
Pois ainda existe sim!
Eu tenho e uso. Olha só:


Arrisquei a pergunta num balcão de papelaria para uma jovem funcionária. Pensei inclusive que a moça nem soubesse do que se tratava.
E qual não foi a minha surpresa! Ela sabia e virou-se certeira para a prateleira que acomodava os "blocos de carta".
São diferentes dos papéis de carta decorados que muitas de nós colecionamos no passado, ou talvez algum garoto tenha recebido um lindo poema num papel decorado!
O papel que vem neste bloco é bastante fino e delicado. Eu gosto de achá-lo parecido com a delicadeza da seda!
É preciso cuidado ao manuseá-lo, rasga fácil, amassa.
Toda essa leveza é para que não ultrapasse 20 gramas a sua carta.
Esse é o peso limite estipulado pelos correios para uma carta simples.
Com a leveza desse papel, é possível escrever várias páginas!
Antigamente, até o envelope contribuía para a leveza das cartas. Ele também era de um papel mais fino, já vinha com cola, é só dar uma lambida! Quem, quem já lambeu envelopes?!
E foi com leveza que eu deslizei pelas pautas azuis do meu bloco e fui hoje aos correios levar cartinhas.
Curiosa que estava, pedi ao moço que me atendia para que pesasse cada uma das cartas!
A maioria pesava 4 gramas. Uma, na qual eu incluí uma fotografia e a carta manuscrita no finíssimo papel, pesou 10 gramas.


Agora eu gostaria de saber quanto pesa cartas que você envia? Em qual papel você as escreve?
Conta tudinho aí nos comentários!
Beijo!


quinta-feira, 24 de março de 2016

Eu e meu blog



Lado de fora do coração... o nome do meu blog surgiu muito antes mesmo que eu imaginasse o que seria um blog. Aliás, na época da inspiração do nome, nem computador eu tinha.
Minha filha Júlia, pequenina à época, olhou-me seriamente, após uma visita ir embora e me disse que não gostava das pessoas que falavam: "gosto de você do fundo do meu coração".
Para ela, o fundo do coração era um lugar muito escondido, então ela gostava do lado de fora do coração que era para todo o mundo ver!
Fiquei encantada com aquela reflexão e nunca mais esqueci o 'gostar do lado de fora'!

Bem antes do meu blog nascer, eu precisei ter um computador. Deve ficar registrado que em um momento lá no passado eu havia jurado que nunca teria um computador...
A coisa foi ficando insustentável. Estava na época de conhecer escolas. Seria a primeira escola de meu filho e todas elas pediam o meu e-mail. Quando eu revelava que não possuía um, era olhada como um alienígena. Quando pedia que me enviassem papéis pelo correio, deixava as mocinhas sem palavras enquanto deveriam pensar sei lá o quê a meu respeito.

Matriculei primeiro a mim na escola de computação ( minha mão tremia só de segurar o mouse ) e algum tempo depois, estávamos eu e marido escolhendo o modelo de nosso primeiro computador.
Fez-se necessário chamar um técnico para instalação do mesmo. Lá no computador eu usava o programa de fotos, o skype e o e-mail. Apenas.
E queria muito saber o que tanto as pessoas faziam ali diante da telinha.
Passei a anotar num caderninho sugestão de sites que encontrava em revistas de algum consultório dentário.
Caprichava no www, embora nunca tenha conseguido fazer um w bonito.
Veio o orkut, ao qual não desenvolvi paixão.
E digitando algum www, cheguei em algum blog e aquilo sim tinha um jeito, um estilo que me agradava.
Mas como ter um?
A resposta estava bem ali na banca de jornal. Sim, havia uma revistinha, tamanho formato de bolso, ensinando como ter um blog e um twitter. Comprei e li e li.
Até o dia em que resolvi tentar fazer o tal blog, o meu blog.
Fui clicando lá e acolá e quando vi estava diante da pergunta sobre qual nome teria o meu blog.
Eu não fazia ideia que conseguiria chegar tão longe! Fiquei ali meio atônita, e agora? Que nome escolher?
Lembrei-me da história de minha filha de gostar pelo lado de fora do coração. Pronto. Estava escolhido.
Fui para o passo seguinte e depois outro e mais outro.
Estava criado o meu blog. Faltava saber o que escrever ali...
Comecei timidamente, sem foco, sem saber, será que estava certo? Haveria mesmo um jeito certo?
Quando dei por mim, um comentário que fez meu coração pular de alegria.
Alguém me lendo!
Peguei o gosto e isso faz cinco anos.
Houveram momentos maravilhosos, onde eu sentia que o blog era uma grande cozinha, ou varanda, ou sala de visitas. A gente ria, esperava porque sabia que as visitas chegariam. Entristecemos também juntos pelos amigos blogueiros que partiram desse planetinha.
Problemas pessoais me afastaram temporariamente; atualmente problemas estruturais ( a estrutura do meu computador pifou ).
Já circulei por outras plataformas, mas percebi que é aqui, nos blogs que as palavras fluem, são sopradas, têm alcance. Bem menos agora é fato.
Houve uma época que enjoei do meu blog, queria mudar sua aparência. Até que um dia, olhei-o demoradamente e gostei do seu jeito. Acho que é um tanto nostálgico tê-lo do mesmo jeitinho.
De vez em quando eu passeio por postagens antigas, olho fotos, leio comentários. Sinto falta de tantas pessoas que não vêm mais aqui e nem mais mantém seus blogs.
Alegro-me entretanto com os que aqui chegam! São os que persistem, são vocês que cultivam o mesmo gostar, semeiam a alegria dos blogues!
Recentemente, criei um outro blog, com menos textos e mais fotografias. Esse aqui tornou-se especial para mim e será o principal. Lá, aos poucos, quando for possível. Querendo conhecer é só ir ao travesseiro de paina.
Através do meu blog, fui descobrindo o gosto de escrever sobre coisas cotidianas, simples. E foi também o blog que me proporcionou escrever o meu primeiro livro.
Só tenho a agradecer todas as coisas boas que por aqui encontro!

