Recebi através do instagram, o convite para postar uma foto em preto e branco pela luta contra o câncer e escrever "desafio aceito".
Neste mesmo dia eu já havia reparado nas tais fotos em p&b e fui procurar saber mais sobre esse desafio.
E é aí que eu me decepciono.
A intenção, a ideia, é excelente. O alcance das redes sociais é imenso, incrível.
Porém, a grande maioria das coisas que eu vi e li dentro da #desafioaceito, foram fotos lindas de mulheres e vários comentários assim escritos: linda, gata, arrasou, diva.
O desafio não deveria ser para enaltecer nossos egos. Dessa forma ele se esvazia.
Lembrou-me de um outro desafio desses recente, o jogar em si ou em outra pessoa um balde com água e gelo e teve uma enorme repercussão, só que muitas pessoas nem sabiam qual era a finalidade daquilo.
Para mim esses desafios só fazem sentido quando nos comprometemos a uma ação, uma atitude.
Além do cuidar-se, e para aquelas pessoas que querem cuidar-se mas não conseguem porque nem acesso a serviços de saúde têm?
O que podemos fazer por uma pessoa que esteja atravessando esse momento difícil do tratamento?
Pegar o filho na escola para ela? Comprar pão, fazer feira, conversar, silenciar.
Estaríamos dispostos a nos desconectar de nossos eletrônicos por uma hora e "doar" essa uma hora em orações, preces, pensamentos elevados? Levar uma flor para alegrar um tantinho aquela casa? Fazer uma campanha para arrecadar lenços para as meninas, mulheres que perdem seus cabelos?
Há tanto a fazer além de apenas postar uma foto.
Ao aceitarmos um desafio, que ele seja muito além de uma hashtag.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
segunda-feira, 22 de agosto de 2016
Dia Mundial da Fotografia
Dia 19 de agosto comemorou-se o Dia Mundial da Fotografia.
E foi um dia bastante celebrado, seja com exposições, selfies, debates, reflexões.
Vivemos na era da imagem. De certa forma, somos todos fotógrafos, o que é muito bom!
Mas será que basta fotografar?
Você sabe, faz ideia, de quantas fotos são tiradas no mundo por dia?
Em dois dias o número de fotos tiradas ultrapassa a população do planeta Terra.
Em dois dias são 8 bilhões de fotografias.
4 bilhões de fotos diárias.
"Nunca se fotografou tanto. Nunca se viu tão pouco" ( Simonetta Persichetti )
É indiscutível o ganho que tivemos com a fotografia digital. Os mais jovens talvez não façam ideia do quão difícil foram os tempos analógicos na fotografia. Desde os custos com filme, revelação até o mais comum deles que era o pouco aproveitamento das fotos. Quantas tremidas, de olhos fechados, vermelhos ou as que não alcançavam o momento exato.
A câmera digital trouxe facilidades, mas também nos levou a exageros, a um turbilhão de imagens.
Numa outra reflexão que não relacionada ao dada fotografia, o prof. Leandro Karnal diz o seguinte:
"Alfabetizamos para a leitura dos textos e raramente educamos para a leitura de imagens. Vivemos imersos num mundo visual e não nos adaptamos a isto.
O desafio do olhar é intenso e o jovem quase nunca tem habilidade e repertório para julgar esse mundo de fotos e desenhos que flui pela rede. Somos quase todos analfabetos visuais"
O prof. Karnal sugere maior ênfase para as artes plásticas e visitas a museus; tudo para educar o olhar.
Um outro fotógrafo sugeriu no dia da fotografia que as pessoas se reunissem para olhar álbuns de fotografia.
E você, o que acha da fotografia atual? Estamos fotografando demais? Qual o significado que você dá para suas fotos? Estamos gerando memórias ou algo vazio?
O que você sugere para "olharmos" melhor?
E se você ajeitar aí na sua agenda um tempo de 27 minutos, deixo a sugestão do excelente programa JC Debate sobre o assunto.
Sorria, diga xis, click, click!
domingo, 14 de agosto de 2016
Colher de pai
Abri a gaveta dos talheres e demorei uns instantes o olhar naquela colher que eu nunca tinha visto.
Como fora parar ali?
Lembrei de uma confusão festiva num Natal, onde no lavar de louças, as peças iam sendo separadas - esse daqui é da Corina; não tenho certeza, mas deve ser da Teresa.
E depois era um tal de telefonar a saber se uma tigela assim, com flores em amarelo tinha ido por engano, ou então era o conjunto de colheres para sobremesa, em casa de quem estaria?
Marido foi quem esclareceu, não com uma resposta afirmativa ou negativa.
Contou-me a seguinte história:
"Lá na roça tem-se o hábito de, antes de dormir, comer leite com farinha.
Meu pai me chamava para um canto da cozinha já silenciosa, pegava um caneco cheio de leite, acrescentava a farinha de milho e então se dava - metia a mão num esconderijo e de lá tirava a colher."
Dizia que aquela colher sim era boa para comer o tal leite enfarinhado. Era mais funda que as outras colheres que haviam na gaveta. Era rara. Habitava um esconderijo na cozinha. Agora habita nossa gaveta.
Aos pais, que contam, que deixam histórias.
Que em seus dias comuns, imprimem marcas que nos ficam.
Como fora parar ali?
Lembrei de uma confusão festiva num Natal, onde no lavar de louças, as peças iam sendo separadas - esse daqui é da Corina; não tenho certeza, mas deve ser da Teresa.
E depois era um tal de telefonar a saber se uma tigela assim, com flores em amarelo tinha ido por engano, ou então era o conjunto de colheres para sobremesa, em casa de quem estaria?
Marido foi quem esclareceu, não com uma resposta afirmativa ou negativa.
Contou-me a seguinte história:
"Lá na roça tem-se o hábito de, antes de dormir, comer leite com farinha.
Meu pai me chamava para um canto da cozinha já silenciosa, pegava um caneco cheio de leite, acrescentava a farinha de milho e então se dava - metia a mão num esconderijo e de lá tirava a colher."
Dizia que aquela colher sim era boa para comer o tal leite enfarinhado. Era mais funda que as outras colheres que haviam na gaveta. Era rara. Habitava um esconderijo na cozinha. Agora habita nossa gaveta.
Aos pais, que contam, que deixam histórias.
Que em seus dias comuns, imprimem marcas que nos ficam.
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