quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O enfraquecimento do não

Muitos conheceram a palavra não sem mesmo que fosse pronunciada. Um olhar trazia a palavra e o conceito do não.
Outras tantas pessoas respiraram o não obscuro dos tempos de ditadura; período este triste e indesejado.
Mas acho que estamos vivendo um tempo que a palavra, o conceito do não está enfraquecido.
Só para citar os dois casos recentes que estão na mídia: o caminhão que derrubou uma passarela no Rio de Janeiro e dentre causas a serem apuradas, sabe-se que o motorista falava ao celular; o outro caso, aconteceu na grande São Paulo, onde cinco adolescentes morreram afogados ao nadar em local proibido.
O não pode celular dirigindo, já não faz efeito. Uma rápida olhada e está lá o motorista com o celular.
No caso dos adolescentes, o local aonde foram nadar era fechado ao público com a placa indicando proibido entrar, mas entraram. No lago, mais duas placas "proibido nadar e risco de morte".
O conceito do não foi ignorado.

Eu já peguei passando maquiagem no não falado aos meus filhos. Disse o não e diante das reclamações, dos "por favor"cedi usando a seguinte maquiagem - então tá, mas antes disso vocês farão...
Colocando uma condição para fazer de conta para mim mesma que o meu não tem força. Mas eu o enfraqueci, cedendo sob uma forma de compensação.
Isso é muito claro de se ver na fila do supermercado, ali na boca do caixa. Diante de todas aquelas guloseimas que são colocadas estrategicamente ali, enquanto espera-se na fila a criança satura a mãe com o eu quero e a mãe insiste no não. Até que, adivinhem?
Mais um não enfraquecido.

Quanta coisa tem dado errado, ceifado vidas pela nossa dificuldade em aceitar o conceito de um não.
Não pode beber e dirigir; não pode parar na vaga preferencial ( mais é só 2 minutinhos ); não pode pegar o dinheiro público para fins pessoais... e seria extensa a lista.

Especialmente com nossas crianças parece que estamos com medo de magoá-las, traumatizá-las ou sei lá o que mais. Três placas de proibido, não poderiam ser ignoradas.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Falando de música

PitangaDoce deixou a sugestão e o convite para falarmos de música. E eu aceitei, pois percebi que este é um assunto raro aqui no blog.
E não é porque eu não goste de música. Adoro música! Só que o meu gosto não vai de encontro às paradas de sucesso, ao que todo mundo ouve.
Tive um amigo que gostava de dizer: "Nossa, esse cantor vendeu 2 cds: um pra mãe dele e outro pra Paula."
Fui tirar poeira das gavetinhas da memória para resgatar a primeira lembrança lembrança de música oficial.
Devo ter tido muitas outras experiências antes. Minha mãe, como era doce, certamente cantou para me ninar e também me lembro da sanfona de meu pai ( que será assunto para outras postagens ).
Mas, eu devia ter uns seis anos quando ganhei minha primeira fita K7 de meu pai.
Benito de Paula.

Ah! Você nem sabe quem ele é. E você, assim como eu, indignou-se. Nem sabia que ele ainda estava vivo!
Escolhi uma foto com tratamento ( leia-se fotoshop ) porque Benito que me desculpe o trocadilho, mas bonito ele nunca foi.


Como eu ouvi aquela fita! E cantava e dançava.
Depois de tanto enrolar a fita com caneta bic, porque era constante ela soltar e paralisar o toca-fitas, nunca mais comprei nada do Benito, nunca mais ouvi Benito, sequer sabia que ele fazia shows e me sinto culpada por isso.

Benito encontra-se numa situação difícil. 
Imaginem vocês que a linha 4 do metrô de São Paulo vai passar exatamente aonde se encontra o piano de Benito. No piano que ele compôs a música que eu mais cantava Mulher Brasileira.
A proposta que lhe fizeram da desapropiação é tão mixuruca, que o máximo que ele consegue fazer com a merreca do dinheiro que lhe oferecem é ser meu vizinho. Isso ele não quer.

Agora conta aí, sem medo de ser feliz: Você conhece o Benito?



terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Ao ar livre


Blogagem coletiva lá no blog da Moça de Família com o tema "ao ar livre."




