quinta-feira, 18 de abril de 2024

Retrato na parede

 Fizemos um passeio analógico. Deslocamo-nos da nossa cidade para a capital com um único objetivo: revelar uma fotografia.

A verdade é que não fomos "revelar" e sendo assim o tal passeio analógico também não se encaixa aqui. Acho que foram os tempos saudosos ou o filme " Dias Perfeitos" que me inclinaram a começar esse texto usando as palavras revelar e analógico.

Não havia filme, negativos, 12,24 ou 36 poses.

Houve uma visita que recebemos em casa com alegria e no entusiasmo do café coado, risadas, um deles tirou o celular do bolso e anunciou que havia encontrado fotografias do "padrinho e da madrinha" num site de linhagem familiar.

As xícaras e copos ( as visitas gostam mesmo é de beber café no copo de bar ) eram pousados; óculos foram necessários. Vez por outra a tela do celular apagava, era preciso passar o aparelho, feito brincadeira de passa-anel até o dono estabelecer novamente o retrato.

Então eu me lembrei que meu computador também abrigava um retrato, em condições melhores do que aquele encontrado por nossos visitantes.

Não tinha certeza se encontraria. Admito que há considerável bagunça em meus arquivos.

Retornei para a cozinha com o notebook em mãos, aberto, a fotografia ocupando toda a tela.

O entusiamo foi geral e tão grande que acharam não caber ali na cozinha e todos se deslocaram para a sala.

Os copos americanos e as xícaras se acomodaram na pia, as visitas se acomodaram nos sofás e o retrato foi acomodado sobre  joelhos e pernas. Até as lembranças tristes tinham traços de alegria.

Enquanto lavava as xícaras e os copos, meu marido foi invadido por pensamentos analógicos.

"A gente precisava dar um jeito de revelar essa foto, fazer um quadro bem grande, precisava encontrar um lugar bom que fizesse isso".

A foto em questão foi tirada em 2014 com um celular que, comparado com os de hoje, deixava muito a desejar.

Lembrei-me de um local, entrei em contato, explanei a situação e perguntei se era possível.

Fiz tudo em segredo e quando ficou pronto anunciei que precisaríamos ir à capital para buscar o retrato.

Encantou-nos o resultado! E também encantou à moça que nos atendeu.

Ela vestiu luvas para tocar na fotografia e enquanto percorria os dedos, percebeu algo ali e indagou: "nessa fotografia, são todos irmãos?"

"Doze. E estamos todos vivos. O casalzinho aí no centro, é o papai e a mamãe, eles já se foram, e nós seguimos aqui.

"Doze?!" A moça misturou a pergunta e a admiração.

Seus dedos deslizavam suaves dentro do tecido branco indo de encontro às orientações que meu marido lhe falava.

"80 anos a mais velha, ali, ali à direita lá em cima"

"Você é o caçula dos homens? Sou sim. Me fala a ordem em que nasceram. Nossa! Nossa!

O lugar que nos fez o excelente retrato é muito procurado para serviços de museus e galerias e fotográfos profissionais.

Há fotos lindas espalhadas pelo ambiente.

Mas aquela foto tão caseira, tão café preto no copo de vidro de uma família que conseguiu se reunir e se abraçar, encantou o coração até de quem está acostumado com obras de arte!

Saímos de lá e fomos escolher a moldura:






Marido em estado de encantamento!

Logo será colocado na parede.

" Para não esquecer, para voltar de vez em quando, pelo tempo de um olhar" Valérie Perrin






8 comentários:

  1. Que maravilha,Ana Paula! O n=modo como foste descrevendo até chegar às fotos da foto, do momento que nunca poderá ser esquecida! E cada um dos irmãos ganhou uma cópia dessa foto grande? Será uma oportinidade para reencontro novamente e agradecer por ainda estarem juntos, lembrando os pais... BELEZA! Encantamento mesmo!Adorei! beijos, chica

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  2. Boa noite de Paz, querida amiga Ana Paula!
    Nossa!
    Que identificação tive com seu post!
    Há tempos tenho tido vontade de sair do digital que nos enquadra para a moldura tradicional do que me fez feliz.
    O tal dito de que o que os olhos não veem não se sente tanto tem muito a ver.
    Vou me pôr em ação em breve. Muito em breve...

    "Até as lembranças tristes tinham traços de alegria."

    Teve um certo ano que peguei todos álbuns não digitais e fui retirando todos que me fizeram sofrer no passado. Deixando só quem eu tinha certeza da veracidade do amor em via de mão dupla.
    As falas e expressão facial do seu esposo correspondem e corresponderão às minhas, tenho certeza.
    Excelente postagem!
    Tenha dias abençoados!
    Beijinhos com carinho fraterno

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  3. Que maravilha Ana. O resultado final é uma lindeza. Lendo com atenção seu texto rico em detalhes, esbarrei no copo Nadir, que é meu preferencial, para café e cerveja. Mas também ilustra a palavra da semana da Chica "Revisitar", pois vocês fizeram este belo revisitar ao passado e trouxe à tona um momento único e lindo da família. Usando a Chica: Revisitar velho álbum reeditamos uma historia familiar.
    Lindo momento do marido com esta foto em mãos, tão bem reproduzida.
    Abraços e paz amiga com feliz fim de semana.

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  4. Que foto mais linda,!
    Eu amo fotografias .Sou até suspeita pra falar , tenho vários álbuns de fotos
    Fotos desde bebê até hoje!
    É uma delícia guardar nas fotos ou em poemas, músicas, um momento lindo que já se foi.
    Abraços e bom fds

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  5. Que lindo e terno o seu texto.
    Sou a louca dos albúns...rs
    Tenho vários e me encanta ver as fotos de vez em quando.
    Tenha um final de semana abençoado.
    Beijinhos
    Verena.

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  6. Eu gosto do seu blog, por isso venho muito aqui. Um beijo e bom fim de semana.

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  7. Que foto linda! Que post lindo! Estou emocionada.

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  8. Que bonito isso!
    Que foto linda!
    Deixo um beijo muito grande.
    :)

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