domingo, 31 de agosto de 2014

Dilema no bolso


Este livro custa R$29,90 em uma livraria.
Este mesmo livro numa outra livraria sai por R$9,90.
Em qual das livrarias você vai comprar?

Parece simples. Será mesmo?

Antes da minha resposta, eu quero repostar uma fotografia antiga. Antiga? É de 10/12/2012.


Antiga não é uma adjetivo adequado, afinal a foto não tem dois anos ainda.
É que não sei se esta livraria ainda existe. Encontrei-a numa viagem que fiz à Curitiba. Encantei-me por tudo o que eu encontrei adentrando a estreita porta vermelha. Não havia meio termo para esta pequena livraria: ou ela iria muito bem ou fecharia. 
Confesso que preferi não fazer uma pesquisa no sabedor de tudo, o Google, com medo da resposta.
Sigo acreditando que se algum dia eu voltar lá, lá ela estará. Ou antes disto, num surpreendente comentário a ser deixado neste post, algum leitor do meu blog afirmará que também continua leitor na Poetria.

Mas, de volta àquele problema semelhante ao dos livros iniciais de matemática, ainda estou com dificuldade na minha resposta.
Meu marido foi enfático - optou sem titubear pelo mais barato acrescentando - "E se for bom, poderei comprar ainda mais dois livros para presentear pelo preço de um".

Tentei argumentar com todo o meu romantismo quase choroso sobre as pequenas, que há muito foram engolidas pelas grandes; e agora as grandes, as mega livrarias correm o risco de serem engolidas pela gigante. E os empregos, o olho no olho do vendedor, quiçá alguma indicação, o encontro com outros leitores do mesmo autor?

Marido não se sensibilizou. Disse que se tal livraria pode vender a nove reais é porque a outra está ganhando muito. E terá empregos lá na gigante também.

Bem, estou falando da gigante virtual, amazon.com.br, que aportou em solo brasileiro com descontos entre 50% ou 60% em alguns títulos, com a prática de chegar a perder dinheiro para atrair clientes. E o mercado editorial teme que esta política a longo prazo provoque a falência das livrarias concorrentes e crie um monopólio da Amazon.

Tenta-se buscar uma saída como já existe na França, onde durante algumas semanas após o lançamento, um livro tem que manter um preço fixo para somente depois surgirem as promoções em cima do título.
Enquanto nada se decide, você pode ou não aproveitar os bons preços e aproveitar para nos contar o que pensa a este respeito.
Beijo.

sábado, 30 de agosto de 2014

32/52


Não adianta perguntar o que tem na panela.
Só me mandaram o sorriso e os estalidos da lenha!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O amolador de facas

Deve existir em algum lugar deste nosso mundo um museu dedicado às profissões extintas ou quase. Ainda não visitei esse museu; a bem da verdade eu não sei onde ele se localiza então tenho a pretensão de fazer deste texto um pequenino museu para abrigar o "amolador de facas".
Será preciso um áudio para que todos escutem a melodia que antecede a chegada desse artesão das lâminas. Não sei dizer quantas notas, compassos e pausas se fazem necessários para o tempo entre abrirmos gavetas e levarmos os objetos até ele.
Para muitos que visitarem este texto-museu, o silvo estridente produzido por um pequeno apito a imitar uma flauta de Pan, fará despertar a memória da infância. Não se sabe se alguém nos ensinou, ou se interrompemos alguma brincadeira de rua, alguma travessura hipnotizados pela música. Os que ainda são crianças poderão se valer do som saído de algum tocador digital, ou quem sabe ao ouvirem o som, olhem pela janela e lá estará ele!


Faz-se muito necessário um texto-museu pois em tempos que as profissões são extintas silenciosamente,
a figura deste homem ( terá mulheres representantes desta profissão? ) foi substituída por máquinas caseiras. Faça uma busca no gigantesco museu chamado Google digitando amolador de facas e constate como é difícil encontrar uma imagem humana em meio a tantas máquinas...
Eu pude criar este texto-museu depois de ter sido surpreendida pelo Seu José Nilton e o seu dom de reavivar tesouras e facas numa engenhoca aparentada da bicicleta.
Ele foi rápido, não houve tempo para eu lhe perguntar quem lhe ensinou a profissão, ou mesmo se na infância dele havia o amolador e se também havia uma tia que lhe punha medo dizendo "Cuidado, lá vem o amolador e ele leva criancinhas".
Soube também que num passado o mesmo amolador também consertava varetas de guarda-chuvas que hoje vão diretamente para o lixo.
O amolador de facas que anunciou sua chegada com o som do apito, disse-me que daqui a dois meses andará novamente por essas bandas.
Deixarei meus ouvidos atentos e quem sabe consiga além de uma tesoura amolada, um dedinho de prosa!



terça-feira, 26 de agosto de 2014

31/52


Mãe, posso usar "aquele" que passa nos olhos, nos cílios que a gente faz assim (movimentando as mãos!).
Pode, pode sim! É rímel, pega lá no meu guarda roupa.