Gostaria muito de começar escrevendo que eu brinquei muito  de pula-elástico na infância. "Lembram, era elástico caseiro, de costura mesmo, que de tanto a gente pular ficava todo encardido?"
O fato é que eu nunca pulei elástico! Vim ao mundo desprovida de tal habilidade.
Mas adorava ficar olhando minhas amigas. Pulos, giros, rodopios.
Chegávamos mais cedo na escola só para poder brincar. E acho que quem olhasse para o pátio lá de cima teria uma visão incrível: duplas e mais duplas com os elásticos nas pernas. E tinha menino também que se arriscava!
Dia desses, veio voando feito passarinho, um elástico para brincadeiras todo colorido. As crianças adoram; ainda fazem as manobras mais simples.
O gostoso mesmo é estar no quintal, ao ar livre!

E quando não tem companhia para pular, inventa-se outra brincadeira.


Ao ar livre aqui em casa também tem tradução de pé sujo!
Quer ver o que o pessoal tem feito ao ar livre? Vem por aqui!

sábado, 25 de janeiro de 2014

Onze anos


- Mãe, o mais legal desse presente é que ele chegou por correspondência e para mim! Tinha o meu nome na caixa!
- E mãe, é tão exclusivo este presente que eu tenho dó de usar, mas eu tô com muita vontade de usar.
- Acho que vou deixar só para ocasiões especiais.
-Ah! Tá sentindo o cheirinho gostoso? Eu usei o meu presente, mas como queria economizar, passei o desodorante em uma axila só.

Feliz aniversário Bernardo!
Onze anos!

(é amanhã dia 26)


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

4/52


Já vinha reparando que os "bonequinhos" dos semáforos para travessia de pedestres foram ganhando novas formas. Bicicletas ilustrando, também é comum.
Surpreendi-me realmente com este aqui aos arredores do Mosteiro de São Bento. Diferente!
Conhecia? Gostou? Na tua cidade tem algum temático? 
Beijo!

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Procura-se

- Eiiiiiiii!
- Psiuuu!
- Mooooooço!
- Você que perdeu todas as suas fotos 3x4.
Eu achei.



E tentei te encontrar, até com a polícia eu falei, mas disseram que nada poderiam fazer.
Estão aqui comigo. Só entrar em contato que eu ponho no correio, viu?

Pois é. E não é que depois que fiz aquela postagem das fotos 3x4 ( se não leu, leia aqui! ), fui passear com as crianças e encontrei essa capinha no chão da Rua Direita - Centro de São Paulo.
Assim que meu olhar avistou a capinha, imediatamente lembrei da postagem das fotos e como segurava sacolas nas mãos, pedi para as crianças para que se abaixassem e pegassem a capinha.
- Eu não; eu também não. Ai que vergonha mãe, pra quê você quer isso?
( Eles acabaram pegando! )

Qual não foi a minha surpresa ao abrir e encontrar fotos ali dentro. Ao avistá-la ali no chão, parecia vazia, apenas a capinha mesmo.
Oito fotos. Quatro de cada lado.
O garoto devia ter acabado de tirar seu retrato e deixou cair. Assim eu imagino.
Fiquei triste por ele. Fiquei preocupada. E se tivesse prazos a cumprir e chegasse no local do compromisso e ao mergulhar a mão nos bolsos não encontrasse nada?
Olhei ao redor e havia uma multidão na Rua Direita. Na capinha nenhum endereço de onde foi tirada as fotos. Nos arredores de onde encontrei, nada que indicasse fotos.
Falei mesmo com um policial, que ao me dizer que nada poderia fazer, fez uma cara tão engraçada que eu não soube interpretar se ele me achou maluca, ou se ele queria dizer "Minha senhora eu tenho mais o que fazer."

Parei ainda em frente à Catedral da Sé para tirar fotos, já que nunca o tinha feito e sempre de olho para ver se esbarrava no jovem 3x4.



Confesso que nunca soube que haviam palmeiras imperiais no centro de São Paulo. Para mim isso era só lá pelas bandas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro!



Marco Zero

Está aqui na minha escrivaninha 8 fotos 3x4 de um desconhecido!

Doces


Participo hoje de uma blogagem coletiva de fotos com o tema "Doces".
Hum! De dar água na boca...
Escolhi uma foto que foi feita sob encomenda para o post de uma amiga.
E agora vai lá para o Moça de família.
São as mãos de meus filhos com os cortadores que ganharam de presente, confeccionado com carinho por mãos habilidosas, deixando o doce ainda mais gostoso!
Tem outras delícias por lá. Dá uma espiadinha!



