quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Dia do blog



E hoje é dia do blog!
Fiquei sabendo lá na Roberta e achei muito legal a finalidade de se comemorar este dia.

Foi estabelecido que durante este dia, os blogueiros de todo o mundo deverão colocar uma mensagem aos seus leitores, apontando para outros blogs que considerem interessantes. Assim os leitores poderão descobrir novos blogs para serem lidos... (Wikipedia).

Como a gente acaba tendo um círculo mais ou menos em comum, selecionei uns blogs para indicar, onde eu não vejo tantos conhecidos, por isso vale conferir.

Blogs com dicas de livros infantis:

Um menininho lindo e suas histórias

Gente grande que traz poesia

Gente grande ou moleque que rouba goiabas e ainda nos faz rir ou chorar

Feliz dia do blog para nós!

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A louça


Tivemos dias bem quentes, agora a temperatura começa a cair de volta, frio novamente...
E eu estou pensando na louça.
Na verdade eu tenho pensado na minha ex-quase-sogra.
Lá vai tempo isso! Tempo do primeiro namorado e que eu queria muito agradar à futura sogra e depois do jantar, um cafezinho gostoso nas noites frias e entre olhares apaixonados, a ex-quase-sogra levanta-se para lavar a louça. E claro que eu, querendo agradar, mesmo com tanto frio, quentinha do café, ia lá fazer bonito.
Mas, numa noite bem gelada, tomei coragem e perguntei: por que a senhora não deixa para amanhã, está tão frio...
Ah! A resposta me surpreendeu tanto, que não consigo esquecê-la:
Deixar para amanhã? Imagina! Sempre penso que se eu morrer à noite, quando chegarem aqui ainda terão que lavar a louça. Que vergonha.”
Estas palavras não me saem da cabeça. Há coisas que ficam para sempre. São exemplos que marcam.
Hoje, algumas sogras depois, depois do jantar, (não tomo cafezinho, naquela época era só para agradar a sogra) tomo uma xícara de chá bem quentinho, fecho a porta da cozinha com a pia caprichada na bagunça e vou dormir.
Na manhã seguinte, me invade uma sensação tão boa, tão espetacular, assim:
Ninguém precisou lavar a louça para mim. Estou viva!!!”
E com essa disposição, com a lembrança na ex-quase-sogra, começo meu dia, lavando louça e muito viva.

domingo, 28 de agosto de 2011

Solidariedade e propagandas


A primeira percepção do meu filho envolvendo as desigualdades foi com as pessoas em situação de rua, mendigos.
Entender como as pessoas chegaram a tal situação, e o que fazer para auxiliar, acho que dessa forma nascia a semente da solidariedade.
E neste contexto exploramos as várias maneiras de ajuda.
Esses conceitos foram amadurecendo no Bernardo e posteriormente na Júlia.
Hoje eles já têm consciência que dar um dinheiro, uma esmola, não resolve a situação.Às vezes há uma necessidade imediata, mas neste casa específico das ruas, também existe muitas vezes a necessidade de tratamento psiquiátrico, do retorno à auto-estima e da possibilidade de produzir e gerar o seu ganho.
E elaborando tudo isso e juntando com uma vontade de contribuir, eles chegaram à conclusão de escolher uma entidade, uma causa para essa contribuição.
Sabem que além do material, podem contribuir doando tempo, talento, serviço (podemos).
Como mãe, eu venho me esforçando para que cada vez mais eles percebam os problemas de maneira bem mais ampla, onde a base seja a educação formal e do lar.
Percebo que estamos sendo literalmente “bombardeados”, quase obrigados a fazer nossas doações. A televisão tem sido imperativa nestes últimos dias.
E você estar de fora, gera até um certo mal estar...
Gosto da ajuda não imposta por uma emissora, por uma bandeira.
Acho legal conhecer diversas causas, identificar-se com alguma(s).
Muito compreensível, como eu disse no post anterior, uma mãe envolvida com o câncer achar absurdo as doações para salvar as tartarugas marinhas. Há lugar para todos os tipos de ajuda. E a participação, não por culpa, porque é Natal, porque todos fazem... uma participação pensada, ainda que os problemas não findem. E sabemos que não vão acabar, embora gostaríamos.
Assunto difícil, que passa pelos valores, pela percepção de cada um.
Então para finalizar, um vídeo de três minutos para rir, ou talvez você chore.
Volta aqui pra contar sua reação! Beijo

