Nossa filha Júlia, a nossa Juju, foi aprovada no vestibular!
Hoje, dia 28 de fevereiro de 2023, saiu o resultado tão esperado!
Foi um ano muito intenso de dedicação aos estudos. Aulas de domingo a domingo.
Fotografei uma parte do material que ela usou e produziu ao longo de sua preparação no ano anterior:
E hoje é um dia para celebrar com ela essa alegria!
( de verdade, eu acho que ninguém deveria festejar um vestibular, porque ele simplesmente não deveria existir; deixemos a reflexão para outra postagem )
Logo cedo, recebi as fotos exultantes de alegria!
Nós estamos em meio a uma mudança de endereço. É bastante provável que eu fique ausente por um tempo. Ou se os ventos tiverem propícios, volto bem rápido!
Datas são números nos calendários, isso apenas. Já defendi com com postura hirta e voz imposta esse pensamento que em algum momento da vida eu incorporei.
Certamente não foi na minha infância, pois, no calendário, na folhinha, aquela semana que antecedia o Natal, além de ter uma cadência lenta, despertava emoções que eu podia sentir dentro do meu estômago: ali se misturavam a alegria da festa, a ansiedade pelo presente que era absolutamente uma surpresa, e o medo pela visita de Papai-noel. Eu amei com intensidade aquela semana que transcorria lenta por muitos e muitos calendários.
Mas, como disse, em algum momento todo aquele espanto se perdeu e dei lugar a uma empáfia, desdenhando das datas carregadas de emotividade.
Sou grata à Vida; ela a grande professora que com paciência me ensinou.
O momento do aprendizado consolidado, realmente não sei.
A vida me convidou a olhar com olhos generosos e cheios de ternura para as datas que um dia desdenhei.
Meu coração hoje sente que as datas podem ser um convite à memória para que ainda drene dores ou que celebre o fato de ter atravessado a dor para se aninhar em recordações afetuosas, doces memórias.
Um mês da morte de nosso cãozinho, o Theo. Encontrar o número 25 ainda traz a ausência, ainda se faz necessário um esforço para que as boas memórias surjam. Elas, as boas memórias existem, precisam apenas acomodar as águas do luto para depois deixar emergir todas aquelas lambidas, rabinho abanando feliz!
Então vou aproveitar para falar das minhas emoções relativas à morte do pequeno cão.
Foi o primeiro cachorro da minha vida e eu bem sabia o tempo biológico estimado de vida da espécie.
Quando completou 12 anos, passei a ter um olhar de despedida para ele. Sempre falava para meu filho “ você se despediu do cachorro? pode ser a sua última vez com ele”.
Para mim era fato de que a finitude se aproximava, pela questão da idade, pois estava bem de saúde.
Quando aconteceu, eu me surpreendi com meus sentimentos de ausência.
Sou bastante crítica com os excessos que nós humanos podemos dar aos nossos animais de estimação: será realmente que o bichinho precisa de um pote de porcelana com friso de ouro para beber sua água? Basta entrar em um petshop que nos deparamos nitidamente com esses excessos, que fez até o Papa Francisco também trazer essa reflexão.
Mesmo sem excessos, a ausência se fazia presente. Foi então que olhando na internet, eu me deparei com uma fala muito delicada sobre esse assunto, onde a profissional discorria sobre ser o luto por um animal, um luto não reconhecido, não validado pela sociedade e assim não nos permitimos sentir.
Eu realmente me sentia estranha pelo que estava sentindo.
É preciso olhar para as modificações das nossas relações com os animais, impostas muitas vezes pelo nosso tipo de moradia. No meu caso, como de muitos outros, tivemos um cachorro em um apartamento, o que torna a convivência muito próxima. Claro que isso pode acontecer também em grandes espaços de casas, sítios, enfim…
Bem, não tenha receio a deixar uma lágrima escorrer pela dor e morte de seu bichinho, até os mais “durões" têm os corações amanteigados por esses focinhos tão companheiros?
A montagem das fotografias foi feita no dia de hoje, o primeiro mês sem nosso bichinho, pela minha filha Júlia. Uma maneira de homenagear, recordar e começar a preencher o coração com uma adocicada saudade!
O segundo livro que li nesse 2023, foi Inventário do Azul de João Anzanello Carrascoza, editora Alfaguara.
Antes, porém, de falar do livro, da leitura, quero contar como eu “conheci" o escritor.
Bem, há uma dezena de anos, mais ou menos, nessa mesma época, o mês de fevereiro, em alguma manhã, antes que o sol do verão se tornasse escaldante, eu estava com o umbigo encostado em um balcão de papelaria para comprar a interminável lista de material escolar dos filhos, incluindo os livros didáticos.