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Aprendizados

A irritação já estava me tomando, quando vi as crianças assim: absortas em suas brincadeiras.
Nem o barulho, nem a fumaça que foge do escapamento da betoneira os perturbava.
Lado a lado e ao mesmo tempo invisíveis.
Essa imagem me serenou.


sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

3/52


Feira livre. Adoro seus clichês: "Moça bonita aqui não paga, mas também não leva".
As feiras aqui de São Paulo são muito animadas e achei que fosse assim por todo o Brasil. 
Em Curitiba percebi o quanto podem ser diferentes.
As feiras já viveram seu auge. Hoje, embora persistam, enfrentam a concorrência e praticidade dos hipermercados, hortifrutis e a fúria das redes sociais com o #forafeira. Trânsito, dificuldade de estacionar, mais mulheres no mercado de trabalho bem no horário de se fazer a feira... 
Às vezes por 20 ou 30 anos no mesmo endereço, o feirante sente a falta de um determinado freguês e fica sabendo por parentes ou vizinhos que o mesmo faleceu.
Não é uma vida fácil, todo esse colorido bonito começa a ser delineado ainda de madrugada e tudo é mais bonito num dia ensolarado. Prejuízo é certo nas manhãs chuvosas.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A rotina da leiteira




Quando se vai morar em casa alheia, seja lá quais forem o motivo que te levaram a isto, além de gratidão pelo acolhimento, deve-se atentar a uma atitude essencial – não interferir na rotina e sim se adaptar.
Aconteceu comigo e tudo ia bem até que eu comecei a ter problemas com a leiteira.
Leiteira, utensílio para ferver leite e água também. Também dá para fazer mingau. Ah e cozinhar ovos.
No convívio com a família começou a incomodar-me a tal leiteira.
Tentei argumentar sobre algo ter mais moderno, com antiaderente, uma leiteira que poderia servir também como objeto decorativo, já que a família era abastada e dinheiro não seria o problema para a aquisição, mas ouvi um delicado e firme “não”acompanhado de uma explicação: fora presente de casamento ( lá se iam 35 anos... ).

A rotina da leiteira:
Antes das cinco horas da manhã, ela fervia a água para o café e logo após, era colocado cerca de meio de litro de leite para que se aferventasse daquele jeitão de ficar ali na beira do fogão e esperar que o leite subisse até quase derramar. Girava-se rapidamente o botão para apagar o fogo e ao mesmo tempo um bom sopro para que o leite não ultrapassasse os limites devidos.
E a leiteira ficava ali, do fogão para a mesa, da mesa para o fogão.
A medida que os membros da casa iam se levantando, solitários, ou no máximo em duplas, lá ia a leiteira para o fogão aquecer o leite.
Para os que não estão habituados à esta antiguidade, é preciso esclarecer: da primeira fervida, assim que o leite abaixava, ficava uma fina crosta grudada no alumínio. Conforme os demais voltavam a aquecer o leite, a crosta ia ficando queimada. Não tipo carvão, mas começava com bege claro.
O último a aquecer o final do leite podia até ouvir pequenos estalidos das crostas que a essa altura eram cascas.
Onde entra o problema?
Tudo era colocado na pia e a louça era de minha responsabilidade.
Então somente quem já passou por isto vai entender o que estou dizendo. Lavar uma leiteira incrustada de leite de 35 anos de idade, o que significa que a cada tombo que ela levou em sua vida ficou amassada, formando fincos internos onde a crosta insistia em se fixar, é de fatigar qualquer nervo.
Tinha que deixar de molho, pegar bucha no lado grosso, apelar para a palha de aço e palito de dente e para disfarçar na hora de enxugar era unha com pano de prato para tirar os últimos vestígios.
O microondas lá, só me olhando.

Por que eu não aquecia o meu leite no micro?
Preciso confessar uma coisa. Não existe nada melhor que um leite fervido e aquecido depois formando crostas e cascas. Fica um gostinho de doce de leite inigualável!
Agora, há quem diga que pior que lavar leiteira é lavar louça de moqueca carregada no dendê. Aí já não sei...
Se quiser se divertir com mais louça suja, na visão de um homem, leia aqui.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

