terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Encantamentos

O encantamento, aquele que fez nossos olhos de bebê um dia brilharem
Aquele mesmo encantamento sentido com um toque sensual ou de afeto materno, de avô, de filho.
Encantamento acompanhado de um suspiro lento a inflar o peito
Esse encantamento não se pode perder
Não se pode deixar que vá
É preciso resgatá-lo

Encantamento é tão simples
que até surpreende!






Cultivemos encantamentos para que possa nosso peito suspirar!
Um viver intenso a todos nós!


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Não tem?

Saí hoje, dia 23, para fazer compras.
Não compras de natal nem para o natal.
Compras do cotidiano mesmo. Arroz, papel higiênico, pão, essas coisas.
Ah foi ao supermercado, diria você.
Não, não fui ao supermercado. Embora fosse muito mais prático e rápido.
Fui comprar cada item em um lugar diferente. Andei muito, enfrentei diversas filas.
E tudo isso porque eu queria ganhar um calendário.
Dei-me conta hoje, ao olhar a folhinha grudada na geladeira, que eu não tinha outra para substituí-la. Há uma semana de virar a página, saudar janeiro e eu sem calendário.
Fiz uma lista mental de onde nos anos anteriores distribuíam folhinhas.

O papel higiênico fui comprar na drogaria. O preço é mais alto que o do mercado e não há muitas opções de marca. Não importa. Queria o calendário.
Paguei e perguntei e saí sem.
Na vendinha da dona Aurora deve ter. Pego o arroz lá.
Saquinho pequeno, de 1kg que é para não carregar peso porque a venda é longe e tem subida.
Não adiantou. Trouxe o arroz sem o calendário.
Lembrei da papelaria: lá na "boca" do caixa ficava uma caixinha cheia de calendários pequenos, daqueles que se põem na carteira. Difícil era escolher entre os mais fofos filhotes de coelhos a gatos, passando por cães e calopsitas. Eu sempre pegava dois.
Peguei um caderno. A vendedora me questionou do porque só um caderno, não seria melhor levar a lista toda de material.
Disse que nem havia trazido a lista e o caderno era presente.
Ela me lançou um olhar detestável. Acho que deve pensar que cadernos universitários não são presentes ideais.
Peguei a nota e me dirigi ao caixa com aquela expectativa gostosa entre escolher um coelho ou gatinho.
Paguei, procurei a caixinha e só havia uma caixinha para colocar caixinha de natal para os funcionários.
Passei pela perfumaria, mandei o cachorro ao pet shop, imaginando que colocariam um calendário grudado na gravatinha que lhe penduram, mandei fazer uma cópia de chave no chaveiro 24hs e em nenhum desses lugares me deram um calendário.
Foi então que me lembrei do Souza.
O Souza é um português que tem uma padaria que fica lá para os lados do Paraíso, na capital.
Da minha casa até o Souza, com sorte e sem trânsito, levo hora e meia. Ônibus + metrô. Fui.
Dois anos atrás, nesta mesma época, tive uns dez calendários do Souza. Daqueles pequenos com ímã que a gente gruda na geladeira. São os meus preferidos. A gente vai arrancando folhinha por folhinha até o fim do ano. Não gosto daqueles calendários inteiros, que logo de cara nos expõem o ano todo, os doze meses ali emparelhados. Prefiro mesmo os iguais ao que o Souza distribui.
E ainda tem um detalhe: no calendário do Souza vem as fases da lua. Para mim tem que ter fase da lua porque assim eu falo pro marido com antecedência a lua boa pra ele cortar a grama.
Já aconteceu de não ter lua no calendário, marido cortar a grama e na semana seguinte ela ter crescido feito fermento no pão ou pão com fermento. Marido ficou muito bravo, disse que era lua cheia e ficou comprovado que o calendário ( ou a falta dele ) pode interferir na harmonia do casal.
Cheguei lá no Souza no final da tarde e estranhei ainda não terem acendido as luzes. Deve ser por ocasião do horário de verão.
Comprei só quatro pãezinhos de chocolate ( bom, eu não ia sair de Guarulhos para comprar pão francês no Souza, né? ) porque também é muito caro, quase dez reais.
Na hora de pagar, dei o dinheiro e como estava tudo meio escuro e eu não enxergava os calendários dentro de saquinho plástico, perguntei pro moço: "Moço, tem calendário?"
Tomei um baita susto quando ele perguntou pro Souza, que estava ali em pé num canto, na penumbra se tinha feito calendário este ano.
O Souza disse que não, que não mandou fazer.
Nem tive como ficar brava. Era de fazer pena olhar pro Souza, mesmo na penumbra, ouvir a voz do Souza que era só tristeza.
Não tinha mesmo como ter calendário. O Souza está muito entristecido por causa que o time dele, a Portuguesa Esporte Clube, a Lusa amada e querida, foi rebaixada para a segunda divisão do futebol.
Caiu a Lusa, caiu o Souza e soube também que todos os donos de padaria, em protesto, não mandaram fazer calendário. Nem o pão está saindo direito...
Penso que o advogado de defesa, deveria alegar caso de saúde pública. Os portugueses estão evoluindo para depressão. É muito grave. Eu vi como estava o Souza.

