quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O mistério

Fiquei sem computador esses dias atrás.
Pensei em ir até uma lan house para explicar, mas pareceria repetitivo.
Poderia até parecer mentira. Sem computador de novo?
Um líquido misterioso embebedou o teclado e quando ligávamos o computador, este apresentava-se descontrolado. 
Abria páginas que bem entendesse, preenchia senhas ao infinito, fazia comentários ( espero que nenhum tenha sido publicado ), mostrava-se cheio de luzes, parecendo uma discoteca daquela época das meias dancing days e quando me convenci que não haveria mesmo jeito para o teclado, começaram a aparecer inúmeras bolas de sabão saltando da tela.
Desliguei.

Algumas centenas de reais depois, já com o teclado novo, qual lápis que nunca foi apontado, marido me pede que encontre um documento arquivado em algum lugar dentro do computador.
Entre procura, abre e fecha de pastas...
Encontrei isso ( clica  para saber ).

O mistério descoberto


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Aniversário!

Hoje, uma pessoa, de nós bem conhecida e querida, apaga velinhas.
É aniversário da Chica!
Chica que nos encanta com poesias, crônicas, dia a dia, céus.
Sempre uma palavra que acolhe, sempre uma visita que esperamos. 
Em seus blogs nos emocionamos, rimos às gargalhadas, refletimos, vivemos o cotidiano com um olhar diferente.
Parabéns Chica por fazer parte de nossas vidas e dividir tantas histórias conosco!
Que a matemática some e multiplique amigos, inspirações, alegrias, saúde e vida.
Viva Chica!
Como você já ganhou muito bolo por aí, deixo aqui um carinho diferente:


Parabéns!

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Marionetes

Esta continuação do post anterior tem duas citações que são do sociólogo e pensador polonês Zygmunt Bauman.

"Numa análise que se desenvolveu em três grandes estudos na New York Review of Books ( 15 jan 2009 ), Marcia  Angell afirmou que, "nos últimos anos, as empresas farmacêuticas aperfeiçoaram um novo e eficiente método de ampliar seus mercados. Em vez de promover medicamentos para tratar doenças, começaram a promover doenças para seus medicamentos". A nova estratégia "é convencer os americanos de que só há dois tipos de pessoa: as que sofrem de condições clínicas e exigem tratamento medicamentoso e aquelas que ainda não sabem disto".

"Christopher Lane descreveu a espetacular trajetória médica e farmacêutica recente de um dos aspectos mais comuns da vida humana: a experiência da timidez prolongada ou momentânea ( quem de nós, em sã consciência, pode jurar que nunca se sentiu tímido, cauteloso ou inseguro?). Pois essa sensação desagradável, tão comum e frequente, foi rebatizada na prática médica com o pomposo nome de "transtorno de ansiedade social".
Em 1980, essa perturbação foi citada no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - ainda sob a denominação de "fobia social", agora abandonada - como doença "rara".
Em 1994, a GlaxoSmithKline, empresa gigante do setor farmacêutico, lançou uma campanha publicitária de milhões de dólares para promover sua marca de antidepressivo Paxil, que prometia aliviar e inclusive acabar com aquela "grave condição médica", como hoje anuncia a propaganda do remédio. Lane cita Barry Brand, diretor de produção do Paxil, que declarou; "O sonho de todo profissional de marketing é descobrir um mercado não identificado ou desconhecido e desenvolvê-lo. Foi o que logramos fazer com o transtorno de ansiedade social".


Zygmund Bauman - 44 Cartas do Mundo Líquido Moderno

É impressão, ou estão nos querendo fazer de marionetes?

domingo, 25 de novembro de 2012

Desregulação e unguentos

Você sabe o que significa o termo "desregulação do temperamento com disforia?
Não?
Até o final do texto você vai saber.

Ando com saudade de um tempo, em que eu menina de braços dados, enlaçados com minha mãe pelas ruas, encontrávamos algum conhecido e logo depois do "bom dia, como vai?",  vinha a lamentação.
"Ih! Tô como uma dor nos quarto... dei um jeito nas anca, uma dor na batata da perna, uma dor no pé da barriga, nem tô podendo virar o pescoço...


