domingo, 21 de abril de 2024

Mãos

 Eu deveria começar esta carta com o clássico cabeçalho - nome da cidade, uma vírgula seguida pelo número corresponde à data, o mês, o ano. Poderia tentar ser poética e descrever o céu, nublado, azul, ensolarado ou simplesmente dizer, céu de outono.

Escolhi começá-la desta maneira:


Você me ofereceu a tua mão num gesto que jamais esquecerei e sempre honrarei.

Você me ofereceu a sua mão e eu a segurei por um tempo em que os cálculos se desfazem. Eu a segurei enquanto meu corpo nu estava coberto por panos estéreis, enquanto os sons da máquinas anunciavam minha pressão arterial, meus batimentos cardíacos, minha saturação. Eu apertava a tua mão enquanto ouvia "respira, respira bem fundo".

Eu respirava e apertava minha mão na sua para dizer que era tão importante esse cuidado que você estava tendo comigo. Poder tocar a tua mão era expressão de gratidão.

Não havia palavras, a máscara tomava-me o nariz e a boca. Eu segurava a tua mão porque em mim misturavam-se o medo, a insegurança, a fé, a alegria de ser cuidada, a esperança. A sala de cirurgia, o câncer em meu seio, a anestesia geral.

Você me ofereceu a tua mão e eu a segurei com força pelo tempo que os anestésicos não me adormeceram. E depois suas mãos ofereceram ao meu corpo suas habilidades cirúrgicas. Eram as suas mãos e as da sua esposa, vocês me operaram juntos. Eram as mãos do anestesista, das enfermeiras, das faxineiras que deixam todo o ambiente limpo.

Sou grata a todos. A todas essas mãos.

Fico preenchida de alegria por saber que você já ofereceu a tua mão para tantas outras pacientes e oferecerá ainda para tantas outras do futuro. Passado, presente, futuro, todas cuidadas, com carinho, com amor. Algo difícil de encontrar.

Ao estender a tua mão você cuidou da minha fragilidade, do meu medo, da minha gratidão. Você se fez presença. Tuas mãos, expressão de cuidado, de afeto, de precisão cirúrgica.

Jamais me esquecerei que naquele domingo, 14 de abril de 2024, sua mão foi um bálsamo que acalmou o meu ser. Obrigada. Meu sempre, muito obrigada.


No dia 13 de março de 2024 fui diagnosticada com um câncer de mama, no dia 14 de abril fui operada. Hoje faz uma semana. Estou me recuperando bem e é preciso aguardar resultados de exames para que seja definido o tratamento.


Na minha primeira caminhada curtinha após a cirurgia, o encantamento por essa luz, o verde, o dentro, o fora da folha, me fez parar e pedi para meu marido que fotografasse.


quinta-feira, 18 de abril de 2024

Retrato na parede

 Fizemos um passeio analógico. Deslocamo-nos da nossa cidade para a capital com um único objetivo: revelar uma fotografia.

A verdade é que não fomos "revelar" e sendo assim o tal passeio analógico também não se encaixa aqui. Acho que foram os tempos saudosos ou o filme " Dias Perfeitos" que me inclinaram a começar esse texto usando as palavras revelar e analógico.

Não havia filme, negativos, 12,24 ou 36 poses.

Houve uma visita que recebemos em casa com alegria e no entusiasmo do café coado, risadas, um deles tirou o celular do bolso e anunciou que havia encontrado fotografias do "padrinho e da madrinha" num site de linhagem familiar.

As xícaras e copos ( as visitas gostam mesmo é de beber café no copo de bar ) eram pousados; óculos foram necessários. Vez por outra a tela do celular apagava, era preciso passar o aparelho, feito brincadeira de passa-anel até o dono estabelecer novamente o retrato.

Então eu me lembrei que meu computador também abrigava um retrato, em condições melhores do que aquele encontrado por nossos visitantes.

Não tinha certeza se encontraria. Admito que há considerável bagunça em meus arquivos.

Retornei para a cozinha com o notebook em mãos, aberto, a fotografia ocupando toda a tela.

