sábado, 3 de dezembro de 2011

Gestar


Pari filhos
e agora estou gestando a mim mesma
sem luas a contar
sem exames a fazer
sem dores que amedrontam

Sangro erros cometidos
ideias empoeiradas
e fico mais viva
forte

Sinto a dor das palavras
que já poderiam estar extintas
Nutre-me uma outra linguagem
palavras de um outro mundo

Deste ventre que me gera sem tempo
sem medidas
não sei quando virei à luz
Não importa

Nesta escuridão
meu olhar meu sentir
são tão claros
como a Lua
que segue seu fluxo

E eu sigo o meu fluxo
de gestar a mim
sem luas a contar

Estou me organizando para mudar de cidade e depois temos reforma pela frente. Ficarei ausente. Agradeço e retribuo o carinho recebido. Um beijo.
Ana Paula

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um Anônimo


Quando se mora em grandes centros urbanos, acostuma-se com os ruídos. Uma questão de sobrevivência.
Tornam-se conhecidos. Mesmo dentro de um apartamento, no alto, aprendemos a decifrar ruídos. Horário de entrada de escola mais carros, chuva, muita buzina, provavelmente semáforos apagados... e assim, mesmo sem olhar pela janela, os acontecimentos se codificam nos ruídos.
Era perto da hora do almoço quando um ruído nos sinalizou algo fora dos padrões conhecidos. Um helicóptero bem próximo, num voo pausado.
Mesmo difícil de ouvir a nossa televisão, ligamos no noticiário local do meio-dia.
Na tela da tv a imagem gerada do helicóptero: uma obra, um prédio, um operário morto.
Seria mais um caso como quase todos dos noticiários: morte, morte, morte.

Reconheci de imediato a construção. Um edifício que abrigará um hospital.
Sim era mesmo a construção que acompanhamos desde o início. A chegada das máquinas, o prédio tomando forma e mais do que isso, os trabalhadores.
Feriados, noite adentro, lá estavam eles: incansáveis no cansaço disfarçado dos músculos e suor escorrendo.
Parados ali em frente à obra, aprendemos sobre cooperação, sobre dons.
O engenheiro com o projeto debaixo do braço necessitando do dom de braços fortes para tornar seu papel realidade. A cooperação de cada um desempenhando o seu papel.
Ali em frente àquela obra, que simplesmente estava no nosso caminho, parávamos para aprender sobre a vida.
Ali conversamos sobre igualdade: não há dom mais importante que outro, precisamos de todos. O operário sujo, queimado de sol, cheirando a suor não é menos que o engenheiro, não é menos que a faxineira que irá trabalhar naquele hospital. É tão igual ao médico, tão necessário. Infelizmente no nosso planeta as diferenças se fazem em tantos aspectos...
Esse operário que nós nunca vimos o rosto, ou talvez tenhamos visto num horário de almoço onde ele poderia estar sentado na beira da calçada, morreu.
Um anônimo que tanto nos ensinou.
Não sei o porquê, de quê ele morreu. Sei que ele não ganhará uma biografia com direito a pré-venda.
Sei que passamos novamente em frente à obra e ali apenas consta em grande placa o nome dos engenheiros responsáveis.
Não há flores ou desenhos pelo chão para homenageá-lo.
Lá dentro, vários trabalhadores anônimos. Disfarçando a tristeza em seus músculos fortes. Escorrendo suor no lugar das lágrimas.
Queria um dia passar por uma obra e ver, como num convite de formatura, o nome de todos que ali trabalham, em ordem alfabética.
O Anônimo também estaria lá.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Janela da Vida




A vida se desnuda na  janela
intensa
feia, bonita
todos os contrastes
que nos permitem
o simples e complexo
viver

Segredo da Nona


Que eu não sou lá uma boa quituteira, isso eu já sabia. Mas que eu era tão péssima, realmente me surpreendeu.
Meu bolo de laranja ficou assim:


É preciso colocá-lo dentro do contexto do dia em que foi feito – aquele dia de perder o fôlego por causa da vizinha. Ainda assim não precisava ter ficado tão ruim.
Se bem que, ruim de sabor, não ficou não. Como disse meu filho, o problema foi apenas estético. Todo esfarelado, porém gostoso.
Pensar assim não amenizou o desconforto da minha auto-estima estar lá no chão, principalmente esses dias que eu vi um bolo lindo de aniversário pela internet, e tinha jeito de ser verdadeiro.
Diminuída em minhas aventuras gastronômicas, fui buscar as crianças na escola. Era final da tarde, momento de se pensar no jantar, aquela angústia, mas é preciso manter a cabeça erguida.
E foi no erguer a cabeça que eu encontrei o Sr. Oshiro no meu caminho.
Sua kombi estacionada é de um branco tão alvo que faz inveja até para propaganda de sabão em pó. Um enorme guarda-sol azul turquesa e lá dentro o Sr. Oshiro sentado num banquinho, fritando pastéis pequeninos numa pequena panela e resfriando-os num mini ventilador. É preciso também descrever que todo o interior da kombi é revestido de um papel igualzinho ao de todas as caixinhas e caixas maiores e o próprio banquinho do Sr. Oshiro.
Era tudo o que eu precisava para o jantar: pastéis do Sr. Oshiro!
Então ele me pergunta: “senhora sabe fritar pastel de queijo, nom?”
Controlei o choro que ficou preso na garganta. Se nem bolo de laranja sei fazer, que dirá fritar pastéis de queijo.
Ele leu meus olhos aflitos e explicou calmamente: primeiro coloca palito de fósforo no óleo, quando acender coloca pastéis apenas quatro que é pra óleo não esfriar, senão queijo sai de dentro do pastel.
Era tudo o que eu precisava ouvir, porque não tinha ainda comprado uma caixa de fósforos. E se a energia for programada para ficar desligada novamente?
Comprei fósforos, fritei como me fora ensinado. Sucesso absoluto para o jantar.
Eu agradeci em pensamento o Sr.Oshiro por me falar de fósforos e no meio do agradecimento eu lembrei da Regina.
Ah! A Regina foi uma grande amiga no passado. Grande até no tamanho. Uma italiana alta.
Fazíamos yoga juntas. À medida que a amizade crescia, chegávamos cada vez mais cedo para a aula, só para ficar conversando.
Numa tarde, ela bruscamente interrompeu a conversa e disse que precisava ir ao banheiro. Abriu a bolsa dela que estava ao lado e tirou de lá uma caixa de fósforos.
Eu fiquei horrorizada.
'Regina, você fuma?'
Claro que não! Você não conhece o segredinho da Nona sobre o palito de fósforo?
Deixou a pergunta no ar e saiu apressada.
Demorou tanto que quando voltou, a aula já havia começado e não pudemos conversar.
Para mim foi uma aula péssima. Eu não conseguia me concentrar, quando era para fazer exercícios de respiração tentava disfarçadamente perceber se havia cheiro de cigarro, charuto, cachimbo na Regina e quem disse que no final eu conseguia fazer relaxamento?
Não aproveitei nada da aula, mas a explicação que a Regina me deu, foi proveitosa para uma vida inteira.
Foi a Nona que me ensinou isto, lá na Itália. Quando você for ao banheiro fazer aquelas coisas mais sólidas, leve sempre uma caixa de fósforos. Quando terminar, risque um palito que o cheiro some. Então a próxima pessoa que entrar no banheiro, nem vai perceber que você fez 'aquilo'.”
Essa Nona! Quase pensei errado da Regina...

Você conhecia o segredinho da Nona?  

