quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Acabou o gás

Esta é uma frase que cada vez menos ouvimos.
O gás agora não acaba. A não ser que você se esqueça de pagar a conta. Mesmo assim ele não acaba, é cortado.
Minha casa aqui no quarteirão é a única onde o gás ainda acaba.
Todas as outras aderiram ao novo investimento da região - o gás encanado.
A quebradeira seria tanto por aqui: chão, paredes, azulejos que achamos melhor manter o gorducho botijão acomodado numa casinha feita só para ele. E assim sigo feliz por a cada trimestre oferecer trabalho ao entregador.

E pensar que este quase extinto recipiente já figurou até como presente de casamento.
Minha mãe era uma das primeiras a se adiantar quando recebíamos o convite de um dos muitos primos que se encarreiraram a casar.
"Vamos comprar um bujão de gás para a Edna".
Era presente bom naquela época.
Era sempre bom ter dois boticões: um em uso e o outro ali do lado, ou guardado nalgum canto para quando acabasse o primeiro.
E era preciso ficar atento quando se tinha um bujão vazio em casa. Assim que o caminhão, enorme e lotado dos cinzentos barulhentos passasse, haveria de se repor. E que passasse num dia bom, depois do pagamento.

Vi sobrinho do pai constrangido pedir um dinheiro emprestado pro gás. Vi o pai nervoso porque tinham roubado nosso botijão que ficava escondido lá nos fundos do quintal. Era uma grande perda ficar sem um dos bujões.

Tinha sempre alguém que fazia uma saia para o gorducho que de repente ficava simpaticamente feminino.
E eu já não me lembro quando os caminhões encolheram para caminhonetes, os bujões ganharam roupagem verde ou azul e música ao invés dos gritos dos moços.
Agora também não temos que esperar pelo dia que passava o caminhão ou sair em busca de algum depósito mais ou menos confiável.
"Ih, comprei lá naquele do final da rua e acabou tão rápido, nem deve vir cheio, mas fazer o quê, na hora da necessidade né minha filha... "

Não se pode esquecer de jeito nenhum os cuidados na hora da troca, que eu nunca aprendi a fazer e sempre peço pro moço que sempre me pede ao final uma esponja ensopada com água e detergente ou sabão que o moço passa que é para ver se tem vazamento. Se fizer bolhas, precisa reparar.

Mas até isso se modernizou. Dessa vez o moço chegou, estacionou aqui no portão da garagem, desceu e primeiro me entregou um brinde - sempre tem um brinde ( pano de prato, pote plástico e comidinha pro cachorro! ), e quando estava quase terminando, eu corri para a cozinha, preparei uma esponja bem espumante e fui lhe entregar quando ele falou:
"Não precisa dona, agora a gente usa um spray".
Tirou do bolso uma latinha, agitou no ar e espirrou.
"Tudo ok, bom dia! "

Se eu tivesse o gás que não acaba, jamais saberia daquela modernidade que substituiu a esponja ensaboada.
Que será que tem na latinha do spray?


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29 de outubro, data da fundação da Biblioteca Nacional do Livro pela coroa portuguesa.
Meu desejo que além das manifestações nas redes sociais, blogs sobre nossos livros, que nossos governantes dêem a devida atenção ( verba$ ) para se atualizem acervos, construam, levem leitura aos mais remotos lugares.

Escolhi este livro da nossa literatura brasileira, que na rede social Instagram tem apenas três fotos e é um livro de tal excelência que merecia ter milhões de publicações.

Eugênia é uma árvore. Um jambeiro.
Amor que passa de geração em geração. Descaso também.
Eugênia, centenária, vê a chegada do progresso: rios entubados, asfalto por todo lado.
Eugênia, centenária, vive e se emociona com histórias de amor.