clique aqui para assistir

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Um dia feliz e reflexivo


Hoje, 27 de agosto é o McDia Feliz. Comprando um sanduíche na famosa rede de fast food, a renda é revertida para auxílio às crianças com câncer.
Ano passado fomos, este ano assim que viram a propaganda, as crianças me pediram para levá-las ( farei um outro post falando da nossa relação com esta lanchonete).
Nós iremos, mas eu irei com uma dose de incômodo. Não incômodo ruim. Reflexivo.
Talvez a palavra incômodo nem seja a mais apropriada, só não encontro outra para me expressar.
E esta 'reflexão'vem deste fato: em junho, conheci um blog em que a mãe relatava a luta da filha de sete anos para vencer um câncer. A garotinha não resistiu.
Meses de internação longe de seu estado natal. Num dos posts, um questionamento de que era fácil ajudar comprando um lanche apenas.
Fiquei com este questionamento, estou com ele. Mais um em que as minhas opiniões não estão consolidadas.
Entendi tentando, apenas tentando estar ao lado daquela mãe o que ela quis passar, dizer.
Estando lá dentro, as necessidades são outras, devem ser muitas. Um advogado porque o plano de saúde ou mesmo o governo se nega a pagar um medicamento, um abraço, um alguém para conversar.
Mas eu também quero acreditar que o dinheiro daquele lanche compre uma ambulância, pague uma professora, construa uma casa de apoio para os que chegam de fora.
Melhor seria que nem precisasse existir o tal dia feliz porque a cura já tinha sido descoberta.
Irei com meus filhos, carregando um pouco da dor dessa mãe pelo lado de dentro e também carregando um pouco do feliz da intenção deste dia. Um dia feliz. Feliz e reflexivo.

As mãos de Eugênia


Era um trabalho de escola.
Estranho e sem sentido. Entrevistar uma pessoa idosa e perguntar-lhe qual a parte do seu corpo achava bonita.
A mãe fora com a menina no Residencial Terceira Idade, no bairro mesmo, explicaram o caso e a funcionária disse que conversaria para ver quem estaria disposto e ligaria para elas no dia seguinte.
Levando apenas um celular para gravar a conversa, lá foi a menina sozinha, achando tudo um absurdo, afinal o que poderia ter de belo um morador de asilo?

Foi apresentada à Eugênia, 87 anos, que a recebeu em seu pequeno, mas aconchegante quarto.
E diante da pergunta feita pela menina de voz entre menina e mulher, os olhos da anciã esboçaram um sorriso:
Minhas mãos são a parte de mim que mais carrega beleza e que mais aprecio”.
Sem interromper, a menina lançou seu olhar para as mãos da senhora: enrugadas, manchadas, veias saltadas e um pouco trêmulas... já podia até ouvir as risadas dos colegas. Aquilo não podia estar acontecendo... escolheram a mais insensata das criaturas para falar com ela.
Minhas mãos, prosseguiu Eugênia, guardam o calor do seio de minha mãe me alimentando.
Guardam talvez, apenas dois momentos de meu severo pai: mãos pequeninas que curiosas e sem controle tocaram seus óculos e sua face, mãos trêmulas que cerraram seus olhos em sua partida.
Quanta traquinagem, quanta fruta no pé, terra nos dedos. Quanto asseio para brincar com a boneca de porcelana...
Mãos que mesmo trêmulas, seguraram firme o diploma que lhe permitiu partir atravessando oceanos.
Mãos que se enlaçaram em outra tão diferente na cor, tão idêntica em sentimentos... Mãos que enxugaram as lágrimas mútuas desse amor proibido.
Mãos que assinaram importantes documentos, mãos que se juntaram a tantas outras em corrente de fé para que a guerra cessasse.
Mãos que embalaram filhos, apoiaram seus primeiros passos;
Mãos que escreveram cartas nunca respondidas, mãos que escreveram livros, que aplaudiram netos;
Mãos que arrumaram os poucos pertences para esta nova etapa na vida de alguém velho.
Mãos que dançaram valsas, que levaram flores a tantos túmulos
E que hoje estão aqui..."
Neste momento uma fresta de sol entrava pela janela e pousava em tão belas mãos.
A menina desligou o celular, enxugou rapidamente o úmido dos olhos e durante alguns segundos, segurou em suas mãos a beleza trêmula que ali se apresentava.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Virtual e real