domingo, 27 de novembro de 2011

Máquina fotográfica


Alguns meses antes do meu filho nascer, eu fiz uma aquisição importante : uma máquina fotográfica.
E comprei cinco rolos de filme de 36 poses.
A máquina tinha uma tecnologia inovadora que era rebobinar o filme quando este chegava ao final.
Ouvir aquele barulhinho “automático”despertava várias sensações em mim! A ansiedade em mandar logo para a revelação, depois me deliciar vendo as fotos, escolher as melhores para mais cópias.
E assim, mês a mês, meu rebento tinha muitas fotos. Muitas, nem tanto, porque a quantidade de fotos tremidas, cortadas, embaçadas eram muitas também. Então salvava-se das 36 poses, uma dezena de fotos aproximadamente.
Nos primeiros meses do bebê, eu precisa me deslocar até um outro bairro, onde havia uma rua estreita somente de lojas de revelações. Escolhia-se pela simpatia da loja e também pelos brindes oferecidos – uma ampliação, um pôster, desconto no próximo rolo de filmes.
Posteriormente, inaugurou uma loja bem próximo de casa. Colocava o bebê no carrinho e lá íamos para mais uma revelação. Essa era uma loja muito mais moderna que as anteriores. Ali me davam muitas dicas, como por exemplo a maneira de colocar o filme na máquina que poderia render até duas fotos a mais.
Quando havia pouco serviço eles sugeriam que eu esperasse por ali enquanto revelavam. Entre brincadeiras com o Bernardo, dicas de melhorar as minhas fotos, saía de lá com o pacote de retratos, uma ampliação garantida, escolhia alguns modelos para fazerem em “sépia”( parecia mágica poderem transformar uma imagem), já comprava um novo filme e me arriscava em filmes com mais qualidade, usado por profissionais.
E o melhor de tudo: sempre se encantavam com uma das fotos e me pediam para expô-la na vitrine dentro de um belo porta-retratos. Para a vaidade de mãe, não havia nada comparável!
Relutei um pouco em passar para a digital. Lembro-me das inúmeras reportagens que li e ouvi falando da quantidade de pessoas desempregadas por conta do fechamento das enormes fábricas de filmes fotográficos.
Mas, a máquina digital, de repente, estava em minhas mãos.
Foi fascinante poder ver imediatamente a foto e ali eu mesma transformá-la em sépia que tanto gostava, apagar e muitas possibilidades mesmo no meu pouco entendimento de técnicas para fotografar.
Ainda tinha por hábito prender a respiração para não tremer a foto!
Aos poucos fui relaxando.
Lembro-me de uma noite fria de inverno, eu tinha recém descoberto a possibilidade de fazer fotos em movimento e chamei as crianças para fazerem cambalhotas.
Foi pura alegria e muita risada.
Mesmo com as facilidades da máquina digital, não foi tão fácil assim para mim congelar aquele momento no ar.
Para fotos caseiras até que ficaram boas, mas o principal foi a diversão!







E as suas peripécias com uma máquina fotográfica?
Beijo






sábado, 26 de novembro de 2011

Mário Lago 100 anos

26 de novembro de 1911 nascia Mário Lago, que para mim era somente o ator que me encantava nas novelas. Surpreendi-me ao saber que cantava, compunha, escrevia...
Em homenagem ao centenário de seu nascimento um poema bem ao seu estilo: leve, descontraído de quem olhou para a vida e viu muitos sorrisos.


Proclamação do amor anti gramática

"Dá-me um beijo", ela me disse,
E eu nunca mais voltei lá.
Quem fala "dá-me" não ama,
Quem ama fala "me dá"
"Dá-me um beijo" é que é correto,
É linguagem de doutor,
Mas "me dá" tem mais afeto,
Beijo me-dado é melhor.
A gramática foi feita
Por um velho professor,
Por isso é tão má receita
Pra dizer coisas de amor.
O mestre pune com zero
Quem não diz "amo-te". aposto
Que em casa ele é mais sincero
E diz pra mulher: "te gosto"
Delírio dos olhos meus,
Estás ficando antipática.
Pelo diabo ou por deus
Manda às favas a gramática.
Fala, meu cheiro de rosa,
Do jeito que estou pedindo:
"Hoje estou menas formosa,
Com licença, vou se indo".
Comete miles de erros,
Mistura tu com você,
E eu proclamarei aos berros:
Vós és o meu bem querer

Mário Lago

Dia mundial sem compras




Hoje é o Dia Internacional de Não Comprar Nada – Buy Nothing Day.
A edição deste movimento de conscientização do consumo ocorre no último sábado do mês de novembro.
As pessoas se unem em prol do consumo consciente e da responsabilidade para com o Planeta e se desafiam a passar um dia inteiro sem fazer compras.

Acho interessantíssimo as reflexões que esse dia pode proporcionar para que não fique apenas no “último sábado de novembro” e passe a ser uma atitude para todos os dias.
O Tulio Kengi Malaspina traz um artigo excelente e um exemplo de uma inovadora campanha que se propõe a fazer roupas duráveis evitando que se compre sem necessidade.
Vale conferir ( clica ali no nome dele).