É trágico

Final de domingo. Tomou seu banho, arrumou-se e diferentemente da grande maioria foi trabalhar.
Plantão noturno na emergência de um hospital.
Logo nos primeiros minutos, começa a correria típica de um atendimento emergencial.
Homem, moço ainda. Muito, mas muito machucado.
Enquanto o doutor fazia os procedimentos iniciais, o homem falava com dificuldade.
 - Doutor eu apanhei muito. Duzentos caras me batendo.
O médico não lhe deu muita atenção naquele momento. Era preciso certificar-se que seus órgãos estavam bem.
 - Doutor, eles eram uns duzentos. Vieram todos pra cima de mim.
O doutor examinava minuciosamente seus ossos. Solicitou raio-x de várias partes do corpo.
E enquanto a equipe manobrava cuidadosamente a maca para conduzí-lo às radiografias, o sujeito tornou a falar para o médico dos duzentos caras de quem apanhou.
O médico colocou, num gesto de carinho, a mão na testa suja do homem e disse que ficaria tudo bem. Assim que voltasse dos exames, conversariam.
Saíram com a habitual rapidez nos corredores da emergência.

Enquanto aguardava, o médico foi olhar a ficha do sujeito.
Guarda municipal, 32 anos.

Examinou atentamente as radiografias e no momento em que preenchia a prescrição com os cuidados e medicamentos, o homem voltou a falar dos duzentos caras que lhe bateram.
O doutor achou por bem pedir uma avaliação neurológica e como até na medicina às vezes é melhor pecar por excesso, pediu também que um psiquiatra o avaliasse.
O sujeito apanhou tanto que tava variando. O estrago foi grande, mas duzentos?
Sedativo leve.

Na manhã do dia seguinte, antes de finalizar seu plantão, o médico foi ver como estava o paciente, se tinha dormindo um pouco.
 - Nem conseguia dormir doutor. Era só fechar os olhos e eu via os duzentos caras me batendo.

A parte que lhe cabia foi muito bem feita. Agora era com o neuro e o psiquiatra. De gente fora da caixinha ele não entendia.

Foi para casa, tomou seu banho e ligou a tv no jornal local enquanto relaxava um pouco.

"Rolezinho feito ontem num parque da cidade por cerca de duzentos jovens, teve violência. Um guarda municipal de 32 anos foi a vítima. O grupo o cercou e ele apanhou muito. Foi levado no começo da noite para a emergência do hospital."

* Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Pegue a foto

Escrevi sobre fotografia neste post aqui e foi surpreendente a nostalgia provocada em quem viveu os mesmos fatos e nostalgia em quem, por ter nascido décadas depois, não conheceu o cenário.
Os comentários enriqueceram a postagem. Como este da Pandora: "E eu senti nostalgia por um tempo que não vivi!!!".
A Marli me fez lembrar de quando sentávamos com as visitas e as caixas de fotografias soltas que iam passando de mão em mão e entre risos, saudades por vezes lamuriosas, lembrávamos, comparávamos: "é a cara da mãe dele quando ela era criança".
No final do post coloquei a estimativa feita pelo jornal Guardian de três trilhões de fotografias que serão tiradas neste ano.
E quem arisca dizer, desses trilhões, quantas sairão do digital para irem ao papel?

Parece que os números tão assustadores, como três trilhões de fotografias, tem incomodado e feito surgir práticas muito legais!
Uma delas é a intervenção urbana que está acontecendo em São Paulo,  feita pela fotógrafa Tatiana Giustino com o título Pegue a Foto.
Essa intervenção quer resgatar o hábito de apreciar fotografias impressas.
A fotógrafa espalha fotos por postes e árvores da capital paulistana.



Essa sensação de segurar a foto no papel precisa mesmo ser resgatada!
Deve ter muita criança que nunca viu foto impressa...
E nós adultos vamos deixando tudo arquivado na promessa de um dia...

Participar de desafios, incentivos vindos dos blogs sobre imprimir imagens é incentivo a mais.
Assim que um blogueiro fotógrafo que sigo lançar os seus incentivos a esta prática, trarei aqui para o blog. Quem sabe unindo forças?!

E você, já encontrou uma foto pendurada na árvore?
Eu ainda não.
Mas olha só o que eu encontrei lá na árvore carioca!


Beijos!



2/52


Sugestão lida num blog delicioso feito picolé de melancia.
Tudo tão simples, tão possível.
Com todos os ingredientes à mão: crianças, férias, calor, mas muito calor, mangueira, água, alegria foi fácil sorrir e se divertir!
E se quiser se refrescar vendo mais fotos, clica aqui!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Autorretrato

Décadas atrás, ( não revelerai quantas! ) nesta mesma época, segunda semana de janeiro, mamãe me levava para tirar fotografias 3 x 4 para a matrícula na escola.
Os tempos eram outros, as matrículas eram feitas em janeiro e as aulas começavam somente lá no final de fevereiro, com um pouco de sorte com a data do carnaval, só em março colocávamos o uniforme.