No mês de maio eu marquei um café com uma amiga, até então virtual, que conheci através dos blogs.
Foi maravilhoso. Saí da livraria onde nos encontramos direto para buscar as crianças na escola e quando os peguei, fui avisando que nosso jantar seria um lanche porque não tinha tido tempo de preparar janta porque eu tinha ido tomar um café com uma amiga de blog.
Eu até podia ver as notas musicais que saíam da minha voz, tão feliz eu estava!
Bernardo, então, com voz nada melódica me perguntou:
Mas você saiu com uma pessoa da internet sem conhecer?”
Ai, ai, ai... E agora, como sair dessa?
Veja bem”...
Quando eu começo por um “veja bem”é porque não sei o que responder!
Então encontrei essa resposta em alguma gavetinha do cérebro: uma pessoa que é cuidadosa com seu blog, mês após mês, coloca palavras bonitas, sinceras, escreve seu amor pela filha, é uma pessoa do bem.
Ele guardou minha resposta em alguma gavetinha dele e seguimos para casa.

Domingo passado, minha redenção. No programa 'Papo de Mãe'da Tv Brasil, no qual abordaram o assunto 'mães blogueiras', falou-se de muitas amizades que foram consolidadas saindo do mundo virtual para o mundo real. E o especialista em segurança na web foi questionado sobre isto: como saber se uma pessoa é “do bem”.
Ele falou justamente o que havia dito para o Bernardo: uma pessoa que é cuidadosa com seu blog, que você a vê comentando em outros, que mantém regularidade nas postagens, é um indicativo positivo.
Eu estava certa na minha resposta! É isto o que eu acho!

Claro, que brincadeiras a parte, é necessário muita cautela, tomei tomamos o cuidado, eu e minha amiga blogueira de escolher um local público bem movimentado. Continuo falando para as crianças sobre os cuidados com fotos, especialmente com uniforme escolar, que não se deve; nunca marcar em um cinema, porque lá dentro é escuro e deixa de ser seguro.
Mas o melhor veio no começo da semana, quando eu pego o caderno do Bernardo para olhar e tem uma pergunta assim:
Seus pais ou responsáveis conversam, ensinam sobre como se ter segurança na internet?”
A resposta: “meu pai sim, ele não deixa que coloque nem foto dele. A minha mãe não é um bom exemplo, porque ela foi tomar um café com uma amiga virtual, e eu não acho bom.”
Bem, você saber que o próprio filho não lhe acha um bom exemplo não é lá muito agradável, mas dentro deste contexto que ele continue assim!
( Agora bem baixinho: eu adorei conhecer uma amiga blogueira e quero conhecer outras! Psiu!)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Orientação profissional


Tentando sintonizar meu rádio, que é totalmente analógico, com chiados, antena quebrada, peguei ao acaso um comentário, não sei onde, não sei de quem, muito interessante!
Falava-se qual seria a melhor idade para falar aos filhos sobre orientação profissional.
O narrador dizia-se não se sentir confortável em dar uma resposta em números, ou seja, uma idade ideal, visto que conhecia pais que falavam de tudo com os filhos assim que estes deixavam as fraldas e outros deixavam até sentirem um amadurecimento ou o momento propício para a tal conversa sobre rumos profissionais.
Ao invés de falar em conversa, achava melhor falar de exemplos.
Citou então sua experiência aliada com pesquisas e foi aí que eu achei interessante.
O pai ou mãe ( ou ambos) que chegam em casa reclamando do trabalho, do chefe ou dos colegas constantemente, passam, pelo exemplo, uma mensagem negativa de que trabalhar é algo ruim, sofrível.
Muitos jovens, segundo pesquisas, protelam o ingresso no mercado de trabalho, sob a desculpa de fazer mais um curso, outra especialização e seguem estudando, com um medo interiorizado pelas experiências negativas dos pais.
Confesso nunca ter pensado a respeito, não tenho uma opinião formada quanto a esta influência, que segundo este narrador, se for positiva, muitas vezes levam os filhos a escolherem a carreira dos pais.
Já pensaram a respeito?

domingo, 21 de agosto de 2011

Preconceito - vídeo


Uma amiga querida compartilhou este vídeo no facebook.
Trago- o aqui para compartilhar com vocês.
O vídeo está sem tradução, nem é preciso para entender a mensagem, porém encontrei nos comentários uma tradução; não sei se está correta, se alguém souber, compartilhe também conosco!