Tanta coisa boa nos nossos livros, nos nossos autores.
Deixo um trecho aqui deste maravilhoso título:

sobre uma enchente

"A cidade demorou muito para se recuperar. Com o fim das chuvas, o pobre rio voltou ao seu leito normal. A reação das pessoas foi terrível. Pareceu uma vingança contra um inimigo muito feroz e cruel. Entubaram o rio, simplesmente. Por todo o trajeto que ele percorria, desde a entrada até a saída da cidade, foram colocadas enormes placas de concreto de uma margem à outra, cobrindo totalmente o leito e suas águas. Fiquei horrorizada com tamanha maldade. Um rio precisa de sol, do ar, das chuvas para viver e ser feliz. Agora estava enclausurado, trancafiado, como um prisioneiro numa cela fria, sem porta e sem janela. E tudo por um crime que ele não cometeu. Afinal, aquele rio corria por ali há milhões de anos. As pessoas acham que nós, arvores, temos uma vida longa... O que dizer então dos rios?"

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Repara sim

 - Ai, não repara não; é que eu tive que sair bem cedinho e nem tive tempo de arrumar as camas.

 - Oi, entra, mas não repara na bagunça! Essas crianças não têm jeito...

Eu já tinha me acostumado com o uso do verbo reparar acompanhado silenciosamente de um olhar bisbilhoteiro, fofoqueiro, invejoso.
Afinal era sempre neste contexto que eu o encontrava e passei também a usá-lo também, numa mera repetição sem reflexão, de reparar com um resvalo de pessimismo no olhar.
E foi então que eu me deparei com um texto de Márcio Vassallo que me fez rever o próprio olhar!

[...] resolvi parar só para ver um casal que se olhava sem pressa. Ah, e aquela demora de gente que se repara com fundura me interrompeu o dia...
Gosto mais do que um bocado quando interrompem o meu dia dessa forma.

Nesse trecho eu senti a poesia, o sentimento benevolente no reparar uma pessoa.
Eu estava usando esta palavra de maneira muito distorcida.
No dicionário, depois do sentido de consertar algo, segue o sentido de olhar com atenção.
Reparar é isso: olhar com atenção, sem querer encontrar o errado, o feio, o sujo, a cobiça.
Corremos o risco de desconectar nossos olhares uns dos outros, dos lugares, dos objetos seja pela correria do dia a dia, o medo, as nossas telinhas luminosas.

Repara sim! Na cama desarrumada para sair da rotina e curtir uma preguiça.
Repara sim nos brinquedos espalhados, é a alegria da criançada; depois todo mundo ajuda e junta tudo!
Repara na vida, sem pressa porque há espanto onde menos se espera!
Repara sim!

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Mérito.
Este foi um troféu que meu filho Bernardo recebeu no mês passado. Para conquistá-lo é preciso ter entre 11-12 anos e estar estudando conteúdos de Matemática do Ensino Médio.
Em tempos de tanto imediatismo, de tudo vindo tão fácil, para mim está é uma conquista do esforço, da dedicação.
Foi exaustivo chegar até aqui; muitas vezes ele quis não fazer, faltar; mas foi ele mesmo quem se colocou esta meta "Eu quero conquistar aquele troféu".
Nem tudo é como no mundo virtual onde basta um clik para ser curtido, ser "top", para de imediato e momentaneamente ser conhecido.
Um grande aprendizado esse.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Minha intimidade

Nunca, mas nunca mesmo eu imaginei expor aqui no blog a minha intimidade mais privada. A que ocorre no banheiro. Quero dizer, nos banheiros públicos: shopping, livraria grande, aeroporto, hospital.
Não precisa tirar as crianças da sala. Fique tranquilo.
Tire apenas esta menina aí da foto:


Isso mesmo. Peça para a menininha se levantar e sente-se bem ali no lugar dela.
Ótimo. Já posso começar.

