O
bom velhinho foi levado hoje ao hospital. Ao pronto socorro de um
hospital público.
A
lista de suas mazelas é imensa.
O
doutor faz mais de uma tentativa de conversar com o bom velhinho; é
imediatamente interrompido pelo acompanhante que sentencia: “já
não diz coisa com coisa, doutor.”
O
médico muito experiente em épocas natalinas já sabe o prognóstico,
mas precisa cumprir o protocolo.
Algum
exame, uma hidratação por soro, mas ele já conhece e nada há para
se fazer.
O
bom velhinho é acomodado, palavra esta que não cabe bem em maca tão
estreita e dura. Entre um papel a mais a preencher e carimbar,
acontece.
O
bom velhinho talvez já saiba...
Não
há lugar para ele nas festividades de final de ano. Então ele é
acomodado ali mesmo no pronto socorro.
E
o que ocorre depois também está no protocolo: o doutor reexamina e
é visível a melhora; autoriza a alta. A enfermeira tenta localizar
o acompanhante imaginando que o mesmo tenha apenas ido no bar ali da
frente beber um guaraná, faz calor. Anoitece, troca o plantão, o
bom velhinho ocupando uma vaga de uma maca, passa então para um
leito. Na manhã seguinte, a assistente social assume a tarefa. Ela
também já sabe.
Não
há vaga para o bom velhinho na casa que ele comprou. Cuidam muito
bem do cartão de benefício social, mas não há como cuidar do dono
do cartão.
Os
telefones que deixaram anotados na ficha estão emudecidos. O bom
velhinho diz não se lembrar o endereço. Talvez seja melhor assim.
Não
se sabe se o bom velhinho foi realmente bom. Se ele não foi, o que
se poderá esperar dos outros tantos, dezenas deles que até a
véspera do Natal serão deixados ali até dois ou três de janeiro?
O
médico, visivelmente exausto de ouvir tantas histórias camufladas,
senta-se sozinho na pequena sala de consultas, pega uma folha de
receituário e escreve sua carta para o Bom Velhinho:
“Não
sei se foram no passado bons ou maus. No presente sei que não há
vaga no coração, no seio da família para todos esses bons
velhinhos internados, deixados aqui. Muitos precisam de cuidados
específicos, outros precisam apenas que a música toque mais baixo e
que tivesse um pouco menos de sal na sua ceia. Tanto se fez; acertos,
erros também. Uma companhia que lhe segure a mão é tão difícil
assim?
Bom
Velhinho não me deixe nunca esquecer dos velhos que me cercam, do
velho que eu serei”.
Lindo,real e emocionante!!Tantos velhinhos vivem assim...beijos,tudo de bom,chica e que as coisas possam mudar um dia pra todos eles...
ResponderExcluirTriste realidade. O abandono dos nossos velhos é como se não tivéssemos respeito e amor pelas nossas raízes.
ResponderExcluirOi Ana Paula
ResponderExcluirLindo e comovente conto
Um feliz natal com muito amor e harmonia e que 2014 chegue trazendo alegrias e nos oportunize estreitar os nossos laços de amizade. Obrigada pela maravilhosa companhia e por seu imenso carinho em 2013. Ofereço-lhe o Prêmio Blog Amigo. Acesse este link http://gracitamensagens.blogspot.com.br/ e pegue o seu.
Beijos com carinho e ternura
Velhinhos e velhinhas ADORO!
ResponderExcluirE respeito mais do que quem chama por respeito de idosos ou pessoas da terceira idade.
Tinha td ano na minha escola um café da manhã e cestas p idosos, eu amava ajudar
Amava e ainda amo meu avó que hj é uma estrela e minha avó que daqui vive nas nuvens, dentre outros idosos próximos e distantes.
Gosto da coleção de histórias e sabedorias. Como os indios vejo nos mais antigos fontes de nossas vidas, culturas, costumes. Pessoas frágeis e guerreiras, sejam doces, amáveis ou ranzinzas, antiguidade é posto.
