sábado, 3 de dezembro de 2016

Santa ignorância

Deveriam escrever um livro com histórias de vestibulares.
Não histórias de quem está lá fazendo a prova e suas superações.
Histórias de quem acompanha, leva na porta do local de provas e fica lá esperando.
Eu contribuiria com a seguinte história:

É minha estreia como mãe de vestibulando.
Bem, na verdade meu vestibulando é ainda um "treineiro". Não presta o vestibular pra valer. É mesmo para ir se habituando, conhecendo o território que em breve será "de verdade".
Mas, ainda que nessa condição, todos os atributos de uma mãe de vestibulando, acho são iguais.
A gente lembra da tal caneta transparente e mesmo sabendo que há algumas no estojo, compra duas novas. Lembra do RG pelo menos umas vinte vezes, fala pra dormir cedo na noite anterior, compra chocolate para o dia da prova. Fica mais ansiosa que eles para saber o local da prova e eles "depois eu olho..."o que mais? Ah sim, o cardápio do almoço que antecede a prova é bem pensado porque não pode ser nada propenso a indisposições. Será que esqueci de algo?
Num desses vestibulares, levei o rebento e fiquei esperando até que terminasse.
São longas horas para quem está do lado de fora dos portões fechados. Lá dentro chega a faltar minutos.
Perambulei inicialmente por ruas de comércio com suas portas fechadas, sentei-me em banco de praça, e quando o cansaço me venceu, fui para a frente da escola esperar.
Não havia se passado nem metade do tempo...
Recostada num muro observei um homem se aproximando. Puxou conversa, tipo de elevador, só que agora era de vestibular.
 - Filho ou filha que está prestando vestibular?
Meu filho - respondi - e já fui acrescentando que não era pra valer, ele estava só treinando e aí a conversa embalou. As três horas seguintes passaram até que mais rápido.

Primeiro as coincidências. O filho dele também não estava lá para valer. Ele quer outro vestibular, bem mais específico, na área de engenharia, o mesmo que meu filho quer!
Então vieram mais para conhecer a cidade, a futura escola para os estudos e ajeitar a moradia para o menino e apaziguar o coração da mãe que não gostaria de ter o filho morando tão longe.
Falamos de custos para quem vem de tão longe estudar e eu peguei o celular e fui procurar a data para uma prova de bolsa para a escola e aproveitei para anotar num papelzinho o endereço de um quartinho de pensão.
Fica mais barato que pagar o alojamento - disse eu já preocupada com o tamanho do gasto que o sujeito teria.
Ele gentilmente me disse que ficaria muito preocupado com o filho num quartinho de pensão numa cidade desconhecida e conversa vai e vem ele me disse que trabalhava com agricultura.
Em algum momento da conversa, falamos da paixão de nossos filhos pela matemática e eu ri de mim mesma ao dizer que eu tinha ausências de matemática em mim e nem sabia de onde vinha o gosto de meu filho, já que eu e um zero a esquerda para matemática éramos a mesma coisa.
E o sujeito após uma indagação minha disse que plantava café e possuía 260 alqueires para tal.
O filho dele saiu primeiro que o meu. Desejamos sorte aos meninos mesmo sem saber nossos nomes.

Já em casa, marido me liga via qualquer aplicativo ( nem sei pra quê ainda tenho telefone ) e eu vou relatando minha espera, a praça, o comércio fechado, o sujeito que me causou preocupação porque vai ter que custear o filho tão longe de casa e então eu pergunto para marido.
"Sabe, ele disse que trabalha com café e que tem 260 alqueires de plantação. Isso é muito?

Você estava conversando com um dos cinco homens mais ricos daquela região - marido me disse.

Fiquei um pouco em silêncio antes de cair na gargalhada.
"Meu amor, eu disse, eu indiquei um quartinho de pensão para o filho dele e depois mostrei-lhe o caminho da rodoviária para que pegassem um ônibus e assim economizariam com o táxi!"

Santa ignorância! 

domingo, 20 de novembro de 2016

Para uma joaninha

Essa postagem é muito especial!
É a de número 1000 e é com esta postagem que quero convidá-los a celebrar o aniversário ( que é no final do mês ) da mais querida joaninha aqui dos blogs - Chica!
Como vi hoje que ela está saindo de férias dos blogs, resolvi antecipar a homenagem.
Chica, meu, nosso amor a você que faz parte das nossas vidas de maneira tão carinhosa, presente, afetuosa.
Você é um exemplo na blogosfera. Um exemplo de interação, inspiração, amizades, persistência.
Muitas vezes desanimo, mas logo penso em você que mesmo em momentos difíceis não deixa a peteca cair!
Feliz aniversário! Desejamos saúde e paz em primeiro lugar.
Inspirações, artes, clics...
Família, abraços, peraltices...
Nosso abraço virtual aqui com o calor de um abraço real!