Será que vestir-se assim ficamos mais perto?
Chegue mais perto.
Não ao preconceito”.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Compotas e salames


Ando às voltas com umas palavrinhas gaúchas, uma vontade enorme de estar nos pampas e então vou escrever uma aventura na terra do chimarrão!
Eu tinha uns doze anos de idade e andava triste ( atucanada) com a perda da mãe. Uma vizinha querida pediu ao meu pai que deixasse eu viajar com a filha dela para a casa de uns parentes no Rio Grande do Sul, faria muito bem a mim e eu seria boa companhia para a filha dela.
Meu pai deixou. A vizinha explicou-me muito bem as condições que me esperavam, uma vez que eu era bastante urbana.
A alegria foi tanta, que eu acho que nem ouvi as descrições feitas por ela sobre a casa dos parentes.
Viajar sozinha com minha amiga e ainda por cima havia uma novidade gigantesca, que era quase inacreditável: voltaríamos de avião!
Numa época que avião era para pessoas muito ricas, parecia tão distante da nossa realidade e eu iria realizar o sonho de voar.
30 dias de viajem. O mês de janeiro inteiro.
Malas prontas, rodoviária. Tempo em que se podia por a cabeça para fora do ônibus e acenar aos queridos ( sim porque agora os vidros de ônibus não abrem mais, não dá para fazer despedida poética, segurando os dedinhos do amado pela janela...).
18 horas intermináveis, mas só de pensar na volta de avião, tudo ficava bom!
Chegamos cedo em Porto Alegre, pegamos outro ônibus até Taquara e de lá um terceiro ônibus, daqueles que só tem um pela manhã e o da volta a noite, e fomos deixando um rastro de poeirão vermelho para trás. Para trás não, porque nós também estávamos avermelhadas.
Cada vez as casas iam se espaçando mais umas das outras, e chegamos na casa do tio Pedro. Alegria, abraços e eu quis tomar um banho para tirar a poeira do cabelo.
Achei o design do chuveiro bem diferente, parecia uma lata pendurada com vários furos e quando procurei o registro para abrir a água, não encontrei.
Chamei a amiga que caindo na risada, tinha esquecido de avisar que não havia chuveiro como o nosso lá. Tinha que esquentar água no fogão e colocar. Nunca tomei um banho tão ecologicamente correto. Segundos apenas porque a água já tinha acabado...
Bem, pelo menos havia um rio nos fundos da casa. Eu realmente era bem urbana ( fresquinha, cheia de medos) tinha muito medo de pisar no rio e alguma coisa me morder. Depois do terceiro dia, parecia que eu tinha nascido índia.
Ali pelo meio da viagem, subimos de carona na carroça do leiteiro – duas horas acima – para a casa da tia Julieta, que era uma fazenda, mas não tinha rio nem chuveiro pendurado. Era em pé dentro de um bacião de alumínio.
Lá a dificuldade foi outra. Não tinha banheiro nem activia. Essa história de matinho, não deu para mim. Número um tudo bem; agora número dois escutando galinhas ciscando por ali, nem pensar! Foram alguns dias de constipação funcional.
Antes de ir embora, pousadinha em Gramado/Canela. Banheiro, chuveiro, civilização...
Voltamos para o último banho de rio, para a última refeição com compotas de sobremesa ( foi lá que eu conheci doce de cidra, mamão verde, casca de laranja...).
Hora de partir. Malas feitas, ecobag nas mãos e o aeroporto nos esperando.
Naquele tempo já éramos ecologicamente corretas ( e nem sabíamos). A ecobag era uma sacola mesmo de couro marrom escuro onde estavam acomodados nada menos que dez salames feitos com todo amor em casa e todas as recomendações para não amassar.
Lá estava o nosso avião com a rabeira exibindo lindo arco-íris. Bons tempos de transbrasil...
Despachamos a bagagem, menos a bagagem de mão, digo os salames.
Quando entramos no avião e acomodamos os salames em nossos pés, começamos a ouvir as reclamações: que cheiro horrível era aquele?
Fui ficando envergonhada, mas era a minha primeira viagem de avião, não podia me atucanar. Veio a salvação.
O cigarro. Que maravilha aquele tempo em que se podia fumar no avião. Agora ninguém
lembrava mais dos salames que rescindiam como incensos e punham-se a tossir e esfregar os narizes. Nunca pensei que seria tão a favor de que muitas pessoas acendessem seu vício em compartimento fechado.
Trilegal, não foi?!