Achava chato aquelas pessoas que viviam a se queixar.
Mas, bastava um emplastro sabiá na anca direita, um pano amarrado com breu moído com gema de ovo ou uma cânfora no pescoço e já dava para ir levando a vida como Deus quer.
E o tempo amarelou folhas, trouxe chuvas de verão, cruzeiro, cruzado, real... e os quarto, as anca, os jeitos, foram deixando de existir para entrar em cena as doenças dos comportamentos humanos.
Os comportamentos humanos estão sendo transformados em patológicos em seus mínimos detalhes.

"Os psicodiagnósticos alcançaram um nível tão elevado, que hoje em dia as pessoas saudáveis estão quase extintas" (Dann Toledo)

Parece que estamos vivendo um tempo onde procuramos cada vez justificativas para o que antes poderia apenas ser adjetivos de um ser humano - fechado, introspectivo, tímido, alegre, expansivo.
Esquecemos os adjetivos das análises morfológicas e os transformamos em sujeitos com transtornos... 

Ah! Desregulação do temperamento com disforia é birra.

haverá continuação

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Lixo fashion


Esta é a novidade nas ruas do centro da cidade de São Paulo. 
Saem os sacos pretos e entram estampas de folhas sobre fundo verde limão, o que deixa as lixeiras mais "fashion".
A mudança é estética. "É para reduzir o impacto visual nas áreas de calçadões e de grandes avenidas", palavras da Inova, empresa responsável pelo lixo .
Vontade de vomitar.

Antes de ver esta notícia fashion e ridícula, eu li um artigo que deveria ser matéria de capa nos jornais.
Escrito pelo jornalista Leão Servo, ele inicia assim:

O Brasil está perdendo uma grande oportunidade de mudar os hábitos de civilidade da população com relação à limpeza urbana.

Ele se refere aos grandes eventos que vamos sediar e cita como exemplo, o Japão, que eu e talvez a grande maioria das pessoas, acreditem que sempre foi um país sem lixo nas ruas.

Nos anos de 1950 quando o Japão conquistou o direito de organizar uma Olimpíada, a limpeza não era típica de Tóquio, como se tornou a ponto de hoje parecer uma característica eterna da cultura nipônica.
Grande campanha de conscientização foi feita para que a população alterasse seus hábitos quanto ao descarte de detritos.

A julgar pelas últimas eleições, onde cidadãos que ainda acreditam, foram exercer sua conquista de votar e caíram e fraturaram fêmur, bacia, braço por escorregarem no "tapete" de papéis jogados no chão, realmente acho que o jornalista tem razão. Não estamos fazendo nada.
Ah! Estamos sim. Temos o lixo fashion!
A cidade é emporcalhada com o lixo que se joga sem nenhum pudor pelas ruas, calçamentos, praças, mas eis a solução linda para inglês, japonês, africanos, paulistas e baianos verem - o saco é fashion.
Pensei em pesquisar quanto custa para os cofres públicos o saco preto e o saco verde limão.
Desisti. Mesmo que eu saiba exatamente os números, eu sei, nós sabemos a resposta.


Esta é a praça que fica em frente a minha casa.


Esses são os sacos usados por aqui. Não são fashion.
Será que o estampado resolveria o problema?
Já chegou a moda aí na sua cidade?



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Embrulhado para presente

Resolvi dar um presente antecipado de natal para as crianças: levei-as para ver a decoração na avenida Paulista.
E como todo bom presente, estava, a decoração, toda embrulhada!
"Ah mãe, não vale, nem dá para saber sobre o que será o tema".
Pois usem a imaginação, queridos, porque mamãe não voltará aqui com aquele mar de gente a empurrar e pisar em nossos pés.
Caíram na risada. Sinal se que o presente não foi tão mal assim...


E falando em presente, olha o selinho que ganhei da Marcilane que comemora o primeiro ano do blog:


E o Christian, do blog escritos lisérgicos, está com uma proposta muito interessante: reunir contos e crônicas e poesias numa antologia. Quer ter seus escritos publicados em um livro que pode ser até para presentear? Passa lá para saber mais!




terça-feira, 20 de novembro de 2012

Sol coberta janela

Cheiro do sol
dobrado no meio das cobertas
que passaram a manhã
debruçadas na janela

O moço dorme
coberto de coberta
que preguiçou na janela

Preguiçosamente sonha:
moça de saia de chita
sorri
um riso luminoso
como o sol

Canta disputando pauta
com a passarinhada
a moça de voz aveludada
pausa

O sol já perfuma a manhã
Acorda moçoilo
debruça a coberta na janela
e enquanto labuta
a coberta colhe sonhos para ti

Saia florida a enfeitar
os passos da tua amada
Apaixonado estás
moçoilo de bom coração

Sol
coberta
janela

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Piaçava

Houve uma briga, daquelas feias e barulhentas, aqui em casa. Daquelas que os vizinhos colocam a cabeça para fora, querendo dar uma espiadinha.
A briga envolveu inclusive vassoura. Uma vassoura piaçava.