Um jardim de joaninhas para você!














terça-feira, 15 de novembro de 2016

Sinal vermelho

Aceitei a carona.
Diz o ditado que para baixo todo santo ajuda, mas descer a ladeira de carro, foi providencial!
Mel é minha vizinha de andares abaixo. Nossas meninas e meninos são amigos, mas nossas conversas ainda estão incipientes.
Meio sem jeito, sentei-me no banco da frente naquela sexta à noite.
Falando rápido, Mel relatou-me que seu dia havia sido tão corrido pois ao ir fazer a matrícula de seu filho, percebera que tinha perdido a carteira de identidade dele.
Prazos, correrias, poupatempo e a pergunta que ela disparou: "Ah Ana, você tem jeito de ser organizada, não deve perder papéis, né?"
E foi com a face iluminada pelo reflexo da luz vermelha do semáforo que eu dei aquela resposta evasiva do tipo, é, não.
Nem houve tempo para estendermos o assunto porque bem rápido chegamos.

Na manhã seguinte, aquela luz vermelha me incomodava.
Abri a gaveta da secretária ( jeito português que li por aí para significar escrivaninha! ).
Estavam lá os papéis.
Eu não perco papéis.
Eu simplesmente me perco nos papéis...

Bugungun lerden bugun está num pequeno pedaço de papel retangular.
Olho fixo tentando buscar o que me fez anotar aquelas palavras. Nada encontro.
Vou para o google.
Você pode no acreditar, mas, às vezes, o próprio google fica confuso.
Nesse caso, ele me indica uma série de palavras com trema e cedilha debaixo da letra s que não me levam a lugar algum.
Ou melhor, vou para o lixo reciclável e deixo o tal bugun ali.

Nesse outro papel sou mais bem sucedida!

"Uma das dádivas de ser escritor é que a profissão lhe dá uma desculpa para fazer certas coisas, ir a alguns lugares e explorá-los. Outra vantagem é que escrever nos motiva a olhar a vida mais de perto"- Anne Lannott.

Esse eu me lembrei porque anotei! Era o trecho de um livro sobre escrita criativa e a autora falava que frequentemente, sob a desculpa de ter que escrever, ia para algum café e passava manhãs e tardes lá a escrever.
Ah, poder trocar o chiado da panela de pressão por uma mesa próxima a uma árvore que farfalha, um café e um papel...
Mas sempre penso se não vão desconfiar de alguém que pede um café e passa a tarde inteira ocupando uma mesa? Ou será que tem que pedir um café atrás do outro? Deixa pra lá e vamos ao próximo papelzinho.

"Compotas de pêssego e tangerina, drops de melancia, trufas de chocolate, barras de menta, biscoitos amanteigados, bolos, pirulitos e outros doces, todos enriquecidos em sua preparação com uma calda de maconha". ( Ruy Castro ).

Por que diabos eu anotei isso?

Não precisa se preocupar, caro leitor.
Meu desempenho culinário não vai além de bolinhos de chuva que não necessitam de calda alguma; é só fazer uma chuvinha de açúcar misturada com canela e pronto.

Mais um para reciclagem. E assim abri um bom espaço na escrivaninha e na mente.

Sinal verde agora para novas anotações! Com esforço e dedicação para escrever de onde tirei aquilo e com qual finalidade. Será que consigo?!

Alguém mais com papeizinhos?

E antes de finalizar, anota aí em algum papel: archetier - fabricador de arcos de violino. Vai que você precise para alguma postagem, não é?!

Beijos!

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Muito mais que tolerância

Esse texto deveria ter sido escrito no dia da Padroeira do Brasil, o dia 12 de outubro.
Passou e não o fiz.
Agora, após o tema da redação do Enem, retorno a ele.

Tolerância é uma palavra necessária, mas eu, particularmente, não gosto dela.
Lembro-me com nitidez de uma aula de filosofia que tive em minha adolescência ( faz tempo e já falávamos sobre isso ) em que o professor nos conduziu o pensamento para dentro da "tolerância"e na raiz dela encontramos "coisas" negativas.
Infelizmente não consigo me lembrar de cada palavra tão bem colocada àquela época, porém ficou todo aquele esboço.
Tolerar é suportar. É como uma visita detestável: você não gosta da pessoa, do seu cheiro, dos seus modos, da sua conversa, mas tem que tolerar. Talvez só por algumas horas, alguns dias. E enquanto você está ali tolerando, os seus sentimentos, hermeticamente fechados dentro de você, estão vendo todos os defeitos, criticando, até quem sabe odiando e desejando que aquilo acabe o mais rápido possível.
Você não faz nenhum esforço para encontrar o lado bom, algo agradável, algo que acrescente. Você apenas tolera.
Essa é a minha implicância com a tolerância. Ela nos coloca numa espécie de paralisação, até que tudo passe, termine. É por pouco tempo. Eu exerço a tolerância sob o manto da boa educação, mas ela não me modifica.