O entusiamo foi geral e tão grande que acharam não caber ali na cozinha e todos se deslocaram para a sala.

Os copos americanos e as xícaras se acomodaram na pia, as visitas se acomodaram nos sofás e o retrato foi acomodado sobre  joelhos e pernas. Até as lembranças tristes tinham traços de alegria.

Enquanto lavava as xícaras e os copos, meu marido foi invadido por pensamentos analógicos.

"A gente precisava dar um jeito de revelar essa foto, fazer um quadro bem grande, precisava encontrar um lugar bom que fizesse isso".

A foto em questão foi tirada em 2014 com um celular que, comparado com os de hoje, deixava muito a desejar.

Lembrei-me de um local, entrei em contato, explanei a situação e perguntei se era possível.

Fiz tudo em segredo e quando ficou pronto anunciei que precisaríamos ir à capital para buscar o retrato.

Encantou-nos o resultado! E também encantou à moça que nos atendeu.

Ela vestiu luvas para tocar na fotografia e enquanto percorria os dedos, percebeu algo ali e indagou: "nessa fotografia, são todos irmãos?"

"Doze. E estamos todos vivos. O casalzinho aí no centro, é o papai e a mamãe, eles já se foram, e nós seguimos aqui.

"Doze?!" A moça misturou a pergunta e a admiração.

Seus dedos deslizavam suaves dentro do tecido branco indo de encontro às orientações que meu marido lhe falava.

"80 anos a mais velha, ali, ali à direita lá em cima"

"Você é o caçula dos homens? Sou sim. Me fala a ordem em que nasceram. Nossa! Nossa!

O lugar que nos fez o excelente retrato é muito procurado para serviços de museus e galerias e fotográfos profissionais.

Há fotos lindas espalhadas pelo ambiente.

Mas aquela foto tão caseira, tão café preto no copo de vidro de uma família que conseguiu se reunir e se abraçar, encantou o coração até de quem está acostumado com obras de arte!

Saímos de lá e fomos escolher a moldura:






Marido em estado de encantamento!

Logo será colocado na parede.

" Para não esquecer, para voltar de vez em quando, pelo tempo de um olhar" Valérie Perrin






quinta-feira, 4 de abril de 2024

A história da medalha

 Popô era o carinhoso nome que demos para o nosso carro. O Popô ficou conosco muito tempo. Era surradinho e sendo assim, nós o poupávamos de grandes esforços. De casa para o trabalho, do trabalho para casa e idas ao mercado.

"Nossos sobrinhos nos convidaram para irmos viajar, vamos?"

"Ih, o carrinho não aguenta, tadinho do Popô é muito puxado para ele pegar estrada; ele é mesmo só de andar por aqui".

Assim foi por vários anos, até que recentemente chegou-nos um outro carro - ainda sem nome carinhoso - e nós nos despedimos do Popô, desejando que faça seu novo condutor tão ou mais feliz do que fomos com ele!

Inauguramos o carro novo ( que na verdade é usado ) fazendo uma pequena viagem, duas horas e meia até Aparecida.

Embora não houvesse muito o que planejar, eu quis incrementar um pouquinho o passeio sugeri a marido que passássemos na ida numa cidadezinha próxima ao nosso destino para conhecermos o Mosteiro da Sagrada Face.

Nunca tínhamos ouvido falar desse mosteiro, e ele tem uma história bem peculiar. Ao final da postagem colocarei o link para quem quiser conhecer de maneira correta a história porque ela é bastante interessante.

Bem resumidamente, freiras pediram a um padre que pintasse para elas num tecido a face de Cristo pois elas fariam uma procissão. 

Sem habilidade artística nenhuma e sem jeito de falar não para as irmãs, ele aceitou a tarefa.

Bem, bom não ficou! Mas é aí que a história se torna interessante. O padre fez o desenho e o deixou lá paradinho. Quando as freiras vieram para buscá-lo e ele levantou o pano para mostrar-lhes, foi uma surpresa geral. Do outro lado do tecido, surgiu uma face muito melhor que a do padre.