Volto para casa, depois de ir tão longe, sem um calendário sequer.
Resta-me ainda uma esperança: o carnê do IPTU.
Geralmente na contra capa vem um calendário. Recorto e grudo na geladeira.
Só falta eles mandarem o carnê com aumento e esquecerem do calendário.

Feliz Natal

Feliz Natal em imagens:






Feliz natal em mensagem:

por e-mail, enviaram-me esta mensagem semeada pela escritora Angela Lago no facebook; compartilho aqui.


Oi amigos e colegas de Facebook! Fazemos parte do mesmo grão de poeira azul que roda no universo, e isso deve ser bastante para nos chamarmos de amigos. Estamos juntos no mesmo barco. E no mesmo oceano. Na mesma dimensão miúda da ventania que chamamos tempo. Porque há outras dimensões maiores que não somos capazes de compreender mas que batem nas janelas na época do natal e nos deixam à flor da pele. Sem pele. Eufóricos e melancólicos. Ou sou só eu que, ressentidamente amorosa, aceno a todos? Feliz natal! Feliz Natal!
Angela Lago

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O bom velhinho


O bom velhinho foi levado hoje ao hospital. Ao pronto socorro de um hospital público.
A lista de suas mazelas é imensa.
O doutor faz mais de uma tentativa de conversar com o bom velhinho; é imediatamente interrompido pelo acompanhante que sentencia: “já não diz coisa com coisa, doutor.”
O médico muito experiente em épocas natalinas já sabe o prognóstico, mas precisa cumprir o protocolo.
Algum exame, uma hidratação por soro, mas ele já conhece e nada há para se fazer.

O bom velhinho é acomodado, palavra esta que não cabe bem em maca tão estreita e dura. Entre um papel a mais a preencher e carimbar, acontece.

O bom velhinho talvez já saiba...

Não há lugar para ele nas festividades de final de ano. Então ele é acomodado ali mesmo no pronto socorro.
E o que ocorre depois também está no protocolo: o doutor reexamina e é visível a melhora; autoriza a alta. A enfermeira tenta localizar o acompanhante imaginando que o mesmo tenha apenas ido no bar ali da frente beber um guaraná, faz calor. Anoitece, troca o plantão, o bom velhinho ocupando uma vaga de uma maca, passa então para um leito. Na manhã seguinte, a assistente social assume a tarefa. Ela também já sabe.
Não há vaga para o bom velhinho na casa que ele comprou. Cuidam muito bem do cartão de benefício social, mas não há como cuidar do dono do cartão.
Os telefones que deixaram anotados na ficha estão emudecidos. O bom velhinho diz não se lembrar o endereço. Talvez seja melhor assim.

Não se sabe se o bom velhinho foi realmente bom. Se ele não foi, o que se poderá esperar dos outros tantos, dezenas deles que até a véspera do Natal serão deixados ali até dois ou três de janeiro?