Era preciso pegar ônibus pois em nosso bairro não havia nenhuma loja fotográfica.
Íamos até o bairro da Penha; exatamente na rua Penha de França onde se avizinhavam uma loja fotográfica ao lado da outra.
Parávamos primeiro em frente a vitrine. 
Era fascinante a vitrine das lojas fotográficas. Aqueles pôsteres enormes expostos, diversos modelos de álbuns fotográficos, máquinas, poucas porque não haviam muitos modelos e também filmes da kodak em suas caixinhas amarelas.

Mamãe entrava na loja segurando minha mão e perguntava quanto custava a foto 3 x 4. Já se podia escolher entre a colorida e preto e branco.
Preto e branco foi uma opção em anos consecutivos até o preço da colorida ficar com pouca diferença.
Isso da cor da foto nem importava.
Também não havia muita diferença entre uma loja e outra. Mamãe escolhia pela simpatia do retratista, geralmente o mesmo do ano anterior.
Muitos japoneses no ramo, mas quem nos atenderia tinha traços mais italianos. Talvez fosse a boina, talvez fosse espanhol. Nunca soube.

O estúdio fotográfico ficava nos fundos de qualquer uma daquelas lojas e ao passar por em curto corredor, meu coração disparava.
Havia o banquinho e ao redor deles os enormes guarda-chuvas prateados.
Em um cantinho, um móvel com espelho e escova de cabelo.
Sempre tive vontade de me pentear ali, mas mamãe era enérgica - não usa isso.
Tirava a minha própria escova de cabelo que lembrara de colocar na bolsa e me ajeitava, sem dar mais explicações.
O lugar era cheio de silêncio e luz.
Para mim era um momento muito tenso. Não podia mexer e tampouco piscar os olhos.
 ( até hoje penso se alguém saiu com os olhos fechados no 3 x 4 analógico )

Ficava pronto em dois dias. Ninguém reclamava. Era assim para todo mundo.
Já fora da loja mamãe me explicava sobre não poder usar a escova de cabelos da loja de fotografias.
Piolho. Para mim uma resposta sem a minha total comprensão. Nunca tinha tido um piolho. Não havia google para me mostrar um 3 x 4 dele.

Dois dias depois fazíamos o mesmo trajeto para ir buscar a fotografia e aproveitar para fazer a matrícula.
Entrávamos na loja segurando o papel carimbado de "pago"e dentro de mim uma euforia que minha mãe conseguia conter somente com o olhar dela. Eu teria ficado bonita no retrato?
Ela me mostrava rapidamente enquanto perguntava o preço daquele pôster exposto na vitrine.
Sempre acima das possibilidades.

Todo ano era a mesma coisa. A mudança foi quando pude fazer a foto colorida.
Não me lembro ao certo, mas houve um ano em que não precisei fazer as fotos 3 x 4; no seguinte já havia uma certa pressa no tempo e encontramos uma cabine com fotos que "sai na hora". Além de pequeno, o espaço era escuro e não havia escova de cabelo fosse com ou sem piolho, muito menos guarda chuva prateado. A foto não ficara boa. Isso nem importava, era só uma foto. Ano que vem fazia-se outra. Não podia é perder o prazo da matrícula. Agora as aulas já começavam no início de fevereiro. Já havia pressa por tudo.

Quando já maior fui fazer um passeio pelas ladeiras e ruelas da Penha senti uma tristeza analógica. Já não havia nenhuma loja fotográfica com suas vitrines.
Para onde teriam ido os irmãos fotógrafos e  sócios Takei e Takashi?
Na grande loja do senhor de boina, a grande novidade do consumo, uma grande loja de 1,99.