Respeito envolve admiração, reconhecimento de que há algo bom ali. Uma abertura para que eu olhe para o outro, para que eu encontre no outro, nas suas ideias, palavras, ações algo positivo que possa me acrescentar.

Claro que num mundo onde se arrancam cabeças literalmente, caso se pense diferente, caso tenha-se outra religião que não a estabelecida, tolerância é mais do que adequado e necessário.
Onde pedras são jogadas contra quem expressa a sua crença que é tão diversa da minha, tolerância é de extrema importância.
E daí a importância do tema da redação que envolve, em sua maioria, os jovens.

Fiquemos atentos quando começarem a ser divulgados trechos ou as redações na íntegra para conhecermos o que vai dentro desses jovens. Pode até ser que sejam apenas politicamente corretos para terem boa nota no exame, mas certamente teremos aí um panorama e espero que seja positivo.

E quando eu quero falar de um passo a mais que a tolerância, volto lá atrás no dia da padroeira, no dia de Nossa Senhora Aparecida.

Moramos na região que é caminho para o Santuário de Aparecida e nessa época do feriado há muitos romeiros que caminham distâncias enormes numa expressão de sua fé.
Por morar na região, as notícias locais são mais abrangentes do que as que passam nos noticiários nacionais e talvez por isso muitas pessoas nem ficaram sabendo da tamanha grandeza que aconteceu por aqui.

É comum, devido a esta peregrinação a pé pela principal rodovia que leva ao santuário encontrar barracas que são montadas ao longo do caminho para um apoio a esses romeiros. Água, sombra, descanso. Muitas pessoas das igrejas católicas locais se revezam no voluntariado.

O que dizer de um acampamento estruturado por evangélicos para acolher esses peregrinos?

Eu digo que é algo para além da tolerância.

Em entrevista, os evangélicos de determinada linha, declararam que eles não acreditam em Nossa Senhora, mas eles respeitam a crença dos católicos, eles admiram a força de vontade de quem faz a longa e difícil caminhada e por isso estavam lá na sombra da tenda armada porém num calor insuportável na beira da estrada. Recebiam os fiéis com um abraço, ofereciam massagem nos pés, nas costas, cuidavam das bolhas e os incentivavam a prosseguir.

A tolerância é um necessário começo. O respeito é esse abraço lindo onde você não precisa abrir mão da sua religião, mas pode acolher o outro sem querer muda-lo, sem julgá-lo pela maneira como expressa a sua fé.

Cada vez mais comum encontro de líderes de diversas religiões.
Possamos reconhecer essa diversidade e tudo o que de melhor cada um tem a oferecer.

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Obrigada porteiro

Estava a passear com o cachorro, quando paramos em uma árvore.
Ele, bem, já sabem.
Eu para admirar o florescer de uma belíssima orquídea.




A árvore que abrigava a orquídea fica de frente para um edifício.
De repente, ouvi o destrancar do portão e um homem uniformizado veio em minha direção.
O porteiro.
Preparei-me para a reprimenda, para uma bronca, palavras difíceis...
As pessoas andam um tanto indispostas com cachorros.

"Muito obrigada por a senhora parar aqui para admirar! Fui eu que amarrei aí na árvore e fui cuidando e olha só, ficou bonita né?!

Devolvi-lhe o meu melhor sorriso e o parabenizei. Disse que eu não levo o menor jeito com as plantas, nem feijão no algodão brota.
Ele riu e despediu-se.
Voltou a sua rotina de porteiro entre vidros escuros e falas por equipamentos eletrônicos.
Aquele homem invisível mostrou-se na beleza de uma orquídea.

Voltei lá na árvore no dia seguinte. Sabia que ele trabalhava dia sim, dia não, portanto não estaria.
Fotografei.
Revelei.
Acenei para o vidro escuro, ele abriu.
Disse-lhe que ele tornava o caminho das pessoas mais bonito.
E entreguei-lhe um envelope.


Dias depois passei pelo mesmo caminho segurando uma sacola pesada.
Não havia mais orquídeas.
A pressa, o peso, passei rápido apenas percebendo a ausência.
Já há uns bons passos a frente, uma mão toca meu ombro.

"A senhora viu que maldade? Arrancaram com as mãos as flores.
Ainda bem que a senhora me deu aquele presente. Obrigado.
Que gente má né?

Seguimos.



quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O homem do código de barras

Eu era adolescente quando ouvi, pela primeira vez na vida, o termo código de barras.
Fazia aulas de inglês duas vezes na semana, à noite. O professor tinha por volta dos 40 anos. Aparentava mais e havia um peso, um cansaço excessivo em sua aparência.
Numa daquelas noites ele nos revelou o motivo de seu desgaste - o trabalho que realizava durante o dia e que nada tinha a ver com aulas de inglês.
Trabalhava com código de barras.