Arrepios


Arrepio na minha pele
pontos de exclamação
querendo sair
erupção de alegria
êxtase de amar

Arrepio na minha pele
frio que clama teu corpo
murmúrio cálido
peito arfando

Almofadas espalhadas
preguiça lasciva
olhar furtivo
momento na linha da vida
interrogações
exclamações soltas ao vento
arrepios
Ana Paula

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A menina e a matemática


Quando ainda estava muito longe de ser mãe, assisti a uma entrevista sobre meninas e matemática.
Foi dito, que para as meninas, os estímulos eram menores. Que era algo inconsciente, porém que refletia no desempenho escolar. Os brinquedos, as brincadeiras, favoreciam mais aos público masculino.
Muita coisa mudou desde a tal entrevista. Mas é fato que, nas estatísticas educacionais, aparecemos como um dos piores países em matemática.
Eu fui uma criança/adolescente com muita dificuldade não só em matemática, como também em física e química. E claro que passo longe da área chamada “exata”.
Não queria isso para meus filhos e especialmente se tivesse uma menina, empenharia-me ao máximo para que não incorresse o mesmo. Estava determinada a estimular a minha menina.
Caí no erro, no tal “algo inconsciente”.
Bernardo, mais velho e nitidamente voltado para o raciocínio matemático. Senso espacial, de localização impecáveis.
Onde começaram os erros.
Sempre que saíamos, eu que achava bonitinho aquele pequenino falando sobre caminhos, possibilidades, deixava-o escolher. Lembro-me que nos 'embrenhávamos'no centro da cidade e ele mostrava o caminho até chegarmos ao destino. Adorava fazer cálculos, e o levamos a fazer o método kumon de matemática.
E quando a Júlia me disse: só o Bernardo faz kumon, eu também quero, coloquei-a também para fazer português.
Até que em uma aula, logo no começo, ela se pôs a chorar, aparentemente sem motivo. A orientadora pediu que eu ficasse com ela, acalmasse enquanto o Bernardo terminava.
Com jeito fui preguntando o que se passava e ela me disse com aqueles imensos olhos pretos chorando: eu não quero fazer português, quero matemática. Troquei na mesma hora.
E num outro momento recente, eu precisa ir a uma loja de uniformes escolares e não sabia onde ficava. Foi a Júlia que me levou, com estas palavras – você pensa que só o Bernardo sabe os caminhos? Eu também sei, passo com o tio Gil ( transporte escolar) e sei todos aqueles caminhos. E fomos, e a menina passando entre vielas, ruazinhas, rua principal e lá chegamos.
As avaliações que foram feitas por conta de todos os problemas escolares, lá em Curitiba, também apontou desempenho acima da média em matemática. Foi o meu chacoalhar final. Definitivamente, ela gosta, sabe e tem raciocínio matemático!
E eu que me achei determinada a não deixar acontecer o que aconteceu comigo, lá estava indo pelo mesmo caminho...
Ainda bem que sempre temos a oportunidade de aprender e mudar.

Minha menina - medalha de bronze em matemática

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ah! Os pássaros

Como são diferentes os pássaros da cidade
quando a primeira luz
desperta os ninhos
sono ainda úmido pelo orvalho
põem-se agilmente a cantar

Canto alto forte
trinados retumbantes
para que eu não ouça
a dor do pai que vela
o filho atropelado
para que eu não ouça
a lágrima escorrendo
na Somália
filhos definhando

Como são diferentes os pássaros da cidade
gorjeiam agitados incessantes
para que eu não perceba
a loucura da cracolândia
Inebriam-me com tal afinação
que não sinto o cheiro do sangue
carmim projétil
caído na rua