Outra dica que combina com este dia e com atitudes sustentáveis é o blog Maria Reciclona. Ideias prá lá de charmosas.


Obrigada Manoel pela dica, é óbvio que reciclagem combina com menos consumo!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

De perder o fôlego


A tarde hoje estava agradável. Um céu azul de sexta-feira, eu fazendo bolo de laranja e ouvindo música. A música não era propriamente do meu gosto, mas como era meu vizinho de cima que a escutava num bom volume, acabei aproveitando o som.
Assim que fechei a porta do forno e bateram na porta dos fundos. Ou melhor, tocaram a campainha. Coisa estranha. Nunca tocam. Sempre o porteiro interfona antes.
Quando eu abri a porta, simplesmente perdi o fôlego. A vizinha de cima.
Com uma mão segurei o cachorrinho e com a outra o coração que havia saído pro lado de fora.
Ela leu a minha postagem de perder o sono e agora?
Preciso muito falar com você, posso entrar?
Eu, com o coração na mão, o cachorro, nem conseguia falar, apenas fiz que sim com a cabeça.
A cabeça girava à velocidade da Terra, que eu não sei qual é, mas sei que é bem rápida.
Eu e a vizinha frente a frente. Como ela leu? Como ela encontrou meu blog?
Enquanto eu tentava pensar, ela começou a chorar.
Céus, será que foi tão horrível o que eu fiz. Ah sim, foi. Eu desnudei a intimidade dela na rede. Peço perdão já, ou espero o pior acontecer?
Você me desculpa vir assim, tocando sua campainha de repente, é que eu preciso desabafar.
Estava embaraçoso, mas talvez depois que ela leu, sentiu vontade de falar algo, um segredo profundo.
Sabe, eu sou sua vizinha.
Sim, claro que eu sei – apenas pensei, continuava muda, sempre esperando pelo pior.
E eu preciso saber se você ouve barulhos.
Pensei em responder que por causa dos hormônios eu tivesse ficado com uma leve deficiência auditiva e não ouvia os barulhos, mas num momento de lucidez, eu pensei: se ela leu o blog, vai saber que isto foi um comentário da Ivani.
Imaginei-me perante o juízo final e achei melhor dizer a verdade, somente a verdade.
Sim, eu ouço barulhos.
Você estava ouvindo a música?
Sim, inclusive dançando porque não é fácil bater bolo na mão ( nem me ocorreu pedir a batedeira dela emprestada).
Então, ela disse: eu não aguento mais e o choro ficou forte.
Eu ainda estava segurando o cachorro e o coração e não estava entendendo nada.
Eu não aguento mais esse vizinho aí de cima.
Como assim? O vizinho de cima não é você?
Não, eu sou do lado.
E vim aqui saber se você escuta barulhos à noite, porque eu e meu marido não sabemos mais o que fazer.
Neste momento botei o coração pra dentro de volta e só pensava no blog.
Então não são eles?
Ela veio me pedir alguma sugestão, desabafar, porque hoje, justamente hoje no dia do seu aniversário aquela música ensurdecedora.
Tudo o que eu consegui dizer era que nós estávamos praticamente de mudança.
Aí ela me pediu o meu e-mail, porque eu era muito legal, nós nem nos conhecíamos e eu a ouvi, ela precisava desabafar. Eu era tão legal que que convidou para um café ( eu nem ofereci água para ela).
Agradeci; quase pedi para ela ser seguidora do meu blog. Aí eu me lembrei dos cometários sobre seguidores e achei melhor nem falar sobre o blog. Afinal neste momento a última pessoa que eu quero que leia o blog é ela.
Ela me abraçou no final, disse que estava tentando engravidar.
Eu disse que sabia disso e abracei-a desejando um feliz aniversário.
Pedi desculpas por não ter nenhum conselho prático.
Ela se foi.
Eu recobrei meu fôlego perdido.
Penso que isto pode ser um aviso mesmo que hoje não seja sexta-feira 13. Será melhor eu parar com essas coisas de blog? Acho que o blog anda atraindo umas coisas estranhas para mim: aquela assombração na mesma porta dos fundos, o italiano de duas mil palavras, a vizinha de cima, que na verdade é do lado direito.
Vou tomar um fôlego, me benzer e canja. Porque já dizem por aí: canja de galinha não faz mal à ninguém.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Seguidores


