domingo, 29 de maio de 2016

Purificação


Início de uma nova semana.
Novo mês que se aproxima.
Esvaziar para recomeçar.
Purificar.
Maldades, peso nas palavras, no olhar.
Purificar.
Para mais leveza por dentro
que possa iluminar ao redor.
Bons inícios!

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Vamos falar sobre o verbo estuprar

Foi esta tragédia, mais uma aliás, do estupro coletivo da garota que está me impulsionando a escrever este texto.
E talvez o que eu vá escrever não tenha relação nenhuma com os fatos que nos chegam.
Mas é algo que, de repente eu percebi por causa desse acontecido.

Vou tentar ordenar os meus pensamentos, que confesso andam confusos.

Há uns dois anos eu estava num auditório com muitos pais, avós, responsáveis, para uma reunião escolar.
O coordenador geral em determinado momento que se discutia sobre a leitura de clássicos e eles acharem chatos, disse que nossos filhos estavam usando um vocabulário carcerário.
Rimos. Rimos todos em uníssono.
Que divertido hahaha. Nossos filhos falando com vocabulário de cadeia. Rimos mais um pouco.
Nós, idiotas, acho que não entendemos. Apenas ficamos no divertido. O cara da palestra é bom mesmo, hein?

Então num dia qualquer, o vocabulário carcerário estava sentado no sofá da minha sala.

Chamei a atenção de meu filho, algo entre ponderação e alguns deslizes ocorreram, ocorrem.
A astúcia de nossos adolescentes fazem com que eles aprendam rápido "aqui eu não posso falar assim". Lá entre o grupo, os semelhantes, a coisa é diferente.

Mas foi ontem, justamente ontem quando os fatos sobre o crime com a garota estavam sendo divulgados na tv, que meu filho, chegou em casa após em evento na escola, e na empolgação em me contar como fora tudo, que tinha adorado, falou "naquele momento que o cara falou que era a favor das bombas atômicas, a bancada estuprou ele".

Para. Por que é que você está usando o verbo estuprar quando na verdade caberia talvez um "humilhou, colocaram o cara no lugar dele, enfim.

Ele me olhou assustado, como quem não estava entendendo o tamanho da minha indignação e respondeu: "Mãe, todo mundo fala assim, ninguém usa humilhou, é sempre estuprou".

Conversamos.

Não é só o meu filho. Um dia eu estava sentada no ponto de ônibus e chegaram adolescentes de outra escola. É o mesmo vocabulário carcerário que eu não entendia.

Eu já não me lembrava da minissérie Alemão ( acho que é esse o nome ) assisti apenas uns trechos e num deles de enfrentamento de bandidos eles se provocavam com palavras carcerárias que, me desculpe, mas você vai ler aqui, porque eu já ouvi de muitos pais o seguinte: isso é coisa de adolescente, não liga, vai passar".

Arrombado, filho da puta, carralho, nós vamos te estuprar.

Um pouco de vocabulário carcerário.

Eu gostaria muito de saber através dos comentários se isso ocorre apenas na minha cidade, nas escolas dos meus filhos e algumas ao redor ou se a coisa é geral.
Ou se é coisa só de São Paulo.

Meu filho disse que muitos dos youtubers famosos assim se expressam com o tal foi estuprado, vou te estuprar.

Como dizia uma antiga crendice; "Cuidado, vai que na hora que você fala passa um anjo e diz amém? "
As palavras estão ganhando um outro significado.
Tem o funk, tem os youtubers, tem sei lá o quê, facilmente eles se contaminam.
É preciso estar atento, chamar a atenção, falar duro, sério.

Vou tentar chamar alguns adolescentes aqui para saber a opinião deles.
Quero muito saber a tua percepção.

A minha acho que só veio mesmo à tona depois dessa tragédia da garota estuprada.
Que este caso desperte para atitudes, reflexões, mudanças inclusive políticas, nas escolas, nas famílias .
Para que não fique tão feio o post, tão pesado, vou encerar com uma frase do Papa Francisco:

"... porque elas [ as famílias ] não são um problema, são sobretudo uma oportunidade."


quarta-feira, 25 de maio de 2016

A moça das flores


Empenhou-se. Dedicou tempo, esforços, mas, tudo em vão.
Não nascera com a habilidade, a sutileza das mãos que cultivam flores.
Era um desejo íntimo que tinha, cultivar um jardim, ofertar flores ali colhidas para um amigo, um estranho talvez.