Afora o dispêndio, era muito gostoso chegar em casa com todo aquele material e começar a encapar livros e cadernos e etiquetar tudo, tudinho, dos lápis aos livros.
Mas, havia uma coisa em especial que eu gostava muito: folhear o livro de Língua Portuguesa para ir encontrando os textos que eles estudariam. Geralmente eram recortes de uma texto bem maior. Sempre ao final, o nome do autor e o livro do qual fora extraído aquele trecho. Eu ia passando os olhos e me detinha em um e outro.
E foi num desses folhear que eu encontrei João Anzanello Carrascoza. Gostei tanto do pequeno trecho que estava ali no livro das crianças que anotei o nome do autor e a obra citada e algum tempo depois tínhamos o primeiro livro do Carrascoza.
O livro já voou da nossa estante para as mãos de uma querida amiga de blog, faz algum tempo; guardo com imenso carinho o título e a história. Era um livro infanto-juvenil - O Homem que Lia as Pessoas.
Para esses autores que se aninham em nossos corações, nem precisamos saber do que se trata um novo livro! Não paira qualquer dúvida: tem lançamento e a gente já quer!
Mas com o Inventário do Azul foi diferente. Demorei para estar com o livro nas mãos. Tinha outros para ler e vinha aquela culpa literária - comprar mais um livro com essa pilha para ler?
Depois era a grana que não sobrava.
E aconteceu algo bem interessante nesse tempo relativamente longo, entre o lançamento e minha aquisição. O autor passeou por vários programas de entrevista, podcasts, lives no Instagram.
Então esse foi, posso assimdizer, o primeiro livro em que eu sabia muito a respeito sem ter lido a história!
Ouvi Carrascoza discorrer sobre como nasceu o livro ( época da pandemia ), a influência de sua viagem para a Índia, enfim foi uma delícia ouví-lo em vários programas diferentes e assim, a experiência da leitura, que já seria uma delícia, foi ainda mais!
Quero deixar um capítulo do livro Inventário do Azul. Todo o livro tem capítulos curtos.
É uma escrita de tamanha beleza que vem me encantando desde os tempos dos livros e cadernos encapados e etiquetados, que já ficaram no passado. Tem criança minha no último ano de faculdade e outra, quem sabe, adentrando a universidade!
Um pouquinho de João Anzanello Carrascoza para vocês se encantarem e lerem depois todo o inventário dele!
Legado
Pelos casamentos rompidos, legou aos filhos a família partida, o vazio insolúvel.
Legou aos filhos essa existência duplicada, as fatias de tempo entre a mãe ( os dias da semana ) e ele ( os sábados e os domingos ), o Natal numa casa, o Ano-Novo em outra, as duas sandálias havaianas, as duas escovas de dente, os dois blocos de ausências, o tijolo duplo do silêncio, e, inescapavelmente, às vezes, a dupla tristeza ( embora haja também a chance do duplo contentamento).
Entristece-o que sejam filhos dos desencontros humanos, dos abismos cavados a quatro mãos pelos casais, dos atos equivocados de suas mulheres, dos erros recorrentes dele próprio. Entristece-o que sejam filhos do amor ( e, em seguida, do desamor ), das vias já inacessíveis ao perdão, do cotidiano enganoso dos relacionamentos conjugais. Entristece-o legar ao rapaz e à menina um morro onde a ausência atingiu o cume. Entristece-o legar aos filhos duas dores crônicas sem que, como compensação, possa lhes oferecer o remédio de efeito dobrado, capaz de cicatrizar a história ferida deles e regularizar a arritmia do seu próprio coração.
que protejo em mim. algo na fragilidade das folhas
me comove
e me torna grave como eu era na infância
ao carregar esse animal delicado
que precisa se manter vivo
até mesmo quanto toco
a sua asa
e não é isso justamente o que fazemos
ao lidar com as palavras na escrita?
ter livros antigos ensina as mãos )
Aline Bei
A poesia da escritora Aline Bei me encontrou. Não li nenhum de seus livros, ainda. Esses pequenos encontros se dão no território do Instagram da autora.
Tem alguns dias que li e lembro-me que saí daquelas palavras e fui direto para a estante buscar o livro mais antigo.
Comprei-o em um sebo sabendo pela descrição que carregava em suas páginas, em sua capa, em sua lombada, longos anos de existência.
As manchas, o tom amarelado, e a fragilidade expressa na escrita da Aline Bei - esse animal delicado.
É mesmo preciso muita suavidade para tocar aquelas páginas. As mãos ganham uma delicadeza.
Tenho tantos outros livros na estante e nenhum se assemelha a esse.