Sabe, antes quando eu era do tamanho da menina ali que se levantou, tudo era mais fácil. A começar que nem tinha shopping, quando a gente saía a mãe levava um pão com mortadela e a depender do lugar, a gente lavava as mãos ou não.
Fosse num parque sempre havia um jorro de água saindo da boca de um leão, senão houvesse, não tinha problema: o lanchinho estava devidamente embrulhado no papel de pão.
As torneiras das casas eram apenas torneiras, de dentro, de fora, era tudo modelo tipo de jardim para rosquear a mangueira. Era fácil.
Então aconteceu, na verdade ainda acontece.
Eu entro num banheiro público e na hora de lavar a mão, fico paralisada por alguns instantes ali diante da torneira.
Foi-se o tempo das torneiras tipo asas de borboletas...
Aperto a parte de cima da torneira. Nada acontece.
Angústia.
Sinto-me diminuída perante  toda pequena multidão feminina que higieniza suas mãos com destreza.
Sinto-me incapaz.

De soslaio no meio do meu pânico interno tento encontrar uma resposta.
Há pequenos, muito pequenos quadradinhos ali na raiz da torneira. É ali a goela do leão. Aproxime as mãos e a água surge. Mas se vai tão rápido que não dá tempo para o sabão deixar os dedos. ( tudo bem que estamos em época de racionamento, mas não precisa ser tão pouco assim ).
Mantenho então a esquerda ali perto dos quadradinhos para tirar o resto de sabão da direita. Inverto depois.
De outra feita, sentindo-me um pouco mais experiente, saio do banheiro e vou direto para a raiz da torneira. Nada acontece.

Estaria com defeito?
Já estou tão nervosa que não consigo enxergar os quadradinhos.
É que não tem mesmo. Tento então girar a copa da torneira.
Infrutífero.
Essa é de apertar.

Aperto e enquanto o sabão vai saindo, ela vai subindo e fechou a água.
Tem que apertar de novo. Mas acontece que agora está meio sujinho de sabão lá onde aperta e dá um pouco de nojinho, mas é assim.

Pensa que terminou?
Enxugar.
Depois vem a parte de enxugar.

Você sai com as mãos molhadas e precisa olhar para a direita e depois para a esquerda, tipo quando vai atravessar a rua. Isso é para ver em qual ponto se encontra algum dispositivo apropriado para a secagem.
Com sorte, este dispositivo pode estar ao seu lado.

Começa então tudo de novo.
Primeiro você lê que duas folhas bastam, ok, ok.
Depois está escrito para puxar e o papel  rasga, desmancha, esfarela e eu fico ali paralisada defronte ao dispositivo para secar as mãos.
Há uma rodelinha na lateral, quem sabe girando o papel reapareça.
Às vezes é uma barra branca, que mais parece fazer parte do design da geringonça secativa, e eu demoro a adivinhar que é preciso empurrar aquela barra para surgir o papel dali das entranhas.

E agora tem coisa pior: um caixote preso à parede na altura do seu estômago com um vão que mais se parece com um abismo e de onde sai uma luz azul futurista e brilhante. Pedem que você enfie suas mãos ali.
Fico paralisada por alguns instantes. Meto as mãos ali dentro ou não?
É preciso recordar que eu precisei de professor particular para perder o medo de segurar no mouse e parar de tremer até conseguir clicar em alguma coisa. Você acha então que é fácil para mim enfiar as mãos num abismo fluorescente de azul?

Não vou falar sobre as torneiras hospitalares cujo mecanismo se dá com pedais.
É  preciso recordar que eu não dirijo e nem toco piano ou harpa. Você acha que eu consigo coordenar movimentar os pés para lavar as mãos? Esqueça.

Devido a todos esses traumas eu cheguei a cogitar a possibilidade de uma terapia, foi então que eu me sentei ali onde está a menina da foto.
Volte lá e olhe bem.

Eles instalaram torneiras! E ali é um aeroporto.
Ah! Como eu me aliviei ao ficar observando alemão, japonês, senegalês, índio, branco, negro, ruivo, tuvaluano.
Todos igualzinhos a min!
Todos ali parados sem saber como fazer sair água da torneira. Todos hesitantes. Todos com papel esfarelado na hora de enxugar!
Pronto acabou meu trauma de diminuimento ou complexo de inferioridade aquífero.
De qualquer canto do planeta não há desenvoltura perante torneiras públicas de locais privados. E ainda bem que puseram bem ali na frente de meus olhos!