 É que o cachorro comeu o cabo da vassoura da minha filha e ela começou a chorar e eu então ralhei com ele. Onde já se viu comer o cabo da vassoura piaçava? Se der algum problema nas suas tripas, eu não vou socorrer e vou deixar que morra.
Daí, a menina se pôs a chorar mais ainda, porque não desejava que o cachorro morresse de vassoura.
Ela gostava da vassourinha, e ainda bem que era miniatura, mas ela gosta mais do cachorro e não queria que ele se fosse assim... As pessoas, quando ela explicasse que o cachorro morreu de vassoura, iriam pensar que eu, a mãe, dei uma vassourada nele, não compreenderiam que ele roeu e engoliu o cabo e algumas piaçavinhas.
Entre lágrimas, remorsos e choros, peguei a chave e saí.
Entrei numa loja requintada de produtos para cachorro. Expliquei a situação da vassoura para o moço que, solícito, trouxe uma ração francesa. Garantiu que essa ração faria uma verdadeira faxina no interior do animal. Fiquei com um pouco de medo dessa história de faxina interna e também do preço da ração, mas acabei trazendo para casa. O moço me garantiu que o bem estar que esta ração proporciona é o mesmo que você estar vendo o por do sol da Torre Eifell. Como nunca fui lá, achei melhor acreditar.
Problema resolvido então. 
Mas o problema é que o cão não comia a tal ração.

Comecei a me preocupar. Seria os restos de vassoura fazendo mal para o bicho?
Todos os dias pela manhã, ao invés de comer, e;e me olhava e saía literalmente correndo para as bandas  da despensa da casa, que fica para o lado de fora.

Entre a correria, um dente para cair...


... não dei atenção à inapetência do cachorro.
Até que eu precisei ir até a despensa e me deparei com sacos rasgados.
Chamei pelo marido que disse sem pestanejar: "é rato".
Ai, ai, ai. Agora vou ter que arrumar um gato. E como será a convivência do gato com as crianças e o cachorro?
Não era hora de pensar nisso.
Era preciso se concentrar no rasgado. Suas formas, suas peculiaridades.

É barata -eu disse.
Não, barata tem a mordida menor. É rato - afirmou marido.

Arrumei a bagunça feita pelo rato e na manhã seguinte, quando o cachorro me olhou e disparou para as bandas da despensa, fui ligeira atrás dele. Porque, e se ele resolvesse comer o rato? Aí seria o fim.
Para minha decepção, flagrei-o rasgando o pacote de ração reserva. É uma ração que compro no mercado, não tem nada de especial, não é francesa. É ração tipo cesta básica. E era ele, o cachorro, que havia feito aquela bagunça. Havia rejeitado o cardápio francês e preferia mesmo um PF - prato feito - no balcão, simples. Tomara não tenha engolido nenhum pedaço da embalagem.


Ah! Já ia me esquecendo.
Será que ele é tão fino e educado que come ração com talher?


sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Um modo de vida

Texto de Rachel Naomi Remen

extraído do livro Histórias que curam [conversas sábias ao pé do fogão]. - 1996.