Questão de fé ou não, mistério ou não, isso vai de cada um.

Chegamos ao local que é bonito, muito silencioso, lá dentro apenas nós e a moça que fazia a limpeza.

Vimos o tecido exposto e já saindo, havia uma pequena lojinha. Falei para marido que eu iria entrar e comprar algo para ajudar o local, que é bastante simples.

Olhei, olhei e peguei uma vela. Como eu iria pagar com dinheiro/nota e não tinha muito, peguei uma vela baratinha.

Nisso marido apareceu e riu - " como você quer ajudar e pega a vela mais barata?! Vou levar uma para mim também". E ele pegou a mais cara.

Levei uns dias ainda depois do nosso passeio para acender a minha vela. Fiz minhas preces perante a chama acesa e segui meu dia.

Lá pela tarde, entrei no quarto e passei um olho para ver se estava tudo tranquilo com minha vela queimado. Mesmo com prato grande por baixo dela, é prudente cuidar.

Nesse olhar de soslaio eu percebi algo escuro e estranho junto ao pavio, a cera derretida e o fogo. Quando me aproximei, uma surpresa!

Havia uma medalha ali imersa na cera derretida. Gritei para que marido trouxesse um palito de dente. Ele veio na hora e entre uma estranheza, interrogações, resgatou a medalhinha da cera.

Na hora nem lembramos de fotografar. Ele estava bem " cabreiro". Nossa, a sua vela era a mais baratinha e veio com essa medalha? Então a minha vai ter além da medalha até a correntinha!


E assim marido pôs a vela dele a queimar. Era uma vela bem elaborada, para ser queimada dentro da caixinha. Levou dias para terminar e durante esses dias ele ia e vinha do quarto! 
"É, até agora nada".

Nada surgiu da vela do marido!

Fica tudo pela interpretação que cada um quiser dar ao fato!
Fato é: ganhei uma medalhinha de uma maneira bem inusitada!


Bom final de semana a todos!

Aqui o link para saber mais sobre o Mosteiro da Sagrada Face.






quarta-feira, 3 de abril de 2024

Ju faz 19!

Hoje, 03 de abril, é dia de celebrar a vida da minha filha!

 


Esse é o primeiro aniversário em que estamos passando, geograficamente, longe.
Júlia está lá em Belo Horizonte, onde faz faculdade. Nós, aqui em São Paulo.
E estamos muito felizes pelo caminho que ela está trilhando.

O sorriso da Júlia traz toda uma alegria que envolve quem está por perto! Isso é o que eu desejo a ela neste aniversário: espalhe teu sorriso, mesmo quando dias difíceis chegarem, se esforce para sorrir.

Feliz aniversário filha!

Seleção de fotinhos com pessoas muito queridas!











segunda-feira, 1 de abril de 2024

Um novo olhar

 Todo mundo sabe usar o olhar amoroso quando está apaixonado, quando vê um bebê recém-nascido ou um animal bem bonitinho.

Por que não usamos esse olhar amoroso com mais frequência? *



Essa indagação encontrei na leitura de um livro e fiquei a refletir sobre essa pergunta de usarmos esse olhar amoroso, não o romântico, mas um olhar carregado de afeto, de serenidade com mais frequência, de um jeito mais corriqueiro.

O livro segue dizendo que quando paramos para refletir, vamos perceber que nosso olhar para as coisas e pessoas, não é amoroso.
Ou é neutro, ou é um tanto negativo e crítico.

E a autora cita exemplos: " ao entrar numa sala, a primeira coisa que reparamos é que o carpete está precisando de uma boa limpeza".

Usamos uma gama variada de olhares - passamos do olhar irritado para o crítico, para o impessoal, o pessoal, o gentil, o amoroso. O olhar que escolhemos dá o tom da nossa percepção de mundo, alterando-a de hostil para acolhedora.