Seguidores de blog. Assunto que considero um tanto espinhoso para abordar, mas hoje ao ler no excelente blog da Vivi, que é super antenada, que o Google vai descontinuar, cancelar, suspender o google friend connect ou conhecido como caixa de seguidores, senti vontade de falar do aspecto mais reflexivo dos seguidores, porque é lógico que eu que já fui e ainda sou a anta laranja para muitos, é que não vou dar dicas práticas a respeito.
Antes de se desesperarem com o sumiço dos seguidores, passem lá na Vivi!

Qual a importância dos seguidores para nós blogueiros? Precisamos de seguidores? Você acha que os seguidores são um termômetro dos blogs?

Há quase um ano, quando eu comecei a frequentar os blogs, ainda não tinha o meu, chamava-me a atenção o número de seguidores. Os que já estavam na casa da centena, aqueles poucos que alcançaram a marca de alguns milhares, os da dezenas e o meu, quando comecei que não chegava aos dedos de uma mão. E claro que isso me impressionava.
Com o tempo percebi que o número de seguidores nunca correspondia ao número de comentários.
Fiz o meu primeiro blog e a cada novo seguidor, uma alegria, uma vontade de continuar a escrever, porém o padrão seguidor/comentários era o mesmo dos outros blogs, uma disparidade.
Entendi que muitas pessoas te seguem por retribuição apenas, nunca mais voltam ao blog.
E depois percebi que tem pessoas que não te seguem não fazem parte das estatísticas, mas estão sempre presente comentando.
Há blogs com finalidades profissionais, onde os números são muito importantes e já vi blogs excelentes que não crescem em seguidores.
Enquanto se tem um número pequeno, é fácil conseguir interagir com frequencia com seus seguidores, não sei como se dá essa relação com números maiores.
Uma vaidade ter muitos seguidores? Uma consequência do seu trabalho? Ou da insistência para que te sigam?!
Eu tenho duas experiências: uma com a caixa de seguidores neste blog, e dois outros blogs onde não coloquei a caixa, não aparecem seguidores, embora em um número bem menor as pessoas leiam estes blogs.
Além das funções estimulantes, envaidecedoras dos seguidores, há outra bem prática: quando você tem um blog e segue os outros, eles aparecem ali no seu painel, o que no ponto de vista, facilita muito administrar as visitas.
Então, eu quero saber, você vai sofrer muito se ficar sem a sua caixa de seguidores?

Retomarei este assunto em outra postagem, porque quero associá-lo ao 'tempo'.
Beijos

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ursinho de pelúcia


Era Natal. Ou melhor, a noite, a véspera. Tornara-se tradição comemorar mais a meia-noite, com presentes, ceia, do que propriamente o dia do nascimento do Menino-luz.
Apesar de já ter decorado a sequencia tão ansiada durante um ano inteiro – familiares chegando, esconder-se do Papai Noel, abrir presentes, amigo secreto dos adultos, ceia, percebera que aquele ano estava diferente.
Apesar de crescida em seus dez anos, acreditava com certa desconfiança do bom velhinho de brancas barbas.
Escolheram a casa da avó, apesar de bem menos espaçosa do que a chácara da tia. Também a alegria dos adultos estava diferente. Um sorriso que parecia não sorrir.
Em sua roupa nova, a garotinha corria, movimentava-se para espantar o sono.
E também havia um certo desconforto vindo de uma saleta. De lá, um a um, os adultos saíam chorando. Ela fora proibida de entrar pela própria mãe que por muito tempo permaneceu lá dentro.
Também achara estranho, naquela noite de festa, a mãe estar como ficava dentro de casa, sem o seu cabelo artificial, mostrando-se sem nada esconder.
Fora repelida umas duas vezes pela mãe quando tentou um colo e depois um abraço.
O agudo tilintar do sininho prenunciava a chegada de Noel. Era preciso esconder-se rápido!
E entre os presentes a abrir, brincar, a garotinha adormecera.