Como são diferentes os pássaros da cidade
movimentam com fulgor
os pequeninos bicos ao sol
onda doce
ao meu viver
e penso que são poetas emplumados
e que estarão a declamar
espetáculo único
para que eu continue a ver beleza
no meu ninho


Ana Paula

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Estou lá


E hoje brincando no escorregador da geografia fui parar lá na terra do chimarrão!
No lindo blog da amiga Angi, falando das crianças e o envolvimento nas tarefas da casa.

sábado, 13 de agosto de 2011

Sem açúcar sem afeto


Era para ser um post suave, bonito, cheio de emoções para o dia dos pais. E eu tinha em mente as palavras que usaria.
Mas foram os números que fizeram-me mudar.
30 milhões assim ou 30.000.000.
Esse é o número de brasileiros que não têm o nome do pai na certidão de nascimento. Número estimado, porque leva em conta os cidadãos em idade escolar.
Ficam de fora os que ainda não foram para a escola e os que já saíram dela.
Não sei se foi ignorância minha ou ingenuidade. Achei que em tempos de exames de DNA isso já não existisse... ou pelo menos que não tivesse essa coleção de zeros para avolumá-lo.
Moro em uma metrópole gigante. São Paulo. Acho tudo por aqui muito cheio: o trânsito, os estacionamentos, as ruas, as lojas, o metrô.
Parece haver gente demais neste espaço geográfico. E então me dou conta que esse número de pais inexistentes é quase três vezes maior do que os habitantes daqui.
E enquanto ouvia tudo isso, ainda achei que fosse coisa de lugares de extrema carência...
Outra surpresa. Em levanto feito nos cartórios de regiões nobres, foram encontrados muitos nesta situação.
E fui levada a pensar nos noticiários que mostram jovens inconsequentes, sem limites, que põem fogo, batem em moradores de rua, espancam homossexuais, bem podem fazer parte destas estatísticas.
Sim, deve haver os que preferem nem ter o nome do pai...
Ainda assim o número deve continuar sendo assustador.
E eu com isto?
Tenho um filho, um guri e empenho-me a cada dia em sua educação, em dar limites e responsabilidades, porque acontece o que acontecer, se ele for pai em circunstâncias adversas, que seja pai, com açúcar e com afeto, presente, carinhoso, rigoroso quando necessário, como o maravilhoso pai que ele tem.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Abelha

Tua voz
um pouco de tua matéria em mim
Tua voz
metamorfose no meu corpo
luz que aquece
Tua voz
intocável pela nossa distância
acariciada pelos meus ouvidos
Por um momento
sou abelha
devolvo-lhe a mais doce voz
que nunca soube existir em mim

Ana Paula

Sou lembrada, no meio da manhã, do aniversário da amiga da escola.
Saio apressada para comprar o presente, penso no almoço, mas lembro da feira. Salada para brincar com a gordura do pastel e subo rápido para que o tempo seja um bom companheiro.
E não é que na mesma cadência, um pouco atrás de mim também subiam a rua dois rapazes, vinte e cinco anos em média. Como eu, eram apenas transeuntes apressados. Só que de repente, um deles pareceu tirar a roupa, da sua voz, e trocar por outra ali no meio da rua.
Ouvidos moucos é o que eu não tenho. E (novamente) um semáforo fechado foi determinante para meus ouvidos.
Oi, desculpa eu ter te ligado no meio da aula, não sabia. Seu pé está melhor? Então como a gente fica, a que horas eu posso te ligar?”
Paixão em início, claro! Afinal nem frio intenso que fazia pela manhã o rapaz apenas de camiseta: apaixonou-se.
Quis o destino, que ao atravessar a rua eu continuasse a frente deles. Quis o destino que o vento soprasse favorável a trazer o som até mim.
O amigo, claro, percebeu que o rapaz havia se desnudado ali com a voz pelo celular e soltou: “todo meloso assim, pode ir contando”.
Ao que o outro disse: “é isso mesmo, o amor é lindo e vou aproveitar porque depois... que m... deixou a cueca suja jogada em cima da cama...”
Estava um pouco cansada pela subida. Passaram a minha frente e entraram numa loja de tatoo.
Obrigada rapazes. Valeu a inspiração!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Água na jarra

E já que a simplicidade está nos envolvendo qual brisa fresca num dia muito quente, por que não falar da água?
Simplicidade completa, plena.
Hoje pela manhã ouvi na rádio, uma iniciativa aqui em São Paulo, chamada água na jarra que pretende conscientizar e reduzir o volume de garrafas plásticas.
Vale a pena uma espiadela no site.
Foi lá também que eu encontrei este vídeo e pelo que percebi numa postagem anterior o apreço pelo mar... gostarão com certeza!