Fez um desenho na lousa, vários risquinhos, tomando o cuidado de deixar uns finos e outros mais grossos e pôs-se a explicar seu árduo trabalho.

Eu sinceramente, não alcancei nada do que ele havia dito.
Comprávamos a grande maioria das coisas na venda do português Antônio.


"Compra um rolo de papel higiênico e três gomos de linguiça"- pedia a minha mãe. "E pede pra ele marcar".
Caneta na orelha para marcar o que a gente levava na caderneta. As contas ele fazia de cabeça.

Tempos depois, no dia seguinte ao pagamento do pai, que religiosamente era no dia 10 de cada mês, a gente ia ao mercado Malena que tinha uma caixa registradora feito essa da foto.
Nunca reparei se havia código de barras no chocolate sensação que eu comprava para durar o mês todo.

A cada aula de inglês, o professor chegava mais exaurido. Eu deduzi que devia ser péssimo trabalho essa coisa de código de barras. 
Ele começou a faltar, saiu da escola e eu ainda não aprendi inglês, embora hoje já saiba um pouco mais sobre código de barras e afirmo que é das coisas mais exaustivas que podem acontecer para nosso cérebro.
Explico:

Em 1976, um supermercado (americano) tinha 9 mil produtos distintos; hoje esse número inflou para 40 mil, embora uma pessoa comum satisfaça de 80% a 85% de suas necessidades num universo de apenas 150 artigos. Isso significa que precisamos ignorar 39 850 artigos em estoque. Estima-se que exista hoje mais de 1 milhão de produtos nos Estados Unidos ( cálculo baseado nas unidades de manutenção de estoque, aqueles pequenos códigos de barras nos produtos que compramos )*

Bem, lá na venda do português devia ter uns noventa itens, no máximo, incluindo os bloquinhos com folha de papel carbono para jogo do bicho...

1 milhão de produtos, milhões de risquinhos de código de barras e isso explica que eu não tô ficando velha, embora sim, esteja.

Marido me disse que eu estava ficando velha quando me recusei a entrar em um local para comprar jornal.
Compro jornal somente aos sábados. Os de domingo têm muito informe publicitário de apartamentos.
Então, num sábado qualquer, saíamos do supermercado quando eu disse que passaríamos na banca de jornal.
No andar térreo do supermercado há uma sequencia de pequenas lojas e entre elas uma que vende jornais, mas eu me recuso a entrar lá.

Antigamente havia somente revistas, o que já é um exagero de publicações, jornais, balas e gomas de mascar. Foi vendida e a nova proprietária conseguiu colocar naquele espaço minúsculo, um milhão de novos itens.
Há pesos para porta, lingerie, perfumes, brinquedos piscantes e barulhentos que ficam funcionando, girando pelo meio do caminho, ou seja, lá eu não entro, fico tonta naquele lugar; prefiro andar mais e ir até uma banca de jornal convencional.

A neurociência veio em meu socorro explicar esse meu mal estar.

Há um relato num livro em que um professor encontra sua melhor aluna um tanto exasperada. Ela é uma imigrante e ele acha, a princípio que é todo o fato da adaptação a uma nova cultura que a deixou assim.
Ela diz:

"Mas hoje é o quarto dia que venho à livraria. Olha só! Toda uma fileira de canetas. Na Romênia tínhamos três tipos. E muitas vezes havia escassez: nenhuma caneta. Nos Estados Unidos existem mais de cinquenta tipos diferentes. De qual delas eu preciso para a aula de biologia? E para a de poesia? Será que quero uma de ponta de feltro, de tinta, gel, cartucho, apagável? Esferográfica, ponta fina, rollerball? Estou há uma hora aqui lendo etiquetas."

Os cientistas descobriram que todo esse processo de decidir, escolher, selecionar, optar por um item e ignorar os demais, tem um custo para nosso cérebro. Processar toda essa informação cansa.
E para nosso cérebro não há prioridades. É como se você tivesse uma cota diária para ser usada. Parece "bobo" decidir com qual roupa você irá trabalhar, qual caminho fazer hoje e se usa a caneta de ponta fina ou grossa. Isso causa um cansaço em nosso cérebro e quando lá no final da tarde temos que tomar uma decisão importante, nossa capacidade já está comprometida.
Então não é preciso dizer que logo pela manhã escolher qual vídeo assistir no facebook, quais fotos curtir, ou curtir todas, enfrentar cinquenta marcas novas de shampoo. E as notícias então?

Aquele homem que trabalhava com códigos de barras e mais parecia carregar barras de ferro nas costas, tem meu apreço.

Gosto de pensar que agora que ele resolveu tornar os tais códigos mais leves, bonitos, suaves e poéticos.
Gosto de imaginá-lo criando códigos assim:



terça-feira, 11 de outubro de 2016

Enquanto isso na amoreira

Enquanto ainda não consigo voltar a blogar como eu gosto e sinto que deve ser, deixo umas fotos ( só para não silenciar totalmente o blog ). Esforçando-me para em breve retomar.
Paciência comigo amigos!







quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Primavera

Encontrei essa "florzinha" e achei-a com a carinha da primavera!
Fotografei para postar no nosso início primaveril. Esqueci...
Só hoje quando fui mexer na máquina é que encontrei as fotografias.