Somos uma nação de comunicadores, mas comunicação nem sempre é conexão. Lembro-me de uma cena em um filme de Woody Allen na qual um grupo de nova-iorquinos solitários está sentado à mesa tomando cerveja, conversando freneticamente uns com os outros a fim de aliviar a solidão. Todo o mundo fala ao mesmo tempo. Aos poucos, eles vão elevando a voz e interrompendo uns aos outros na tentativa de se fazer ouvir. Por fim, ficam tão desesperados que acabam realmente cuspindo uns nos outros no esforço de fazer contato, o que eles nunca conseguem. Essa cena, em geral, provoca risos. Acho que cada vez mais a vida vem se assemelhando a isso.
Nos dias de hoje, a desconexão é um hábito, um modo de vida. Eu não me dera conta do quanto vivia isolada até passar uma semana em Fiji.
Chegando à noite, desfazendo as malas, peguei despreocupadamente o material de leitura deixado no quarto pela gerência do hotel. Sob o título: "Diferenças culturais", surpreendi-me ao descobrir que em Fiji é considerado "boas maneiras"cumprimentar pessoas totalmente estranhas na rua. O folheto era bem explícito, o que não era motivo de alarme ver-se cumprimentado por estranhos; na verdade, as pessoas achariam uma grosseria se eu não respondesse à altura. O modo correto era fazer contato visual e reconhecer a presença do outro com um meneio de cabeça ou um sorriso, ou ainda dizendo Bu-la. No lugar onde fui criada, a cidade de Nova York, uma coisa assim seria extremamente imprudente. Achando graça, decidi tentar.
O que isso significa na prática é o seguinte: você desce a rua até o correio, vai comprar selo para um cartão-postal. Pelo caminho pode cruzar com três ou quatro pessoas, saudando cada uma com um aceno de cabeça ou dizendo Bu-la e recebendo delas o cumprimento. Você compra o selo, uma transação que demora só um instante. No caminho de volta, passa exatamente pelas mesmas pessoas, e espera-se que você torne a cumprimentá-las, muito embora tenha cruzado com elas apenas alguns momentos antes. A princípio isso é irritante, mas no final de uma semana já se tornou uma segunda natureza.
Retornei então aos Estados Unidos. Saindo às pressas para abastecer a geladeira vazia, vi-me um uma rua movimentada da Califórnia. Absolutamente sozinha. Ninguém fazia contato visual. Ninguém me cumprimentava. Ninguém me sorria. Bem no meu íntimo, senti-me invisível e diminuída. E, no entanto, a rua era perfeitamente conhecida. Era minha terra.
Os habitantes de Fiji têm consciência de uma lei humana básica. Todos influenciamos uns aos outros. Cada pessoa é parte da realidade dos outros. Não existe isso de passar por alguém e não reconhecer seu momento de conexão, de não deixar que os outros saibam o efeito que produzem em você e não ver o que você produz neles. Para os habitantes de Fiji, a conexão é natural, simplesmente o modo como o mundo é feito. Aqui passamos uns pelos outros com nossas luzes apagadas, como navios à noite. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Entardecer





O dia cinzento, frio, que também choveu, vestiu-se assim para o entardecer.

Blogagem coletiva inveja

Hesitei, confesso, em participar desta blogagem coletiva proposta pela Alê, pois quando entrei em contato com o tema inveja, a amplitude de possibilidades de explorá-lo me paralisou. Mas este é o lado positivo das blogagens: várias pessoas abordando um mesmo assunto sobre diversas óticas.
Então, quero abordar o aspecto que considero mais destrutivo com a inveja, a criminalidade.
Acredito que muitos delitos nasçam frutos da inveja. Uma inveja material.
Talvez comece pequena: a inveja da borracha do colega de sala que faz tomá-la para si. E um olhar invejoso, recebendo fermento do consumismo, da falta de oportunidades e principalmente da ausência de amor e atenção familiar, só faz com que cresça a inveja e os meios obscuros para alimentá-la.
Por estes dias no noticiário, uma mãe chega à delegacia onde o filho adolescente fora detido após ser pego em um roubo.
A mãe em desespero grita com ele "eu já te falei se você quer um tênis, trabalha para comprar".
A inveja tomou-lhe o que a mãe tentara ensinar.
A falta de limite ético, moral, faz com que  a inveja tome proporções devastadoras.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Exaltação ao coador de pano