Mais simplicidade pelos blogs? Aqui também tem!
E pelos outros estados, como anda esta questão?

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A simplicidade do paladar


Tenho lido textos tão lindos falando sobre simplicidade.
Textos que me tocaram, marejaram meus olhos. E por isso vou escrever o que já está lá nas entrelinhas da simplicidade e que eu tenho refletido bastante ultimamente.
A simplicidade do paladar, ou talvez a perda da simplicidade do paladar.
Dia desses pensava num texto que queria escrever e não fluiu ainda, mas nos pensamentos haviam compotas. Doces em compotas.
E eu me dei conta de que minhas crianças não gostam desses doces. Chocolate é o que impera.
Quando são bebês é tudo mais simples e depois que crescem, o cuidado passa a ser redobrado para que não percam a simplicidade do paladar.
Hoje, especialmente, nas grandes centros urbanos, temos a facilidade de alimentos que fogem do sabor simples aliado à correria. Equação esta que pode ser desastrosa.
Mas não quero falar somente em saúde, doença, obesidade.
Falar do prazer de sentir o gosto simples de um alimento. Porque nós adultos, podemos bem comer beterraba por ser saudável, por precisar estar no cardápio. Mas e a simplicidade do paladar? De apreciar realmente? Tenho receio de nos distanciarmos dela aqui em casa.
Durante o período em que as crianças ficaram na fazenda, eu pude fazer um exercício muito legal do paladar, mas que infelizmente fica difícil quando se tem horários a cumprir, gostos diferentes durante uma refeição.
Nestes dias eu esperei que o meu paladar dissesse o que era para eu comer. Esperei sentir vontade. E tive vontade de quiabo, de jiló e também de torta de chocolate meio amargo. No dia a dia fica difícil conciliar sabores que satisfaçam a todos. O mais importante é preservar o paladar simples e isso não significa abrir mão de coisas gostosas.
Acho também que o período da gestação (salvo exceções!) tem um ligação com a simplicidade do paladar. De repente uma vontade de algo que precisamos naquele momento.
E você já sentiu a simplicidade do seu paladar lhe pedindo algo? Beijo

domingo, 7 de agosto de 2011

Um dia para viver

Não foi um despertar tranquilo
Agitação festiva, murmurinhos risonhos
Pela fresta o convite chegou
alaranjado, quente
Sol trazendo presente

Queriam logo sair
Palavras douradas
asas a voar
não para serem lidas
muitos não saberiam...

Palavras também sabem
se fazer em sentir
sentir a vida
presente
no tempo presente

Presente dourado
asas invisíveis
no ar transparente

Um dia para sentir
sentir a vida
presente do tempo presente
simplesmente a simplicidade
de viver

Ana Paula

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Eu e o mar

Com o mar não tenho nenhuma intimidade
Não saberia tirar o meu sustento do mar
Não saberia cantar a poesia do mar
Não saberia fotografá-lo, quer dourado ou prateado
Somos distantes na geografia e no envolvimento
Em mim a lembrança da criança brincando por suas areias
encantada com as ondas, com as conchas
Conchas do mar onde recostei meu ouvido e me encantei com música

Pela manhã minhas mãos em concha
lavam o sal do meu rosto
sonho dourado que correu a beira-mar
Diariamente a concha das mãos
onda doce a me despertar
Diariamente as ondas, as conchas do mar
Somos tão distantes eu e o mar.

