Nossa filha não queria mais uma escrivaninha compartilhada. Queria sua própria e exclusiva escrivaninha. E era simples a que ela almejava - apenas o local para escrever e uma portinha.
Ela mesma já tinha pesquisado o modelo e o valor pela web.
E então começou a saga da escrivaninha.
O pai, achou o modelo simples demais para o preço cobrado.
Ofereceu uma ida às casas Bahia. Voltaram de lá sem encontrar o desejado.
A menina insistiu na loja que ela pesquisou. O pai cedeu. Eu sugeri resolver tudo pela internet. Entramos no carro e rumamos para a capital.
A menina ia faceira.
Lá chegando, o pai examinou o modelo ao vivo e sentenciou: é muito caro e isso aí parece ser feito de papelão. Tenho uma ideia muito melhor.
Voltamos para nossa própria cidade e marido, enquanto dirigia falava as maravilhas da loja que em poucos minutos nos receberia.
"Lá sim tem móvel de qualidade; madeira mesmo; coisa que dura pra vida inteira e alguns blás blás.
Alguns minutos foi força de expressão. Depois de uma hora chegamos.
Marido com passos firmes nos conduziu para o interior da loja. A vendedora mostrou um primeiro modelo que não agradou e o segundo que era exatamente o que marido queria ( a filha, mais ou menos ).
E então aconteceu ( de novo):
"Quanto custa?"
"Mil e oitocentos reais".
Foi um 7x1 para marido ( de novo ).
Ele não esperava por aquilo. Negou-se a pagar 350 e agora aquele golpe.
Não fiz nenhuma pergunta para marido após essa derrota.
Voltamos em silêncio para casa.
Porém, ele resoluto, respirou fundo, bebeu um copo d'água e ligou o computador para novas pesquisas.
Encontrou o produto e pediu-me para efetuar o cadastro e a compra.
Trinta e seis dias úteis para entrega, eu disse. E o frete era mais de cem reais.
Desse jeito acaba a escola, acaba o ano e eles ainda não entregaram. Esquece.
Põe aí xxx.com.br. Tem! Olha que bonitinha!
Não entregam no nosso cep.
E se a gente for no mercado ( pertinho de casa ) e falar que vimos no site do mercado, se a gente pode comprar e retirar no próprio mercado.
Nada feito, uma coisa é o mercado virtual, outra é aquele sempre com filas enormes.
Voltamos para casa e então marido se lembrou da loja de móveis planejados na rua de baixo.
Fomos. Explicamos, desenhamos e ouvimos:
"Dois mil e oitocentos e você podem escolher o acabamento em"
Nem ouvimos mais o que a vendedora dizia.
No caminho de volta marido disse que aquilo parecia o jogo Brasil x Alemanha, depois dos cinco gols, nada mais abalava. Então depois dos mil e oitocentos, custar mil a mais, já era insignificante.
A menina estava entristecida. Eu exausta.
Atirei-me no sofá finalmente.
Janta, louça, passeio noturno com o cachorro e sofá com livro.
Confortavelmente acomodada, ouvi:
Vamos.
"Vamos, aonde a essa hora da noite?"
"Não fecha às 22h aquela loja que a Júlia gostou da escrivaninha? Vamos lá."
Devido ao meu cansaço, sugeri mais uma vez, que tudo fosse feito via web.com.
Passava das 21h quando saímos.
Dessa vez compramos e retiramos o produto na hora para montar em casa!
Marido estranhou o peso da caixa. "Nossa, como pode essa coisinha ser tão pesada?"
Manhã do dia seguinte, marido coloca sua roupa de montador de móveis, posiciona suas ferramentas como se aquilo fosse uma cirurgia e então começa a abrir a caixa.
Foi um susto! Quando ele viu o tanto de peças e detalhes, começou a falar sem parar, lembrou que uma vez atendeu um sujeito que tinha levado 7 tiros na barriga e 7 dias depois estava indo embora sorridente e certamente era mais fácil do que montar aquele labirinto.
Céus - essa coisa de sete afetou mesmo o marido.
Fechou metodicamente a caixa e me chamou para dar uma volta.
Ao ouvir a palavra "volta" nosso cachorro que bem conhece o significado, abocanhou sua coleira e foi conosco.
Marido sorriu ao parar defronte a um poste.
O cachorro também ficou bastante feliz.
Ligamos para o Seu Maciel. Ele disse que morava muito longe e que não compensava o preço que cobraria, porque teria que cobrar muito caro.
Quanto?
Cinquenta.
Marido disse que não faria nem por cem. Manda ele vir.
Pedi, dei endereço, dei telefone.
Então ele perguntou se era "Oi". Não, não é oi.
Mas eu não posso ligar se eu me perder porque o meu é oi.
Oi? Liga a cobrar.
Em quarenta minutos estou aí.
Passou quatro horas e nada do seu Maciel.
Então ele ligou, confirmou e chegou de carro.
Todo esfolado, coitado.
Estava vindo de moto. Caíram, ele e a esposa. Nada grave, ainda bem. Só joelho e cotovelo ralado. Tiveram que voltar para casa e pegar o carro.
A esposa o ajudava e entre um manuseio na furadeira e outro parafuso, ela parava e tentava convencê-lo a colocar água oxigenada no braço. Ele dizia ter medo.
Em quinze minutos, a escrivaninha estava montada. E o seu Maciel nem olhou o manual!
Bem, agora falta a cadeira.
Mas vamos dar um tempo, ainda estamos cansados só com a escrivaninha!