Fico pensando se algum dia, um desses exemplares, hoje com as características que permitem classificá-lo como “livro novo, em bom estado” um dia atingirá o estado de animal delicado.
Estará ele, o livro, na minha estante? Estarei eu, aqui para enxergá-lo desgastado e frágil?
Na minha tenra infância, fui levada pelos meus pais à uma matinê para brincar o carnaval. Fantasiada, com um grande pacote de confetes, brinquei ao som das clássicas marchinhas.
Mas as marchinhas, os confetes, não fizeram morada em mim. Meu sinônimo de carnaval é descanso.
Nesses dias de folia, acho bonito de ver a alegria, a animação, a energia das pessoas!
E foi num dia desses que a alegria estava nas ruas, que eu e marido fomos passear num parque.
Achei incrível o que vimos: ao redor do parque havia 500 mil pessoas!
Meio milhão de corações festivos e lá dentro do parque, meia dúzia de gatos pingados!
Foi uma delícia caminhar por entre as árvores, margeando lagos sem a multidão que costuma frequentar o parque aos finais de semana. A multidão ficou do lado de fora e olha só uma imagem para refletir a paz ali dentro:
Mas temos foliã na família também!
Minha filha Júlia nunca foi levada por mim para pular carnaval, o máximo eram as festinhas na escola. Só que o bichinho do carnaval, sempre esteve com ela!
Lembro que, quando menor, ela e uma amiga combinavam de assistir pela televisão os desfiles. Cada uma em sua casa e se falavam madrugada adentro comentando os desfiles.
E agora vai feliz para o sambódromo assistir ao vivo aos desfiles das escolas de samba. E eu é que fico no celular para receber as notícias e as fotos!
Minha filha se encanta com os enredos. “Mãe, essa escola homenageou a santa padroeira deles”. Estar lá é se envolver numa energia maravilhosa, ela diz.
A interrogação que está no título desta postagem, é carregada de incertezas.
Um adeus à livraria Cultura?
No dia em que fomos ao cinema, e eu postei aqui a página do meu diário, sugeri à minha filha que fôssemos até a Livraria Cultura, já que estávamos bem perto e como tínhamos lido no final de semana a notícia da possível falência e fechamento, fomos até lá para ver se encontraríamos portas fechadas ou ainda poderíamos admirar aquele espaço tão lindo.
A Livraria Cultura fez parte da infância de meus filhos, Júlia e Bernardo. Os computadores e a internet estavam chegando nas casas e nós ainda levaríamos um bom tempo a ter um modelo que, aliás, ocupava um baita espaço.
Comprar livros era feito ao vivo e não online. E a enorme livraria situada no coração de São Paulo ainda oferecia contação de histórias para as crianças, oficinas de origamis, máscaras, havia teatro, enfim, o nome da livraria espelhava tudo o que ela oferecia - cultura.
Com o estabelecimento da internet, as compras online, passamos a frequentar menos o espaço e fazíamos nossas compras pelo site da livraria. Lembro-me que o entregador era um funcionário da própria livraria e após dois ou três pedidos, ele fez o seu: “dona, será que eu poderia deixar suas entregas por último, quando eu já tivesse voltando para casa? É que eu moro aqui perto, pra não ficar indo e vindo, o trânsito, sabe né?”
E assim fizemos o combinado e várias vezes ele estacionou sua moto no portão às nove da noite.
Depois veio a grande rede de livros, aquela com A maiúsculo, devoradora das pequenas , médias livrarias e silenciosamente das grandes também, com descontos gigantescos e tentadores. Passei a comprar nela os livros.
Pandemia, crise, inflação, aumento significativo no preço dos livros e lá está ela, a livraria Cultura, incerta, buscando fôlego para permanecer.
No dia em que estivemos por lá, uma senhora puxou conversa e me disse que veio de outra cidade para conhecer enquanto ainda está aberta. A funcionária garantiu que não fechariam as portas. O fato é que todos que ali estavam, filha e eu inclusive, tiramos muitas fotos desejando realmente que consigam se manter.
Assim que fui lá no blog da Chica e vi a palavra da semana sugerida para o nosso brincar,logo pensei “do que se trata?”. De certa forma, eu desconhecia monturo, mas uso com certa constância uma palavra que é derivada dessa - montueira.
"Olha a montueira de lixo na nossa cidade."
Monturo significa que ainda não encontramos soluções, que ainda somos irresponsáveis. Monturo incomoda, não queremos olhar.
Mas se buscamos e precisamos da beleza, da natureza, monturo, montanhas de lixo a poluir não podem coexistir. Façamos a nossa parte e vamos também exigir do poder público, dos nossos governantes, a parte que lhes cabe.