Agora preciso desabafar sobre elevadores.
"Moço, qual eu aperto para o térreo?
O 2 moça. O S1 é que é o térreo"

Gostava do tempo que térreo era apenas T.



terça-feira, 21 de outubro de 2014

Chove céu

Já fazia noite no dia de domingo, já fazia a hora de fechar a porta e preparar a casa para adormecer.
E foi nesse fechar de portas que uma luz alumiou o céu. Eu que já estava sonolenta, despertei!
Desliguei as luzes e fiquei na varanda a olhar para o céu: o contorno das folhas de coqueiro remexendo ao vento forte e repentinamente iluminado por um relâmpago; era certo, era a chuva vindo!
Que dimensão extraordinária apreciar e esperar pela chuva que castiga São Paulo e tantas outras regiões com sua ausência.
Os pingos eram espaçados no começo; moças seguravam as sandálias nas mãos e subiam a rua correndo e sorrindo e naquele final de domingo não importava ficar molhado. Ninguém se importaria com o cabelo, com a roupa.
Fiquei na varanda tentando, apenas tentando imaginar a força do sertanejo que conhece a seca impiedosa. Lembrei da ciência tentando entender o que acontece, qual fenômeno predomina na cidade para causar essa falta de chuva, lembrei de quando criança colocar ovo num pratinho para Santa Clara para que parasse de chover na praia que a gente aguardava tanto para se divertir nas férias e não podia chover. Ali na varanda lembrei de uma amiga qua ao conhecer São Paulo, notou que o céu era de um azul tão desbotado, tão diferente lá da sua Bahia.
A chuva que veio não trouxe o alívio para as torneiras, para as lavouras. Trouxe alívio para o coração.
Amainou a angústia. Juntou ciência e fé. E numa corrente de bons pensamentos, como índios ancestrais de mãos dadas dançando sua dança da chuva, recebo com carinho os versos de uma menina nascida no Dia do Índio:


São Barnabé dá jeito de chover
Molha nossa terra
Manda água aí do céu pra modi molhar os chapéus
Aqui dos tabaréu de Sampa
E os paletós dos bacana
As sandálias das moça
Pra modi com gosto eu poder lavar minha louça



E a gente fica aqui encostadinho na janela com o coração já mais tranquilo e com a esperança renovada!



sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O jogo do bicho

imagem google

Não vejo mais reclamações nos blogs derivadas dos números que temos que digitar para provar que não somos robôs.
Minto, minto.
Vi sim. Uma apenas. Com educação, a blogueira deixou nos comentários a sua dica de que essas verificações atrapalham e chegam a impelir os comentaristas.
Uma apenas para as verificações numéricas.
Bem diferente de quando eram verificações por letras.
De tão irritante que era digitar aquelas letrinhas embaçadas, por vezes feito um garrancho só para te confundir e oferecer-lhe nova tentativa, surgiram naqueles tempos paquinhas, banires colocados nas laterais dos blogs, textos inteirinhos dedicados a esclarecer aquele infortúnio.
Com os números, tudo é diferente.
Não são banidos, gritados com boca bem aberta para que saiam.
E eu sei o porquê.
Bem, ao menos eu tenho uma hipótese.
Jogo do bicho.
As pessoas não reclamam dos tais números a serem digitados para publicar um comentário porque eles têm uma serventia - são um palpite, uma possibilidade.
Hoje vou jogar no 99 na cabeça.