Esqueceram-no dependurado numa cordinha de varal.
O sol estonteante do meio do dia, incomodou mais pela luminosidade do que pelo calor.
Acostumara-se a altas temperaturas.
Esperava ficar pouco tempo ali. O necessário para desprender a umidade, o que no caloroso ambiente deveria ser coisa rápida.
E foi mesmo rápido, porém ali ficou, esquecido.
Inebriou-se ao ver o entardecer chegando feito gato sorrateiro e tingindo o céu de cores que nunca antes vira. Nuvens vestiam-se de nuances infinitas até o negro céu se impor.
Conhecia tão bem a negritude do líquido que escorria de si, como o céu lhe escorreu naquela noite de esquecimento.
Sobressaltou-se com o clarão repentino e o estrondo. Ruídos fortes conhecia o de tampas de panelas que eventualmente caíam ao chão e o esbravejar numa voz feminina.
Lenta, lentamente foi sentindo umedecer-se por inteiro.
Que líquido era aquele? O líquido que lhe escoava era fervente, sempre fervente.
O dia amanheceu cinzento e o líquido gélido prosseguiu a lhe envolver.
Observou que advinham das nuvens, as mesmas vestidas de furta-cor, agora cinzentas ,é que lhe derramavam a água que só vira jorrar da torneira.
O líquido precioso que lhe perpassava borbulhando, descia do alto dos céus, das lindas damas envoltas em sedas de delicados tons.
Cedo ou tarde, quando sentissem falta do perfumado líquido marrom, levariam-no para dentro.
Porém, agora conhecia as nuvens, conhecia a preciosidade das chuvas.
Era um coador feliz. Fosse de papel ou uma máquina moderna, jamais poderia apreciar gota a gota a preciosidade líquida que o preenchia diariamente.

domingo, 11 de novembro de 2012

A avó


Trinta anos se passaram da morte da minha mãe.
Os primeiros tempos foram de muitas dores. Dores desesperadas, angustiantes, desesperançosas.
Foram tempos de memórias vivas e intensas que aos poucos foram deixando de ser águas turbulentas para se tornarem águas cada vez mais calmas.
Hoje preciso fazer um esforço para encontrar uma lembrança, uma memória. Estão lá, sempre estiveram e sempre estarão, apenas uma bruma envolve tudo. Não dói, não me faz querer reescrever tudo de forma diferente a ter o final feliz esperado como já desejei no passado. É tranquilamente assim.
Um fato porém tem remexido estas brumas: uma pequena menininha que tem se encontrado com a tristeza porque desejava com intensidade ter conhecido aquela que foi minha mãe e seria sua avó.
Essa menininha adentra de mãos dadas comigo o mundo das recordações.
Vejo nela as lágrimas que há trinta anos me percorreram.
Ofereço braços, colo, algumas palavras, por vezes silêncio.














































sábado, 10 de novembro de 2012

A caixa do correio


Quantas e quantas cartas eu coloquei ali dentro . Para o pai, lá no trabalho dele, a tia na rua de cima, a melhor amiga três casas abaixo.
E também para o próprio endereço, para surpreender a mãe e então o carteiro nem encaminhava para o correio. Ele pegava e já deixava em casa, o que significava que o selo não era carimbado e eu poderia usá-lo novamente! Que alegria!
Ainda menor, quando nem sabia escrever e perguntei para que servia "aquela coisa"amarela, minha mãe disse que era para colocar cartas. E eu já imaginei a carta sendo colocada ali dentro, passando pelo cano azul e seguia por baixo das ruas até o seu destino. Acho que foi um pensamento precursor do e-mail...
Eu sabia o horário que o carteiro passava. Via-o abrir, pegar muitas cartas, postais, colocar em sua bolsa azul e seguir.
Dia desses parei para observar atentamente a caixa de correio que fica no meu caminho. Voltei no dia seguinte e fotografei.
Uma tristeza, um abandono.
Seu Dutra, o carteiro da nossa rua, dia desses me chamou para assinar uma encomenda e eu aproveitei para puxar a conversa.
 - Seu Dutra, ainda usam bastante as caixas de correios das ruas?
 - Ih! Que nada. Só em época de eleição é que enchem de "santinhos políticos", uma porcaria.
 - E vocês abrem todos os dias as caixas?
 - Não. Só as que ficam diante de repartições públicas ou das próprias agências dos correios. Aquela ali debaixo ( referindo-se à da fotografia ) só abro uma vez por semana e as vezes até quinze dias e nunca tem nada.
 - E as correspondências, diminuíram com a internet? As cartas manuscritas de pessoas para pessoas sim. Correspondências comerciais, encomendas, cobranças é o que mais tem!
Nem a lojinha de esquina que vendia os selos existe mais...
Ah! Se eu fosse corajosa o suficiente, sairia de madrugada, arrancaria a caixa de lá, cuidava dela com todo o merecimento que lhe é devido e a plantaria no meu jardim.
Aos meus olhos, ela seria sempre assim:


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Lembranças

Estou lá no cantinho da Nina, longe, longe... na Alemanha escrevendo como eu gostaria que meus filhos se lembrassem de mim. 
Tão longe e tão perto. Obrigada Nina por compartilhar uma ideia tão agradável!
Clique aqui para ler.
beijo

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Uma coisa puxa outra

Semana passada fui visitar uma amiga lá na Bahia e dei com o nariz na porta. Ainda bem que ela deixou um recadinho lá na porta do blog: "Fui para São Paulo".
Corri a tempo de vê-la passando em cima da minha varanda.


Acenei lá debaixo mesmo e desejei-lhe boas vindas.
Ah! E se você não sabia, quem chega à São Paulo pelo aeroporto internacional é só me dar um alô que eu aceno da varanda.
Minha amiga saboreou um famoso deleite numa doceria francesa. O "macarron".
Então me lembrei que minha filha e eu também saboreamos o macarron, mas não era francês. Era do japonês que mudou de ramo e deixou para trás os doces de feijão azuki e foi fazer macarron.
Quando a filha viu aquele colorido na vitrine do japonês, imediatamente pediu:
Mãe, compra para combinar com meu vestido?
Eita combinação cara...


E ela não gostou. Para não desperdiçar, pediu que eu tirasse uma foto. E eu para não desperdiçar, tirei a foto e depois comi.
E também não gostei. Achei assim, com gosto de um suspiro mais sofisticado.
Será que é o japonês, será que o francês é melhor?
E como uma coisa puxa outra e o macarron do japonês tem gosto de suspiro sofisticado, lembrei que certa vez num passado bem distante uma senhora me ensinou um truque para fazer suspiros inesquecíveis: usar um pregador.
Sim, um pregador de roupas, daqueles que eu fui para a escola pendurados na blusa.
Você coloca o pregador na porta do forno para que fique uma frestinha entreaberta.
E já que foi inesquecível ir para a escola cheia de pregadores pendurados na blusa, eu posso falar para quem me sorrir demasiado que a Mariacininha me disse que eu tomei a forma de um varal, e os passarinhos gostam tanto de pousarem em um varal que ficam lá me vendo fazer suspirons com a fresta do forno entreaberta por um pregador.
E enquanto isso a amiga voou de volta.




domingo, 4 de novembro de 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Computadores e areia

Foi extremamente interessante observar as reações que tive ao ficar sem computador.
Mas, primeiro quero agradecer as palavras de apoio!
Fato é que já não vivemos sem. Faz muita falta, o computador já é um facilitador da vida, dentre muitas outras funções.
No momento do ocorrido, o sentimento foi brabeza. Fiquei muito brava com meu filho, por mexer em coisas que não domina. Uma bronca, um pedido de reflexão e assunto encerrado.
Eu também havia decidido, dentro do "pacote"reflexão, que não sairia às pressas em busca de um técnico. Uns dias off-line faria bem a todos, com exceção aos trabalhos da escola...
A outra sensação que tive ao sentir a possibilidade de perder os arquivos, os textos salvos, as imagens que me são carinhosamente enviadas, foi simplesmente de tranquilidade com tristeza. Mas não uma tristeza avassaladora.
Muitas fotos que não estavam salvas em nenhuma outra mídia, assim como poemas, crônicas... Se precisasse, começaria do zero.
Nesta hora, veio-me um ensinamento budista: os monges fazem exuberantes imagens ( mandalas ) com areia. Levam dias e depois desmancham, como se assoprassem tudo ao vento. 



Poderia ter perdido todo o conteúdo por esse descuido, mas também poderia ter perdido o computador, ter sido roubado.
Enfim, o que mais ficou marcado para mim, foi a maneira como me lembrei de cada um de vocês: os que vêm aqui sempre, os que passam vez em quando, quem estaria escrevendo poesias, postando fotografias, falando de assombrações, falando do dia a dia, das viagens.
Poderia ficar sem esta maquininha, só que vocês me cativaram. Receber visitas é muito agradável.
A casa está aberta novamente. Pode chegar!