Como aconteceu,  a moça não sabe bem.
Achava ter começado com cheiros.
Passava diante de uma casa que não se deixava mostrar. Um enorme portão de madeira; fresta nenhuma, sempre fechado, mas sempre deixando escapar de lá de dentro um cheiro perfumado.
Produtos de limpeza comprados nos mercados, um bolo, cheiro de canela, chá ou doce de abóbora?

Diante de seus olhos, certa manhã, começou a se abrir o portão. Parecia formar um telhado sob o qual a senhora com a vassoura varria as folhas de outono.

A moça exitou um pouco. Era tímida. 
Queria olhar a casa, sempre escondida e misteriosa.
Queria também ter flores para ofertar.
Saiu um elogio: "Tão perfumada a tua casa. Passo por esta rua todas as manhãs e sempre inspiro profundo aqui para sentir o cheirinho bom!"

Os olhos da senhora se iluminaram e ela sorriu. 
A moça já ia longe.

A moça não sabe, mas a senhora sentiu grande alegria com aquele elogio.
Do lado de dentro do enorme portão em madeira, havia ausências de pessoas sempre apressadas, preocupadas com seu mundo. Pessoas que há muito conviviam e deixaram de sentir o perfume que dali exalava.
Foi como receber um ramalhete e abraça-lo forte antes de levá-lo ao vaso.


quarta-feira, 18 de maio de 2016

Vontade de carimbar

Acordei assim: com vontade de carimbar!
E correu o dia e a vontade não me deixou, então à noitinha...


Não me recordo como conheci um carimbo.
Talvez tenha até sido uma caretinha feita de caneta no dedo indicador e levado rapidamente a apertar a folha branca de um papel.
Uma lembrança forte que tenho quando falo de carimbos vem de uma amiga da minha infância. 
Certo dia, no início do ano escolar, ela apareceu com uma pequena caixinha retangular de metal que abria delicadamente e de lá, segurando por uma espécie de argola que se dobrava, ela carimbou seu nome em vermelho: K. B.
Ah! Que elegância!
O nome próprio era curto e incomum. O sobrenome, apenas um.
Mostrou-me todos os livros carimbados com seu nome a substituir etiquetas.

Aguei de vontade e descrevi para meu pai como era o tal carimbo, a caixinha, a argola que dobrava, a pequena tira onde se pingava a tinta vermelha.
E alguns dias depois, ele tirou do bolso de seu paletó, um embrulho.
Era o meu carimbo.
Que decepção.

Mais parecia um tijolo. Não havia caixinha, argolinha.
Era um largo pedaço de madeira.

Bem, meu nome não tinha a elegância do dela.
Para começo de conversa, um nome composto; depois dois sobrenomes unidos por um "do". Não caberia mesmo numa delicada caixinha de metal!
Até que usei, um tanto contrariada, mas usei.

Uma caixa com carimbos da turma da Mônica foi um presente que ganhei de aniversário!
Comprei para meus filhos quando menores. Tudo tão diferente. Só havia uma base de plástico para todos os carimbos. Tirava um e encaixava outro.

Carimbei bastante até a vontade saciar!
Adorei ter encontrado um carimbo de serrote!!!

E agora quero saber, você carimba?!

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Quadradinhos que acolhem

Ler estas palavras - quadradinhos que acolhem - foi música, poesia. E eu tratei logo de descobrir do que se tratava.


Um projeto encantador que encontrei na minha cidade: em tricô ou crochê, quadrados são doados para depois serem unidos e transformados em cobertas para moradores de rua.

Há muito tempo atrás, eu participei de um trabalho voluntário que foi enriquecedor, não apenas pelo que nós fazíamos ( contar histórias para crianças hospitalizadas ) mas também pelo suporte que tínhamos com palestras e eventos.
E foi lá que ouvi pela primeira o conceito de  "terceiro setor".
Governos não dão conta de suprir tudo, principalmente num país de dimensões continentais. Há de se cobrar a parte que lhes cabe. Podemos também fazer parte disso.