O médico, visivelmente exausto de ouvir tantas histórias camufladas, senta-se sozinho na pequena sala de consultas, pega uma folha de receituário e escreve sua carta para o Bom Velhinho:

Não sei se foram no passado bons ou maus. No presente sei que não há vaga no coração, no seio da família para todos esses bons velhinhos internados, deixados aqui. Muitos precisam de cuidados específicos, outros precisam apenas que a música toque mais baixo e que tivesse um pouco menos de sal na sua ceia. Tanto se fez; acertos, erros também. Uma companhia que lhe segure a mão é tão difícil assim?
Bom Velhinho não me deixe nunca esquecer dos velhos que me cercam, do velho que eu serei”.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Não mexe aí

Essa é a frase, que nós adultos, mais falamos para as crianças desde que chegamos ao Rio de Janeiro - "Não mexe aí."
As crianças são bem boazinhas. Mas sabe como é, uma novidade, algo nunca antes visto. Sempre bom manter a vigilância.

Nosso sobrinho gentilmente nos cedeu o apartamento que divide com um colega de faculdade e foi se arranjar em outros cantos.

O skate deixado num canto da varanda foi o primeiro alvo do "não mexe aí". Nunca tiveram um skate tão próximo de suas mãos e pés. Natural quererem subir ali. Mas...
Tombo, braço quebrado, nem pensar.

Depois minha filha encontrou um pandeiro e outros instrumentos de percussão.
"Não mexe aí. Não pode fazer barulho, olha os vizinhos".

Depois destes impactos iniciais, comportaram-se de maneira excelente.

Numa tarde, após um descanso, meu filho foi tomar um banho, a menina ainda dormia, eu olhava para o teto, marido comia alguma coisinha.
Foi então que meu olhar saiu do teto e foi para debaixo da cama.

Ora, ora, o que eu encontro. Uma caixa com um megafone.
Esses universitários são mesmo surpreendentes.
Imediatamente ocorreu-me uma ideia: fotografar o objeto.
Sei lá, pode aparecer um concurso de fotos de megafone, nunca se sabe.

Chamei o marido e expus minha ideia.
Marido já foi se agachando e tirando o objeto da caixa.
Eu fui preparando a máquina fotográfica. Queria um bom enquadramento, com boa luz.
Marido disse que era muito pesado o tal megafone.
E então aconteceu.

Marido quis testar o tal.
Empurrou um botão.

O menino que estava no banho, saiu pelado escorrendo água por tudo. A menina acordou gritando. Marido se sacudia como nunca antes eu tinha visto. 

O tal botãozinho ativou uma sirene de caminhão de bombeiro da mais alta potência.
Era uau uau uau na escala mais alta dos decibéis.
O pior é que com o impacto do susto, marido não conseguia desligar o botão.

Assim que o silêncio se fez presente, não por completo, porque era perfeitamente possível ouvir o coração de cada um qual um pandeiro, começamos a rir.

Marido tremia, eu não parava de rir, mas a foto saiu!


Não mexe aí menino!



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sob meus pés


Era um sonho que eu queria realizar desde os tempos de menina, quando ainda na escola, nas aulas de História do Brasil, surgia no livro uma imagem do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
E lá eu pisei.
E foi com muito desconforto.
Foi digamos, como pisar em ovos...
Não, não, nada a ver com sapatos, bolhas nos pés, nada disso.
O meu incômodo em caminhar pelas aleias se deu foi por conta dos mortos.




A menos de um mês da viagem, eu não poderia ter lido a crônica de Rui Castro...
Para resumir a história: uma amiga dele foi lá no Jardim Botânico e ao encostar em uma árvore, olhou para as raízes da mesma, para seus pés e o que ela encontrou? Cinzas funerárias.

Fiquei com aquilo na cabeça e nos pés. Andava procurando o tal pó amarelo. É uma sensação estranha saber que você está pisoteando um ente querido de alguém.
Queria relaxar como fizeram marido e filho. Não consegui.




O lugar é de uma beleza espetacular. Induz mesmo o sujeito em vida dizer: quando morrer, jogue minhas cinzas por lá.
Sabe, que eu mesma, ao encontrar flor de rara beleza, quase, por uma fração de segundo tive esse pensamento: joguem-me aos pés da flor.


Mas pensando no meu desconforto, não quero estendê-lo para ninguém.
Deveriam modernizar as placas de informações e logo abaixo da imagem do cachorrinho com um X por cima, deveriam sinalizar também - proibido entrar com urnas funerárias.