Barulhos, instantes de procura...

Mãe, como é mesmo o nome científico do rímel?

( Mãe confusa por alguns instantes)

Ah! É máscara para cílios.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A fralda pintada

Seguia de mão dada com minha filha pela rua tranquila e estreita. 
O sol, apesar de ser de inverno, estava à pino e demasiado quente para a época, o que nos fez escolher o lado mais arborizado que nos oferecia por um bom trecho, agradável sombra.
"Como você é disposta para andar, hein?!"
A voz vinha do lado oposto ao que estávamos. Avistei e de imediato reconheci - Priscila.
Diminuí o passo, mas não atravessei a rua. Minha intenção era apenas de acenar para a Priscila e seguir em destino a buscar meu filho na escola.
Uma frase porém paralizou-me:
"Paula, o Gabriel tem até hoje a fralda pintada que você deu a ele"- ela disse com um sorriso duradouro.

O Gabriel é o filho da Priscila. Tem a mesma idade da minha filha Júlia. A Priscila falava enquanto o ajudava a entrar no carro com a mochila.
 Eu fiquei parada segurando a mão de minha filha e devo ter ficado com uma expressão vazia porque a Priscila tentava me ajudar:
"Naquele aniversário que eu fiz lá no buffet do centro... Ele usa até hoje na aula de artes!"

Mantive a mão firme segurando a mão de minha filha e me abstraí dali olhando o sorriso da Priscila.
Eu tinha dois pensamentos ao mesmo tempo. Um era referente ao sorriso da Priscila e o outro era sobre o presente.
Quando eu pensava no presente que eu havia dado ao menino, achava que o sorriso dela era um deboche, uma afronta, um recado. Mas a Priscila não é esse tipo de pessoa. Um sorriso sarcástico não é do feitio dela. Porém, levando em consideração o presente, ela teria todo o direito de me afrontar com um sorriso.
Dar uma fralda pintada de presente?
Não tenho nada contra fraldas pintadas. Só acho que presentear um garoto de quatro ou cinco anos com uma coisa dessas é mesmo fora de noção. Fralda pintada é para quatro ou cinco meses de vida. Dentinhos nascendo, bebê babando, essas coisas.
"Ô presente que durou, hein?! A fralda pintada branquinha."

De lá de onde eu estava, tentava acessar os arquivos. Onde será que eu comprei essa fralda pintada? Teria encomendado? Pintar, eu não pinto; hipóstese descartada. Então comecei a sentir mal. E se eu tivesse pego uma fralda que fora de um dos meus filhos para presentear o filho da Priscila? Sabe, presente de última hora, não deu tempo para comprar. Nossa, eu fui mesmo capaz de fazer isso? Que decepção comigo. Que pessoa mais sem noção eu sou - presentear um amiguinho de minha filha, aniversariante de cinco anos com uma fraldinha pintada?
Eu realmente merecia aquele sorriso infame da Priscila, mesmo tendo se passado quatro anos do ocorrido. Ela devia estar engasgada com a fralda pintada e neste encontro casual despejou sobre mim todos esses anos de raiva.

"Ele nunca esquece de levar para a aula!"
Imaginei então o Gabriel na aula de artes, tirando a fraldinha pintada, colocando-a sobre a mesa e limpando delicadamente os pincéis ora sujos de tinta guache, ora na aquarela.

Mas, nesse momento me ocorreu que o sorriso da Priscila era mesmo verdadeiro. Ela me pareceu orgulhosa pelo filho ter até hoje o presente.

Então me senti péssima mãe. Eu me lembro que pediram um paninho, um trapo, coisa pequena para as aulas de artes e eu nem sei o que mandei. Deve ter sido alguma manga cortada de camiseta velha.
A Priscila não. Ela é uma excelente mãe. Claro que sabe exatamente o tipo de paninho que o filho usa para limpar os pincéis.
Resolvi dar um basta naquela tortura. A besteira eu já havia feito. Quatro anos atrás, ou uma vida inteira, não importa, terei que conviver com o fato de um presente malfadado.
Para encerrar então, soltei uma fala:
"Ah! Eu também guardo várias coisinhas de bebê da Júlia."

O tranco seco, contido e forte, eu senti de imediato no meu braço. Aquele puxão que as mães dão para dizer sem palavras "cala a boca".

Deixamos a Priscila para trás e seguimos. A uma boa distância do ocorrido, minha filha voltou-se indignada para mim e me censurou:
"Mãe, por que você foi falar para a Priscila de paninhos de bebê?"

Ok, ok. Entendi que era um típico faniquito de uma pré-adolescente que não quer ter nada de bebê associado a ela.
Comecei a responder com a paciência escassa:
"Não tem nada de mais falar que guardo algumas coisas de bebê que foram suas. A Priscila não estava falando da fralda pintada que eu dei para o Gabriel? Então...

"Mãe, a Priscila estava falando da flauta da yamaha que você deu para o Gabriel".