Ah! Com leu sei disso?
Sou do tempo que jogar no bicho não era contravenção. Era apenas o troco do pão.
A gente nem ouvia falar de Carlinhos Cachoeira não.
Era só o seu Joaquim lá da venda.
Tempo que criança ia comprar pão à pedido da mãe.
E o pão era bengala ou filão.
O seu Joaquim enrolava um pedaço de papel no meio do filão, grudava ali um durex e a gente levava debaixo do braço.
Família grande comprava a bengala inteira. Pequenas famílias, pediam meia bengala.
No caminho, e a gente ( criança ) nem percebia, ia beliscando o miolo da meia bengala e ela chegava esburacada em casa. Vinha primeiro a bronca e depois a mãe perguntava: fez o jogo pro seu tio?

Era sempre assim: o dinheiro do pão sempre tinha troco, umas moedas e o tio sempre tinha um sonho, ou com um número, ou com bicho.
Então a gente ( criança ) pedia o pão e dava o papelzinho para o seu Joaquim com o número que o tio tinha sonhado. Seu Joaquim tirava a caneta bem apoiada na orelha, pegava um bloquinho encardido, tirava o papel carbono azul cobalto colocava entre as folhas e marcava o bicho pedido pelo tio.
Às vezes, ele fazia antes as anotações numéricas, punha com habilidade a caneta atrás e na parte superior da orelha e então ia cortar o filão ao meio e embrulhar e os dedos estavam sujos do carbono azul e da caneta ensebada, mas era um tempo em que a gente não fazia conta disso não.
De tarde, a gente ( criança ) voltada lá na venda para comprar a outra metade do pão, mas dessa vez não gastava com jogo não.
A mãe recomendava: traz o pão e não esquece de pegar o resultado para o tio João.
Seu Joaquim entregava um papel pequeno e encardido e engordurado com o resultado do jogo do bicho.

Ih, deu avestruz na cabeça - dizia o tio João indignado, afinal ele tinha sonhado era com o galo.

E foi por causa do jogo do bicho que o tio João arrumou emprego.
Meu tio era analfabeto e o carpete verde-musgo arruinou seu negócio.
Ele tinha uma máquina de raspar tacos e assoalhos e outra de passar cascolac. Mas aí, chegou a novidade em forma de carpete verde-musgo. Era tão chique ter casa com carpete e assim o Tio João ficou desempregado.
A tia Dirce arrumou um concurso para ele no final do ano. Tinha prova de português e matemática.
As letras ela ensinou a partir do nome da bicharada do jogo do bicho e a matemática também.
Somavam os resultados o primeiro lugar, com o terceiro, depois diminuíam; ele aprendeu a conta de vezes e dividir porque em cada grupo de bicho podia haver quatro números.
E foi assim que eu comprei muito pão-filão, fazia jogo e trazia o resultado para o Tio João que passou no concurso e não se incomodou mais com o carpete verde musgo porque agora tinha profissão.

Então por causa do pão, do seu Joaquim, do tio João e sem contravenção, eu acho que toda essa verificação para os comentários nos blogs têm lá uma certa simpatia...
Não temos mais bilheteiros gritando cobras e lagartos pelas ruas ( ou será que ainda existem? ) mas temos as casas lotéricas, quem sabe um palpite bom extraído dos números de verificação dos blogs...
Conta aí vai, quais são os seus sentimentos com esses numerozinhos a serem digitados?!

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

41/52


Achei graça na pergunta que minha filha dirigiu a mim:
 - Mãe, como que eles fazem para o poste não cair?
Poste não cai, a não ser que um acidente com carro, caminhão, etc, o derrube, foi a minha resposta.
 - Mas mãe, é muito, muito fio pendurado no poste.