Nem sempre é fácil entregar nosso olhar gentil e amoroso. Muitas vezes é necessário mesmo um olhar mais duro, porém é fato que se vivermos apenas com o olhar ausente de amor, de afeto, o mundo se torna um lugar hostil.

" Os olhos que escolhemos utilizar têm efeito sobre a nossa felicidade e a felicidade dos seres que olhamos".

Neste abril que nos acena com seu início, possamos derramar mais olhares amorosos pelos nossos caminhos!

Bem-vindo abril!


* Jan Chozen Bays

sábado, 30 de março de 2024

Feliz Páscoa

 Houve, há e haverá um caminho até que cheguemos a exclamar Feliz Páscoa. Que possamos sempre nos recordar.


Feliz Páscoa!


Orvieto Itália 2023


terça-feira, 26 de março de 2024

Na sala das velas

 


Santuário de Aparecida

Pus-me ali - Sala das Velas - assim foi nomeada.
Prece, pedido, desespero, gratidão, agradecimento, oração, devoção, esperança, dor, alegria, medo, promessa, silêncio.
Na Sala das Velas tantos outros nomes caberiam.
Pus-me ali em contemplação.
Não levei vela, não acendi na corrente de luz, uma passando a outra.
Pus-me ali em silêncio.
Silêncio poderia ser outro nome para a Sala das Velas.
Um silêncio permeado de murmúrios, estalidos do fogo crepitando com suavidade, o vento que se nota no tremeluzir.
Silêncio com odor.
Pus-me ali a contemplar a beleza imensa.
Cada chama uma particularidade, ainda assim tão iguais na angústia, na felicidade, no desejo, no sonho, tudo tão cheio de ternura.
A luz que nos eleva e me fez desejar que cada lágrima escorrida de uma vela seja também a alegria de todos que ali passam.

quinta-feira, 21 de março de 2024

A maior hora do planeta

🌎 Pode apenas uma hora mudar o planeta?🌎


Está chegando a hora do planeta 2024. Próximo sábado, 23 de março às 20:30h, apague as luzes por uma hora. Uma hora de cuidado e amor pelo planeta.

Ano passado eu me esqueci. Neste ano,  motivos tristes e ainda assim esperançosos me fazem lembrar e querer participar.

Chegamos ao outono exaustos de tamanho calor. O verão mais quente sinalizando vários colapsos.

Apagar as luzes por uma hora é um gesto simbólico.

Mas é um movimento que nos inspira a olhar para nossa casa comum - o planeta que habitamos. Em uma hora não vamos reverter e resolver, porém podemos refletir.

Podemos reafirmar nossos pequenos atos - reciclar lixo, escovar dentes com torneira fechada. É pouco. Pouco somado já é algo maior.

Momento de refletirmos sobre nossas atitudes, sobre a nossa cobrança do poder público, nossas escolhas na hora do voto - existem sim candidatos que ainda se importam com a natureza.

É desanimador, isso chega a ser um fato...

Talvez esse senso de união, de saber que vários países, que várias pessoas de culturas diferentes estarão também desligando suas luzes, nos traga um pouco de ânimo.

Muitos ainda se importam.

Até o Chico Bento, personagem criado por Maurício de Sousa, está participando da #AMaiorHoraDoPlaneta.




Vamos juntos?!

Sábado, 23 de março das 20:30 às 21:30h

quarta-feira, 20 de março de 2024

Bem-vindo outono

 Outono com poesia💛🌿


É chegado o outono! Estamos nas primeiras horas da nova estação!

Outono que na natureza é percebido pela mudança nas árvores, a luminosidade do céu, as frutas da estação, a temperatura mais amena. Tempo de recolhimento.

Acolhendo o convite da Rosélia para celebrarmos o Dia Mundial da Poesia, escolhi uma poesia da Miryan Lucy de Rezende, de seu livro Luas de Junho.

A fotografia foi de uma manhã de caminhada aqui pelos arredores.






Março

Abro as janelas e portas para março, que vem com suas águas de fechar o verão. Com sua chave dourada de abrir outono. Que pinta a minha vida com uma luz tão linda, que escorre das folhas, das fotografias e cai como chuva de fim de tarde sobre as minhas palavras.