Três trilhões de fotografias serão tiradas neste ano de 2014.
Senti um pouco de saudade da minha meia dúzia na capinha vermelha.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Desafio 52 semanas

1/52


Ano passado já tinha acompanhado este desafio em alguns blogs. E agora em 2014 resolvi tentar!
Consiste em postar uma foto por semana, completando ao final do ano as 52 fotos. Já vi blogs só com fotos de objetos, outros de lugares. Irei mesclar um pouco de tudo - isso se conseguir!
E caso não tenha uma foto "fresquinha", vou me valer das mais antigas.
Esta primeira foto que abre o desafio, não foi tirada por mim.
Foi feita pela minha filha Júlia - 8 anos - são seus próprios pés e toda produção foi idealizada por ela mesma, o que me deixou muito orgulhosa! 
Achei a foto linda e realmente me surpreendeu!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Silêncio


No silêncio deste acolhimento tento apaziguar o coração, que na verdade, não é coração, é cérebro.
Tento lavar com  água cristalina as imagens manchadas de sangue. Não o sangue da vida, o sangue que a violência faz jorrar. Imagens que mesmo sem ter atravessado a retina, existem.
sangue
seiva
orvalho
lágrima

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Ainda Ano Velho

Já vi muitas fotos de fogos, roupas brancas e douradas, comidas, réveillons com e sem acento.
Já li retrospectivas e expectativas e promessas para 2014.
Mas, eu continuo no ano velho.

Como muitos já devem saber, eu estava sem calendário, porém não é esse o motivo pelo qual ainda me encontro no velho ano.
Eu ganhei um calendário sim!


Só que ele é chinês.
Então, só dia 31 de janeiro que poderei comemorar o ano novo!
E vou emendar o feriado. Será que chinês emenda?

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O caso da teia

"Teia" no caso significa casa, telhado, moradia, telha.

Há tempos que eu queria descrever algum causo onde fosse possível se deparar com a sabedoria da dona Sebastiana.
Encontrei!
É o caso da teia. Especificamente da teia do Antônio ( seu marido ).
Foi-me contado por ela mesma e agora vou recontá-lo, usando algumas palavras dela.

Sabe Paula que quando eu estava acamada, ( ficou três meses pela fratura na perna ) o Antônio veio conversar comigo e disse que estava muito triste porque tinha chegado nesta altura da vida sem ter uma teia. Criou 12 filhos, todos têm teia e só ele que não.
Eu disse pra ele largar mão de bobagem que nós estamos muito bem aqui na casa do filho. E que não é possível, que agora que já estamos quase fazendo a curva da vida, nosso filho vai por nós pra fora. E se fizer isso, ainda tem 11 filhos. Um deles há de acomodar nós dois.
Falei isso pra ele, mas ele continuou uns dias cabisbaixo. Então eu vi que a coisa era muito séria e aí eu fiquei duas semanas sem dormir, só matutando.
As meninas ( filhas que se revezavam em cuidá-la ) achavam que era por causa da perna. Eu num contei que era por causa da teia do Antônio.
Matutei, matutei e pensei: se eu morrer agora, eu não vou ter sossego do lado de lá porque deixei o Antônio aqui triste sem ter teia. Se ele morre primeiro que eu, vou ter duas tristezas - de ficar sem meu companheiro e de ter deixado ele partir sem a sua teia.
Mas Paula, eu só quero sair daqui direto pro cemitério.
Chamei o Antônio e disse que eu ia ajudar ele a ter a teia. Vendi minhas galinhas, vendi as vacas que eu tinha, juntei um dinheirinho que tava guardado dentro de um travesseiro, e dei tudo pra ele.
Ele tinha mais um pouco e comprou o terreno.
Tem que ver como alegrou esse homem Paula!

Você foi lá ver a casinha? É boa?

Casa contruída, prontinha e aí...
Começa o muda-não-muda.
Então a voz de Tiana sentenciou: " Eu disse que ajudava o Antônio a comprar e construir, mas nunca disse que iria mudar daqui. Ele não queria uma teia? Agora já tem. Mudar, eu não mudo não.

Ah! E já esta à venda a teia do Antônio!    

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Túnel

"Como planejado, entraram no túnel com seus risos e cantos, beijos e abraços, a poucos minutos da meia-noite.
Quando esta chegou, os gritos e uivos reverberaram pelas paredes, confundindo-se com as buzinas, e ao sair no outro lado, já era o Ano-Novo - 1968."

Ruy Castro 01/01/2014



Não passamos o ano novo exatamente dentro de um túnel, mas eu gostei da ideia!
As fotos acima são do marido, meus filhos e eu ( invisível ) atrás, dentro de um túnel no Rio de Janeiro.
São dessas coisas que só turistas fazem...
Pensando melhor, não quero passar o ano novo ali não.
( é bastante fedido ).

Um ano perfumado a todos nós!