Conto com Deus para minha velhice, marido, filho, amigas(os) talvez, mas que fique minha memória, visão para ler, observar, audição, paladar e gerações melhores para ter com quem meu passado deixar.
Seu texto me fez lembrar várias coisas. Uma delas foi a festa do vovô, na minha antiga escola do ensino médio. Fui voluntário. Nunca pensei que além de servir maçãs, pães recheados e sucos, eu iria escutar histórias. Algumas comoventes ao extremo, que tive que segurar as lágrimas com muito esforço, porque eram cúmulos do abandono e do descaso. Outras tão alegres e engraçadas que fazia a gente rir até doer a barriga. Infelizmente, hoje, os bons velhinhos não vão para o asilo somente quando não tem com quem ficar. Eles vão para livrar entes de responsabilidade e isso é terrível. O que faz uma pessoa achar que estará livre da velhice? É um egoísmo tamanho, um desafeto... Chega a ser inclassificável!
ResponderExcluirA segunda coisa que me lembrou teu texto foi a minha vó Maria lá de Minas. Ela já não está completamente lúcida, mas no Natal passado estava tão comunicativa, esperta, feliz, risonha, que foi o maior presente que recebi naquele Natal.
Beijo!
Oi Ana Paula,
ResponderExcluirNão sei se vocÊ recebeu meu e-mail, não estava conseguindo acessar a página de comentários, mas hoje funcionou!
Este conto é muito triste, mostra uma dura realidade, espero que nós, como espécie, possamos evoluir de forma a valorizar a vida em todas as suas formas.
Aproveito para te desejar um Feliz Natal e que 2014 traga muitas alegrias.
Bjs
Olá, querida Ana Paula,
ResponderExcluirHá tanto por fazer! Somos cercados por tristeza, por abandono, mas temos de acreditar no bom Velhinho que mora dentro de nós! Podemos construir boas histórias reais! Parabéns por trazer a reflexão! Quero te desejar, de coração, um ótimo Natal em família, que seja azul e mágico! Obrigada pela companhia e carinho ao longo deste ano! :)
Oi, Ana! Texto maravilhoso, muito bem escrito! Ler que se queria a música um pouco mais baixa e a comida com pouco sal fez-me lembrar de minha saudosa avó... idoso querem carinho e paciência. Presentes ao alcance de quem se dispõe à empatia.
ResponderExcluirDesejo um Natal alegre, com paz e saúde, e um 2014 que tornem sonhos, realizações, com fé e coragem sempre. Um abraço!
Ana Paula, além de admirá-la pela boa escrita admiro muito também pela boa ideia que o seu bom coração teve de abordar esse assunto. Fico bastante emocionado ao ler isso e tenho enxergado pelos meus voluntariados do dia a dia que isso é uma realidade e que agora com o aumento da perspectiva de vida os bons velhinhos devem dar prejuízo para o país e essa prática tende a aumentar. Pelo menos ouço falar muito que os bons velhinhos não são produtivos.
ResponderExcluirLinda a sua postagem.
Beijo,
Manoel
Gostei. Belo registo!
ResponderExcluirQue lindo, Ana!
ResponderExcluirQue triste, mas é a realidade de alguns, infelizmente...
Menina, vim te desejar um Feliz Natal e um Ano Novo maravilhoso, junto com sua família!
Ano que vem estaremos por aqui de novo!
Beijos
Ana alem de ser um bom texto a tua ideia é genial. Desejo a ti e família um Santo e Feliz Natal. Beijos.
ResponderExcluirÉ NATAL
O Céu se iluminou…
E uma estrela apareceu;
Os anjos cantam hinos:
Nasceu o filho de Deus.
Numa gruta em Belém…
Veio ao mundo o salvador;
Trazendo eu suas mãos:
A verdade paz e amor.
Seu berço foi uma Manjedoura…
Pobrezinha sem igual;
Que as bênçãos do Deus menino:
Se renovem neste Natal.
Autor: Santa Cruz (Diácono Gomes)
Deposito Legal Nº 308606/10 ISBN Nº 978-989-8261-88-5