Com a aproximação do Enem, as rotinas por aqui estão alteradas.
Flores, sorrisos, em nossa primavera!





segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Diário das coincidências

Diário das coincidências é o título de um livro que ainda não li. Sequer o tenho. Pretendo.
Acho que todos nós temos coincidências que dariam um livro. Alguns prefeririam chamar de acaso, simultaneidade, serendipidade, auspício quando a coisa é boa. Eu já tentei encontrar significados para as coincidências mas, hoje em dia, desisti. Acontecem e pronto. Desfruto desse acaso simplesmente.
Vou arrancar uma página do meu diário e transcrevê-la aqui.
Domingo.

Querido diário,

Hoje, domingo, 18 de setembro, o dia amanheceu ensolarado.
Promessa de um grande dia!
Lavei roupa. Muitas pessoas não lavam roupas aos domingos. Eu, sim. Gosto mesmo de lavar roupa aos domingos.
E foi bem cedo.
Ainda é inverno no calendário. Não lá fora.
Tudo está tão absurdamente florido. Os pássaros piam com alegria. Vi meninas com vestidos estampados, chinelinhos nos pés e ainda por cima olhei a programação do parque perto de casa e sabe quem vai estar lá querido diário?
Barbatuques!
Sim, sim, aquela trupe que faz sons com o próprio corpo.
Eu nunca os vi, só mesmo rapidamente em algum programa infantil e confesso que fiquei mais empolgada do que as crianças!

Pendurei as roupas no varal e de repente, quando olhei, o varal estava todo revirado.
Também estranhei quando vi duas cédulas de dinheiro, uma nota de dez e outra de vinte estendidas na cama do meu filho no rastro de sol que pousava ali.

Fácil decifrar: ele esqueceu dinheiro no bolso da calça; eu esqueci de inspecionar ao colocar para lavar. Após o mergulho espumoso e após o amaciamento, foram resgatadas do varal e postas ao sol.

O parque parecia mesmo um enorme jardim com a alegria e o zunir, o ir e vir de abelhas alegres.
Pegamos um bom lugar e combinamos: se sairmos, perderemos o lugar, então enquanto um vai, o  outro fica.

Diário querido, sabe o que tinha lá?
Geladinho.
Será que é do seu tempo querido diário? Ou será que você conhece como gelinho, sacolé?
Tudo o que sei é que é delicioso!

Olha só diário:




E olha só que coincidência diário: tinha um sujeito na fila atrás de mim que tinha jeito de quem comprava geladinho na vizinhança. Puxei conversa e não deu outra. Não é mesmo que o cara comprava mesmo geladinho?!
Ele até lembrou que os que eram feitos com leite, era mais caro. Eu nem me lembrava disso. Só comprava mesmo de ki-suco!
Lembramos das plaquinhas no portão, nas janelas, todas feitas de papelão.

Ih, esqueci de contar diário. Acredita que eu achei vinte reais no chão enquanto ia comprar geladinho? No meio de toda aquela gente, justo eu que fui achar?

Minha filha disse "nossa que dó de quem perdeu né?"
Eu respondi "não tenho dó nenhuma"
"Nossa mãe"- ela se indignou.

"Esse dinheiro é do teu irmão, tenho absoluta certeza".

Acredita diário que ela não acreditou em mim?
Quando cheguei de volta ao nosso lugar para assistir ao show, perguntei pro meu filho quanto ele ainda tinha de dinheiro. O moleque afirmou ter vinte e cinco reais. Meteu a mão no bolso e tirou duas notas de dois e uma moeda de um real. Então ficou pálido. "Perdi vinte reais".

"Eu achei; aqui está está".

Que coincidência hein diário?!
A própria mãe achar dinheiro no chão e saber que era do filho.
Minha filha perguntou como eu tinha certeza. Essa nota está cheirando a amaciante.

E depois do geladinho, do perdido e achado, depois de uma semana com notícias tão tristes, a leveza da música, os sons saídos do próprio corpo, a alegria do público.
Precisa de explicações diário?!