Bem-vindo março. Chegue bem.

Que suas águas aumentem meu curso, me façam mais profunda para que eu continue rio que não corre em vão!





sexta-feira, 15 de março de 2024

Blogagem coletiva

 💙Botando a cabeça para funcionar 08💙



Botando a cabeça para funcionar é uma blogagem coletiva de todos os dias 5, 15 e 25 organizada pela Chica no blog Chica brinca de poesia onde através da imagem dada podemos nos inspirar em uma postagem ou mesmo nos comentários. Participem também!

A imagem é essa:


Peregrino que era, encontrar árvore tão aprazível, generosa em sombra, momento ideal para tirar a mochila das costas, aliviar os pés das pesadas botas. Um descanso, um alimento, um agradecimento pela inigualável beleza da Natureza.
Restabelecido seguia. Muitos passos, muitos quilômetros ainda até o seu destino de peregrinação. Sempre o olhar atento a buscar outro aconchego, outro colo verde, de raízes, tronco, galhos e folhas. Natureza é mãe, uma árvore, para o peregrino, é um colo de mãe.

Vou aproveitar essa postagem e costurá-la com uma outra!
Essa semana tivemos o Dia da Poesia Nacional ( 14 de março ) e no próximo dia 21 será a vez da Poesia Mundial.

Rosélia está fazendo uma festa com os poetas blogueiros! Espia lá!

Se você é " das antigas" aqui nos blogs, certamente vai se lembrar que muitas postagens já nos encantaram com poesia, frases, mensagens que eram assinadas por "Ana Jácomo". Alguém se lembra disso?

Também circulava no facebook e eu me recordo das especulações sobre quem era aquela pessoa, tão cheia de poesia que assinava por Ana Jácomo e não era encontrada em canto nenhum? Alguns falavam de pseudônimo, outros de um escritor fantasma.

Bem, o tempo passou e eu nem me lembrava mais da tal Ana Jácomo.

Até que...

Uma escritora que sigo no Instagram postou um stories assim:


Quando eu bati os olhos e vi Ana Jácomo, imediatamente me lembrei do quanto eu e muitas outras pessoas se encantavam com os escritos da moça!

Através daquele stories então foi possível chegar a essa pessoa que sempre admirei.

A página que ela mantém no instagram é uma delícia de passear e se banhar em poesia.

Vou colocar o link para você também poder apreciar!



Beijo e bom final de semana!











sábado, 2 de março de 2024

Devocional

 


Nessa semana tivemos o Dia Mundial da Oração, que acontece na primeira sexta-feira de março, e tivemos postagens muito interessantes aqui nos blogs.

E lá na She um convite simples, direto e por vezes nada fácil de aceitar.
Inspirada por esses textos, fotografias, histórias, quero puxar uma conversa sobre a prática dos devocionais.

A prática não é novidade. Consiste em tirar um momento do dia para se dedicar à leitura e reflexão de um texto sagrado. É geralmente associada à textos cristãos, mas pode ser feita por qualquer pessoa, mesmo que não pratique uma religião. Uma palavra para a prática dos devocionais é disciplina.

A novidade é que agora existem inúmeros aplicativos para celular com mensagens diárias e estão entre os mais baixados, além das muitas publicações de livros sobre o tema seja para a prática individual, com crianças ou em família.

Vou deixar também o link da matéria que eu li e que traz 18 livros devocionais contemplando além dos cristãos, um livro de matriz africana, um para budistas e até um devocionário com mensagens de plantas. Para conferir, aqui.

Você tem essa prática dos devocionais em sua rotina? Utiliza aplicativo, livro, a bíblia, segue perfis no instagram ligados ao tema? Me conte aí nos comentários, vou adorar saber o que te inspira!

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

De volta!

 Foi uma viagem inesperada, dessas que a gente faz a mala minutos antes de embarcar!