"Saber que você ama a terra, muda você. Você se torna ativo para defender, proteger e celebrar. Mas quando você sente que a terra te ama em troca, esse sentimento transforma o relacionamento de uma rua de sentido único em um vínculo sagrado."
O relógio passa um pouco da nove da noite e, embora meu corpo já comece a sinalizar que um bom repouso se faz necessário, ainda estou empolgada para revisitar o dia de hoje e te contar os acontecimentos.
Fomos ao cinema, a filha e eu. Numa segunda-feira, no meio do dia e olha querido diário, como é gostoso uma quebra de rotina assim, um tanto inesperada!
Deu-se da seguinte forma: a filha anunciou empolgada uma promoção, que soube pelas redes sociais, de que as sessões de cinema estariam a preço único de dez reais.
Tenho que te explicar o motivo da empolgação, porque acho que você não está por dentro querido diário. O cinema tornou-se tão caro, mas tão caro que faz muito tempo que não pisamos em um, então a empolgação faz muito sentido.
Júlia, a filha, é cuidadosa para com sua mãe, no caso, eu mesma.
Ela queria escolher um filme que tivesse mais o meu estilo. Sugeriu alguns.
Eu, na dúvida, fui espiar se o antigo cinema de rua que frequentei na minha juventude, ainda estava lá. E se a promoção estaria também.
Estava! O nome do cinema muda, volta a ser o mesmo, enfim, quase fechou, teve passeata para mantê-lo e ele segue firme!
Faltava então escolher o filme e eu encontrei. Um título pouquíssimo divulgado, de um país tão desconhecido.
A filha gosta de se pautar pelos comentários e lá foi ela se aventurar - disseram que não é nada extraordinário, mas é bom.
Eu, confesso diário, já saí de casa cheia de empolgação, uma vez que não confio tanto assim nas críticas de cinema!
Um filme butanês. O país que trocou seu PIB pelo FIB - Felicidade Interna Bruta. O que esperar?
Levamos a pipoca de casa. Ah não né querido diário, a pipoca custar o dobro dos ingressos, aí já é demais. Pipoquinha doce e não vai rir diário: eu levei também um pote plástico para colocar a pipoca e não ficar fazendo barulho da embalagem cada vez que levássemos a mão lá para dentro. Econômico, silencioso e gostoso!
Já no final da pipoca, quase no final do filme, enquanto levava minha mão ao pote, levei também o olhar para o rosto da filha. Bom, nós nos encontramos e rimos. Rimos porque estávamos ambas chorando. Aquele caminho de lágrimas que nos percorria, teve no riso mútuo o reconhecimento de que nossos corações estavam em sintonia.
“Mãe, que filme incrível! Confesso que não esperava nada dele, vim mesmo para te agradar, mas eu fui absolutamente surpreendida”.
A felicidade das pequenas coisas, esse é o título em português. Felicidade interna absoluta e, advinha querido diário, onde se encontra essa felicidade?
Sim, nas pequenas coisas.
Um dos comentários sobre o filme, dizia que não era extraordinário.
Penso diário, que nos perdemos, que nos tornamos seres confusos porque estamos em busca sempre do extraordinário.
E essa simplicidade, como, quando foi que nos desconectamos dela?
No filme, pela proposta do índice de felicidade interna bruta, toda criança tem que ter acesso a uma escola. E nos lugares mais remotos, a escola vai até a criança, para isso, os jovens professores do país prestam o equivalente ao nosso serviço militar e eles são mandados a todas as regiões para oferecer educação para as crianças.
O jovem professor do filme, estava meio rebelde no seu último ano de prestação desse serviço ao governo e assim ele foi mandado para a escola mais remota do Butão e do mundo!
Para chegar ao local leva-se um dia de ônibus e sete dias a pé subindo as montanhas.
É sagrado o olhar e o cuidado que a aldeia oferece ao professor.
Uma criança, ao ser perguntada por ele, o que ela queria ser quando crescesse, ela responde: “eu quero ser como você, um professor.
E por que você quer ser professor?
"Porque um professor toca o futuro."
Ah diário… nem é preciso dizer mais.
O extraordinário do filme está nos pequeninos detalhes, está mesmo no ordinário.
Eu vou aspirar, diário ,para que logo esse filme entre nas plataformas que acessamos pelos nossos celulares e computadores, assim mais pessoas poderão se encantar como minha filha e eu.
Mas antes disso, vou te deixar com um brilho nos olhos! Espia só um pedacinho, o trailer.
Só não chora diário, porque no seu caso lágrimas, papel e caneta, hum... não vai ficar bom!