E é mesmo. E faz sentido pensar em um poste aguentar. E olha que este nem é dos mais pesados...
Eu só não consegui explicar para ela que não cai de jeito nenhum porque cada fio desses pendurados aí pagam aluguel para o poste.
Ah! Ele aguenta e bem, porque deve estar com os bolsos cheios de dinheiro.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Feliz dia do Professor

Feliz? Que feliz? Aonde?
Não sejamos hipócritas: essa data tem muito pouco de feliz. Para que possa retomar a aura festiva, antes precisa ser uma data de reflexão.
Eu já fiz várias potagens aqui no blog, divertidas até, sobre as mudanças tão rápidas e repentinas de nossos tempos, por exemplo o uso de celulares e tablete em missas ( ver aqui ) ou mesmo sobre as lâmpadas que agora tocam música ( aqui ). Tudo mudando na velocidade de um tufão e o professor?
Não, a culpa não é do professor.
O professor é o herói, o vencedor de adversidades. Ele tenta, muitas vezes consegue, outras não, adaptar-se.
Tem de enfrentar a falta de coerência entre os poderes municipal, estadual, federal para a educação; tem que fazer uma faculdade absurdamente teórica e aprender a prática na prática; tem que lidar com as carências nutricionais, econômicas ou os excessos de recursos que muitas vezes se traduzem numa falta total de respeito e admiração pelo seu trabalho; tem que satisfazer as preocupações dos pais com o ENEM e os vestibulares e agora vem aí, ganhe quem ganhar as eleições, a escola de tempo integral.
E o que vai ter neste tempo integral? Nem os candidatos devem saber, depois de eleitos, pensam.
Acho que a maior crise que enfrentamos nem é na saúde, é na educação.
Que a escola precisa ser mudada, o professor já sabe, já sente, já faz o que pode. E todo o resto, governos, sociedade, pais?
Para muitas famílias ( ? ) a escola tem que fazer o papel que seria delas, ode dar valores.

Aos que exercem esse maravilhoso dom de ensinar, deixo a minha admiração e sonho de dias melhores.

Um vídeo para reflexão nestes tempos difíceis - 17 minutos.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

40/52


O caos das grandes metrópoles tem seu lado positivo: inspiram a criação de soluções para amenizar o impacto do trânsito, da poluição, dos excessos, da falta de convívio.
Um exemplo são esses pequenos espaços que estão se espalhando pela cidade de São Paulo.
Feitos de material reciclável, convidam a uma pausa. Como uma pequenina praça ou um cantinho num jardim. Pode-se relaxar, espairecer e até quem sabe conseguir encadear uma boa prosa.


Uma doação

"Mãe, eu não quero mais o meu ipad, vou doar"- fala da minha filha Júlia, 9 anos.
"Ãhn? Como assim? Eu entendi direito? Doar o ipad? - uma mãe estarrecida.

E foi isto o que ela fez, não antes de eu tentar uma gracinha dizendo que era para ela doar para mim.
Ao que ela me respondeu não fazer sentido que eu ficasse com o aparelho, ela realmente queria se desfazer, dar para alguém que fizesse melhor uso.

Eu , confesso que fui surpreendida por tal atitude.
As explicações da menina foram convincentes: ela me disse que quer se dedicar aos estudos, principalmente no próximo ano, quando entrará para o sexto ano, o "fundamental II " que sabe ser um marco importante na vida estudantil e por isso quer ter a mente, a organização para os estudos. Alegou estar viciada no ipad, já que acordava querendo ver e dar bom dia para o pessoal do "insta", disse também gastar muito tempo presa a uma telinha e que não fazia sentido o ipad ficar comigo ( a mãe ) porque ela poderia não se desligar totalmente e disse também estar um pouco cansada de tanta coisa para ver on line.

Esses eletrônicos demoraram um pouco para entrar aqui em casa. Perante casos de crianças de dois anos que já os manipulam, aqui o primeiro e ainda único vídeo-game veio aos nove anos para meu filho mais velho ( hoje com 11 ), e depois uma certa "necessidade" que foi difícil de contestar para trabalhos de escola, especialmente gravações de vídeos. Veio o primeiro ipad para ele e depois foi até natural a aquisição de um aparelho para a Júlia. Orientações de um bom uso, com momentos de ao ar livre, sempre foram pautadas e respeitadas.
Para mim, estava tudo ok. A tecnologia móvel não atrapalhava tarefas escolares, notas, enfim, um uso bem consciente.