Minha filha Júlia divide apartamento com outras estudantes em Belo Horizonte. É bem difícil ela ficar sozinha, mas aconteceu e assim veio a possibilidade de ir visitá-la ficando apenas eu e ela no apartamento!

Uma delícia ter passado esses dias com a filhota. Nutrição de amor 💙

Conversamos muito, cozinhamos juntas, passeamos, andamos pelo bairro, pela faculdade onde ela estuda.

Com tudo foi decidido de última hora, entrei no ônibus, encarei umas dez horas de viagem e cheguei debaixo de chuva à noitinha com o inebriante perfume de uma árvore, um perfume que se misturou ao abraço da minha menina, nossos corações juntinhos.

Partilho fotos dos nossos momentos e vou de mansinho chegando nos blogs de vocês porque também estou cheia de saudade desse mundo tão gostoso de trocas, palavras, poesia, afetos.



Almoço num restaurante cheio de charme!


E não é que o pessoal tira mesmo um cochilo nessas redes depois de almoçar?!


Detalhes em uma das paredes do restaurante


Encanto de flor de um cactus

 
Árvores imensas pela faculdade.  


Hospital dentro do Campus


Pedacinhos da cidade que já me conquistou!


Foto tirada da rodoviária antes de vir embora


Entardecer que apreciamos juntas da janela do apartamento








sábado, 17 de fevereiro de 2024

O calendário das folhas.

Começou 🌿.

Foi essa marcação que fiz na página do calendário, no quadradinho que indicava - dia 12 de fevereiro - uma segunda-feira de carnaval. O verbo, significando o início e o desenho, desajeitado, de uma folha.

Depois, achei melhor acrescentar: "a cair".

Passei a manhã no quintal nos fundos da casa. Tanque, varal, prendedor de roupas, banana para os passarinhos; e foi somente quando o sol já se ajeitava para se pôr, que fui para a entrada de nossa casa. Lá estava um calendário diferente. A leitura do tempo feita de outra maneira.

Tomadinho de folhas caídas estava nosso quintal. Diferente das últimas semanas. Aquela escrita de folhas ali no chão, aprendi a reconhecer e tive a confirmação de marido, que me disse - "é, começou, a árvore já está esfriando, o outono já começou ali dentro dela, sua seiva já sabe, é chegado o tempo de deixar ir o verão e ir esfriando devagarinho. O outono se aproxima".



É uma enorme árvore que fica na rua, bem de frente à nossa casa. Em pouco tempo morando aqui, saída de um apartamento, estou aprendendo a reconhecer essa "escrita", esses ciclos da seiva, das raízes, dos galhos.

Sendo um ser de tamanho imenso, seus galhos ficam próximos, o vento também se encarrega de nos trazer as pequenas sílabas em forma de folhas que recobrem o chão nesse tempo tão abrangente ( tão além dos nossas marcações de datas ) do outono.

E é bastante estranho falar de outono quando o chão está sob o domínio dos confetes de carnaval, o calor exultante e lá no calendário grudado na porta da geladeira, o outono só chega dia 20 de março às 00;06h. 

Essa lida de ir lá para frente com a vassoura me é agradável. Muitas pessoas não gostam dessa trabalheira, ou ainda se expressam referindo-se às folhas que caem como "sujeira que as árvores fazem". Já eu, aprecio. A cada amanhecer e também ao entardecer, exercito a paciência, a admiração de tamanha sabedoria, de tantas lições que podem ser aprendidas apenas observando as estações chegando de maneira sutil na natureza.


Leva tempo, um tempo próprio para que ela fique assim e depois recomece novamente a verdejar.

O calendário, aquele que grudei na geladeira, é só uma ferramenta para aqueles, que como eu, tão urbana, tão do concreto e grandes cidades, com tanta desconexão da nossa mãe-natureza, quer adentrar nesse tempo que faz marcar, que se deixa escrever de outra maneira, com a caligrafia das folhas.




Me conta como você sente a chegada, a transição das estações? Quero muito saber!