Barbatuques


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Amizades

Amizade virtual não existe.
Amigo de internet é só uma maneira carinhosa de falar.
No começo do meu blog, que tem cinco anos, participei de várias blogagens coletivas que nos propunham a refletir sobre a existência ou não de amigos virtuais.
Havia até uma certa tendência e outros blogueiros afirmavam sem hesitar, que a tal amizade virtual não era uma amizade. Amigos virtuais era um termo equívoco. Isso não existia.
Meu pensamento divergia desse porque havia algo que talvez em palavras eu não conseguia explicar.
A tela luminosa não era fria e impessoal para mim.
Aos poucos, de blog em blog, recebendo comentários, deixando comentários, encontrando as pessoas aqui e acolá nas praças virtuais eu comecei a sentir uma pulsação ali. Claro que havia e há pessoas que não se mostram totalmente, ou se o fazem, eu é que não tenho a capacidade de percebê-las. Mas, enfim, eu sentia amizades nascendo e florescendo. Eu sentia que, se em alguma manha eu acordasse me sentindo entristecida ou a ponto de explodir, eu podia sim contar com essas pessoas "virtuais".
Nesses cinco anos de blog muitos se distanciaram, outros desistiram, outros permanecem. Os laços, nesses cinco anos, só foram se estreitando, confirmando o que eu sempre senti e acreditei. Existe sim amizade virtual e que cada vez mais são laços que vão se estreitando. Seja por um cartão de Natal, um livro num sorteio, o instagram, facebook, e-mail, whatsaap e outros que eu nem tenho!
Tudo isso nos aproximou e a vida se encarrega de dar uma mãozinha também!
É promoção de companhia aérea, Bienal do Livro, reunião de negócios, uma passada por uma cidade e quando a gente vê, está ali abraçando alguém de nossas telas virtuais!
Sonho ainda encontrar muitos outros amigos virtuais e sei que é possível!


Ana Virginia do blog Filha de José e eu




Maria Dionara - trocamos cartas!



Tina, menina sapeca e meus filhos


Um dia inesquecível!


Conhecer Chica...


Faltam palavras para descrever!


Um sonho que sempre acalentei e enfim se realizou
Chica e eu!




quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Muito além da hashtag

Recebi através do instagram, o convite para postar uma foto em preto e branco pela luta contra o câncer e escrever "desafio aceito".
Neste mesmo dia eu já havia reparado nas tais fotos em p&b e fui procurar saber mais sobre esse desafio.
E é aí que eu me decepciono.
A intenção, a ideia, é excelente. O alcance das redes sociais é imenso, incrível.
Porém, a grande maioria das coisas que eu vi e li dentro da #desafioaceito, foram fotos lindas de mulheres e vários comentários assim escritos: linda, gata, arrasou, diva.
O desafio não deveria ser para enaltecer nossos egos. Dessa forma ele se esvazia.

Lembrou-me de um outro desafio desses recente, o jogar em si ou em outra pessoa um balde com água e gelo e teve uma enorme repercussão, só que muitas pessoas nem sabiam qual era a finalidade daquilo.

Para mim esses desafios só fazem sentido quando nos comprometemos a uma ação, uma atitude.
Além do cuidar-se, e para aquelas pessoas que querem cuidar-se mas não conseguem porque nem acesso a serviços de saúde têm?
O que podemos fazer por uma pessoa que esteja atravessando esse momento difícil do tratamento?
Pegar o filho na escola para ela? Comprar pão, fazer feira, conversar, silenciar.
Estaríamos dispostos a nos desconectar de nossos eletrônicos por uma hora e "doar" essa uma hora em orações, preces, pensamentos elevados? Levar uma flor para alegrar um tantinho aquela casa? Fazer uma campanha para arrecadar lenços para as meninas, mulheres que perdem seus cabelos?

Há tanto a fazer além de apenas postar uma foto.
Ao aceitarmos um desafio, que ele seja muito além de uma hashtag.


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Dia Mundial da Fotografia


Dia 19 de agosto comemorou-se o Dia Mundial da Fotografia.
E foi um dia bastante celebrado, seja com exposições, selfies, debates, reflexões.
Vivemos na era da imagem. De certa forma, somos todos fotógrafos, o que é muito bom!
Mas será que basta fotografar?

Você sabe, faz ideia, de quantas fotos são tiradas no mundo por dia?
Em dois dias o número de fotos tiradas ultrapassa a população do planeta Terra.
Em dois dias são 8 bilhões de fotografias.
4 bilhões de fotos diárias.

"Nunca se fotografou tanto. Nunca se viu tão pouco" ( Simonetta Persichetti )

É indiscutível o ganho que tivemos com a fotografia digital. Os mais jovens talvez não façam ideia do quão difícil foram os tempos analógicos na fotografia. Desde os custos com filme, revelação até o mais comum deles que era o pouco aproveitamento das fotos. Quantas tremidas, de olhos fechados, vermelhos ou as que não alcançavam o momento exato.
A câmera digital trouxe facilidades, mas também nos levou a exageros, a um turbilhão de imagens.

Numa outra reflexão que não relacionada ao dada fotografia, o prof. Leandro Karnal diz o seguinte:

"Alfabetizamos para a leitura dos textos e raramente educamos para a leitura de imagens. Vivemos imersos num mundo visual e não nos adaptamos a isto.
O desafio do olhar é intenso e o jovem quase nunca tem habilidade e repertório para julgar esse mundo de fotos e desenhos que flui pela rede. Somos quase todos analfabetos visuais"

O prof. Karnal sugere maior ênfase para as artes plásticas e visitas a museus; tudo para educar o olhar.