Vieram os filhos, o voluntariado deixou de ser exercido, mas a semente ficou. 
Na verdade, essa semente vem desde sempre, desde quando nossos avós falam que temos que ser bons, nossa diz para não jogar papel na rua.

Então quando me deparei com os quadradinhos que acolhem, senti aquela vontade que transborda de poder participar. Não sou tricoteira de mão cheia. Sei fazer o básico, o mínimo, o quadrado!


O pessoal que recebe os quadradinhos, fica num parque.
Domingo fomos até lá levar os nossos.




Agulhas e novelos também bem-vindos!


Numa conversa agradável, ficamos sabendo que a turma dos quadradinhos sai junto com o pessoal que distribui sopão e entregam as cobertas.
Também fomos convidadas para participar da junção dos quadrados - garantiram que é algo incrível e eu não duvido!


Na verdade, eu gostaria que nem precisasse existir esse projeto.  Que não houvessem pessoas morando nas ruas.
Empregos, um olhar cuidadoso para a saúde mental, políticas públicas para o álcool e drogas, são coisas que cabem aos governantes.

Mas... para não entristecer e acreditar que as coisas um dia irão melhorar, a gente tricota que faz bem!
E mesmo que o prefeito da nossa cidade mandasse uma máquina fazer muitos cobertores, não seria a mesma coisa.

Vou finalizar com um trecho do livro Lívio Lavanda ( outro dia falo dele! )

"Lívio Lavanda está tricotando um cachecol de frases de amor para Anelise.
 - Ele esquenta por dentro - explica para uma amiga ao telefone".

Possam os quadradinhos de qualquer cor, por várias mãos executados, aquecer também por dentro.










terça-feira, 10 de maio de 2016

A rosa escarlate


Não é possível ver, mas ali ao lado, bem próximo mesmo havia a mesma espécie desta flor amarela num tom de rosa escarlate quase vermelho.
Eu desejei muito e esperei por algum tempo que a borboleta lá pousasse.
Assim me ensinaram - que o contraste de cores torna a fotografia mais bonita.
Opostos se complementam; desse jeito é mais bonito; cabelo assim é melhor...

A borboleta não se domou ao meu desejo.
Ainda bem.
Porque na vida nem tudo se mostra dentro do que gostaríamos.
Nem sempre são os opostos que se atraem.
Nem sempre assim é mais bonito.
E de repente eu nem me importei que a borboleta não pousou na rosa escarlate.
De repente tudo ficou assim mesmo belo.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Amizade selada


Você já presenteou alguém com um selo?
Selo de carta, desses que se compra nas agências de correios?
Ah... mas não se trata de selo raro, caríssimo, coisa de colecionadores. Um selo comum para uma pessoa comum, que não é uma pessoa filatelista, que coleciona selos.
Pois eu já o fiz.

Dia desses, num encarte de mercado, estava anunciado uma geleia importada. Era de mirtilos e era francesa.
Sorri porque me lembrei de uma leitura que falava que quando não temos muita intimidade com uma pessoa compramos geleia importada para oferecer durante o chá. Depois que a amizade fica estreita, nem nos importamos em servir margarina no pão porque importa mesmo é a companhia, a troca.

Durante um tempo eu pensei em presentear uma pessoa amiga em seu aniversário. Queria encontrar algo grandioso, de impacto.
Os dias corriam e nada me ocorria.
Até que eu estava no balcão de uma agência dos correios para postar cartas e assim que o moço abriu a gavetinha para pegar os selos, eu vi separados, num canto, uma cartela com selos que me chamou a atenção.
Não contive a curiosidade e perguntei.
"São selos para cartas internacionais. Quer ver?"
Soube na hora que bati os olhos que aquilo não era um selo para correspondência internacional. Era o presente que eu procurava!
Perguntei o preço.
R$3,90.

Bem, não é exatamente um preço adequado para um presente.
Então eu me lembrei que entre nós existe amizade. O preço deixou de ter relevância.
Fiz um pequeno pacotinho  e dias depois voltei à mesma agência para postar minha carta com o presente.
Amizade tem dessas coisas que a razão estranha. Um presente tão baratinho?
Eu tenho certeza que adoçou minha amiga feito geleia francesa de mirtilos! ( nunca comi, só falta ser azeda a tal geleia!!! )