Quer saber, me deixem lá no alto de uma nuvem a balançar.








quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Verbo enfiar - conjugações

Enfiamos o cachorro na mala




Enfiamos os relógios na gaveta


Enfiamos o pé na jaca


Enfiamos os pés nas chinelas


Filho, marido e sobrinho conjugaram o verbo enfiar para com o árbitro do jogo Flamengo x Cruzeiro - 1 x 1 ( mas isso não pode no blog! )






Onde estamos enfiados?


Aqui! Maravilhosa cidade!


* Sobre o cachorro: ele se enfiou na mala, porém foi retirado.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Cama de casal


O pai incumbiu os dois filhos da ordenha das vacas e o mais velho ficou encarregado do agrotóxico na plantação.
Não deixa de usar luva e óculos. Seu Genésio passa aqui ainda hoje para trazer a máscara que eu pedi pra trazer lá da cidade. Vamos ficar só uns dois dias.”
Já estava colocando o chapéu na cabeça, mas a mulher advertiu que lá na cidade grande não se usava essas coisas. Dependurou-o de volta.
Viagem de seis horas.
A filha, moça estudada na maior capital do país, morou durante dois anos com os tios. Moça esforçada, trabalhadeira e econômica, comprou um apartamento.
Pequeno, é fato. Só um dormitório. Um bom começo, dizem.
Os pais, deixaram o sítio para ajudar a moça na mudança.
Ela não cabia em si pela conquista. Os pais, orgulhosos pela filha estudada e esforçada.
Chegaram cedinho e começaram a desmontar as caixas, chaves de fenda espalhadas, furadeira. E foi tomando forma o novo lar da moça.
Primeiro a cozinha; na sala de um sofá de dois lugares e uma cadeira, a cortina. Pediu comida pronta para entrega. Enquanto almoçavam, ligação no celular.
É o colchão. Vão trazer hoje à tarde”. Voz de felicidade quase infantil da moça.
Lavaram os pratos simples. O pai achou melhor deixar o café para mais tarde e foi montar o quarto.
Um pouco trabalhoso o guarda-roupa, mas jeitoso que era, logo estava empertigado o móvel.
A filha com a mãe trouxeram a cabeceira da cama que estava embalada e acomodada na lavanderia e a moça com o auxílio do pai foi desembalando.
Papelão, plástico bolha que a mãe ia rapidamente recolhendo e o semblante do pai modificou.
Quer parar um pouco? Vamos passar um café? Está tudo bem?”
O velho apenas disse que queria continuar para terminar logo. O aperto que sentiu no peito não ousou demonstrar. Aquela cabeceira era grande demais para a sua menina. Era uma cama de casal.
A moça, percebendo o desconforto paterno, tratou de arrumar a situação - “quando você vierem me visitar, já tem onde dormir, aqui na minha cama”.
Tentou entoar uma exclamação na fala, mas no fundo sabia o que se passava na cabeça do pai.

Era para ficarem mais um dia. O homem disse desculpas de quem se atarefa com a terra e partiram no comecinho da noite.
Para a mulher apenas reclamou a falta do chapéu. Seu velho chapéu que tão bem compreendia sua maneira de pensar.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Meia vazia

Época de escrever e enviar cartas para o Papai Noel.
Só que algo surpreendente aconteceu: desta vez é o Papai Noel que nos escreve, ou melhor, como o Bom Velhinho vive na chamada "era digital", lançou mão de um vídeo postado em grande rede social, para alertar sobre o aquecimento global.
No vídeo, ele aparece com fisionomia exausta, suando, em total desalento e sentencia:

"Não há alternativas a não ser cancelar o Natal. Escrevi aos presidentes Obana, Putin e outros líderes mundiais, mas só houve indiferença.
Minha casa no Ártico está desaparecendo rapidamente e, a menos que todos nós ajamos rapidamente, eu tenho que avisá-los da possibilidade de uma meia vazia pra sempre. Por favor, ajude-me."

Esta é uma campanha da Ong Greenpeace e embora tenha "todas" conotações políticas e trate especificamente de alertar para o derretimento do Ártico, gostaria de trazê-la para o nosso contexto, que, claro, não está separado do Polo Norte, mas eu usaria este apelo do Papai Noel para falar dos nossos recursos tão mal usados, para a destruição da nossa Amazônia, para a falta de água no Norte e Nordeste, para as enchentes e tragédias que já começaram a acontecer aqui para baixo.

E se você fosse o Papai Noel, o que pediria?



Mais sobre a reportagem aqui