Um outro fotógrafo sugeriu no dia da fotografia que as pessoas se reunissem para olhar álbuns de fotografia.

E você, o que acha da fotografia atual? Estamos fotografando demais? Qual o significado que você dá para suas fotos? Estamos gerando memórias ou algo vazio?
O que você sugere para "olharmos" melhor?

E se você ajeitar aí na sua agenda um tempo de 27 minutos, deixo a sugestão do excelente programa JC Debate sobre o assunto.

Sorria, diga xis, click, click!


domingo, 14 de agosto de 2016

Colher de pai

Abri a gaveta dos talheres e demorei uns instantes o olhar naquela colher que eu nunca tinha visto.
Como fora parar ali?
Lembrei de uma confusão festiva num Natal, onde no lavar de louças, as peças iam sendo separadas - esse daqui é da Corina; não tenho certeza, mas deve ser da Teresa.
E depois era um tal de telefonar a saber se uma tigela assim, com flores em amarelo tinha ido por engano, ou então era o conjunto de colheres para sobremesa, em casa de quem estaria?

Marido foi quem esclareceu, não com uma resposta afirmativa ou negativa.
Contou-me a seguinte história:
"Lá na roça tem-se o hábito de, antes de dormir, comer leite com farinha.
Meu pai me chamava para um canto da cozinha já silenciosa, pegava um caneco cheio de leite, acrescentava a farinha de milho e então se dava - metia a mão num esconderijo e de lá tirava a colher."
Dizia que aquela colher sim era boa para comer o tal leite enfarinhado. Era mais funda que as outras colheres que haviam na gaveta. Era rara. Habitava um esconderijo na cozinha. Agora habita nossa gaveta.

Aos pais, que contam, que deixam histórias.
Que em seus dias comuns, imprimem marcas que nos ficam.

sábado, 9 de julho de 2016

As coisas que deixamos

Mudei de casa várias vezes.
Antes de sair, muitas vezes com a mudança lá no caminhão, andava pelos cômodos vazios, agradecia por ali ter vivido dias bons e outros nem tanto e vasculhava também se não havíamos esquecido algo.
Nas várias casas, apartamentos, que chegamos, muitas vezes encontramos "coisas" ali deixadas. Coisas por vezes impossíveis de se levar. Adesivos grudados nos vidros das janelas. Figurinhas de álbuns coladas na parte interna da porta de guarda-roupas.
Na casa mais recente de nossas vidas, encontrei um regador.
E ele me fez uma alegria no peito de um dia de céu bem azul cheio de sol!


Eu nunca havia tido um regador. E não nego a minha ausência de intimidade com plantas e flores - talvez seja esse o motivo.
Se tive algum de levar à praia, não recordo.
Recordo de figurinhas e álbuns e papéis de carta com lindas meninas de cabelos longos, vestidos esvoaçantes segurando um regador.
Penso ser poético tal objeto.
Uma mangueira bem faz suas vezes, ou como via uma senhora íntima das flores, um balde e a própria mãos a fazer chover.

Assim como temos vontade, secreta, tímida, ou transparente, de carimbar, pular corda, comer algodão doce, acho que temos de regar!

Lá na Praça Belo Horizonte em Salvador ( não confunda a geografia, a coisa é mesmo na Bahia! ) há um projeto para incentivar o cuidado com mudas e árvores nativa da Mata Atlântica com o projeto "Vem me regar".
Desconfio que faz o maior sucesso. Mas sejamos sinceros, entes mesmo do cuidar está aquela vontade de usar regador!


Quem tem, quem usa, quem ficou com vontade?

Quando nos mudamos daquela casa, ficou lá regador. Seria inútil trazê-lo para um apartamento sem plantas.
Há algum tempo passamos de carro pela antiga casa. Parecia mágica! Vasos, flores plantadas, um árvore crescendo. Quero acreditar poeticamente que a nova moradora faz um bom uso daquele regador!


terça-feira, 5 de julho de 2016

O nó da gravata

Na primavera do ano passado, escrevi o texto "O terno do Menino", numa deliciosa costura de um livro infantil e o desejo do meu filho usar um terno.
Ali cometi um equívoco, o qual só fui ter consciência tempos depois.
Não era completamente feliz meu menino em seu terno.
Sentia-se muito bem dentro de seu terno; o incômodo todavia, vinha da gravata.
A gravata era de um modelo com o nó já feito, bastando ajustar. Sem delongas.
Para ser completamente feliz em seu terno, o menino queria uma gravata para ele fazer o próprio nó.
Em alguma festividade, fora-lhe presenteado uma gravata. Duas, na verdade (#estavaempromoção).
Sorriu um sorriso de iluminar o olhar e guardou-as enrodilhadas feito gato.
Até que chegou a semana na qual ele usaria novamente seu terno.
Mas, e o nó?
Eu, a mãe sou inapta para tal tarefa.
O pai, é um sujeito contraditório: faz diversos tipos de nós em barrigas abertas, mas nem chega perto de gravata.
E agora Bernardo?
Amigos distantes tentaram ajudar enviando links de vídeos que ensinavam tal feito. O menino gastou duas cargas inteiras de bateria e encontrou-se na mesma situação de antes - sem saber fazer o nó.
O tempo passava e já estávamos às vésperas do evento.