Bom final de semana!









segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Uma árvore cheia de histórias

 


Conseguira o emprego: desvendar a história de cada um dos vasos, de cada flor, folhagem, colocados ali naquela árvore.
O horário cabia a ele fazer - e no primeiro dia escolheu ir bem cedo, evitando assim o movimento dos transeuntes.

Pouco antes das seis da manhã, estava puxando papo com o porteiro do prédio ao qual a árvore enfeitada ficava bem em frente.

Apresentou-se, explicou sobre o trabalho que tinha a fazer e iniciou as perguntas.

 - Olha moço, eu sou novato aqui no prédio. Comecei tem dois meses, mas eu sei da história daquele ali, bem lá no alto, à direita, o da folha pontuda - nesse momento o porteiro estava entre o portão e a calçada/passeio-público, apontando e falando -  O gato da dona Lúcia, não se sabe como, foi parar lá no alto da árvore e cadê do bichano dar conta de descer? Num teve jeito, teve que chamar o bombeiro. E aí a dona Lúcia foi logo pedindo pra ele salvar o gato e fazer a gentileza de aproveitar que ia subir lá nas alturas e levar um vasinho para amarrar bem no alto, antes de descer com o gato. E num é que o bombeiro pendurou a planta e desceu com o gato?!

Saiu de lá com sua primeira história e a recomendação de voltar à noite e tentar falar com o Seu Euclídes, que era um dos moradores mais antigos e certamente deveria guardar na memória várias histórias.

Aproveitou que estava a uma quadra da praia, deu uma caminhada na orla enquanto pensava na história do gato e da dona Lúcia e o bombeiro. Estava animado com seu emprego!

Voltou à noite, porém seu Euclídes estava indisposto e só foi recebê-lo mais para o final da semana. Conversaram tanto que nem viram a hora passar e assim a lua já estava alta e Seu Euclídes sugeriu que ele viesse no domingo pela manhã, à luz do dia, assim poderia ver, fotografar e anotar.

 - Aquela lá, conta um, dois, três, lá do alto para baixo. Dá um zoom aí no celular, essa, essa mesmo. Lembro como se fosse hoje: ele tão jovem e forte, carregando a noiva em seus braços, de vestido branco e tudo, começando a vida aqui. No primeiro aniversário de casamento deles trouxe um vasinho para colocar ali, disse que daria flor todo ano, no mês em que eles casaram. Depois, cada vez que descobriam que a mulher estava grávida, pendurava outra flor. Foram quatro!
Se mudaram, mas muito tempo depois vieram me fazer uma visita e trouxeram dois vasos - seriam avós em pouco tempo e de gêmeos! Pediram que eu pendurasse. Cuidei das plantinhas até que um pintor apareceu ali no prédio vizinho e eu pedi a escada dele emprestada e eu mesmo amarrei bem lá no alto, pertinho daquela flor do casamento e agora a dos netinhos que estavam para nascer!

Dona Leontina, vendo os dois conversarem apontando para  a árvore, se aproximou e logo estava convidando o moço para contar as histórias que ela sabia.

 - Meu marido era um amante das plantas. Nosso apartamento parecia uma selva. Era folhagem, flor, bonsai e quando ele morreu... ah, como foi difícil quando ele morreu. Olhar para cada planta, ter que regar aqueles vasos todos, aquilo me despedaçava, sabe moço? Fui tirando uma a uma. Pedi pro zelador me ajudar. Muitas ele levou lá pra chácara da sogra dele e as mais miudinhas, ele me pediu se podia pendurar ali na árvore e eu disse que sim. Sabe moço, doía olhar para as plantas que meu marido cuidava com tanto zelo, só que ele era assim, amava o verde, então aos poucos eu fui sentindo meu coração se tranquilizar e pedi pro zelador pendurar mais de vinte vasinhos, aqui desse lado que dá para a janela do quarto que era nosso. Toda manhã eu abro a janela e vejo um pouquinho do meu marido ali naquelas folhinhas que ele tanto amava!