Esta é a minha participação no 1˚ Concurso Cultural Rivotril com Coca-Cola - Eu e meu blog que está sendo organizado pela Mi até o dia 30 deste mês. Participa também contando a história do seu blog!



quarta-feira, 23 de março de 2016

Agradecimentos

Uma agradável surpresa foi receber da Bell, do blog Meus Segredos Bell, o selo do Prêmio Dardos!


Muitas vezes a gente desanima, seja por dificuldades pessoais, seja pela própria blogosfera ( e não deveria ser! ) que anda tão murcha.
Ser reconhecido e receber esse prêmio é especial. É como um regador que viceja a plantinha murcha e nos dá ânimo para prosseguir.
Obrigada Bell por este carinho!

E hoje, eu estou lá no Felisberto.
Uma iniciativa muito generosa onde ele abre o seu espaço, no seu blog, para que outros blogueiros publiquem textos, poesias, e assim cria-se uma maior interação, conhecemos estilos de escrita, novos blogueiros.
Não um texto doce não! É salgado!
Já leu? Quer ler?


Só clicar aí no banner "Special Guest".
Beijo!


terça-feira, 15 de março de 2016

Não ajudei a velhinha

O dia estava pesado.
Amanhecera pesado, estava pesado e possivelmente assim continuaria...
Pesado o ar; céu carregado, nuvens densas, escuras; um calor sufocante mesmo sem o sol e o peso de ter que enfrentar resoluções burocráticas.
Acessei, mesmo que não precisasse, bastava olhar pro céu, a previsão do tempo no celular. O desenho da nuvem com o raio a lhe escorrer do meio confirmava que o mal tempo chegaria.
Coloquei o guarda-chuva na bolsa e saí.
Sair antes que a chuva começasse a cair dava-me um pouco de ânimo.
Cheguei ao destino, não consegui resolver o que precisava e apertei o passo para voltar antes que o céu desabasse.
E foi na minha pressa que uma velhinha me parou:
 - Você sabe onde tem uma sorveteria? Será que lá na avenida tem?
Faltava uns poucos minutos para as dez horas da manhã. O céu sobre nossas cabeças era tão assustador que a última coisa que eu pensaria era em sorvete.
Mas a velhinha estava ali na minha frente, sem afogamento algum. Trajava um vestido simples e confortável de uma estampa suave azul-claro.
Disse-me que acordou com vontade de tomar sorvete hoje. E não servia nem de mercado, nem de padaria. Ela queria mesmo uma sorveteria. " O dia está abafado, muito bom para um sorvete, não acha?"
Desculpei-me por não poder ajudar. Eu não conhecia aquele bairro, seus arredores. 
Ela me olhou firme e disse quase ter certeza de haver uma sorveteria na avenida.
"Mas não está longe a avenida?" - eu indaguei.
Talvez eu tenha julgado a distância com a idade, mas ela pareceu nem se importar com isso. 
Respondeu-me que iria devagar, fazia bem caminhar.
Desejei-lhe um "bom sorvete" e segui.
Entrei no ônibus e um pouco depois, pela janela, vi uma sorveteria.
Deveriam ter acabado de abrir. Uma funcionária passava pano no chão.
Dali a um pouco, a velhinha estaria ali certamente escolhendo seu sabor predileto.