Ana Paula

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Carro

Não tenho carro. Não tenho carteira de motorista. Não sei dirigir. E não pretendo ter um carro e nem a carteira e nem dirigir.
Essa história começou na ebulição dos hormônios, que na minha época foi ali pelos quatorze anos.
Elaborei um trabalho escolar, frequentando bibliotecas, xerox, pesquisando trabalhosamente entre vários livros, extraindo de um capítulo, juntando com outro e embora não me lembre mais o título do projeto, nele continha o seguinte: o Japão naquela época remota já utilizava água de reuso para lavar seus carros, era inadmissível lavá-los com água potável; num outro capítulo costurado a este estavam alguns, digo muitos países africanos onde morriam principalmente crianças por não terem água potável.
Juntando tudo isso com os hormônios recém-despertos, decidi que não teria um carro.
Adolescentes costumam ser bem radicais quando levantam uma bandeira.
E assim sobrevivi ao final do período colegial, quando todas as minhas amigas ganhavam de presente a carteira de habilitação dos pais, ou tios, padrinhos, enfim, tudo em prol dos dezoito anos. Eu ficava enfurecida. Não porque elas teriam a tão sonhada carteira, nesta época já tinha amadurecido a ideia de que cada qual com suas decisões e muito respeito quanto a isso. Enfurecia-me o fato delas estudarem placas de trânsito e não estudarem para prova e depois queriam que eu passasse cola.
Cheguei aos filhos sem carro. O que para muitos era absurdo a equação ter um filho sem ter um carro.
A gestação do Bernardo foi toda acordando às quatro da madrugada para pegar o metrô às cinco. Dizem que é por isso que ele gosta tanto de trens!
Fácil não foi. Mas que divertido, ah! Isso sim!
Claro que para trazer os grandiosos pacotes de fraldas em promoção tinha o carro do papai, mas eu me virava mesmo é no transporte coletivo e na sola do sapato.
Com a Júlia bebê de colo e o Bernardo bebezão de dois anos e meio, saíamos de ônibus e metrô. Não pense que eu carregava aquelas bolsas enormes de bebê. Era uma bolsa comum a tira colo, com uma fralda descartável, uma de pano, uma garrafinha de água. Ter mamadeiras embutidas no meu corpo era excelente! Nunca passei nenhum apuro e nem chegava a trocar a fralda.
Minha maior dificuldade era o retorno para casa. No ônibus dormiam os dois e depois para acordar o mais velho era quase um desespero. Descia com um bebê no colo e uma criaturinha cambaleando.
Agora, será que alguém me explica por que será que a “criaturinha” não dormia no seu berço macio, cheio de protetores e rococós para dormir sacudindo num coletivo?
Lembranças boas a parte, o fato é que há pessoas que realmente necessitam de um carro, inegável o quesito conforto, comodidade.
Aqui em São Paulo e acredito que nas grandes capitais ocorre o mesmo, está se tornando cada dia mais difícil dirigir. Seja pelo trânsito, acho o principal, vagas para estacionar cada vez mais restritas, alguns já pensam na poluição e tudo isso me mantém distante dos carros.
E vocês vão me agradecer por eu não estar nas ruas dirigindo. Vou contar um segredo: eu adoro olhar bueiros, lá dentro, lá no fundo deles. Já imaginaram eu dirigindo e olhando os bueiros?!
Sou mais feliz com um bilhete único recarregado do que com um carro! Mas incentivo quem vai em busca de se motorizar ( para você Angi!).

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Transferência



Theo. Não sei se de Teófilo ou de Teodoro.
Ou simplesmente Theo. Nosso cachorro.
Ele não é um cachorro poeta como o do Marcílio, mas descobri que ele é um cachorro “transferência”.
Chegou em casa porque minha filha Júlia tinha pavor de cachorros. Andávamos em ziguezague pelo bairro. Ela sabia todos os portões que continham um cachorro pelo lado de dentro e me fazia atravessar a rua. E quando avistava um canino vindo em nossa direção? Tremia de corpo todo.
Veio então o Theo. E algo surpreendente aconteceu. Sim ela perdeu o medo de cachorros. O surpreendente foi que ele, o cachorro ficou com medo de outros cachorros.
Que dificuldade é passear com o Theo pelas ruas. Andamos em ziguezague, porque se ele avista um semelhante, é preciso atravessar a rua, de tanto que treme.




As crianças chupavam o dedo. Pararam.
Quem passou a chupar o dedo das crianças?
O Theo.
Não dorme sem antes dar uma “mamadinha”nos dedinhos ainda pequenos. Dedos adultos ele dispensa.
Bem ele poderia se chamar Transferência!

E hoje ele completou dois aninhos.
Parabéns Theo, adoramos nossa convivência entre medos e dedos!