 - Tá vendo aquela orquídea? A amarela? Isso aí foi briga de namorado, das feias. Eu tava aqui fazendo meu trabalho na portaria e só vi quando a coitada da orquídea voou e foi para lá do outro lado da rua. Fui bem de mansinho lá, peguei a coitada, deixei lá atrás escondido e fui cuidando dela. O pessoal se mudou daqui, a orquídea se recuperou e deu umas quatro flor de uma vez. Uma belezura assim merece que muita gente possa ver. Pendurei ela aí e sabe que tem turista que para pra fotografar, tem homem de terno e gravata que fica aí apreciando antes de ir pro trabalho, tem senhora que traz adubo e pede pra eu colocar.

Entre chuvas, abelhas, joaninhas, passarinhos, momentos felizes, brigas de casal, morte, vida, bebês nascendo, assim aquela árvore, numa rua do Rio de Janeiro, carregava a sua própria história e tantas outras. O emprego do moço ainda durou muitos meses até que foi inaugurada uma exposição com fotografias de cada vaso, de cada planta ali colocada na árvore, acompanhada de textos. Moradores e porteiros orgulhosos das histórias que ajudaram a contar!




quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Da dor à ternura

 


Saber da importância dos livros, dos benefícios da leitura, a gente sabe, e é incrível quando nos deparamos com esses efeitos positivos de uma maneira tão concreta, tão real na vida das pessoas.
O livro Afetos Colaterais me trouxe isso com tanta ternura que não poderia deixar de trazer essa partilha aqui para o blog!

Bettina Bopp, a autora do livro, narra o tempo final vivido com sua mãe. Uma mãe que encontrou em seu caminho uma doença neurodegenerativa que afetou a sua memória ( não era Alzheimer e sim um dos efeitos do Parkinson ).

" Não era a mãe que eu conheci, mas também não era a mãe que me afastou. Era uma terceira mãe. Mãe-poeta. E eu gostei. "

Assim que a mãe de Betina começou a mostrar os primeiros sinais de uma memória confusa, a reação da filha, de quem ama e quer o melhor, foi corrigir, trazer a pessoa para a realidade. Difícil ver quem você ama nessa névoa que vai se tornando uma constante, um novo jeito de viver.

Não demorou muito para que a filha deixasse de tentar "consertar" aquela memória enevoada e passasse a ver poesia nas frases um tanto desconexas da mãe.

Bettina escreveu assim:

" Minha mãe parecia ter uma lente de aumento para as sutilezas diárias da vida.
Não parecia delírio, alucinação ou doença.
Não era demência. Era poesia.
Era tão, tão bonito. Talvez porque eu fosse sua filha. Talvez porque assim ela voltava a ser minha mãe. "

Em algum momento, a filha se deu conta da semelhança das frases da mãe com a poesia de Manoel de Barros e passou a anotá-las, o que posteriormente deu surgimento a esse livro.

" - Por que você está se benzendo mãe?
  - Olha quanta  Nossa Senhora aqui na praia! Que lindas! Por que será que elas estão na areia? "


A fala se deu quando a mãe viu vários guarda-sóis brancos enfileirados.

Acredito que só foi possível para a autora enxergar poesia em sua mãe porque a poesia estava nela. Ela havia feito leituras, os livros de poesia ajudaram-na a enxergar poesia nos dias difíceis com sua mãe. Mesmo sendo uma situação triste, ao anotar e escrever crônicas sobre as falas cheias de delírio da mãe, um pouco de leveza surgia como uma brisa suave.


Para mim esse foi um exemplo muito concreto de que a dor e o sofrimento podem ser atravessados com a seiva que extraímos de nossas leituras.

Trazer um olhar poético para os períodos em que a vida se faz tão áspera, chega mesmo a ser uma virtude.

Eu "encontrei" a Bettina ao ouvir um podcast onde ela fala de como enfrentou os 15 anos de coma de seu irmão e escreveu um livro para ele - Para quando você acordar: Crônicas de saudade e espera - e nesse mesmo tempo difícil o adoecimento de sua mãe. Uma bonita lição vinda de livros e pessoas.