O vento frio de agosto estava por toda a parte. Naquela noite abraçou o ursinho de pelúcia que Papai Noel lhe trouxera no último Natal; o abraço que não recebeu da mãe naquela noite, o calor do colo que não mais voltaria.
O vento frio de agosto preenchia o espaço da ausência da mãe.
O ursinho de pelúcia tentava aquecer o coração da garotinha e ensinar-lhe que há sabedoria em não-abraços.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Parto do coração


É sempre agradável participar de outros blogs. Conhecemos opiniões, trocamos experiências, fazemos novos amigos.
A querida amiga Angi, do blog Mãe de Guri, promove regularmente essas interações virtuais!
Esse mês ela está fazendo um especial sobre partos e convidou quem desejasse escrever sua experiência. Mandei meu relato para ela e hoje já fui lá várias vezes tomar um chimarrão e conhecer as opiniões. Uma gratificante experiência.

Há tempos que eu queria escrever sobre este assunto, mas os acontecimentos se sobrepunham e este texto ficava sempre para depois.
O momento surgiu lá nos pampas gaúchos e eu agradeço a oportunidade e convido os amigos leitores a passarem por lá e conhecerem o meu relato de parto como filha.

Um “chimas”na casa da Angi enquanto lê clicando aqui.
Beijo

imagem google

sábado, 19 de novembro de 2011

De perder o sono



Filhos realmente nos fazem perder o sono.
Nos primeiros meses de vida, as madrugadas são companheiras, junto aos choros, mamadas.
Adolescência, dizem ser pior. Filhos que saem de casa, trabalho dobrado.
Filho e sono, ao que parecem, não combinam.
Atualmente estou numa boa fase em relação ao sono das crianças. Tão boa que eu me recolho e quem adormece o apartamento, desligando as luzes e me dando beijinho de boa noite, é o filho mais velho. E olha que ele só tem 8 anos.
Tenho um vizinho que também tem perdido o sono por causa dos filhos. E eles  ainda nem nasceram...
Preocupa-o o mundo que eles encontrarão, poluição, corrupção, educação.
Como sei de tudo isso? Conversas de elevador.
A primeira vez que o vi, ele já estava no elevador. E quando eu abri a porta, ele foi sorrindo e me disse: “pode entrar, eu peso 150 Kg, mas o elevador aguenta 400 e você não pesa tanto assim!”
Espirituoso este meu vizinho! Gosto de pessoas bem humoradas.
Nas outras vezes ele demonstrou uma preocupação geográfica: “você acha bom que um casal de filhos durma no mesmo quarto?”
Bom, quando o apartamento só tem 2 quartos, acho melhor do que dormir no corredor.
E também já me perguntou se eu achava o nosso prédio um bom lugar para se criar filhos.
Depende do seu grau de paciência e tolerância. Aqui não temos nenhuma área de lazer, nada externo, então a criança anda de bicicleta dentro do apartamento, joga bola, e a criatividade deles é imensa. Resta saber se você suportará tanta criatividade.
Mas eu, que não tinha problemas com o sono das crianças, tenho perdido o meu sono ultimamente.
Ocorre de madrugada. Um arrastar de móveis. Ainda bem que eu não tenho medo de assombração. Porque é caso de se pensar em coisas do além.
Na madrugada passada, a sonoridade da madrugada ficou mais clara para mim.
Havia um ritmo no arrastar dos móveis e também uma sonoridade vocal... ( não vou reproduzir aqui, porque o blog não tem finalidade onomatopeica ).
Claro! É o período pré concepção.
Na manhã seguinte, um pouco mal humorada foi perguntar ao porteiro quem exatamente morava  no apartamento acima do meu.
Meu vizinho espirituoso. Claro! Isto explica sua preocupação com os filhos que ele ainda não tem. Agora tudo se conecta.
Ainda bem que muito em breve eu estarei me mudando. Sabe-se lá quanto tempo demorará esta fase de reprodução, e depois que o rebento nascer, virão as madrugadas de choro...
Eu estarei bem longe.
Penso em deixar aqui no apartamento, para o próximo morador, um protetor auditivo. O que vocês acham?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Dormir