Nosso vizinho ( de oito andares abaixo! ).

Mas antes de dizer que foi o Leonardo quem ensinou o nó da gravata, é preciso falar do Leonardo.
Comecemos então pelo caminhão.
Sim, um caminhão de mudança estacionado em frente ao nosso prédio, num dia que não choveu.
Vi os rapazes da mudança nas vezes que saí com o cachorro. Muito cuidadosos.
E dias depois, no elevador, um moço descendo com caixas a reciclar. Conversa de elevador ( adoro! ) - mudei a pouco; sim, eu vi o caminhão o mesmo logo das caixas...
Tempos depois, estávamos, marido, eu, as crianças, o pai dele, ele falando de pão de queijo. Mineiro, como marido! Ê trem bão!
Nunca vi Leonardo de gravata mas de alguma maneira eu sabia que ele sabia fazer um nó!
Faltando doze horas para o evento, interfonei para o apartamento dele, solicitei o favor e lá se foi o Bernardo.

Voltou outro.
Domínio total, preciso do nó. Uma confiança que se refletia no pescoço empertigado.


Naquela noite, fez o nó mais de vinte vezes.
Senti até medo que a gravata não aguentasse o tranco. Era das boas, resistiu.

E esse texto é um agradecimento ao nosso vizinho, porque eu soube que sua mudança continha em grande parte coisas de cozinha. Leonardo ama cozinhar. Então, imediatamente soube que eu não poderia lhe agradecer com prato de  comida, afinal eu corto cebolas com faca de pão. Melhor não arriscar!
Então, vamos de gratidão com palavras.
Nosso muito obrigado, a cada vez que Bernardo der um nó na gravata, a cada vez que o vir empertigado e com a gravata impecável, lembraremos que foi você Leonardo, com seu coração imenso que fez meu filho mais feliz!


sábado, 2 de julho de 2016

Eu, envergonhada

Senti vergonha perante o moço dos Correios.
Escrevi uma carta e carimbei no envelope com carimbo de corações.
Quando estava lá na agência com a senha em mãos, H1642 ( não devem mais existir senhas simples 1, 2, 3, 4 ) percebi que apenas um atendente chamava as senhas iniciadas pela letra H. Eu tinha alguma esperança de ser chamada pela mocinha da outra ponta, mas logo dei por mim que seria ele mesmo a pressionar o botão que me chamaria.
Olhei o envelope carimbado e fui tomada de vergonha. O que pensaria o moço dos Correios ( moço, modo de dizer, que ele bem devia ter a mesma idade que eu ) pensaria de mim? Uma velha com envelopes carimbados de corações. Parece criança. Que infantil.
Eu já estava ouvindo os seus pensamentos quando minha senha piscou no painel.


Se ao menos eu tivesse mais cartas para postar, poderia enfiar o envelope de corações por entre as outras. Mas não. Era mesmo somente aquele.
Com passos lentos me dirigi ao guichê e entreguei-lhe o envelope virado para baixo.
 - Carta simples, por favor.
Ele imediatamente virou o envelope dando de cara com o carimbo. Era preciso verificar o cep.
Ai, que vergonha.
Então, bruscamente ele me olhou e fez um gesto e disse com voz baixa "só um minuto".
Pareceu-me constrangido. Mesmo assim fez outro gesto pedindo que alguém se aproximasse.

Oh céus! Mais espera, mais demora para minha vergonha. Para piorar, um sujeito se aproximava. Certamente enxergaria a carta ali exposta aguardando o selo e o carimbo oficial.

O rapaz que se aproximou trazia uma grande caixa de isopor a tiracolo.
Tirou lá de dentro uma embalagem transparente redonda com um polpudo brigadeiro lá dentro.

O moço dos Correios pegou a embalagem, pousou-a ao lado dos coraçõezinhos, esboçou um sorriso e tirou uma nota de dois reais do bolso e pagou o sujeito que se foi.

Ficamos ali, eu, agora sem vergonha, o envelope de coração, o brigadeiro polpudo e o moço que estava visivelmente envergonhado!

Guardou o brigadeiro numa gaveta. Certamente dali a pouco iria pegar um papel para disfarçar, iria para os fundos e comeria seu brigadeiro, lambendo os dedos!

Parece criança carimbando envelopes.
Parece criança se lambuzando com brigadeiros!