Já em casa, sem ter feito uso do guarda-chuva me peguei pensando que quando li o livro Comer, rezar, amar e depois assisti ao filme, desejei tomar um sorvete às nove da manhã, na Itália. Ainda não pude, talvez não irei, continuo a desejar...
Mas aquela velhinha também não estava indo para a Itália. Por enquanto ela tinha uma sorveteria um tanto longe para seus passos, mas tão próxima de lhe proporcionar uma alegria.
Eu não pude ajudar a senhora.
Foi ela que me ajudou, mesmo sem saber.

A previsão do tempo no celular se equivocou.
Não choveu no horário determinado. A chuva só veio cair no começo da noite.
O dia, afinal, estava mesmo perfeito para um sorvete.
E agora que sei o endereço da sorveteria, vou aparecer por lá, assim numa manhã qualquer!

sábado, 12 de março de 2016

Sábado em fotos

Água de coco combina com praia.
Mas quando não se tem praia, o jeito é ir de parque mesmo!
E fomos!
E teve água coco e muitas fotos!


Momentos descontraídos rendem divertidas fotos!


Retratos



Flores e folhas



Subiu na árvore e depois não conseguia descer
( e eu com um medo danado delas!)




Auto retrato, ou seria selfie?!


Bom final de semana por aí!









sexta-feira, 4 de março de 2016

Uma cesta de dicas

Nesta sexta, vamos de dicas!

O blogueiro Felisberto está com um iniciativa muito legal e generosa - divulgar blogs.
Gerar interação, partilha, animação... é por vezes a blogosfera desanima.
Seja por fato pessoal, seja o desânimo de poucas visitas, quase ausência de comentários, a gente desanima. E essa iniciativa do Felis pode trazer novos ares. Participe, enviando um texto seu, interagindo, comentando, conhecendo outros blogs.
Espia lá para entender melhor:



Rádio Indígena? Isso existe?
Existe sim com toda a tradição indígena usando ferramentas digitais.
É uma rádio online de cultura indígena. Além de músicas, tem também muita cultura e artigos.
Já conhecia?


É um tanto incômoda essa dica e eu realmente desejo que não precisemos dela tão cedo, embora inevitável.
Vamos falar sobre o luto é uma plataforma/site com relatos, artigos por especialistas para auxiliar a passar por esse momento de imensa dor.
Tenho lido e refletido bastante. Não serve só para quem está de luto. Serve para cada um de nós que, se for preciso, levaremos nosso abraço amigo, acolhedor. Daremos talvez um conselho.
Por exemplo, eu não havia pensado num tipo de luto que se dá pela perda de um bebê ainda no início da gestação. Nosso primeiro impulso talvez seja o de dizer "isso é comum, você é jovem daqui a pouco engravida novamente". São frases que muitas vezes não acolhem a dor daquela mulher.

Seja boa nossa sexta, traga-nos uma cesta de alegria o final de semana e sigamos juntos, partilhando, lembrando, sorrindo, visitando, chovendo, ops! É que não para de chover por aqui!
Beijo

quarta-feira, 2 de março de 2016

Um balanço para mim

Finalizei a leitura de um livro e dei especial atenção a uma narrativa onde o pai conduzira a filha para um local para falar-lhe de um assunto extremamente difícil: o porquê dele haver tentado o suicídio por duas vezes.
Embora fosse de um peso, de uma aspereza tal conversa, tudo fluiu com ambos num balanço. A noite era alta e somente eles naquela praça com o balanço a soltar-lhes as angústias, as palavras.
Também me lembrei de Rubem Alves e seu belíssimo livro que traz um balanço dependurado em uma árvore e sua insistência para que houvessem balanços para os adultos, para todas as idades.
Uma forma de voo talvez, ou um acalanto feito cafuné e colo.
Emocionei-me com o livro, com a recordação das palavras de Rubem, mas foi depois, alguns dias, algumas semanas passadas que a emoção veio ainda mais forte.
Eu tive um balanço.
Um balanço só para mim.
Em meio à pobreza e as dificuldades, meu pai construiu-me um balanço. Acho que para dissipar um pouco a tristeza.
Encontramos, eu e minha filha, a fotografia antiga e nela o esmero do seu presente.
Lembrei de ter ido com ele comprar a corda que prenderia o balanço.
Lembrei que tive problemas com o papagaio da vizinha, que devia gostar de crianças e quis-me fazer companhia enquanto eu balançava bem em cima de minha cabeça.
Papai teve que incrementar o seu projeto!
Resgatei o balanço dentro de mim. Para dias difíceis, para noites que se fazem longas, frias, embalo suave a respiração, as recordações, as dores e o dia amanhece. Sempre amanhece.