Foi esta tragédia, mais uma aliás, do estupro coletivo da garota que está me impulsionando a escrever este texto.
E talvez o que eu vá escrever não tenha relação nenhuma com os fatos que nos chegam.
Mas é algo que, de repente eu percebi por causa desse acontecido.
Vou tentar ordenar os meus pensamentos, que confesso andam confusos.
Há uns dois anos eu estava num auditório com muitos pais, avós, responsáveis, para uma reunião escolar.
O coordenador geral em determinado momento que se discutia sobre a leitura de clássicos e eles acharem chatos, disse que nossos filhos estavam usando um vocabulário carcerário.
Rimos. Rimos todos em uníssono.
Que divertido hahaha. Nossos filhos falando com vocabulário de cadeia. Rimos mais um pouco.
Nós, idiotas, acho que não entendemos. Apenas ficamos no divertido. O cara da palestra é bom mesmo, hein?
Então num dia qualquer, o vocabulário carcerário estava sentado no sofá da minha sala.
Chamei a atenção de meu filho, algo entre ponderação e alguns deslizes ocorreram, ocorrem.
A astúcia de nossos adolescentes fazem com que eles aprendam rápido "aqui eu não posso falar assim". Lá entre o grupo, os semelhantes, a coisa é diferente.
Mas foi ontem, justamente ontem quando os fatos sobre o crime com a garota estavam sendo divulgados na tv, que meu filho, chegou em casa após em evento na escola, e na empolgação em me contar como fora tudo, que tinha adorado, falou "naquele momento que o cara falou que era a favor das bombas atômicas, a bancada estuprou ele".
Para. Por que é que você está usando o verbo estuprar quando na verdade caberia talvez um "humilhou, colocaram o cara no lugar dele, enfim.
Ele me olhou assustado, como quem não estava entendendo o tamanho da minha indignação e respondeu: "Mãe, todo mundo fala assim, ninguém usa humilhou, é sempre estuprou".
Conversamos.
Não é só o meu filho. Um dia eu estava sentada no ponto de ônibus e chegaram adolescentes de outra escola. É o mesmo vocabulário carcerário que eu não entendia.
Eu já não me lembrava da minissérie Alemão ( acho que é esse o nome ) assisti apenas uns trechos e num deles de enfrentamento de bandidos eles se provocavam com palavras carcerárias que, me desculpe, mas você vai ler aqui, porque eu já ouvi de muitos pais o seguinte: isso é coisa de adolescente, não liga, vai passar".
Arrombado, filho da puta, carralho, nós vamos te estuprar.
Um pouco de vocabulário carcerário.
Eu gostaria muito de saber através dos comentários se isso ocorre apenas na minha cidade, nas escolas dos meus filhos e algumas ao redor ou se a coisa é geral.
Ou se é coisa só de São Paulo.
Meu filho disse que muitos dos youtubers famosos assim se expressam com o tal foi estuprado, vou te estuprar.
Como dizia uma antiga crendice; "Cuidado, vai que na hora que você fala passa um anjo e diz amém? "
As palavras estão ganhando um outro significado.
Tem o funk, tem os youtubers, tem sei lá o quê, facilmente eles se contaminam.
É preciso estar atento, chamar a atenção, falar duro, sério.
Vou tentar chamar alguns adolescentes aqui para saber a opinião deles.
Quero muito saber a tua percepção.
A minha acho que só veio mesmo à tona depois dessa tragédia da garota estuprada.
Que este caso desperte para atitudes, reflexões, mudanças inclusive políticas, nas escolas, nas famílias .
Para que não fique tão feio o post, tão pesado, vou encerar com uma frase do Papa Francisco:
"... porque elas [ as famílias ] não são um problema, são sobretudo uma oportunidade."