Há algo que faz parte do nosso universo familiar, que relatarei com mais detalhes num outro momento, que é um espaço "off", desligado de qualquer tecnologia em casa e que rende boas prosas.
As crianças adoram saber o que eu estou lendo. E foi um desses livros que despertou bastante a curiosidade, que foi sobre a mãe que desconectou os filhos adolescentes e tudo o que ocorreu depois disso.
Eu nunca impus essa desconexão a eles por não achar necessária, mas sempre ressaltei os malefícios visíveis em muitas pessoas, em vários ambientes.

Meu filho nem cogita ficar sem o seu tablet. A menina já faz alguns dias que nem falta sente.
"Temos o computador de mesa, já é suficiente".

Foi um aprendizado e tanto aqui em casa...
Doar algo que não te serve mais é fácil. Doar um "algo" que custa caro e ainda tem muita serventia, foi o que mais me surpreendeu e aí eu vi que eu era mais apegada do que ela ao tal aparelhino da maçã!
Nunca imaginei que uma criança tivesse tal atitude.
E por fim, voltaremos ao uso compartilhado, quando for necessário. Assim é preciso dividir, saber emprestar, respeitar tempo de uso.
Fico feliz por ela ter se conectado com seu próprio interior, seu próprio sentir e ter decidido sem imposição de ninguém. Não é melhor ou pior. É o momento dela. 
Estranho, mas simples!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

10 fotos no seu dia

Fazia tempo que eu não conseguia participar deste projeto incentivado pela Mirys do blog Uma Bagunça Deliciosa. Não fiz exatamente como se deve e me desculpo por isso, mas hoje eu queria muito participar.
O projeto consiste em você tirar 10 fotos no dia 10 ao longo do seu dia. Eu abreviei tudo e tirei todas as fotos já de manhã. Tá valendo, né?!

Antes mesmo de acordar as crianças, eu preparo o lanche que levarão para a escola.
Esse lanche aí pertence à a penas uma boquinha que está em fase de crescimento e tem uma fome...


Prontos para ir à escola e ao trabalho, faltando apenas convencer o cão de que ele não pode ir!


Depois que a primeira turma sai, é hora de acordar a Júlia.
Eu me utilizo de um despertador muito eficiente: o cachorro.
É só dizer a ele "Vamos acordar a Juju"!


Como dizia a minha mãe, tem que comer no café da manhã, tem que ter vitamina pro cérebro conseguir fazer as contas de matemática!


Faz quase dez dias que a Júlia tenta entregar um presente para a  professora. "Mãe, ela foi pra Bahia com os alunos da formatura e só volta a semana que vem"- disse toda triste. "Mãe, você não acreditar, procurei a professora por tudo e me disseram que ela foi levar os alunos do sexto ano na Pinacoteca, o presente continua na minha mochila :(.
Hoje, porém, no meio do caminho tinha uma professora!


E ganhou presente e todos ficaram felizes! Porque presentear é muito bom!


Minha filha quase entrou dentro de algum buraco de tanta vergonha quando eu a chamei para fotografar comigo a próxima cena. "Mãe, você não fazer isso, por favor".
É que eu nem sei explicar, mas esta cena me causa poesias no estômago. 


Ver a alegria das crianças em detalhes espalhados pela escola.


Uma criança é feliz na escola quando ela chega em casa e tem areia no meio dos dedinhos dos pés!


E vez em quando, as unhas das mãos sujas, pretinhas porque cultivar a terra dá trabalho e pode dar uma boa história de alguma minhoca que de repente saiu pulando.













quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Fim do Político Profissional


Foi num programa de rádio que eu ouvi que político não é profissão. Achei que o comentarista se equivocara, mas logo em seguida veio a explicação de ser um cargo representativo e não uma profissão.
Continuei achando "estranho", afinal eu cresci vendo políticos, eleição após eleição mantendo-se no poder.
E é justamente isso o que está errado em nossa política, é esse modelo que permite, colabora, com a corrupção.