Há os que dormem enrodilhados, outros esparramados; solitários, acompanhados por semelhante, cachorro, gato.
Há quem cubra até a cabeça; imagina que é nuvem e cobre até a lua travessa.
Há quem de sono se alimente, há quem alimente o sono com a geladeira, talvez somente com leite quente.
Há quem ao dormir sinta a boca seca; água precisam para beber. Outros, beijos bastam para a sede ceder.
Há quem escolha o vestir para dormir, há quem durma despido.
Há quem acorde penteado, há os que se levantam descabelados.
Quem sonhe colorido, quem sonhe em preto e branco, quem diz nunca sonhar, quem diz nunca se lembrar.
Há quem dorme e descansa, há quem acorde mais cansado do que foi ao deitar.
Há os que fazem um ritual para dormir, há quem nem saiba onde dormiu.
Em camas macias, em camas alheias, sofás, ruas, trincheiras...
Há gente tão habilidosa que em pé dorme no transporte público, outros pendem a cabeça no ombro do vizinho carrancudo.
Dormem todos. Os insones, pouco, mas de alguma forma, dormem. Dormem todos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Minas de carvão


Em minha mão
uma caneta
Palavras bonitas
prontas a escorrer
pelo papel

Imóvel
retém palavras
sem beleza

Mina de carvão
fétidos odores
luz artificial
trabalhadores sujos

Qual seria a poesia
daquele mineiro
do outro lado do mundo?

Uma fresta de sol
para ver flutuar a poeira?
Perfume de mulher
em pele banhada?
Ou o olhar do filho
sob as pálpebras adormecidas?

Em alguma fábrica
do outro lado do mundo
minha caneta tomou forma

Como pode escorrer belas palavras
se uma lágrima escorre
no fundo da mina
para alimentar a fábrica?

Ana Paula

domingo, 13 de novembro de 2011

Astrofotógrafo

Recebi um e-mail com fotografias belíssimas tendo a lua como inspiração. Compartilho.
Fotógrafos de plantão, poetas, românticos... inspirem-se nas belas imagens do francês Laurent Laveder.




sábado, 12 de novembro de 2011

Sábado no escuro


Eu evito falar sobre este assunto no blog, porque me tornaria uma pessoa repetitiva.
Falta de energia. Este ano aconteceu quinze vezes.
O nome não é este. É um nome pomposo: desligamento programado de energia.
Acontece aos sábados das 8h às 16h podendo se estender conforme necessidade.
No começo, a companhia de energia elétrica era bem simpática: na quarta-feira anterior ao desligamento, recebíamos uma cartinha, avisando do tal evento.
Creio que no decorrer do ano, muitos, assim como eu ficavam tão irritados desde a quarta-feira até o sábado, que agora eles nem avisam mais.
Desligam e pronto.
Em quinze vezes eu me utilizei, aqui do nono andar do prédio, da maravilhosa invenção chamada de palito de fósforo. Mas ela não aguentou tanta demanda e acabou quinze dias atrás, quando houve outro desligamento programado.
Esqueci-me de fazer a reposição. Somei a raiva da falta de energia com a raiva da falta de uma caixinha de fósforo e antes que começasse a proferir palavras indecorosas, achei melhor escrever.
Porque na matemática tenho dificuldade. Por exemplo, sábados e sábados sem energia, menor consumo e conta a pagar sempre mais alta. Ah! Lembrei: é aquela regrinha que um professor ensinou ( - com – dá +). Entendi: cada vez menos energia e mais alto o valor da conta...

O dia raiou
mas no escuro
meu cotidiano ficou
Sem avisar sem perguntar
a companhia de energia elétrica
poste em poste
pôs -se a desligar

Eu não podia passar
não podia aspirar
não podia centrifugar
muito menos navegar
os postes nem me deixaram postar
nem um chá quente tomar
para me acalmar

Pus-me a gavetas arrumar
na esperança de um palito de fósforo
encontrar...
Esquentaria água no fogão
para abrandar meu coração

Nem banho posso tomar
para a cabeça esfriar
(mas com água quentinha
porque esta frente fria
tá de arrepiar)

Almejo tanta tecnologia
mas uma caixinha de fósforo
tão bem me cairia

Ah! A gaveta?
Não encontrei fósforo não
Então fica a sugestão:
numa caixinha
num risco
o fogo,
a luz de supetão.