À caminho do segundo turno para Presidente da República, uns estão na torcida por seu candidato, outros desacreditados. Independente do eleito ou eleita ser do nosso gosto, podemos, especialmente nestes tempos de internet, ter uma participação mais expressiva, além das urnas.
Deixo a sugestão para os que quiserem aderir para o fim da reeleição no executivo e legislativo, conhecer o site Fim do Político Profissional, onde é possível baixar a ficha, imprimí-la e arrecadar assinaturas que serão encaminhadas aos nossos parlamentares. ( envie depois pelo correio )
É uma maneira de manter e reforçar a pressão para iniciarmos a reforma tão necessária em nossa política.

38/52


"Como frequentemente acontece, levaram algum tempo para recordar que, quando morre alguém, cabe aos outros viver também por ele - é a única coisa adequada."

Alessandro Baricco

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Luz e lâmpadas

O dia estava com uma luminosidade intensa que se permitia filtrar através da cortina de tramas alargadas, chegando ao interior da sala num suave tom alaranjado e acolhedor.
Marido recostou a cabeça em meu colo e naquele silêncio luminoso que banhava o sofá onde estávamos, vieram-lhe recordações.
"Olhando para o teto e vendo essa lâmpada estou lembrando da minha infância. Não tínhamos lâmpada; tínhamos lamparina à óleo."
Recordou o cheiro, a fuligem preta, ou causos de assombração contados pelo velho pai que, em meio às sombras formadas pela luz tremeluzente da lamparina, aumentava em muitas vezes o medo!

Eu me lembreidas duas lâmpadas do cômodo e cozinha onde morei com os fios pretos e vermelho expostos e que expunha também a nossa carência material.
Perguntei a ele se já ouvira falar da super lâmpada tecnológica de alta conexão. Achou maluquice!


Descrevi o que havia lido numa revista mediante a descrença dele.
"É uma lâmpada controlada pelo celular. Você aciona, escolhe o tipo de luz de fraca a intensa, e o mais especial: a lâmpada toca música. Selecione a música, a playlist e o som sairá lá de cima, lá da lâmpada!
Rimos muito ao pensar que, da lamparina, da casa de duas lâmpadas podemos hoje pensar em comprar a lâmpada que toca música.
"Ah! E serve também como despertador - programe o horário e ela acende e vai te despertar com a música no volume escolhido. Tudo por apenas 360 reais."

Dias se passaram e houve uma manhã em que eu estava ali no sofá, no mesmo lugar onde divagamos sobre as lâmpadas, porém, eu estava sozinha. Do céu nublado chegava apenas uma claridade sem força alguma. E foi nesta penumbra imposta pelo mau tempo que li esta frase:

"Em seguida contou que a primeira a acreditar nele tinha sido uma condessa que desejava em sua saleta uma luz idêntica à da aurora.
 - Não foi nada fácil - recordou."

O protagonista do livro encontra sem querer um artesão de lâmpadas, ou melhor, de minilâmpadas. Um velhinho de olhos lacrimejantes produz minilâmpadas ao gosto  do freguês.
Quero acreditar que este velhinho existe e um dia vou encontrá-lo para lhe pedir uma luz que absorvi lá nas Minas Gerais e ainda trago em mim.
Antes talvez, eu compre a lâmpada de alta conexão enquanto o velhinho não aparece e com suas mãos hábeis me agracie com esta luz:


Esse artesão que reproduz em minilâmpadas a luz da aurora ou do poente, eu não sei se existe.
Mas sei que existe um senhor que ao anoitecer, aperta o interruptor da primeira luz da noite dizendo "Boa Noite Cinderela".
  

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

37/52


Efeito de uma cidade com quase doze milhões de habitantes: os telhados se roçam, são pontes para gatos enamorados, quintais livres para passarinhos, vertente das águas das chuvas que vai passando de um para o outro numa cumplicidade quase musical.
Sob esses mesmos telhados constroem-se barreiras multifacetadas para que doze milhões de pessoas sequer se vejam.